Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 36
Capítulo36




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CAPÍTULO36

    A engenheira, que segurava a taça de vinho na mão, olhou para Camila sem
saber por onde começar, estava completamente sem chão:
— E o que é que a gente faz, mano? - perguntou a enfermeira, certa de
que era isso que Chapecó queria perguntar naquele momento:
— Se você permitir, Chapecó, eu vou formatar o seu aparelho; você vai
perder as informações que estão aqui, exceto o que está salvo no chip e
no cartão de memória!
— Faz o que for preciso, Davi - consentiu a engenheira -, eu só não
quero mais que ela tenha cesso à nada! Eu me pergunto como é que eu
nunca percebi que...
— Esse aplicativo tem uma função, Chapecó, uma função chamada modo
escondido; ela ativou essa função e com isso seria quase impossível você
perceber! Esse aplicativo foi inclusive proibido em alguns países, mas
ainda pode ser facilmente baixado em qualquer celular. Eu vou fazer o possível pra te tirar dessa, pode acreditar!
    Naquela noite, Chapecó viveu um dos piores momentos de sua vida,
jamais ela pôde imaginar que Itajaí fosse capaz de chegar a tal ponto.
Depois de resolver tudo, a engenheira voltou ao seu apartamento para
tentar descansar. Fez um chá e se deitou, mas não dormiu. Ficava
aterrorizada só de imaginar tudo o que Itajaí estaria sabendo; durante
quatro meses, ela teve acesso à todas as conversas e chamadas de Chapecó,
inclusive com a localização em tempo real. Ela sabia que isso era crime,
e precisava decidir o que iria fazer.
    Florianópolis acordou naquela manhã de sexta feira, com Jaraguá e
Palhoça ao seu lado; as meninas não teriam aula naquele dia por causa de
uma reunião de professores.
Palhoça estava sentada à beira da cama, e a caçula deitada, com a cabeça
recostada à barriga de quase sete meses da mãe:
— Oi, amores! - disse ela ao perceber a presença das meninas:
— Oi, mãe! - respondeu Palhoça:
— Eu estava tentando ouvir o coraçãozinho dele, mãe! - justificou-se
Jaraguá:
— E conseguiu, filha?
— Não; mas ele chutou, ele sabe que a gente está aqui!
— É claro que sabe, meu amor! Ele sabe que vocês estão aqui, sabe que
vocês amam muito ele e vão cuidar muito dele quando ele chegar!
— A gente trouxe café pra você - comunicou Palhoça ficando em pé -, com
tudo que você gosta!
— Desse jeito vocês vão me deixar mal acostumada!
A mãe de família se sentou e jogou os cabelos pra trás; Palhoça
voltou-se de novo para a cama, agora com a bandeja de café da manhã e
colocou-a no colo da mãe. Além do café, haviam ali duas rosas vermelhas:
— Seu primeiro compromisso do dia é esse café, mãe - falou Jaraguá -, a
Márcia fez tudo, a gente arrumou a bandeja e trouxe aqui pra você!
— Vocês são filhas de ouro, vocês quatro; é nessas horas que a gente
percebe que tudo vale a pena! E Joinville e Blumenau?
Foi Palhoça quem respondeu:
— Blumenau já saiu, foi pra biblioteca da universidade, Joinville não
acordou ainda! Toma seu café sossegada, mãe, daqui a pouco a gente volta
aqui!
As duas meninas saíram do quarto dos pais, deixando a mãe com a bandeja
e um sorriso lindo. Florianópolis, sem saber se ria ou chorava, pegou o
celular ao lado do travesseiro e tirou uma foto do lindo presente que
ganhou das filhas; enviou-a para seu marido em seguida, com a legenda
"Pra começar bem o dia, ganhei das nossas meninas".
    - Não tive cabeça pra ir trabalhar, Cami - desabafava Chapecó, em
seu apartamento, com a enfermeira Camila -, eu sei que pode parecer
imprudência, eu liguei na construtora, avisei que eu estou com um
problema de ordem pessoal pra resolver e que a tarde eu vou pra lá! Eu
não estou com cabeça pra nada, tenho medo inclusive de acabar fazendo
alguma coisa errada no meu trabalho, Deus me livre!
— E o que foi que eles disseram?
— Eu pedi pra falar com o meu chefe, ele disse que tudo bem, que era pra
eu resolver o que fosse preciso e ir a tarde!
