Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 70
CAPÍTULO70




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CAPÍTULO70

O que fazer? O que dizer? Pela primeira vez, Joinville não sabia
como agir. Um filme passou por sua cabeça em questão de segundos; sua
irmã caçula, seu maior tesouro, teve sua primeira noite de amor:
— Jaraguá, como é que foi isso, mana?
— Foi ontem, mana, quer dizer, foi essa noite, depois que a gente
assistiu o filme na sala! Palhoça subiu pro quarto, nós ficamos na sala
conversando, depois acabamos vindo aqui pro quarto de hóspedes e...
aconteceu!
— E foi bom, minha irmã?
— Foi; era a primeira vez dos dois, entende? Eu sinto um pouco de
vergonha de olhar pra ele depois do que aconteceu, sabe!
— Não tem que sentir vergonha de nada, minha irmã; isso ia acontecer
mais cedo ou mais tarde, e aconteceu por amor e com amor, você está me
entendendo? Eu perdi a conta de quantas vezes eu ouvi minhas colegas de
escola falando sobre isso, minha querida; algumas tiveram a sua primeira
vez com garotos que elas mal conheciam, sem amor, depois de uma festa qualquer,
dentro de um carro, e pior, bem mais novas
do que você! Joga qualquer tipo de culpa pra fora, mana, você não fez
nada de errado! Na hora... em fim, vocês tomaram cuidado?
— Claro que sim, mana; quanto a isso não se preocupa!
Joinville ficou em pé, encarou sua irmã e a abraçou; as duas
começaram a rir muito sem saber o real motivo, até caírem abraçadas
sobre a cama:
— Eu falei que a senhora estava com cara de menina que fez uma travessura, e daquelas!
— Eu te amo, sabia?
— Eu também te amo, sua maluquinha! Mas mana, se cuida, por favor; se
for o caso conversa com a mamãe também!
— Eu pensei nisso; eu não tenho por que esconder isso da nossa mãe, eu
vou conversar com ela!
— Mana, vocês não fizeram nada de errado; vocês se amam, foi por amor
que isso aconteceu, e vamos combinar que é bom, não é?
Jaraguá corou com o comentário da irmã:
— E não precisa ter vergonha não, garota - Joinville apertou a irmã
ainda mais em seu abraço -, afinal de contas isso é normal, todo mundo
acaba fazendo um dia!
— Você não existe, sabia?
Passaram-se alguns dias, e as férias corriam às mil maravilhas; sol,
piscina, boa comida.
Era uma linda noite de sexta feira; já passava de uma hora da manhã
quando Florianópolis decidiu se levantar da cama e descer, estava sem
sono. A mãe de família desceu a escada e ficou surpresa ao encontrar a
porta da varanda aberta; foi até lá:
— São José, é você? Eu fiquei surpresa quando desci e vi essa porta
aberta; está tudo bem?
— Está; perdi o sono, desci, abri essa porta e resolvi ficar um pouco
aqui!
— Eu também perdi o sono; São Joaquim dorme feito um anjo lá no quarto!
São José estava sentado em uma cadeira de balanço, e Florianópolis
juntou-se a o ex-marido. Ele tomou a mão direita dela e a olhou nos olhos:
— Eu não sei se esse é o momento certo pra falar sobre isso, não sei o
que é que você vai pensar de mim, mas eu preciso te dizer uma coisa
importante!
— Fala, estou te ouvindo!
— Florianópolis! Quando você tinha dezoito anos de idade, eu com vinte
eu te pedi em namoro; e foram tantos encontros, desencontros, mas a
gente resistiu! E agora, depois de quase vinte e dois anos, nós estamos
aqui; eu sei que eu cometi um erro, eu tomei uma decisão errada e isso
quase destruiu a minha vida, ou pelo menos destruiu parte dela! Eu te
pedi em casamento em um lugar como esse aqui, a gente estava passando
aquele fim de semana com um grupo de amigos, você tinha acabado de ser
abandonada pelo... pelo pai de Blumenau; e agora eu te faço a mesma
pergunta! Você aceita se casar comigo de novo?
Florianópolis estava sem ação; ainda amava São José, seu coração ainda
batia descompassado quando ele estava por perto, mas ela já não confiava
nele e precisava criar coragem pra dizer o que tinha que ser dito:
— São José, acabou!
— Você está dizendo que...
— Que o nosso casamento acabou, definitivamente! Você é o pai dos meus
cinco filhos, sempre vai ter um lugar muito especial na minha vida mas a
gente não vai voltar a viver juntos!
— Florianópolis, eu fui um mal caráter, eu sei...
— Você saiu de casa quando eu estava grávida de sete meses, teve a
coragem de viajar com ela como se fossem um casal em lua de mel! São
José, o nosso casamento acabou, eu nunca quis que fosse assim mas é um
fato! Você foi o melhor pai, o melhor marido que eu poderia ter, mas
acabou, a confiança acabou, e sem ela uma relação não pode dar certo!
Naquela noite, Florianópolis não pregou os olhos a noite toda;
conseguiu dizer o que estava engasgado durante todo aquele tempo, mas
lhe custou muito.
