7:30 da manhã. Ricardo já estava pronto, na frente do portão de sua escola, a Escola Municipal Lorena Martins, para fazer o que precisava ser feito. Ele estava vestindo suas roupas típicas: Camiseta laranja surrada, calça jeans também surrada, e levava consigo sua mochila verde com linhas pretas surrada. Até seu cabelo conseguia ser surrado, uma montanha de cachos castanhos que dariam um ótimo ninho de passarinho.

"Você realmente vai entrar na escola num feriado pra se encontrar com um fantasma?" perguntou Carol, uma das garotas que contrataram Ricardo. Ela tinha pele clara e longos cabelos loiros presos em um nó, e vestia uma regata branca e uma calça jeans.

"Ué, vocês me chamaram aqui para isso, então é claro que eu vou." respondeu Ricardo.

"Que coragem, Ricardo. Ou seria burrice?" ponderou Milena, a segunda garota que estava no local. Milena era mais escura, com cabelos pretos que iam até seus ombros. Vestia uma camiseta azul e uma calça jeans, como a amiga.

"Acho que tá mais pra... Falta do que fazer." respondeu ele "E me chamem de Rick, Ricardo é um nome muito grande. Se um fantasma pegar vocês, vai ser bem mais fácil gritar "RICK" do que "RICARDOOOO", entende?"

As garotas se olharam, confusas. Ricardo tinha um penteado estabanado; Caracois capilares que iam para todos os lados. Suas roupas completavam o look de desleixado. Somando tudo isso, as meninas não sabiam se tinham chamado um expert ou um completo idiota.

"Vamos entrar?" convidou Rick, enquanto ele escalava o portão da escola.

"Normalmente as pessoas escalam o portão para fugir da escola, não para entrar nela." pensou Carol. Milena pensou o mesmo.

Já dentro da escola, Rick pegou de sua mochila um de seus "confiáveis" aparelhos que o ajudavam a combater os fantasmas da cidade de Laranja do Norte: Um pequeno rádio com adesivos de flores colados em volta. Os adesivos não foram colados por Rick, ele encontrou o rádio já desse jeito. Mas como eram difíceis de tirar, ele resolveu deixá-los onde estavam.

Rick ligou o rádio e começou a mudar as estações, rodando o botão o mais rápido que ele podia. A régua que mostrava as estações ia de 50 a 150, porém, a setinha que indicava a frequência já tinha passado do limite e continuava por dentro do rádio, o que deixou as garotas confusas.

"A estação que detecta fantasmas pelo meu rádio tá entre 160 e 180" explicou Rick, ao ver a reação das meninas.

"... É, isso explica tudo" disse Carol, fazendo um gesto de "ele é louco" para Milena quando Rick voltou a olhar para seu rádio.

Segurando seu rádio, Rick, Carol e Milena começaram a andar pela escola, que estava vazia salvo por alguns pequenos pássaros que pousavam no pátio de vez em quando. Era feriado, então isso não era uma surpresa.

A estação que o rádio estava sintonizando não produzia som nenhum, salvo por algumas poucas estáticas, porém, ao se aproximar da área dos banheiros, a estática ficou mais alta.

"Ei, o que tá havendo com o seu rádiozinho?" perguntou Carol.

"Esse barulho significa que o fantasma está perto, obviamente." respondeu Rick.

"S-sério? Ele tá perto? O que a gente faz?" perguntou Milena, assustada.

Rick continuou andando em direção aos banheiros, em silêncio. Ao chegar perto da porta do banheiro feminino, que ficava a pelo menos 3 metros do masculino, a estática ficou incrivelmente alta.

"Claro! Claro que tinha que ser no banheiro feminino. Fantasma pervertido." disse Rick, em voz alta.

Carol entendeu a mensagem, e respondeu "... Hum... S-sim, a gente te dá permissão para entrar no banheiro feminino, Ricardo. Não tem ninguém aí mesmo."

