Wrestling & Romance escrita por MrSancini


Capítulo 8
Capítulo 8: Verdades~Sons~Futuro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742330/chapter/8

Nicole

Eu finalmente consegui colocar pra fora o que sinto por Diego, e meu coração ficou bem mais leve. Independente do que acontecesse, eu me sentiria ao menos satisfeita com o que fiz. Diabos, eu senti meu coração pesado e triste quando Lara disse que gostava do Diego e o havia beijado.

Mas, quando eu estava prestes a sair do parque e voltar para casa, Diego muda completamente o jogo... E eu me sinto completamente idiota com a confissão dele. Sim, idiota, porquê estava ali na minha frente, o tempo todo! Claro, eu sei que existe amizade verdadeira entre homens e mulheres, e não por acaso Diego se tornou meu melhor amigo. Mas ainda assim... A verdade é que eu não sei como reagiria antes se ele confessasse seus sentimentos pra mim naquela época, ou qualquer outro momento posterior.

Parece que nossa amizade e todos os eventos que se sucederam, com nós dois guardando aquele sentimento mútuo direcionaram para este momento. E, após ponderar um pouco, faço o que acho que é necessário e pego Diego pela nuca, e lhe dou um beijo.

Diego

O mundo parou para mim. Naquele momento, quando Nicole me beijou, eu simplesmente não consigo mais pensar em nada, apenas na sensação dos lábios dela junto aos meus. Se caísse um meteoro ali, eu não ligaria de morrer... Ok, um pouco exagerado da minha parte, mas eu estava bem feliz.

Quando nos separamos, sinceramente é difícil pensar em alguma coisa para falar. A verdade é que eu nem sei se quero falar algo ou voltar a beijar Nicole. Só de saber que o que sentimos é mútuo, tira um peso de minhas costas.

—Desculpe... Eu... - Nicole tenta dizer algo, mas aparentemente não consegue

—Você também, hein? - Dou uma risada, porque aparentemente eu não era o único que estava sem palavras ali.

—Espera... - Nicole faz uma cara confusa – Do que você está rindo?

—Desculpe, é que eu também não sei o que dizer...

E nesse momento, Nicole acaba caindo na risada também. Sinceramente, não sei se esse negócio de almas gêmeas existem, se é verdade que há sempre alguém que nasceu para complementar outra pessoa. Eu sempre fui cético em relação a essas coisas, sem contar que isso às vezes é relacionado a astrologia, que é basicamente uma ciência de charlatões que enganam adolescentes e pessoas imaturas, e...

—Terra para Diego, Terra para Diego! - Nicole dá um tapa na minha nuca, enquanto me chama – Precisamos trabalhar nessa coisa de você ficar divagando.

—É, acho que você tem razão...

—Você ACHA?

A verdade é que eu não dava a mínima para aquilo. Só de ter a Nicole ali do meu lado, valia a pena, então em relação a questão, eu simplesmente dou de ombros.

—Só me pergunto como a Lara vai reagir com isso tudo... - Nicole comenta, com um tom levemente triste.

—Bem... A verdade é que eu tenho algumas suspeitas sobre a reação de Lara, porque algumas das atitudes dela são contraditórias... - Confesso, sem a mesma preocupação que Nicole demonstra – Mas, primeiramente, não devemos ficar aqui falando sobre a Lara, principalmente sem ela estar por perto... Me parece falta de educação.

—Tem razão...

—Então... O que vamos fazer agora?

—Podemos... Não sei... Voltar pra casa?

Às vezes eu me surpreendo com minha própria obtusidade, e olha que eu já não estava mais com aquela camisa laranja que usava de manhã. Enfim, dando de ombros, voltamos pra casa de mãos dadas, mas conforme chegamos na nossa rua, decidimos soltar as mãos, porque tecnicamente, eu ainda não havia pedido a Nicole em namoro. Para mim, aquele não é o momento ideal.

O almoço corre da maneira mais natural possível, já que nem eu, nem Nicole e tampouco Lara tocamos no assunto. E depois do almoço, decido ir ao Shopping pra aliviar a mente e pensar no momento ideal para pedir Nicole em namoro. Estranhamente, Erick decide me acompanhar.

