Wrestling & Romance escrita por MrSancini


Capítulo 7
Capítulo 7: Confissão ~Um Sentimento Mútuo~




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Nicole

São cinco e meia da manhã quando acordei por alguma razão. Lara e Diego ainda dormem profundamente, mas provavelmente o Diego deve acordar lá pras seis e vinte da manhã. É típico dele. Enfim, vou até o banheiro, lavo o rosto e escovo meus dentes, pensando no que o Diego me dissera sobre primeiro me preocupar com a minha felicidade e depois pensar no sonho... E aquilo fazia o total sentido.

Eu me preocupava demais com "Ah, o que será que eu vou fazer? Não quero viver do patrimônio do meu pai!" e esqueci de simplesmente... Ir atrás da minha felicidade... Ou algo assim. Eu queria ter soado mais legal, mas bem... Eu não sou tão legal assim.

Saio de casa, indo até a praia pra pensar um pouco, antes de fazer a minha caminhada diária. Lá, paro e vejo o sol ainda fraquíssimo, e uma leve neblina matinal, que causa uma sensação de frio.

A noite no Shopping com o Diego fora bem divertida, apesar de termos apenas conversado, batido perna no Shopping e jogado uma única ficha de OutRun 2. O que valeu foi aproveitar a companhia dele e não me preocupar com o que sinto ou quero pra amanhã.

Apesar disso, uma cena que eu vira na manhã daquele dia, quando eu havia terminado minha caminhada e descansava um pouco antes voltar pra casa, me marcou bastante. Diego e Lara estavam treinando juntos. Eu já havia assistido alguns treinos da Lara e do Diego, mas aquele momento ali dos dois, era algo totalmente diferente.

Eu não sei como eles se viam, provavelmente como parceiros de treino (Diego me disse que antes de treinarem de verdade, eles praticavam golpes numa cama elástica que a finada avó dele havia comprado), mas eu via algo mais na expressão facial deles, uma paixão ardente, era algo pelo qual os dois eram REALMENTE APAIXONADOS.

A maneira com a qual Lara corria para aplicar um spear, ou Diego preparava um Super Kick, o olhar deles, a compenetração misturada com a paixão por aquilo, foi algo que me deu arrepios... De algum modo, mesmo não sabendo nenhum golpe, eu QUERIA ESTAR ALI com eles.

Naquele momento, um estalo veio na minha mente... Como... Como eu nunca havia pensado naquilo? Se... Se eu também... Eu inclusive poderia passar mais tempo com ele... E finalmente, finalmente eu encontrara algo que eu de fato queria fazer... E estava ali na minha frente, o tempo todo! Agora só faltava eu arrumar um meio de tornar isso real.

Com uma nova determinação, olho no meu telefone o mapa da cidade, e o parque de Rio Azul ficava há uns trinta minutos de caminhada daquele ponto. Bem, não posso perder tempo!

Diego

Novamente, meu telefone desperta às seis e vinte da manhã, então me levanto e após esfregar os olhos e bocejar, desço do beliche. Ao contrário do dia anterior, Lara ainda está na cama e Nicole não. Estranho... Mas, tudo bem.

Vou até o banheiro, escovar os dentes e lavar o rosto. E já que Lara não teria como me ajudar no treino, resolvo ir dar uma corrida pela cidade, pelo que sei (Obrigado Google Maps!), o parque fica há uns quarenta minutos aqui de casa, é um tanto próximo da divisa de Rio Azul com Cabo Frio.

O dia amanhecera com uma temperatura mais amena do que no dia anterior, logo a corrida seria bem tranquila. Fazia tempo que eu não caminhava nesse ritmo, já que a maioria dos meus treinos era mais físico, isso quando eu não simulava algumas lutas com a Lara (quando o pessoal da academia da FILL deixava).

Devido a hora, pouca gente estava nas ruas, algumas pessoas indo trabalhar e alguns jovens voltando da noite. Pois é, mesmo em cidade pequena, tem gente que não tem dia certo pra beber. Certamente o Erick se daria bem com aqueles caras.

Depois de mais ou menos vinte e cinco minutos, paro em uma banca de jornais que já estava aberta, (obrigado jornaleiro insone!) compro uma água mineral e retorno a caminhar.