"Valeu." agradeceu Rick "Eu não gostaria de ser taxado de pervertido por aí, sabe. Seria horrível pros negócios."

Carol e Milena se olharam de novo.

"Olha, não é que eu não acredite nele" cochichou Milena "Aconteceram coisas bem estranhas na escola recentemente. Tipo aquele garoto ter levado um puxão na cueca, ou o outro que viu seu dinheiro flutuando para longe. Mas será que esse carinha sabe o que está fazendo?"

"Não tenho a menor ideia" respondeu Carol "Mas ele cobrou só dois reais. Se tudo der errado, a gente não vai perder muita coisa."

"É, você tem razão" concordou Milena.

Rick se preparou para entrar no banheiro, tirando de sua mala outro dos seus aparelhos: Uma caixa de ovos.

Carol e Milena nunca duvidaram mais de Rick do que neste exato momento.

"Pra quê diabos você trouxe uma caixa de ovos?" gritou Carol.

"Simples, minha cara Carol. Não são simples ovos. São Ovos-Bomba de Sal. Estão cheios de sal dentro. Sal é bem efetivo contra fantasmas, sabe." explicou Rick.

Carol ficou boquiaberta, sem respostas.

"Ah, não se preocupa, eu não desperdicei os ovos pra fazer isso. Eu comi ovo no café da manhã, no almoço e na janta por dias."

Carol ficou ainda mais sem resposta.

"Não acho que seja esse o problema" pensou ela. Milena segurou o riso.

Quando Rick ia fechar sua mochila para entrar no banheiro, um vento gelado atingiu os três.

"M-m-meu Deus, que frio!" reclamou Milena, tremendo.

"Como aqui pode estar tão frio? Ali fora tá uns 30 graus!" gritou Carol.

"Efeito fantasma, minhas belas clientes. Efeito fantasma." explicou Rick.

"Efeito... Fantasma?" perguntou Carol.

"Belas clientes?" perguntou Milena, corando.

"É, quando um fantasma está nas redondezas e não quer que pessoas cheguem perto, eles fazem a temperatura cair bastante. Ainda sim, é o melhor jeito de se saber se tem um por perto. Infelizmente, é meio difícil de perceber esse efeito no inverno, mas por sorte, estamos na primavera."

Rick tirou uma jaqueta azul-escura da bolsa e a vestiu. Atrás dela, estavam estampadas as palavras "Gost Hunter".

"Não sou fluente em inglês, mas acho que ali era pra estar escrito 'Ghost'... " pensou Carol.

Rick deu um sorrisinho. Estava feliz por poder estrear sua jaqueta nova numa missão. Ele mesmo havia bordado as palavras.

"Espero que elas não saibam que eu escrevi "Ghost" errado" pensou ele.

O "caçador" deixou sua mochila e seu rádio no chão, pegou sua caixa de Ovos-Bomba de Sal, e entrou no banheiro.

Carol e Milena não sabiam se Rick era realmente um profissional ou só um doido varrido, mas ainda sim ficaram preocupadas com ele. Elas não acreditavam em fantasmas até uma semana atrás, mas depois de tudo que elas viram, passaram a acreditar.

Cadeiras flutuavam. Cuecas eram puxadas. Pessoas eram empurradas. Lousas eram pichadas. Até dinheiro era tirado do bolso dos alunos, e saía flutuando por aí. A escola já deveria ter sido fechada, mas o diretor e os professores não viram nada do ocorrido, então não acreditavam no que ouviam. Alunos estavam faltando aos montes, mas nada era feito. Carol e Milena estavam sendo vítimas desse fantasma, então decidiram agir, e, ao procurar na internet, descobriram o mais barato dos caçadores de fantasmas: Ricardo, que, coincidentemente, morava na mesma cidade que elas.

Elas queriam que o bullying fantasmagórico parasse, então tirar um dinheirinho da mesada para contratar Ricardo foi uma decisão fácil de ser tomada.