Naquela tarde de quarta-feira, o Shopping estava com uma lotação maior que a usual, porém, como não tínhamos necessariamente nada em mente pra fazer (ao menos não eu), andávamos com relativa calma e tranquilidade.

—Nossa, isso aqui tá mais cheio do que ontem... - Erick comenta, olhando as pessoas ao redor.

—Verdade... Enfim, Erick... O que você veio fazer com a Beatriz e a Brenda ontem?

—Provavelmente a mesma coisa que você e a Nicole fizeram ontem de noite. Você sabe, presentes de Natal, lembranças aqui e acolá. E comermos alguma porcaria.

—Acho que não compramos presentes de Natal... - Eu comento, rindo – E só comemos um pacote de pães de queijo.

—E não passaram a noite com fome? - Erick arregala os olhos – Então, cara... Aconteceu algo contigo hoje? Sei lá, você parece... Andar mais leve, como se tivesse tirado um peso imenso das costas.

—Sério? - Ergo as sobrancelhas. Claro, acontecera algo. Algo muito bom. - Sei lá, cara, eu só tenho a impressão de que coisas boas estão para acontecer.

—E isso não é só com você... Sabe, depois que arrumamos a casa, a Lara tava conversando com a Nicole no quarto, e a Nicole saiu de casa bastante abalada – Ele comenta, um pouco pensativo – Mas quando ela voltou com você, ela parecia muito mais tranquila do que eu jamais a vi nesses anos que a conheço... E incluo aqui as vezes em que a vi na época do ginásio!

—Bem... De certa forma uma coisa tem a ver com a outra, mas quando encontrei a Nicole no parque ela realmente parecia abalada – Conto, não revelando tudo – Eu só ajudei a Nicole a encarar aquele problema que ela teve, por uma nova perspectiva.

—Entendi... - O tom de Erick poderia significar que ele entendeu o que REALMENTE havia acontecido.

—Mas e quanto a você, Erick? - Resolvo mudar de assunto – Uma coisa pela qual você é "famoso", é por tentar dar em cima de todas as garotas que aparecem. Mas você já se pegou gostando de alguém?

—A verdade é que eu não sei – Ele dá de ombros, um pouco triste – Sim, eu saio cantando boa parte das garotas que vejo, porque eu me sinto fisicamente atraído... Mas nunca parei pra pensar em alguém... Pelo menos não dessa forma. Eu bem que gostaria, sabe.. De poder ficar com alguém assim, tranquilamente.

Eu nunca tinha visto esse lado do Erick. Sério, ele sempre se achara um presente divino para as mulheres, e até mesmo se forçara a gostar de bebidas alcoólicas (ainda que esse tipo de coisa não seja legal, NINGUÉM respeita esse tipo de lei no Brasil, não no consenso geral). Talvez o Don Juan de araque do grupo tenha mesmo jeito.

—Mas, chega de falarmos de romance! - Ele diz, decidido a mudar NOVAMENTE o rumo da conversa – Que tal comermos algo?

—Erick... - Eu arregalo os olhos. Erick realmente tinha uma alma de gordo. - Nós ACABAMOS de almoçar.

—Então, o que sugere que façamos em um shopping?

—Bem... Ontem, eu e a Nicole tivemos um momento bem bacana jogando OutRun 2, e o fliperama daqui parece ser de boa qualidade... Que tal passarmos lá!

—É uma ótima ideia!

E lá fomos nós, passar algum tempo jogando jogos como Tekken, The King of Fighters e Street Fighter... Deus abençoe aqueles que fazem as máquinas multi jogos porque sem elas, seria impossível achar um arcade de Breakers Revenge e eu acho esse jogo legal pra caramba.

E naquele momento, enquanto batia alguns "contras" com meu amigo, eu pude esquecer os problemas que ainda tinha para resolver. E videogames nunca são ruins. Existem exceções, mas geralmente eles me ajudam a relaxar e principalmente, me divertem pra caralho.