Quando finalmente chego no parque, em um trecho mais aberto (onde geralmente as famílias vão passear com as crianças quando a obviedade da praia fica chata) tenho uma grata surpresa de cabelos dourados e olhos com um tom entre o azul e o violeta... Além de um corpo belíssimo. 

Sim, a Nicole estava lá no parque, embora naquele momento ela estava sentada em um banco, secando algumas gotas de suor de seu rosto com uma toalhinha.

—Nicole... - A cumprimento, sentando-me ao lado dela – Caminhando por aqui?

—Oi Diego... - Ela me dá aquele sorriso inocente que faz meu coração dançar a conga – Pois é, resolvi caminhar hoje também.

—Hoje também? - Pergunto, jogando o resto de água que tinha na garrafa no meu próprio rosto por razão alguma.

—Sim, ontem de manhã eu resolvi caminhar... Eu precisava relaxar da tensão que aquela semana de provas finais nos causou...

—Nem me fale... - Eu lembro de ter apagado por horas depois de chegar em casa após a última. Por sorte meu serviço já tinha entrado em recessão de fim de ano

—Ontem eu saí de casa vinte pras sete da manhã, hoje saí cinco e quarenta...

—Você pretende algo mais além de relaxar com essa caminhada? - Pergunto enquanto nos levantamos e começamos a caminhar pelo parque.

—Ah, eu quero manter minha forma... - Ela responde de maneira meio vaga – Porque eu adoro comer porcarias, e também tem... - Ela aparentemente fala algo, mas tropeça e quase cai no chão.

—Também o quê? - Pergunto, enquanto ela se apoia em uma árvore pra se reorganizar.

—N-n-nada... - Nicole repentinamente fica vermelha. O que será que ela queria falar? - Mas e quanto a você? - Ela subitamente muda o assunto – Eu sei que a Lara vive te chamando pra fazer um teste para a FILL, mas você vive recusando... Tem alguma razão em específico?

E agora? Será que eu devo contar a ela o que eu realmente planejo, a razão pela qual eu recuso os convites que a Lara fez para eu tentar uma vaga na FILL? Porque essa razão é basicamente, o fato de que eu posso estar de saída do país em breve e deixaria tudo o que conheço para trás.

Após pensar um pouco, chego a conclusão de que não posso esconder a verdade da Nicole, eu confio totalmente nela, e sei que não contaria isso pra Lara, porque eu mesmo queria fazê-lo.

—Bem, a verdade é que eu realmente queria aceitar um teste para a FILL, eu já tenho lutas por lá e é bom, porém... - Eu começo a responder

—Porém...

—A verdade é que eu planejo entrar para a Storm Wrestling Academy – Continuo, tentando manter a voz neutra – E só aguardo uma resposta do Lance Storm para começar a adiantar as coisas com visto e emprego para eu me mudar pro Canadá na metade de fevereiro.

—C-como? - O tom de voz da Nicole era baixo.

—Isso apenas se a minha pré inscrição for aceita pelo Lance... Caso contrário, eu faço um teste aqui na FILL.

—Você pretende... Nos abandonar? - A expressão da Nicole dizia tudo, ela não estava preparada pra isso.

—Isso... É muito, mas muito difícil para mim, Nicole. Eu tenho mantido segredo de vocês, porque não sei se o Lance vai aceitar minha inscrição e eu não quero gerar nenhum tipo de conversa com especulações.

—É... É difícil receber uma notícia dessas, assim do nada.

—E é MUITO difícil pra mim ter que falar isso... Eu só confessei isso porque eu confio em você, Nicole.

—Entendo... Pode deixar, ficarei de boca fechada até o momento certo.

—Obrigado, Nicole... Isso significa muito pra mim.

—Bem... - Ela tenta colocar um sorriso corajoso no rosto, mas seus olhos ainda estão um tanto assustados – Vamos aumentar o ritmo?

—Claro...

Eu não entendi bem o fato da Nicole ter decidido aumentar o ritmo, assim, do nada... Será que ela não queria conversar? Eu me sentia idiota, provavelmente tem algo a ver com a camisa laranja que eu estava usando, dizem que ela acentua a nossa estupidez.

De qualquer jeito, eu acelerei meu passo para acompanhar o ritmo dela, e ela não deixava espaço para nenhuma conversa. Então, deixo esses pensamentos pra lá e me concentrei apenas na caminhada.