Mas agora, já não tinham muita certeza do que esperar. Será que o fantasma seria mandado embora? Ou será que Rick seria apenas outra vítima do bullying após a morte?

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Dentro do banheiro, tudo parecia normal, exceto pelo frio. Rick sentia uma vergonha imensa por estar no banheiro feminino, mas ele recebeu permissão, então estava de consciência limpa.

"Oooi? Fantasmaaaa?"

Rick já tinha olhado em todas as portas, mas não havia achado nada. Até que, por instinto, ele decidiu olhar para o teto.

E lá estava ela.

Deitada no teto (sim, deitada no teto) estava o espírito. Longos cabelos brancos se esparramavam pelo teto como se ela estivesse numa cama, e, para completar, umas mechas ainda flutuavam. Ela tinha um vestido branco que a cobria do pescoço até os joelhos, como um pijama de corpo inteiro, mas com o final sendo aberto como uma saia. Com os braços cruzados por trás da cabeça, a garota parecia bem à vontade.

Rick começou a encará-la. Ele estava meio surpreso, nunca havia visto uma fantasma bonita. Tá, seus olhos tinham olheiras tão profundas que mais pareciam dois poços em seu rosto e ela era meio transparente, mas ainda sim, era bonitinha.

"Mas trabalho é trabalho." pensou ele. Rick pegou um Ovo-Bomba de sua caixa e lançou bem na cara da garota.

Mas ele esqueceu que estava bem abaixo do espírito, então a fumaça de sal não só acertou ela, mas cobriu todo o corpo do garoto.

Tossindo e tentando ao máximo não coçar seus olhos, Rick saiu do banheiro.

"O que houve?!" perguntou Carol.

"Problemas técnicos." respondeu Rick, entre tossidas.

Milena gritou. A fantasma tinha acabado de sair do banheiro, e, antes de fugir, empurrou Rick, que caiu de cara no chão.

Rindo e tossindo como Rick, o espírito de cabelos brancos voou em direção às salas de aula.

"Ela tá indo para as salas!" gritou Carol.

"Vamos *cof cof cof* segui-la!" gritou Rick.

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"Você tá parecendo um fantasma." comentou Milena, enquanto eles corriam para o corredor que dava para as classes.

"Sim, eu sei. Irônico. *cof cof*"

Ao chegar no corredor, eles conseguiram ver em que sala a fantasma entrou. Rick levantou suas mãos, num sinal de "parem".

"Eu vou lá sozinho. Se eu precisar de ajuda, eu grito."

"Ajuda? A gente pagou para você resolver isso!" disse Carol.

"Para, Carol!" gritou Milena "A gente te ajuda, não se preocupa."

"Sua maria-mole." resmungou Carol.

Rick colocou sua mochila no chão e retirou apenas um Ovo-Bomba de Sal. E também pegou mais alguns de seus "aparelhos", colocando-os no bolso de sua jaqueta.

Ele andou pelo corredor até chegar na terceira sala do lado esquerdo.

Ao entrar, Rick não viu ninguém lá dentro.

"Droga, espero que ela não tenha fugido..." pensou Ricardo "Vai ser bem difícil de achar ela se-"

Seu pensamento foi interrompido por algo pesado caindo em cima dele.

"AH-HÁ! TE PEGUEI, SEU PERVERTIDO!"

Antes de Rick processar o que tinha acabado de acontecer, o peso começou a dar cascudos na cabeça dele.

"AAAAH PARA!" gritou ele.

Se Carol e Milena ouviram seu grito, resolveram não vir.

Rick estava apanhando, até que ele conseguiu levantar as mãos e agarrar o que estava batendo nele, e o jogou para frente.

A massa branca começou a flutuar, e Rick viu que era a fantasma de antes.

"Você tem que ser exorcizada! Você ataca os vivos violentamente sem motivo!" concluiu Rick.

"Eu só estou defendendo meu orgulho feminino. Você entrou num banheiro para garotas com uma garota dentro dele!" reclamou o espírito.