Por volta de quatro e meia, quatro e quarenta da tarde, e muitos reais a menos, nós dois nos damos por satisfeito e saímos do fliperama. Passando na praça de alimentação para um lanche rápido, vemos um palco sendo montado no centro, ainda em fase inicial. Provavelmente alguém tocaria lá mais tarde.

Alguns cartazes colados em pilastras indicam que naquela noite, uma banda tocaria, patrocinada por uma lanchonete ali. Talvez, dependendo do gênero eu desse uma passada lá mais tarde. Eu fui até o restaurante, e o gerente me disse que eles sempre variam o gênero a cada semana, por vezes são grupos de pagode, reggae, samba, pop, rock e naquela noite, seria heavy metal. Interessante, dependendo das músicas. Um sanduíche e um refrigerante depois, voltamos para casa.

—Cara, foi bom termos passado a tarde jogando! - Erick diz, se espreguiçando enquanto caminhamos de volta pra casa – Eu definitivamente precisava disso pra relaxar!

—Só lembrando que eu te surrei na maioria das vezes – Dou uma ombrada de leve nele, rindo

—Eu sei... Mas foi divertido pra caramba, velho! Não sei como tem gente que usa os videogames pra segregar! É uma parada legal que pode unir!

—Não é?

Chegando em casa, Nicole, Lara, Brenda e Beatriz estão preparando o café da tarde... O que é meio estranho, porque por volta das oito da noite estaremos jantando. Nicole me chama, acenando.

Vamos até a copa, enquanto nossos amigos estão comendo.

—Então.. Quer falar algo comigo? - Pergunto, tendo dificuldades pra não beijá-la ali mesmo.

—Bem... Andei pensando essa tarde – Nicole responde, passando a mão em meu braço – E acho que devemos falar com a Lara sobre nós dois.

—... - Respiro fundo – Devíamos mesmo. Mas quando?

—O que vocês deviam falar? - Escutamos a voz de Lara, entrando na copa e acabamos nos sobressaltando.

Caramba, pelas habilidades de não ser detectada, acho que a Lara poderia ser parte do elenco de "Metal Gear Solid 6: Snake quer um pirulito", porque ela sempre chega de mansinho sem que percebamos. Enfim, olho pra Nicole e ela assente positivamente.

—Então, Lara... - Eu começo, totalmente sério – Não queremos magoar você, principalmente porque você é muito nossa amiga e tudo mais... Mas, sobre os acontecimentos de hoje, todos eles... Bem, a verdade é que você sempre soube que eu sou apaixonado pela Nicole, e hoje eu descobri que a Nicole também gosta de mim e...

Antes que eu termine de explicar, Lara nos abraça ao mesmo tempo, sorrindo. Aquela definitivamente não era uma reação que eu esperava.

—Finalmente você conseguiu colocar pra fora, não? - Lara pergunta, se dirigindo a ninguém em específico. - Vocês dois, aliás.

—Ma-ma-ma-mas e toda aquela conversa de que você gostava dele e iria lutar para conquistá-lo? - Nicole pergunta, estupefata.

—Desculpa por isso, Nic. - Lara dá de ombros, pedindo desculpas – Mas eu precisava fazer algo mais incisivo pra ver se você colocava o que sentia pelo Diego pra fora. Não é de hoje que percebo que as vezes você olhava um pouco diferente pro Diego, e foi só somar dois e dois pra saber que você sentia algo mais do que amizade por ele.

Não sei quem está mais chocado, se sou eu ou Nicole, mas nenhum de nós ousa interromper Lara, que parece não ter terminado.

—Então, foi preciso que eu pressionasse os botões certos – Lara faz referência as vezes em que "flertou" comigo discretamente – Até que hoje, você finalmente colocou esses sentimentos pra fora. Foi difícil, mas enfim, a verdade é que sempre amei o Diego como um irmão... E isso torna o namoro de mentira que tivemos algo pior do que parece. Só espero que vocês dois estejam juntos oficialmente... - A cara de espanto da gente responde a indagação de Lara – Não acredito! Olha, quer saber? Hoje, façam-me o favor de ir sei lá, pro shopping, pro parque ou qualquer outro lugar, mas não me voltem sem estarem namorando oficialmente!

