— Itachi, Kakashi, por favor verifiquem se há alguma evidência deixada por Orochimaru aqui. Algo que indique o que ele estava planejando. Eu vou falar com a Ayumi.

— Hai!

 Shisui desceu as escadas procurando por Ayumi. Verificou que a ninja encontrava-se num dos cômodos da casa, fazendo justamente o que ele pedira a Itachi e Kakashi. Ele parou na porta e ficou observando como ela tocava todas as coisas com seu chackra.

— Você quer detectar se o chackra dele está aqui em algum lugar?

— S-sim. Ele definitivamente não está aqui perto. Tenho certeza disso. Mas deve ter deixado alguma evidência. 

— Ayumi-san, foi impressionante como você retirou o juinjutsu de Orochimaru. Eu nunca havia visto aquilo na minha vida. A maioria das pessoas infectadas com aquele jutsu morrem ou tornam-se escravas daquela marca pelo resto da vida.

 - Ele já havia tentado isso antes. – Ela coçava a cabeça, frustrada com o fato de não encontrar nada.

— Como assim? Você já havia se encontrado com o Orochimaru?

— Sim. - Agora ela estava virada para ele, apoiando-se em uma das mesas da sala onde estavam. – Foi há uns quatro anos atrás. Eu ainda estava, ahm, - Ela parecia verdadeiramente constrangida. – Eu estava com os nukenins de Kirigakure. – Suspirando, ela continuou. – Eu senti que ele se aproximava, mas fingi que não o percebi. Eu fazia isso todas as vezes que julgava o inimigo forte o suficiente para matar aqueles homens e me dar uma chance de escapar. Não... na verdade, eu desejava morrer. Eu não via propósito algum mais na vida. Mas quando o Orochimaru se aproximou, eu me arrependi de tê-lo deixado chegar perto. Era a primeira vez que sentia um chackra tão poderoso e arrepiante. E quando todos dormiam, ele me atacou, colocando o seu juinjutsu em mim. Eu percebi que ele estava ferido. Seu corpo estava seriamente adoecido e, por isso, ele não quis enfrentar os ninjas que estavam comigo. Eu sofri por quatro dias seguidos com o poder do juinjutsu. A verdade é que não me lembro bem o que aconteceu depois, mas quando acordei, estava no vilarejo, sob a proteção do ojii-san.

 “Então foi por causa do selo que ela matou os nukenins”, Shisui concluiu. Depois de refletir um pouco, ele a indagou:

 - Como o selo foi contido da primeira vez?

— Meu pai ajudou a controlá-lo. Ele conhece todas as técnicas de selamento dos Uzumaki. Na verdade, ele extraiu o jutsu com a mesma técnica que usei hoje.

— Entendo. – Shisui parecia reticente.

— O que foi, Shisui-senpai?

— O Orochimaru é um dos Sanin Lendários, você sabia disso?

— Sanin Lendários? O que é isso?

— São os três ninjas lendários de Konoha que foram essenciais para a vitória de nossa vila na segunda guerra mundial ninja. Orochimaru é um dos três. Ele tornou-se para o mal há muito tempo e é um dos maiores inimigos de Konoha agora.

— N-não acredito... O que será que ele quer comigo? 

— É exatamente isso que temos de descobrir. Nós sabemos que o Orochimaru vem fazendo experiências com seres humanos há um tempo já, numa tentativa de tornar-se mais forte.

Ayumi permaneceu em silêncio.

— Precisaremos reportar tudo isso ao Hokage-sama. O paradeiro de Orochimaru é algo que vem sendo investigado pela ANBU há muito tempo. Mas como uma cobra, ele sempre consegue nos enganar e fugir.

Itachi e Kakashi chegaram na sala assim que Shisui havia terminado de falar.

— Não encontramos nada. Creio que se procurarmos nas redondezas vamos encontrar o corpo verdadeiro do ninja que Orochimaru fingia ser. - Itachi reportou a Shisui.

— Bom, façam isso. Devemos a ele um fim digno de um shinobi de Konoha. Vou enviar um pássaro mensageiro ao Hokage, avisando-o do que houve aqui.

 - Hai! – Os dois se dispersaram.

— Vamos recolher as nossas coisas e nos preparar para a viagem de volta a Konoha.

— Nós não vamos atrás do Orochimaru?

— Como eu disse, Ayumi, ele é ninja muito perigoso. Não podemos tomar essa decisão sem antes consultar o Hokage. O melhor que temos a fazer agora é retornar e esperar por uma diretriz do Sandaime.

  - M-mas...

Shisui a interrompeu antes que pudesse continuar a falar:

— Suas habilidades ninja são realmente incríveis. Mas eu preciso ser sincero com você. Embora você tenha se desculpado mais cedo, no fundo, você só está lamentando o fato de não ter conseguido fazer tudo sozinha. Essa é a lição que precisa aprender, e se existe algo que a impede de se tornar uma jounin, é isso: Shinobis devem trabalhar em equipe. Depender de seus companheiros não é sinal de fraqueza, mas sim, o que nos faz mais fortes. E olha que sua equipe é basicamente constituída de portadores do Sharingan, mas você ainda assim achou-se fraca por ter sido ajudada por seus companheiros.

Ela o olhava envergonhada.

— Você tem razão. Me desculpe.

— Não tem problema! – Agora ele sorria, reassumindo os traços amigáveis de sempre. – Vamos?

— Hai.