Por volta de oito da manhã, retornamos para casa e antes de entrarmos, Nicole me segura pela manga da camisa.

—Diego... Desculpa pelo gelo que te dei quando aumentamos o ritmo – A voz dela tá contida, como se estivesse envergonhada de ter me dado o gelo – É que eu preciso de um tempo pra processar o que você me contou.

—Tudo bem... - Deixo pra lá, cada um é cada um e se ela quer um tempo pra pensar, quem sou eu pra negar isso?

—Não fica chateado, tá? - A voz dela é um pouco suplicante.

—Vou tentar – Dou um risinho pra ver se elevo o humor dela.

—Olha – Ela continua, enquanto entramos em casa – Por quê não esfria cabeça e toma um banho primeiro?

Definitivamente tinha algo estranho com a Nicole, mas resolvo deixar isso pra lá e ir tomar um banho. Quem sabe a água não espantava minhas preocupações, juntamente com o suor?

Uns dez minutos depois, quando saio do banho, encontro Lara, que acabara de retornar, e pela areia nas pernas dela, vinha da praia.

—Caramba Lara, cê dormiu bastante ontem hein? - Comento, cumprimentando ela com um High Five – Quando eu levantei, você ainda tava na cama.

—Bem, eu estava exausta... - Ela me responde, batendo um pouco da areia dos braços – E resolvi treinar sozinha hoje. Nada de Dropkicks na areia dessa vez, só alguns moonsaults na água.

—Você poderia ter quebrado a cabeça.

—Sim, mas eu chequei tudo antes de fazer minhas loucuras – Ela fica indignada com minha preocupação, aparentemente sem sentido – Não é porque sou uma high-flyer que não tomo cuidado antes de fazer algo potencialmente perigoso.

—Se assim você diz... - Dou de ombros – Vai tomar um banho?

—Ahan...

—Você viu a Nicole?

—Não, acabei de chegar... - Ela responde – Viu o resto do pessoal?

—Também não, cheguei tem uns dez minutos.

—Bem, eles devem voltar em breve... Devem ter ido comprar pão.

—Não vou me preocupar com isso.

Lara acena pra mim e se dirige ao banheiro, enquanto eu retorno ao meu quarto. Lá, encontro Nicole, que está com um semblante diferente. É ao mesmo tempo preocupado e ansioso.

—Então, Diego... Você sabe que dia é hoje? - Ela pergunta, e o tom de voz dela é calmo

—Quarta... Feira? - Respondo, meio receoso.

Nicole coloca a palma da mão direita no rosto, em um verdadeiro facepalm... O que foi? Eu não tinha errado o dia, tinha?

—As vezes eu me esqueço de que você pode ser bastante distraído – O tom de voz dela está em um meio tom entre a impaciência e o riso, então sei que pelo menos ela não está zangada comigo – Hoje é dia catorze de dezembro.

Catorze de... Ah, sim! De fato eu havia esquecido disso... Como eu dissera mais cedo, camisas laranjas realmente nos deixam mais idiotas, era a camisa que eu ainda usava!

Nicole pega um embrulho na cama... E tenho certeza de que era o que ela havia ido comprar na livraria ontem a noite.

—Bem... Eu comprei isso para você.

—Nicole... Não precisava...

—Eu sei, mas ainda assim...

O tom de Nicole me incentiva a abrir o pacote... E fico completamente surpreso com o livro amarelo e branco que estava nele, com a foto de uma figura BASTANTE FAMILIAR. Era o livro "The Best in the World at What I have no idea", do Chris Jericho, que era o cara que eu seguia como modelo de wrestler e de pessoa. E a propósito, o único dos então três livros dele que eu não tinha era esse.

—Esse era o único livro do Jericho que você não tinha... - Nicole explica – Eu acabei achando ele na Saraiva lá do Shopping, e o comprei... Foi por acaso, já que eu só pretendia te dar um livro qualquer.

—O-ob... - Gaguejo, até Nicole me interromper.

—Veja o bilhete também...

Eu podia até estar com a camisa laranja, mas claramente a Nicole estava corando. De qualquer jeito, pego o bilhete que estava junto com o livro.

Diego

Esse presente é apenas uma representação pequena e um agradecimento pelos anos de amizade, ainda que poucos, foram intensos. Sou grata por me ajudar a descobrir o significado da expressão amizade verdadeira.

Feliz aniversário, da sua amiga Nicole.