Ok, não sei se eu estava mais feliz porque definitivamente a Lara não ficaria mal com a situação entre mim e a Nicole, ou assustado com ela nos jogando um nos braços do outro. Mas independentemente disso, eu realmente queria pedir a Nicole em namoro de uma maneira mais civilizada, até que uma ideia me veio a cabeça.

—Pode ficar tranquila Lara... - Digo, sem contar nada a Nicole – Mas por favor, não conte nada aos outros, quero fazer isso da maneira certa.

—Tuuuuuudo bem! - Lara bate uma continência zombeteira, mas eu sabia que ela não contaria.

—O que você pretende fazer? - Nicole pergunta, enquanto Lara saia da copa.

—Bem... - Eu coço um pouco a cabeça, não pra pensar, mas por força do hábito – Eu sei que vai parecer esquisito, mas eu gostaria que você viesse ao Shopping comigo depois.

—Eu não sei qual o sentido disso, embora desconfie de algo... - Ela me dá um selinho rápido – Mas, tudo bem... Vou com você. Embora essa coisa de estarmos juntos, mas não estarmos oficialmente juntos esteja confundindo a minha cabeça.

Da maneira que a Nicole disse, eu também comecei a ficar confuso. Ou seja ruim em explicar esse tipo de coisa, sei lá. Mas enfim, nós dois saímos da copa e vamos tomar o lanche da tarde, enquanto os outros estão terminando.

—Enquanto o casalzinho lavava a roupa suja na copa, os pães esfriaram – Erick reclama, zombeteiro.

—Pois é, a sua cueca tinha freadas demais, então demorou – Nicole devolve no mesmo tom gozador

O resto do lanche ocorre no mesmo ritmo, com brincadeiras e menções a qualquer outra besteira que fosse de nosso feitio. Curioso que nos três dias que estamos aqui, a TV mal foi ligada, geralmente eles ligavam pra ver algum filme... E isso só aconteceu uma vez. Definitivamente nessa era onde o streaming era altamente popular, TV's eram menos necessárias para pontualidade, apenas casualidade.

Nicole escolhe algumas roupas antes de tomar banho para sairmos e depois vai se arrumar no quarto de Brenda, Beatriz e Erick, enquanto eu acabo escolhendo minhas roupas aqui no nosso quarto. Escolho uma jaqueta azul marinho de couro (não me pergunte porque eu levei uma jaqueta de couro para uma cidade litorânea), uma camisa preta e uma calça jeans.

Quando termino de me arrumar, pentear o cabelo (cabelo grande é fogo de arrumar) e claro, pegar coisas como o cartão de crédito, vou para sala e encontro Nicole arrumada, ela escolhera um look ironicamente parecido com o meu, mas a jaqueta dela era vermelho escura e a cor caía bem com o cabelo claro dela, ao menos na minha opinião.

—Então, Diego... - Nicole se dirige a mim – O que vamos fazer no Shopping?

—Eu vi hoje com o Erick – Começo a explicar – Que uma banda de heavy metal iria tocar na praça de alimentação hoje. E claro, poderíamos dar uma volta, conversar, esse tipo de coisa.

Sem mais delongas, ela assente e saímos juntos de casa. Apesar de usarmos jaquetas, eu não sentia calor, já que a temperatura do dia no geral tinha sido amena. Porém, todo cuidado é pouco e ao invés de irmos caminhando para o Shopping, pegamos um ônibus, afim de evitarmos suar.

No shopping, passeamos de mãos dadas, e definitivamente as pessoas das cidades próximas vieram para cá fazer as compras de Natal, porque a lotação está MAIOR do que a daquela tarde.

—Tem alguma coisa em mente até a hora do Show? - Nicole me pergunta, tomando cuidado para não esbarrar nas pessoas, nós estávamos com os ombros colados.

—Hum... Tem uma ou outra coisa que eu quero comprar... - Desconverso, porque quero dar algo especial a ela e não sei exatamente onde comprar.

—Você não faz ideia, não é?

—Não... - Eu começo a rir, ela me conhecia bem – Eu não faço a menor ideia do que comprar ou de onde comprar.

—Típico... - Nicole desata a rir também.