 Kakashi e Itachi realmente encontraram o corpo do ninja cuja identidade havia sido roubada por Orochimaru. Ele estava há cerca de 7 km do posto de vigia, quase que na fronteira com o país da água e a julgar pelo estado em que se encontrava, o tempo de sua morte coincidia com o período em que os problemas começaram a surgir no Posto Sul. Depois de fazerem os preparativos necessários, prestaram as devidas homenagens e sepultaram o homem como um verdadeiro shinobi de Konoha.

Como já era madrugada, resolveram permanecer ali por mais uma noite e partir na manhã seguinte.

Ao amanhecer, Ayumi foi a primeira a se levantar. Preparou toda a sua bagagem e ficou aguardando os amigos na sala de comando. O iryonin que a ajudara era quem fazia a vigia.

— Bom dia, Ayumi-senpai. Já está melhor?

— Bom dia, mas pode me chamar só de Ayumi. Eu sou apenas uma chunin.

— Sério?! Inacreditável! Achei que você também fosse jounin, como os outros. Ainda bem que o Hokage-sama previu que a situação aqui estaria muito complicada. Nós não fazíamos ideia que era Orochimaru no lugar de Takeshi.

— O jutsu dele é muito bom. Foi difícil até pra mim identifica-lo.

— Bom dia, pessoal. – Itachi juntou-se a eles, também já pronto para ir. Ele ainda trajava seu uniforme de ANBU, certamente porque não poderia revelar sua identidade.

— Bom dia, senpai. – Ayumi respondeu.

— Senpai? – Itachi franziu o cenho, estranhando o cumprimento da kunoichi.

— Você é um jounin, correto? Além disso é um membro da ANBU. Desculpe não ter te tratado do jeito certo antes.

— Não se preocupe com isso, Ayumi-san. Você quer dar uma volta?

— Sim, o dia está lindo lá fora. Será que eles vão demorar muito pra levantarem? – ela falou enquanto seguia Itachi. O sol brilhava fracamente, mas já iluminava bem a região que era cercada por uma floresta densa. Um lugar perfeito para um posto de vigia.

— Não. Já devem estar se levantando, mas a verdade é que nós ficamos prontos antes do combinado. Você conseguiu me vencer de novo.

 Ela riu, corando. “Por quê minhas bochechas estão queimando?”

 - Eu não consegui dormir muito bem, pra falar a verdade.

— Você ainda está sentindo alguma dor?

— Não. Era só que... eu queria ter me desculpado novamente com você e Kakashi ontem. Mas tivemos muitas coisas pra fazer e acabei não tendo a oportunidade.

— Desculpar? Não há porque se desculpar, Ayumi-san.

Ela parou de caminhar e segurou o braço dele, olhando firmemente em seus olhos.       

— E-eu agi de forma muito arrogante ontem. Eu não tinha percebido, mas o Shisui-san me fez ver que ao “pedir desculpas” naquele momento, eu na verdade estava lamentando o fato de não ter conseguido fazer tudo sozinha. – Abaixando a cabeça, ela tentava esconder a vergonha que sentia. – Quanta arrogância. Me desculpe. Eu acho que ainda não me dei conta de ter, na minha primeira missão, os ninjas mais fortes de Konoha ao meu lado. Deveria me sentir honrada de ter o apoio de vocês numa batalha. Por isso peço desculpas por não ter sido completamente sincera ontem.

Ele a fitava surpreso, percebendo o quanto ela já tinha sido capaz de amadurecer em tão pouco tempo. Aquele pedido de desculpas fez Itachi se lembrar de como falhara em sua primeira missão, ocasionando a morte de seu amigo e da insegurança que aquilo lhe causara. Naquele momento, ele decidira tornar-se o mais forte de todos os shinobi, a fim de nunca falhar novamente. Sua falha o levou a concluir que ele era a solução, que o futuro daqueles que amava e do mundo que almeja descansava em suas próprias mãos.

Mas Ayumi era diferente. Ele conseguia entender completamente porque alguém com um passado como o dela era capaz de manter seu espírito intacto. Ela entendia suas limitações, ou melhor, aceitava-as. Apesar de se julgar arrogante, a kunoichi era, na verdade, muito humilde. Tão simples à ponto de reconhecer sua própria limitação.

— É por isso que me chamou de senpai?

— Sim. Não os estava tratando da forma correta. – Ayumi subitamente se deu conta de que ainda segurava o braço de Itachi, e soltando-o, sorriu para o rapaz. - Obrigada por ter salvado minha vida ontem também.

Ele ficou constrangido e apenas murmurou algo que ela entendeu como um “De nada”.

— Acho melhor a gente voltar, os dois já devem ter levantado.

Assentindo, Itachi seguiu Ayumi até o Posto de Vigia, onde podiam ser vistos Kakashi e Shisui já despedindo-se dos demais ninjas.

— Onde vocês estavam? – Kakashi perguntou aos dois.

— A gente foi dar uma volta, acordamos um pouco mais cedo.

— Vocês ainda estão competindo pra ver quem acorda mais cedo? Francamente...- Shisui brincou com os colegas.

— Eu ganhei novamente, que fique claro! – Ayumi piscou, erguendo os dedos indicador e do meio.

— Yare, yare. Já temos de ir. 

Os quatro se despediram, deixando orientações para os três shinobis que permaneceram no posto de vigia. Apesar do clima pesado que pairava sobre eles no dia anterior, a manhã e o brilho do sol trouxera certa alegria aos ninjas de Konoha. Podiam sentir o vento e ouvi-lo agitar as folhas da floresta, que dançavam suavemente.