"Ei, eu tive permissão!"

"Eu não to nem aí! Você merece uma punição, panaca!" ao gritar isso, a fantasma flutuou rapidamente em direção a Rick, que instintivamente jogou um Ovo-Bomba nela.

A fumaça de sal deixou ela desnorteada e tossindo novamente. Rick ainda não sabia se sal era realmente efetivo contra fantasmas, ou se a fumaça acaba fazendo eles terem a mesma reação que eles teriam se estivessem vivos, mas, assim como ele havia visto na internet, o negócio funcionava mesmo.

Dessa vez, Rick lembrou de cobrir seu rosto com a manga de sua jaqueta, por isso a fumaça não o afetou como da outra vez. Ele também tirou um óculos de proteção que funcionários de construtoras usam (ele pediu de presente para sua mãe, que trabalha em uma construtora), por isso pôde ver mais ou menos o que estava acontecendo no ambiente, enquanto a fantasma continuava tossindo.

Com isso, o plano de Ricardo finalmente poderia ser posto à prova: Usar um de seus novos objetos anti-fantasma que ele havia comprado na internet. Poderia não funcionar, mas Rick tinha confiança no produto, já que era vendido no mesmo site onde ele aprendera tudo que ele precisava sobre fantasmas e como combatê-los.

Ele tirou dois anéis prateados de seu bolso. "Prata legítima" segundo o site. Pareciam ser baratos demais para serem prata legítima, mas Rick não tinha ideia do preço da prata, então não ligou muito.

Ele colocou um dos anéis no dedo anelar de sua mão direita, e, puxando a mão esquerda da fantasma, fez o mesmo nela.

"HÁ! Você agora está presa, fantasma!"

Assim que a fumaça se dissipou, a garota começou a olhar confusa para o anel.

"O que é isso?" perguntou ela.

"É um anel que te prende a mim. Com isso, eu posso descobrir um jeito de te mandar pro além. Eu li que ferro funciona bem para exorcizar fantasmas, mas eu queria testar esse produto antes disso. Até eu mostrar para você para minhas clientes, você vai ficar presa a mim."

"... Cara. Ferro não manda fantasmas pro além. Dói um pouco, mas é só isso."

"Ah. E se eu descobrir o arrependimento que está te prendendo aqui na Terra?"

"Eu não lembro de nada da minha vida passada, então vai ser difícil."

"Olha, eu vou arranjar um jeito. Por enquanto, você, sua bully, nunca mais vai incomodar os alunos dessa escola!" disse Rick, triunfante.

"O qu- ESPERA!" antes de completar seu pensamento, Rick começou a andar em direção a Carol e Milena, e, por culpa do anel, foi puxada junto. Ela parecia não conseguir ficar a mais de dois metros de distância dele, pois se tentasse, uma força invisível a puxava.

Ao chegar onde as garotas estavam, elas gritaram.

"Não se preocupem, ela está presa, não vai poder fazer nada contra a gente." explicou Rick.

Então o espírito chutou a parte de trás de seus joelhos, o que o fez cair direto no chão.

Carol e Milena gritaram de novo, enquanto a fantasma ria.

"Não se preocupem! Ela pelo menos não pode se afastar de mim. Ela tá presa!" explicou Rick, mostrando-as o anel em seu dedo.

A fantasma tentou flutuar, mas ao chegar nos dois metros, foi puxada de volta. Ela tentou arrancar o anel, mas isso também não funcionou.

"Então... A escola está salva? Não teremos mais que nos preocupar com fantasmas fazendo brincadeiras sem graça com os alunos?" perguntou Milena.

"Que sacanagem. Só porque eu sou uma fantasma e ocasionalmente gosto de zuar com as pessoas, eu tenho que ser presa? Eu nem cheguei a sacanear com ninguém dessa escola além desse tapado de jaqueta aqui!" reclamou a fantasma.

Carol, Milena e Rick ficaram boquiabertos.