Após uma volta, vejo uma loja que curiosamente, mesmo tendo passeado pelo Shopping com a Nicole ontem e com o Erick hoje, eu não havia visto. E pelo visto ela poderia ter o que eu precisava, mesmo podendo sair mais caro do que se eu comprasse a mesma coisa pela internet.

—Me aguarde aqui, volto em alguns minutos – Peço, dando um selinho na Nicole e entrando na loja.

—Só não demore... - Nicole diz, um pouco vermelha pelo selinho não esperado.

Nicole

Enquanto Diego está na loja, eu penso na diferença que há desde que nos oficialmente declaramos apaixonados um pelo outro. Antes, estávamos basicamente em um campo minado, sem um necessariamente saber o que significa de verdade pro outro, e agora... Bem, ainda não era um mar de rosas, mas da minha parte era como se um peso enorme houvesse saído de minhas costas.

Eu ainda não havia contado para ele sobre ter descoberto o que queria fazer da vida, porque depois do transcorrido na manhã de hoje, não houve tempo para isso, eu ajudei na limpeza pós almoço e fui caminhar um pouco na praia e observar a vista do forte sozinha.

Foi bom, eu pude pensar que finalmente poderia encarar meu pai de frente e dizer o que eu queria fazer da vida. Não que ele fosse reclamar, isso era mais da minha parte. Era doloroso ver a Alice e a Karen tendo objetivos de vida e eu não, sendo elas mais novas do que eu.

Agora, mesmo que eu acabasse falhando no meu objetivo, não seria por falta de tentativa e isso ao menos me deixaria bem por ter tentado.

Meus pensamentos são interrompidos quando as luzes são apagadas... Ou o Diego, idiota como sempre, tapou meus olhos.

—Se você não tirar as mãos dos meus olhos agora, vou dar uma cotovelada bem nas suas Dragon Balls! - Ordeno, com a voz um pouco mais alta do que gostaria.

Diego

A minha reação a "ordem" de Nicole, de tirar as mãos dos olhos dela foi, obviamente obedecer, pois não quero passar a noite cantando como um soprano. Claro, depois de tirar as mãos dos olhos dela, eu a abraço por trás, dando um beijo em sua bochecha.

—Desculpa por isso... - Sussurro ao ouvido dela – Eu só queria brincar um pouco com você.

—Tudo bem... - A voz dela era mais calma, e depois que a solto, ela se vira pra mim – Comprou o que queria?

—Na verdade, eu não sei bem o que queria... Mas, acabei achando!

—Então, podemos ir pra praça de alimentação? Da vez em que passamos, a banda estava começando a passagem de som.

—Creio que sim... - Olho pro meu relógio, são dez para as sete da noite. A coisa que eu comprara, está em meu bolso e obrigado leis da conveniência pelo pacote ser pequeno.

Abraçados, vamos até a praça de alimentação, que começara a atrair as pessoas, enquanto os rapazes passavam o som. Era um quinteto, com um teclado, uma bateria, duas guitarras e um baixo. Pela posição dos instrumentos no palco, o vocalista era também o tecladista, embora o teclado ficasse não no centro, mas um pouco ao lado esquerdo.

Claro, que isso são conjecturas minhas, baseadas em apresentações ao vivo que assisti no YouTube e em DVD's. Continuando, na bateria da banda, em letras estilizadas, estava o logotipo da banda, Magic Fires, que não era lá um nome muito marqueteável para banda de metal. Mas, se pararmos realmente pra pensar, no geral, muitos nomes de bandas famosas, a princípio soam idiotas, mas com o tempo, nos acostumamos e amamos.

O vocalista/tecladista da banda era um cara que definitivamente não fazia a pinta de cantor de heavy metal, sendo bem bonitão por assim dizer, a baterista era uma loira com mechas azuis no cabelo e suas feições faciais eram bem semelhantes as do vocalista, o que poderia sugerir que eles eram da mesma família. Um dos guitarristas e o baixista tinham aquele visual bem característico de integrantes de banda de rock, ao menos de acordo com o clichê, ou seja, eram cabeludos. Somente o outro guitarrista parecia um pouco deslocado com a vestimenta definitivamente não combinando com o resto da banda... Ao menos, segundo as MINHAS impressões. Eu poderia estar completamente equivocado e a diferença entre este guitarrista e o resto da banda, ser algo que é PARTE da identidade da banda.