Era sábado de manhã; São Bento do Sul recebeu uma ligação e
precisaria deixar a fazenda por causa de um problema familliar; acordou
a esposa, avisou que teria que sair e disse que voltaria para buscá-la
no domingo; o jovem retornaria ao trabalho no escritório do pai na
próxima segunda feira:
— Você tem certeza que não quer que eu vá com você? Se você quiser a
gente volta hoje, aí você não precisa voltar amanhã!
— Eu preciso ir rápido, Blumenau; entraram na casa dos meus pais,
roubaram, minha mãe está em pânico; eu volto amanhã pra te buscar, sem
crise!
— Tudo bem; eu fico até amanhã, te espero aqui!
— Blumenau, só não esquece daquilo que eu te pedi! Não anda quase nua
por aí quando...
— Quando Chapecó estiver por perto, eu sei! Pode ficar tranquilo, senhor
meu marido, eu vou te obedecer!
— Blumenau, eu não quero que você pense que eu sou um cara
preconceituoso, machista, mas...
— Eu não estou pensando nada, São Bento!
— Eu não quero te aborrecer!
— Tudo bem! Vá, resolve o que você precisa resolver e amanhã vem me
buscar!
São Bento do Sul deixou a fazenda; Blumenau acabou pegando no sono
novamente.
Palhoça passou pela porta do quarto da irmã mais velha, que estava
aberta e a viu dormindo lá; estava com um jarro com um pouco de água na
mão, havia acabado de regar uma orquídea em uma das salas do andar de
cima. Sentiu uma enorme gana de aprontar uma com Blumenau, de
despertá-la de seu sono de um jeito diferente; pensou uma, duas, três
vezes e... pronto, a moça acordou, só que de um jeito não muito
agradável:
— Eu mato você, Palhoça! Dessa vez eu mato você! - ela se levantou da
cama, toda molhada, enquanto a irmã corria tentando fugir da fúria de
Blumenau:
— Calma, mana, eu tava brincando... eu só ia fazer de conta mas o jarro
virou!
— Sua idiota, você me paga!
Enquanto corria atrás de Palhoça, Blumenau esbarrou em Silvia, que
varria o corredor; pegou a vassoura da mão da empregada, que sem
entender absolutamente nada, ficou ali, parada feito uma estátua.
Palhoça desceu a escada correndo e chegou na sala; Blumenau vinha
logo atrás, com a vassoura na mão:
— Mãe, pai, ela vai me bater!
— Conta pra eles a última que você aprontou, Palhoça, conta! - dizia
furiosa Blumenau:
São José entrou na conversa:
— O que foi que você aprontou, Palhoça? Blumenau, você está toda
molhada, filha!
— Palhoça - enfureceu-se a mãe -, você subiu pra molhar uma planta lá em
cima; você não fez o que eu estou pensando, fez?
— Fez, mãe; me molhou toda, eu estava dormindo! Mas ela me paga, você me
paga, sua pirralha!
Blumenau estava decidida a pegar a irmã de qualquer jeito e voltou a
correr atrás dela; na tentativa de separar a briga, São José se
levantou, mas tropeçou em um chinelo que alguém esqueceu na sala, e sem
perceber, acabou agarrando-se à toalha da mesa. O pai de família caiu
sentado no chão da sala, e como se não bastasse isso, acabou derrubando
tudo o que havia na mesa e torceu o tornozelo.
São José conseguiu o que queria, separar a briga, mas acabou se
machucando.
Ainda naquele dia, Jaraguá se encheu de coragem e revelou à sua mãe
o que havia acontecido entre ela e o namorado. Esperou uma bronca, um
castigo ou algo do tipo, mas Florianópolis foi uma verdadeira amiga para
sua menina. Depois de alguns instantes de silêncio, a mãe de família
sorriu de leve e puxou a garota para seu colo como se fosse uma criança;
as duas estavam sentadas no sofá da sala, e deitada no colo da mãe como
quando era criança, Jaraguá chorou pela primeira vez depois de ter tido
sua primeira noite de amor:
— Minha filhotinha - sussurrava Florianópolis enquanto afagava com a mão
direita os cabelos e as costas da filha -, viu como essa mulher linda,
guerreira ainda cabe no meu colo? Meu amor, isso ia acontecer mais cedo
ou mais tarde, se não fosse aqui na fazenda seria lá em casa, ou na casa
dele, mas ia acontecer! Vocês dois se amam, vocês estão descobrindo
juntos esse sentimento e o corpo da gente responde, entende? A mamãe vai
marcar uma consulta pra você, a gente vai no médico e vai ficar tudo
bem!
— Mãe - falou a garota -, tenta marcar com a doutora Ana? Eu tenho um
pouco de vergonha, acho que vou me sentir melhor com ela!
— Tudo bem; assim que a gente voltar pra casa eu ligo e marco com ela!
Os dias passaram voando, e Palhoça acabou tendo uma bela surpresa
quando Itapema chegou na fazenda de surpresa. Ela havia convidado a
melhor amiga para ficar uns dias lá, e Itapema encheu a paciência dos
pais até que eles a levassem.
Foram férias maravilhosas; com muito banho de piscina, cachoeira, muita
comida, um verdadeiro paraíso.
E chegou o dia de todos voltarem para casa e para suas rotinas.


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