"... Espere, então você não é a fantasma que vem assombrando a escola?" perguntou Carol.

"Oi? Claro que não, zé ruela. Eu nem sabia que esse lugar existia até ontem. Se eu soubesse que já tinha um morto assombrando aqui, eu nem teria vindo." explicou o espírito.

Carol e Milena olharam para Rick.

"Olha, parem de me olhar com esses olhos acusadores. Como eu poderia saber que não era ela? Só avisando, se eu tiver que caçar outro fantasma, eu vou cobrar o dobro. Esses materiais não são baratos, sabe?"

"COMO É QUE É?" exclamou Carol, puxando as mangas inexistentes de sua regata.

"Calma, Carol!" gritou Milena, tentando segurar a amiga "Pagamos o dobro!"

*grrrrrrrrr*

Um rosnado fez a conversa parar completamente. Por dois segundos.

"Ah, me desculpa por ter te acusado erroneamente." disse Rick, estendendo sua mão para a fantasma "Meu nome é Ricardo, mas pode me chamar de Rick. Qual é o seu nome?"

"Prazer, meu nome é Morgana." disse Morgana, a fantasma, apertando a mão de Rick.

"Muito prazer, Morgana." disseram Rick e Milena, em uníssono.

"OKAY, NINGUÉM OUVIU ESSE ROSNADO?" exclamou Carol.

"Calma, Carol" disse Rick "Não tem porque se assustar, provavelmente é só um cachorro que deve ter entrado aqui na escola ou algo assim."

*GRRRRRRRRRR*

O rosnado, dessa vez, estava bem mais próximo do grupo do que antes.

"Se isso é um cachorro" disse Carol "é um cachorro enorme. Tipo... do tamanho de um leão."

"Bem, eu sou uma fantasma, então eu to salva." explicou Morgana "Ao contrário de vocês, sacos de carne."

Carol e Milena gritaram. Rick tentou acalmar as duas:

"Se for um cachorro, eu tenho meus Ovos-Bomba! É só tacar um no focinho dele e a gente foge!"

Rick pegou sua mochila e colocou nas costas, tirando um Ovo-Bomba antes e colocando no bolso.

"A gente só precisa ir em direção a saída e-" Rick foi interrompido por um rosnado ainda mais alto que os outros, que foi seguido por um silêncio insuportável.

Até que um garoto musculoso de cabelo cortado estilo soldado surgiu de dentro de uma das paredes. Seu torso era o triplo de o de um adolescente normal, e seus olhos não tinham brilho nenhum. Nenhuma pupila. Eram totalmente brancos. Ele não tinha pernas, e sim uma pequena fumaça branca no final, como se fosse um pequeno rabo. Ele era quase transparente.

Diferente de Morgana, ele parecia mais morto do que vivo. Ela tinha pupilas, para começar. Seu corpo era completo, apesar de ser meio-transparente também. E o garoto musculoso não parecia estar muito animado para puxar uma conversa como ela.

*GRAAAAAAAAUR*

Rugiu o espírito. Carol e Milena estavam paralisadas, Rick também. Morgana subitamente ficou paralisada também, já que ambos sendo fantasmas, seria um pouco mais fácil para ela ser atacada.

"PUXAR. CUECA. ROUBAR. DINHEIRO. SOCAR. PANACAS!" gritou a montanha de músculos fantasmagórica.

"U-uau, ele era tão dedicado em ser um bully que ele continua com isso até depois da morte." disse Morgana.

Após o medo inicial, alguns pensamentos começaram a ocorrer na cabeça de Rick.

Porque, vejam bem, Rick não é um novato. Não completamente.

Esse é o terceiro caso dele, com os dois primeiros tendo como fantasmas seres parecidos com o musculoso de agora. Seres com pouco pensamento, que tinham como vontade principal causar confusão. Ao perceber que esse era o tipo de fantasma com a qual ele estava mais acostumado, Rick reganhou sua confiança, e conseguiu encontrar forças para jogar um Ovo-Bomba no rosto do musculoso.

*GRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR*

Pareceu ter um efeito maior nele do que em Morgana, como Rick tinha previsto.

"ISSO!" Agora eu só preciso..." Rick começou a murmurar para si mesmo enquanto ele procurava algo em sua mochila. Porém, a fumaça não impediu o musculoso fantasma de acertar ele, mandando Rick voando pelo corredor, com sua mochila ficando para trás. Morgana acabou sendo mandada longe com ele, visto que ambos estão ligados pelo anel de prata.

"SOCAR. PANACAAAAAAA!" gritou o musculoso, que tentava inutilmente acertar algo além de Rick, que ele já havia acertado.

Rick, por sorte, não tinha batido a cabeça, e já estava quase levantando, apesar de estar com uma dor enorme na barriga, onde o espírito o acertou. Porém, o musculoso acabara de se recuperar do Ovo-Bomba, e Rick havia deixado o resto em sua mochila, que estava a pelo menos dez metros de distância dele.

Tudo parecia perdido, pois o musculoso estava agora indo em direção a ele.

"POR QUE EU?" gritou Rick.

"Talvez porque você seja o maior panaca no recinto!" gritou Morgana, que estava tentando soar menos assustada do que ela realmente estava.

"Espera... É isso!" exclamou Rick.

"Isso o quê?" perguntou Morgana.

"Eu não sou o único no recinto! CAROL! PEGUE A MINHA MOCHILA!"

Carol ainda estava tremendo, abraçada com sua amiga Milena, mas ouviu Rick gritando.

"NÃO! SE VIRA!" respondeu Carol.

"E SE EU NÃO COBRAR MAIS O DOBRO?" gritou Rick.

"... PROMETE?"

"SIM! AGORA ME JOGA LOGO A MINHA MOCHILA!"

"TÁ!"

Carol, tremendo, conseguiu alcançar a mochila de Rick, e a jogou pelo ar, passando por cima da cabeça do musculoso fantasma, que não deu a mínima e continuou flutuando em direção a Rick.

A mochila voou e chegou ao chão, mas estava longe. Rick poderia ir tentar alcançá-la, mas o musculoso já estava chegando perto; Ele não seria rápido o bastante.

"Morgana, pega a minha mochila! Você pode voar, deve ser mais rápida que eu!" gritou Rick.

Morgana estendeu sua mão para Rick.

"Eu quero te pedir algo em troca, então."

Rick apertou a mão de Morgana sem pestanejar, e antes de perguntar o que ela queria, ela saiu voando para pegar a mochila.

Ela pegou sem problemas, e já estava voltando. Parece que o fantasma realmente estava focado em socar Rick.

Morgana jogou a mochila para Rick e voou para o teto. Ele começou a fuçar nela até achar o que ele queria: Um iô-iô de ferro.

"UM IÔ-IÔ? ESSA É SUA ARMA SECRETA?" gritou Morgana.

"Fique quieta e veja isso!" gritou Rick, colocando o barbante do iô-iô em seu dedo e enrolando a linha ferozmente, enquanto o monstrengo transparente se aproximava.

Assim que ele terminou de enrolar, o musculoso havia chegado, e já estava pondo seu punho direito para trás, pegando impulso para "socar o panaca". Mas, por não ter sido pego de surpresa, Rick conseguiu desviar do soco, rolando para a sua direita.

Se levantando, Rick pegou seu iô-iô e o atirou em direção ao fantasma. Ao acertar, o fantasma começou a soltar fumaça, como se estivesse sendo queimado, e soltou um rosnado ainda mais alto do que os anteriores.

Se aproveitando da distração, Rick levantou seus braços e gritou:

"MORGANA, ME LEVANTA E ME JOGA NA CABEÇA DELE!"

"E por que eu faria isso?" perguntou Morgana.

"Porque ele provavelmente vai atrás de você depois de acabar comigo se você não fizer nada!" respondeu Rick.

"DROGA!"