—Boa noite... - O vocalista da banda cumprimenta os presentes – Nós somos os Magic Fires, e hoje, vamos botar pra quebrar! Vão fundo, Alex! Marcos!

Os guitarristas começam alternadamente a tocar os primeiros acordes de "Rock You Like a Hurricane", do Scorpions. A harmonia dos instrumentos é boa, e aparentemente, apesar de jovens, os músicos naquele palco tem bastante talento. Apesar de que de algum modo, os guitarristas não estarem em sinfonia.

O set-list da banda, é composto basicamente de covers, porque em um show para Shopping, se você não tem um nome, é melhor evitar músicas próprias. Então, passamos por covers de sucessos como "A Whole Lotta Rosie", do AC/DC, "Welcome to The Jungle", do Guns & Roses, "Jump", do Van Halen e "Symphony of Destruction", do Megadeth, com os instrumentistas compensando a falta de equipamento para fazer covers mais exatos com bastante energia e empolgação.

A banda me pega de surpresa quando ouço um acorde de teclado bastante familiar...

—Eu não acredito... - Falo, olhando para Nicole, de olhos arregalados

—O que foi? - Nicole pergunta

—Essa música...

Minhas suspeitas são confirmadas quando o vocalista, que aliás, se chama Nicholas, começa a cantar os primeiros versos:

The agony of human race, never leave like a shadow

The end of life, now we can feel the time

Throw the stone to lake of tears

Can you hear the sound of sadness?

Remember now, the pain we took on the road

Era "The Garden of the Goddess", minha música favorita do álbum de estreia da banda japonesa de power metal "Galneryus", o "The Flag of Punishment". Pelas reações do público em geral, ninguém conhecia a música, mas eu conhecia e por alto a Nicole conhecia porque eu meio que compartilhei com ela meu gosto por certas bandas de metal.

E aparentemente nós somos os únicos que cantamos junto, inclusive o próprio Nicholas percebeu isso. A recepção a música por parte do público não foi ruim, longe disso, eles apenas não conheciam, e creio que alguns devem até ter pensado que era uma música autoral. Enfim, o show procede com outras músicas, como "The Prisioner", do Iron Maiden, "Enemy", do Fozzy, "Youth Gone Wild", do Skid Row e um cover bem bacana de "Lady of Winter", do Crimson Glory, apesar de Nicholas não conseguir chegar no mesmo agudo que o finado Midnight, lendário vocalista da banda original.

Após o show, o vocalista acena para nós dois que estávamos na frente e sussurrou para que o encontrássemos na lanchonete patrocinadora do show em quinze minutos.

—O que aquele cara quer com a gente? - Nicole se pergunta, após o pessoal que acompanhava o show começar a se dissipar, sendo substituído pela multidão típica de shoppings a noite.

—Sei lá, nunca vi na vida... - Respondo, dando de ombros – Mas seria interessante bater um papo com ele... Não é todo dia que se encontra alguém fazendo cover de uma música que é underrated até para fãs do Galneryus.

—Acho que ele ficou feliz com o fato de que a gente reconheceu a música que ele tocava.

—Pois é... - Dou uma risada genuína – Acho que é legal ser reconhecido por um bom trabalho.

Quinze minutos depois, encontramos Nicholas no restaurante que patrocinava os shows daquele shopping. E... Apenas um guitarrista, Alex está lá, junto com o baixista que descobri se chamar Roberto e a baterista, Samantha.

—Olha... - Nicholas chega, me cumprimentando – Desculpa por ter chamado vocês dois de maneira esquisita depois do show... É que eu realmente fiquei feliz quando alguém finamente reconheceu "The Garden of the Goddess" que sei lá...

—Tudo bem, eu acho... - Fico meio sem jeito.

—Olha, eu sou o Nicholas... - Ele se apresentou oficialmente – Essa aqui é minha irmã, Samantha, o babaca de óculos escuros – Ele aponta para o baixista, dizendo de maneira brincalhona – é o Roberto e o cara aqui do lado é o Alex.