Agora eu estava um pouco corado. Eu havia esquecido meu próprio aniversário de dezoito anos, mas ela se lembrara, se dera o trabalho de comprar um presente e deixou um bilhete bacana com uma pequena ilustração retratando nós dois quando fizemos cosplay em um evento de anime. Os personagens? Soma Cruz e Shanoa, da série Castlevania. Foi difícil tingir o cabelo de branco, assim como a Nicole passou pelo menos um mês de cabelo escuro.

Piscando para evitar que lágrimas caíssem, não penso duas vezes e abraço Nicole. Isso era algo que eu só fazia em momentos nos quais eu me transformava em uma manteiga derretida.

—Nicole... - Digo, com a voz um pouco fraca – Muito, muito... MUITO obrigado mesmo...

—N-não tem de quê... - Nicole dá uma risada leve, enquanto cora.

—Eu... Eu nem sei o que... - E lá se vai minha eloquência... Eu estava tão próximo dela, naquele momento eu poderia até mesmo me confessar – Nicole... Eu... Eu...

—Interrompo algo? - Escuto a voz de Lara adentrando o quarto.

E enquanto Lara entra, eu e Nicole nos afastamos, vermelhos a beça. Não sei se foi proposital, mas não deixo de sentir uma pontada de raiva de Lara.

—N-nada... Bom dia, Lara! - Nicole se recompõe.

—Dia, Nicole. O pessoal voltou, eles foram comprar pão e essas coisas do café da manhã;

—Ótimo... - Eu tento não pular na cara da Lara e dizer GRANDES MERDA.

—Enfim, Nicole... Acho que agora que saí do banheiro, você pode ir tomar um banho.

—Tem razão – Nicole diz, acenando positivamente com a cabeça para Lara – Estou muito suada em decorrer da caminhada. Vou indo, Diego! E feliz aniversário!

Com um sorriso, Nicole sai do quarto e eu, como um bobo, não deixo de sorrir por dentro. Sento na cama de Nicole, e Lara se senta ao meu lado.

—Então... - Ela começa – Aniversário, é?

Lara sorri, mas de uma maneira meio esquisita. Ou eu estava vendo as coisas de maneira esquisita e ela estava sorrindo normalmente. Pois é, vez ou outra vou nessa de procurar pelo em ovo.

—A verdade é que eu mesmo havia esquecido – Confesso, um pouco sem jeito.

—Eu... - Lara ri abertamente – Eu escutei um pouco antes de entrar no quarto.

—Bisbilhoteira... - Afino um pouco a voz.

—Ei, eu só estava vol...

—Relaxa, tô te zoando!

—Bobo! - Ela ri e dá um tapa em meu ombro.

—A gente se conhece a um tempão, você devia estar acostumada com isso.

—Eu sei... - Ela esfrega o meu ombro em que havia dado um tapa – Enfim, a verdade é que eu também esqueci do seu aniversário.

—Sem problemas quanto a isso.

—E por conta disso... - Ela vira de frente pra mim – Eu não pude pensar em um bom presente pra te dar.

—Eu já disse, por mim tudo bem.

—Eu sei disso também... Mas, pensei em um presente para te dar – Ela aproxima o rosto do meu. Eu consigo sentir o cheiro do sabonete que ela usara no banho – Não é muito, mas é de coração... E não é físico, logo não tive que gastar nada. Espero que guarde contigo.

Ela está praticamente cara a cara comigo, e me dá um beijo. Curiosamente, ele não é longo como eu esperaria que fosse, principalmente pelo teatro que ela fez, mas um beijo bastante curto.

Confissão aqui: Eu e Lara havíamos nos beijado em uma (na verdade mais de uma) outra ocasião, isso foi antes do ensino médio e na verdade ela só queria escapar de um cara chato que vivia atrás dela, então por uns dois meses, banquei o "namorado dela", ainda que nenhum de nós nutrisse sentimentos românticos. Não posso dizer que foi ruim, porque não foi, e felizmente quando "terminamos", não fiquei triste. Mas enfim.

—Bem, Feliz Aniversário Diego! - O tom de voz de Lara é como se ela não tivesse feito nada demais – Vou ajudar as meninas na preparação do café da manhã.