Morgana segurou os pulsos de Rick, e, com dificuldade, conseguiu levantá-lo e soltá-lo em cima da cabeça do fantasma, que ainda estava urrando de dor. Ao ser solto, Rick se agarrou à testa do monstro e pressionou seu iô-iô na testa dele, fazendo ele soltar fumaça até que não havia sobrado mais nada. O bicho havia sido vaporizado.

"E você disse que ferro não mandava fantasmas pro além, não é?" brincou Rick, ofegante.

"... Nunca me mandou, pelo menos" respondeu Morgana.

**********************************************************************

O grupo, cansado da missão, foi direto para o portão da escola.

"Valeu, Rick. Eu até que estava duvidando de você no começo, mas você parece ser um profissional mesmo." agradeceu Carol.

"É! Foi incrível!" elogiou Milena.

"Hehe, só fiz o meu trabalho. Agora... Meus honorários, por favor?"

"Você sabe estragar o momento, hein panaca?" disse Morgana, que ainda estava flutuando próxima a Rick.

"Bem, trabalho é trabalho, não é?" disse Milena, dando uma nota de cinco reais para Rick. Era mais do que o dobro do que ele havia pedido!

"Olha, eu não tenho troco..." explicou Rick.

"Fica com o troco." disse Milena.

Os olhos de Rick quase derramaram lágrimas. Ele nunca havia ganhado tanto por uma missão assim.

"Obrigado pela preferência! Se vocês conhecerem alguém que está tendo problemas com fantasmas, é só chamar! Ou mandar um e-mail, tanto faz!"

E assim, com uma propaganda descarada, Rick pulou o portão da escola e seguiu em direção a sua casa. Carol e Milena fizeram o mesmo, indo na direção contrária.

"Ei ei..." disse Morgana, cutucando o ombro de Ricardo enquanto flutuava gentilmente ao seu lado.

"O que foi?" perguntou ele.

"... Você não tá se esquecendo de nada?"

"..." Rick pensou, pensou, até que se lembrou do que ela estava falando "Ah! A troca e tal, né? O que você quer, minha alma ou algo assim? Isso eu não posso dar, seria tolice e-"

"MEU DEUS, COMO VOCÊ FALA!" interrompeu Morgana "Eu não quero sua alma, cruz credo. Eu quero algo bem mais simples. Que você tire logo esse seu anel de prata e me deixe ir embora."

"Mas... Eu ia te mandar pro além. Você não quer isso? Achei que todos os fantasmas quisessem isso."

"Nem todos querem, panaca. Mas eu... quero. Mas não agora. Eu não lembro de nada da minha vida, mas sei que eu ainda tenho algo pra fazer aqui. E eu quero descobrir isso sozinha, se você não se importa."

"Tsc... Tá. Certo. Você me ajudou, eu vou te libertar. Mas se eu ouvir que você tá causando confusão por aí, eu vou te caçar, tudo bem?"

"Haha. Como se você fosse tão bom assim, panaca."

Os dois riram como se fossem velhos amigos, até Rick tentar tirar o anel. Ambos meio que sabiam que Morgana não poderia tirá-lo, já que ela é a prisioneira, mas ambos achavam que Rick poderia tirar o anel se ele quisesse.

Mas, ao puxar o anel, que entrava com folga no dedo de Rick, ele não saiu. Claramente não era porque ele era pequeno demais, ele até balançava de tão solto que estava. Mas, por algum motivo, Rick não conseguia puxá-lo.

"... Anda, cara... Para de brincadeira. Puxa logo esse negócio." reclamou Morgana.

"... Hehe... E-eu e você formamos um ótimo time lá atrás, não? Por que você não fica comigo mais um tempinho?"

"Não não, eu prefiro que você me liberte."

"Hum..."

"..."

"..."

"Se você me disser que o anel não quer sair, eu vou te dar um soco." ameaçou Morgana.

"... Sair não quer o anel?"

"SEU IDIOTA!"