—Prazer... - Digo, ainda um pouco encabulado – Eu me chamo Diego e essa aqui é a Nicole.

—Cara, relaxa... - Nicholas se espreguiça – Não vamos raptar vocês.

—É que meio que... Enfim, deixando isso pra lá... De onde vocês conhecem a música? - Pergunto, mudando de assunto

—Culpada! - Samantha levanta a mão – Eu meio que ouço diversas músicas aleatórias graças as maravilhas do youtube, e essa música em particular me chamou a atenção, eu apresentei ela ao Nick e aí adicionamos ao repertório da banda!

E dali em diante, começamos a conversar sobre música, e deixou de ser dois adolescentes e uma banda, para simplesmente seis jovens contando sobre seus gostos no Heavy Metal. Apesar das aparências, Roberto e Alex eram bastante simpáticos e a banda num geral era bem pé no chão, apesar da vontade de crescer profissionalmente.

—Bem, mas e você, Diego? - Samantha perguntou, em certo ponto – Agora que terminou os estudos, o que vai fazer da vida? Faculdade, ou algo mais?

—A princípio não sei se quero fazer uma faculdade – Respondo, seriamente – Eu tenho treinado bastante, e quero ser um wrestler profissional. Inclusive tenho já certa experiência, no Rio e em São Paulo.

—Mas você sabe que aqui no Brasil, a luta livre profissional não tem muito mercado, não sabe? - Roberto aponta, sabiamente.

—Sei... Por isso quero ir pra fora do país – Respondo, com a voz um pouco triste por causa do que isso implicaria. - Sei que em outros lugares, como o México, ou EUA, ou Canadá ou mesmo a Inglaterra tem locais pra formação mais sólida.

—Entendi... - Nicholas olha rapidamente de mim para Nicole, como se visse algo entre nós. Será que pareceu tão óbvio assim?

—Uma coisa que reparei aqui... - Nicole muda de assunto, rapidamente – É que o outro guitarrista de vocês não está presente... Tem alguma razão em específica?

Pela cara de Nicholas, Samantha, Roberto e principalmente, Alex, Nicole havia tocado em um nervo importante. E o tom de Nicholas a seguir, deu a indicar que era realmente algo sério.

—Que isso fique entre a gente, mas a relação entre a gente e o Marcos já não é das melhores – Nicholas comenta, numa mistura de tristeza e conformismo – Divergências musicais acontecem em toda banda, mas ele parece simplesmente não querer mais tocar com a banda.

—O que é algo ruim, AGORA – Alex completa, dando um soco na mesa – Porque semana que vem, teremos um festival/concurso que vale uma chance de contrato com uma gravadora! E não é pouca coisa não, o produtor dessa gravadora dizem ter um toque que vale ouro!

—E creio que teremos que tirar ele da banda... - Samantha conclui.

—É triste... - Nicole comenta, um pouco envergonhada de ter trazido o assunto à tona

—Sem problemas... - Nicholas sorri, e olha o relógio – Caramba, já estamos conversando já tem todo esse tempo?

Olho o relógio e vejo, realmente... Já eram nove e meia da noite, sendo que o show terminou por volta das oito e vinte.

—Bom, a gente tem que ir! - Nicholas diz, começando aquele cerimonial de despedidas. - Sei que parece idiota, mas vamos... Uma foto juntos?

—Por quê não? - Dou de ombros, e tiramos uma foto nós seis juntos, eu, Nicole, Nicholas, Samantha, Roberto e Alex.

E depois de trocar usuários das redes sociais que usamos (como o twitter e instagram), nos despedimos e cada um vai basicamente pro seu lado.

—Caramba... - Digo pra Nicole, enquanto descemos a escada rolante do Shopping – Não imaginei que levasse esse tempo todo na conversa!

—São garotos legais... - Nicole sorri. - Eles tem futuro na música.

—Ao menos se eles conseguirem chegar lá.

—Mas... E agora? - Estávamos na porta do Shopping, e eu ainda não havia pedido Nicole em namoro. Ela fez bem em voltar a tocar no assunto da nossa visita ao Shopping.