Fale sobre estar confuso. Eu nunca havia parado pra pensar na Lara como uma namorada. Claro, nós tínhamos gostos semelhantes, nos conhecíamos há um bom tempo (fora Erick e Beatriz que vem desde meus dez anos, Lara era minha amiga mais antiga). Sim, eu a achava bonita, mas nunca pensei nela como possível namorada. Preciso de um tempo pra processar isso.

Quando voltei para a sala, alguns minutos depois, Erick estava arrumando a mesa para o café da manhã. Estranho, já que o dia de férias do Erick não começa antes de 9 da manhã.

—Diego, bom dia! - Ele me cumprimenta.

—Bom dia, cara.

—Velho, eu queria ter a sua disposição de acordar cedo nas férias e ir treinar... Pelo menos uma vez ou outra.

—Eu já estou acostumado a essa rotina, então vai demorar pra eu entrar no ritmo das férias.

—Que seja... - Ele dá de ombros – Aliás, feliz aniversário.

—Valeu... Cara, cê acredita que eu tinha esquecido dele?

—Sério? Então eu deveria ter te lembrado usando o jeito clássico, com ovos e farinha!

Em qualquer ocasião, eu teria feito de duas, uma, ou caído na gargalhada pela graça, ou feito alguma piada sobre o desperdício de ovos e que eles poderiam ser fritos com bacon, mas como eu ainda estava confuso e um pouco faminto, nem registrei o que ele dissera.

—Que seja – Dou de ombros – Quem sabe na próxima.

—Aguardarei ansiosamente... - Ele brinca

—Enfim, a Nicole foi bem legal comigo... Ela me deu um livro que eu procurava há algum tempo!

—Olha só, assim como eu em uma churrascaria, você está arrasando corações!

Agora eu lembrara porque Erick era meu amigo há tanto tempo. Ele tem a mesma tendência a fazer piadas ruins que eu. Brenda e Beatriz entram na sala trazendo pães, ovos e bacon, além de uma jarra de suco que parece... Abacaxi, talvez. Lara vem logo depois, acompanhada de Nicole, e as duas trazem um bolo... De aniversário? Oh não!

A Lara não tinha lembrado, mas pelo visto as meninas devem ter lembrado e ainda compraram um bolo? Vish, se seguirmos o padrão daqui a duas semanas não lembrarei meu próprio nome.

—PARABÉNS PRA VOCÊ... - Todos começam a cantar juntos e eu não sei onde enfiar a cara. Eu DETESTO cantigas de aniversário – NESSA DATA QUERIDA... MUITAS FELICIDADES! MUITOS ANOS DE VIDA!

Em boa parte do tempo eu oscilava entre um garoto calmo e tranquilo e um gago idiota (geralmente por causa da Nicole), mas quando se trata do meu aniversário, bem... Eu sou mais tímido que a Nicole.

—Valeu mesmo, pessoal – Agradeço timidamente.

—Bem... - Brenda diz, com um olhar significativo pra Nicole – Agradeça a Nicole que planejou isso antecipadamente.

Eu não tinha mais motivos pra ficar zangado com a Nicole. Ela não tinha me dado um gelo por ter raiva de mim, só queria um tempo pra processar minha ideia de me mudar de país.

—Então tá... Obrigado mesmo, Nicole... - Eu preciso controlar as batidas do meu coração. Se alguém aqui tivesse a audição sensível como nos animes, certamente escutaria a marcha que está acontecendo no meu peito. E isso sempre acontece quando eu estou de guarda baixa e acabo pensando na Nicole.

—N-n-não tem de quê! - O tom de Nicole é pelo menos um oitavo mais alto e ela está tão vermelha quanto eu – Não foi nada demais.

—Nada demais? - Lara pergunta, erguendo uma sobrancelha – Você deu um presente pro cara, e pelo menos duas semanas antes, combinou com a gente da surpresa (embora eu tenha esquecido) e ainda pediu pra comprarem o bolo. Aceite o elogio, Nicole!

Num minuto a Lara me beija e no outro ela praticamente joga a Nicole no meu colo. Eu posso ser idiota, mas qualquer um na minha situação não entenderia mais nada.

—M-m-mas... - Nicole gagueja.

—Deixa ela, Lara... - Seguro a risada – Ou ela vai ficar mais vermelha que o seu cabelo.

—Beleza, mas se fosse eu – Lara dá de ombros, rindo – Eu iria aceitar o elogio como se fosse uma eleição presidencial.