—Certo... Agora... - Caminhando até o ponto, faço sinal para um ônibus. - Nós precisamos conversar, Nicole... Mas não aqui, e sim em um local mais apropriado.

O ônibus segue até a orla, e perto do farol, puxo a cordinha para descermos justamente ali. Felizmente, a noite estava bonita, e peço para Nicole me acompanhar até o farol. Felizmente ele funciona em três turnos de oito horas, então não teria necessariamente um problema entrarmos ali. Claro, nenhuma pessoa sã vai comprar uma lembrança às três e vinte e cinco da manhã, então as lojas fechavam por volta das 11 horas da noite, com os seguranças resguardando o local e a iluminação provida pelo farol ajudando os barcos.

Nós subimos as escadas até o topo, onde realmente, a vista de lá era tão bonita a noite quanto era de dia. Por sorte foi o primeiro lugar que me veio a cabeça, depois de não ter conseguido conversar com a Nicole depois do show da Magic Fires.

—A vista daqui é linda... - Nicole sorriu, observando a praia durante a noite.

—Não tanto quanto você... - Digo, puxando Nicole para perto de mim e dando um beijo longo nela. Depois de todos aqueles selinhos que trocamos ao longo do dia, voltar a sentir os lábios de Nicole durante um tempo maior que meio segundo era algo que me dava certeza do que eu sentia.

A princípio, quando a puxei, ela relutou, mas quando nossos lábios se tocaram, eu sabia que o sentimento era de fato mútuo. Quando nos separamos, acho que tanto eu quanto Nicole estávamos sem fôlego.

—Da próxima vez... Avisa, faz favor... - Nicole ri...

—Desculpe... É que eu meio que senti falta disso... - Me justifico de maneira meio 'duh'.

—Se isso proceder novamente, eu não serei tão boazinha...

—Tudo bem, mas tem algo que eu queria realmente falar contigo... - Eu respiro fundo pra escolher as palavras certas – Você já sabe, pelo menos desde hoje, que eu sou realmente apaixonado por você. E de acordo com o que você me disse, bem, você gosta de mim, não é?

—Até o momento, 100% de precisão, Capitão Óbvio!

—Obrigado por me fazer parecer mais idiota do que sou... - Tiro algo do meu bolso, era uma caixinha – E eu sei que isso pode parecer um tanto antiquado, mas... - Eu me ajoelho e abro a caixinha, contém dois anéis... Com uma temática nerd. Eu morri uns 350, 400 reais facilmente. E certamente poderia ter comprado por menos lá fora. Mas são dois anéis com duas esferas do dragão de quatro estrelas. E eu não sei se acharia outro desses com essa facilidade – Considerando o que eu sinto por você, e como você se sente em relação a mim, eu preciso tornar isso oficial, então... Nicole... Você quer namorar comigo?

Olhando por retrospectiva, isso pareceu meio escroto da minha parte, armar esse circo para pedir a Nicole em namoro. E até parecer que eu estava pressionando ela pra aceitar com toda a coisa de sairmos juntos pra um show e virmos até o farol para eu formalizar o pedido. A verdade é que eu não penso muito racionalmente em relação a meus sentimentos por ela, então eu entenderia se ela não aceitasse nesse momento. E a espera pela resposta dela, mesmo tendo durado menos de dez segundos, me pareceu durar uma eternidade.

—Eu... - Ela responde, com a voz sussurrada – Eu aceito...

Ainda que eu mantivesse um sorriso de felicidade, por dentro eu estava fazendo aquela famosa dancinha do Carlton em "Um Maluco no Pedaço". E quando eu coloquei o anel no dedo de Nicole e a ela colocou o outro anel da caixinha no meu dedo, antes de nos beijarmos para selar a nossa relação que finalmente tinha se tornado oficial, então, mesmo se algo desse errado dali em diante, nós estaríamos juntos pra enfrentar as adversidades.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Créditos da Música:

The Garden of the Goddess:
Letra: Masahiro "Yama-B" Yamaguchi
Música: Syu
Intérprete: Galneryus



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wrestling & Romance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.