A falta de noção na analogia de Lara, faz com que a vermelhidão sumisse do rosto de Nicole.

—Você ia xingar seus adversários? - É a única coisa que Nicole consegue dizer. E convenhamos, isso resume eleções a qualquer cargo pelo mundo afora: Xingue seu oponente.

—Essa não foi a melhor das minhas analogias – Lara ri, um pouco sem graça.

—Tá tudo muito bem, tudo muito bom... - Erick levanta a mão – Mas o que a gente tá esperando pra comer mesmo?

Por mais que o Erick tenha uma tremenda alma de gordo, não deixo de concordar internamente com ele... Principalmente porque eu estou acordado desde as seis.

—Pra quem será que o Diego vai dar o primeiro pedaço? - Beatriz pergunta, olhando de lado pra Nicole. É, acho que todo mundo sabe que eu gosto dela. Menos a própria.

—Claro que vai ser pra quem teve o trabalho de organizar isso – Corto uma fatia do bolo – Tome, Nicole.

—Obrigado... - Nicole sorri ao receber a fatia.

Nós cinco comemos ao menos metade do bolo e tomamos nosso café da manhã. As garotas planejaram bem, já que a quantidade de ovos, pães e bacon que havia ali era menor que no dia anterior.

—Uaaaaaah! - Nicole se espreguiça após um longo bocejo – Estou com um sono... Eu não devia ter acordado tão cedo, vou tirar um cochilo...

E, se arrastando feito um zumbi, Nicole vai para seu quarto.

—Meninas, o que vocês encontraram no Shopping ontem? - Lara se dirige a Brenda e Beatriz, esquecendo que eu havia ido ao Shopping na noite anterior.

—Ah, o Shopping daqui de Rio Azul é uma versão reduzida dos Shoppings da Capital – Beatriz explica – Tem as coisas que um shopping comum tem, mas não em grande escala. Você não vai ver por exemplo uma loja da Sephora, ou Louis Vulton.

—O que é bom – Brenda completa – Já que isso ajuda os preços a não serem tão caros.

—Que tal irmos dar uma volta? - Lara sugere, um pouco animada demais pro meu gosto. Principalmente NAQUELA HORA da manhã.

—Mas eu e a Brenda fomos ontem com o Erick... - Beatriz se mostra avessa as compras naquele momento por razões óbvias... Claramente os pais dela não gostariam de receber uma fatura alta.

—Eu não fui. Vocês poderiam só me mostrar o caminho das pedras por lá... - Lara implora, ou algo do tipo.

—Fechado... - Brenda assente – Desde que a gente não tenha que gastar com coisas.

—Bem... - Eu me espreguiço – Eu é que não vou ficar em mais um frenesi de compras, vou dar uma passada na praia!

—E eu vou arrumar essa bagunça aqui. - Erick estala os dedos – E se a Nicole acordar, talvez ela me ajude.

—Beleza... Apesar de que me sinto mal por não te ajudar. - Digo, um pouco cabisbaixo.

—Cara – Erick coloca a mão em meu ombro – Você é bom em um bocado de coisas, em lidar com algumas pessoas, luta bem... Mas em afazeres domésticos, você consegue TROPEÇAR ENQUANTO VARRE. É melhor deixar isso comigo... Ou qualquer outra pessoa que tenha coordenação enquanto varre.

A verdade deveria doer pra mim, mas eu já estava tão acostumado com isso, que nem penso duas vezes antes de sair novamente para a praia, para relaxar.

E assim que chego, me dirijo até o ponto da praia onde tem mais palmeiras, pois lá tem sombra. E lá corro e dou um mergulho rápido. Eu estava tão compenetrado com a ideia de ir mergulhar e relaxar que não percebi que não estava sozinho. De relance eu percebi uma mulher deitada em uma canga, tomando sol, ou pelo menos os raios que passavam pelas árvores.

Claro, ela havia percebido um calango feito eu correndo e se sentou. Era uma mulher por volta de vinte e seis, vinte e sete anos, e cabelos longos escuros. E era bastante familiar, inclusive. Olhando melhor, percebi que era Ana, a dona da casa onde estávamos hospedados e eu me surpreendi.

Quando ela nos recebeu, usava roupas casuais que não chamavam a atenção, mas ali usando roupas de banho percebi que Ana tinha um corpo muito bonito e seria mentira dizer que a visão não era agradável. Ana era realmente bonita.

Assim que eu saio da água, Ana se aproxima de mim. Ela me reconhecera antes.

—Oi... É Diego, não?

—Pelo menos da última vez que chequei meu RG, esse é mesmo meu nome – Faço uma piada ruim pra descontrair.

—Veio sozinho?

—Sim... Preciso de um tempo pra refletir sobre algumas coisas.

—E... A praia é o melhor lugar pra isso? - Ela não encontra lógica no meu raciocínio.

—Não faz muito sentido, eu sei – Respondo, dando de ombros – Mas eu devo ter batido de cabeça quando nasci, porque eu consigo focar meus pensamentos quando estou na praia, mesmo com as pessoas por perto. Apesar dessa parte da praia ser um pouco vazia.

—Engraçado que esse ponto aqui da praia é MESMO mais vazio. As pessoas costumam ficar mais pra lá, onde os quiosques seguem a orla da praia, ou pro lado oposto onde é perto do farol.

—Isso é até melhor pra mim, já que consigo pensar melhor quando estou sozinho.

—Então, acho que vou te deixar sozinho.

—Também não é pra tanto – Impeço que ela vá embora – Não precisa se incomodar em sair daqui. Pode continuar tomando sol, acho que tem espaço o suficiente por aqui para que nós dois consigamos fazer o que queremos sem incomodar um ao outro e melhor, não sermos incomodados.

—É... - Ela concorda, sorrindo – Bem, espero que consiga chegar a uma conclusão em relação ao que te incomoda.

Ana volta a deitar em sua canga e eu retorno para a água. Bem, as coisas que aconteceram aqui me deram algo a pensar. Eu sinto que devo contar a Nicole sobre meus sentimentos, mas também sinto que preciso desvendar o que está por trás das ações de Lara. Caramba, falando assim a Lara parece uma vilã misteriosa.

Enquanto penso nisso, relaxo um pouco com a temperatura amena da água. E caramba, como isso é bom. Meus pensamentos não se organizam, porque esse tipo de coisa não acontece na vida real, mas de qualquer jeito, uma hora depois resolvo ir para o parque.

E em uma das áreas, na qual haviam muitos ipês rosas, encontro sentada em um banco, cabisbaixa, alguém muito familiar. Não reconheci pelo rosto, porque não dava pra ver, mas pela roupa que era familiar.

—EI, NICOLE! - Grito, indo até ela. Ao me ouvir, ela olhou para mim e a expressão dela era triste. E aliás, ela olhou para mim, mas não se levantou pra me cumprimentar, o que achei estranho.

—Oi... - Foi tudo o que ela respondeu.

—Resolveu... - Paro pra recuperar o fôlego que eu havia perdido com uma pequena corrida que dei até ela – Resolveu voltar ao parque?

—Bem... Eu não estava me sentindo muito bem, então resolvi vir pra cá.

—Está passando mal?

—Não esse tipo de sentir bem ou mal... É outro modo de se sentir mal.

—Como assim?

—Você... - A voz de Nicole começa a quebrar e seus olhos começam a marejar – Você quer saber a verdade, Diego? Eu... Eu sei o que aconteceu entre você e Lara hoje cedo!

Estou em choque, tamanho que até esquecera que Nicole estava chorando... Como ela soube? Nicole estava no banho... Eu até poderia me fingir de burro, mas eu não mentiria para Nicole.

—Como você soube? - Pergunto, ainda incrédulo

—Aprecio a honestidade de não mentir para mim... - Apesar de um meio sorriso, a voz dela ainda era bastante triste, e ouvir isso, vendo os olhos úmidos dela me deixava nervoso. Era como se um punho envolvesse meu coração.

—Eu nunca faria isso com você Nicole, eu juro.

—A própria Lara me disse – E mais uma vez, Nicole me chocou.

Por quê Lara faria isso? Digo, entenderia se a Lara fosse abertamente a fim de mim e ela tivesse me dado um beijo mais cinematográfico, então eu estou genuinamente confuso.

—Sério Nicole... Eu realmente não entendo. - Digo, tentando encontrar as palavras certas – Claro, eu e Lara ficamos por um tempo na oitava série, eu inclusive já te contei isso... E até contei que ela mesmo deixou claro que era pra fugir dos caras chatos que davam em cima dela.

—Bom... - Nicole seca as lágrimas – A Lara me contou que gosta de você.

—Ela... Ela te falou? - Eu tento não gaguejar, pensando nas contradições das atitudes dela.

—Sim, ela foi franca comigo.

—Mas não comigo... Não sei se ela te contou, Nicole... Mas foi ela quem tomou a iniciativa e sequer disse algo sobre gostar de mim.

—Por isso que agora... - Ela termina de secar as lágrimas e a voz dela está bem mais firme do que antes – Agora eu quero ser completamente honesta com você, Diego...

Nicole fica vermelha, e evita totalmente olhar nos meus olhos, respirando fundo antes de falar. Não me diga que...

—Diego, bem... - Ela torce as mãos – A verdade... A verdade é que desde aquela vez em que nos tornamos amigos, e você me salvou... Eu passei a te admirar, e conforme fomos passando mais e mais momentos juntos, finalmente descobri que estou há muito tempo apaixonada por você.

Meu coração acelera feito o Usain Bolt na final dos cem metros livres. Isso era completamente surreal, duas garotas aparentemente gostando de mim. Parecia um daqueles animes harém, onde o protagonista idiota é cercado de meninas bonitas apaixonadas por ele... E eu sempre tirei sarro desse tipo de anime, mas o Carma é uma vadia e acertou bem nas minhas bolas. Metaforicamente falando claro, porque se fosse literalmente, isso iria doer.

Minha linha de raciocínio é interrompida quando sinto um calor no lado esquerdo do meu rosto, e quando percebo, Nicole estava beijando minha bochecha.

—Divagando, como sempre, não é? - A voz dela tem um tom ameno, como se quisesse brincar.

—Desculpe, eu preciso parar com esse hábito... - Coço a cabeça, meio sem jeito.

—Mas enfim... - Ela dá de ombros – Não esquente a cabeça até a hora de decidir... Quando estiver pronto pra escolher, você vai saber. De qualquer jeito, eu vou indo... Me sinto um pouco melhor agora.

Nicole se levanta para ir embora, mas quando ela passa por mim eu a seguro pelo braço.

—Nicole, espere um pouco! - Não, eu não pensaria em nada, não perderia meu sono ou ficaria me decidindo sobre quem eu amo.Porque não havia o que pensar, ou escolher – Agora, sou eu quem preciso falar algo que há muito está entalado na garganta... Desculpe se lhe parecer meio esquisito! Mas por favor, não vá embora.

Nicole assente, ainda um pouco espantada pra falar, mas ela se senta novamente, e eu me sento ao lado dela.

—É... É muito difícil pra mim falar isso na verdade... - Eu coço a cabeça – De verdade, agora eu estou admirando a sua coragem pra falar o que queria. Enfim, a verdade é que desde o primeiro dia de aula que tivemos, dois anos atrás, quando bati os olhos em você, senti algo diferente. Eu não sei como explicar, mas a princípio, pra mim você parecia uma princesa... Depois, felizmente quando nos tornamos amigos, descobri que não era bem assim... E bem... Quando te conheci melhor, eu realmente cheguei a mesma conclusão que tive quando te vi no meu primeiro dia de aula, dois anos atrás. Eu estava perdida e completamente apaixonado por você, Nicole. Não apenas a sua aparência, mas a sua personalidade, seus trejeitos... E eu sempre tenho que me controlar pra não falar besteira, mas nem sempre isso é possível. E é por isso, que mesmo que eu queira aquela vaga na Storm Wrestling Academy para me ajudar a me tornar um wrestler melhor e realizar meu sonho, eu não quero aquela vaga porque eu simplesmente não vou conseguir viver sem você do meu lado, porque eu te amo Nicole!

Finalmente! Depois de quase três anos suportando esse sentimento, eu coloquei tudo pra fora. E francamente eu não sei qual seria a reação da Nicole, talvez ela me desse um tapa por ter demorado, corra sem parar por ter medo ou bata com a minha cabeça na quina desse banco e me faça sangrar até a morte, qualquer coisa que acontecesse... Bem. Eu estaria bem com isso porque eu coloquei meus sentimentos para fora.

Só que a reação de Nicole, felizmente, não estava entre as alternativas fantasiosas que eu coloquei acima. Ela fez, aparentemente o que achou que deveria fazer num momento desses e me beijou.


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