— Você parece que não dormiu nada!
— E não dormi, amiga; passei a noite toda em claro! Não sei como é que
vai ser o dia de hoje! Meu sogro acabou de me ligar, dizendo que está
saindo da empresa pra vir no banco aqui perto do flat e vai passar aqui
pra conhecer a minha casa! Já liguei na recepção, disse que ele pode
subir direto pra cá quando chegar!
Chapecó conseguiu dar um lindo sorriso ao falar de seu sogro, mas seus
olhos se encheram de lágrimas:
— Que bom; você me disse que ele é como um pai pra você, a presença
dele vai te acalmar! Já conversou com Joinville?
— Ainda não tive coragem! Como é que eu vou contar pra ela que as nossas
conversas estavam sendo rastreadas, que Itajaí estava tendo acesso a
tudo o que a gente conversava? E eu não posso esconder isso dela, eu
tenho que contar!
— E com relação à sua ex, o que é que você vai fazer?
— Ainda não sei, amiga! Eu passei a noite toda pensando, mas parece que
por mais que eu tente, não consigo tomar uma decisão!
— Você sabe que pode denunciá-la, não sabe?
— Sei, Cami, eu sei! Mas eu sinceramente não sei se quero fazer isso; eu
sei que pode parecer covardia minha, mas...
— Chapecó, olha pra mim!
A enfermeira Camila agora estava séria; a pergunta que viria em seguida
era decisiva:
— Você ainda ama Itajaí? Você não precisa me responder se não quiser;
mas se você decidir responder a minha pergunta, seja sincera!
— Amor não, Cami - respondeu a engenheira -, amor não! Pra ser sincera,
o que eu sinto por Itajaí nesse momento é... piedade!
— Piedade! - repetiu Camila para si mesma:
— Piedade, amiga; é a única coisa que eu sinto por ela nesse momento! Eu
fico imaginando o sofrimento dela, não deve ser nada fácil viver desse
jeito, se anular pra viver a vida de outra pessoa, ela se anulou pra
viver a minha vida! Talvez seja por isso que eu não tenho coragem de
levar isso pra justiça, por pena dela! Você me conhece a muito tempo,
sabe que eu já namorei muito, mas Joinville foi a única que me fez ter
vontade de dividir uma casa, uma vida, entende?
    As lágrimas vieram, e Chapecó não conseguiu evitá-las; o que iria
dizer a seguir não era fácil de ser confessado. Estendeu a mão esquerda
e segurou a mão da melhor amiga:
— Cami, não é fácil pra mim admitir isso; mas eu acho que esse foi o
único relacionamento em que eu me mantive fiel; Joinville foi a única
mulher que eu nunca traí!
Camila não sabia o que responder; ficou em pé, caminhou em volta da
bancada e abraçou a amiga, aquela parecia ser a melhor opção naquele
momento:
— Eu não fui fiel à Itajaí, eu não fui fiel a nenhuma das namoradas que
eu tive, Cami!
— Eu nunca imaginei, Chapecó, nunca imaginei que...
— Desde o dia em que eu conheci Joinville, Cami, quando a gente acabou
se esbarrando na faculdade, os livros caíram no chão; desde aquele dia
eu nunca mais consegui olhar pra nenhuma outra mulher que não fosse ela!
Abraçada à sua amiga, Camila ouvia o relato dela; a engenheira nunca
havia confessado isso a ninguém, estava aos prantos nos braços da
enfermeira:
— Naquela semana, na semana em que eu conheci Joinville, eu acabei indo
pra uma balada na sexta feira; encontrei com uma ex-namorada minha e a
gente acabou vindo aqui pra casa, Cami! Eu não consegui; eu estava vendo
ela ali, na minha frente, mas era em Joinville que eu pensava! Isso
nunca tinha acontecido antes, naquele dia eu percebi que eu estava
amando de verdade, e que por mais que eu quisesse, por mais que meu
corpo quisesse, meu coração era dela, meu coração ia ser dela pra
sempre!
    Camila ouviu tudo sem dizer nada; as lágrimas rolavam de seus olhos
mas ela não queria que Chapecó percebesse.
As duas conversaram por mais um tempo, e Camila decidiu voltar para
sua casa; Chapecó estava a espera de São José, e não demorou muito para
que sua campainha tocasse.
A engenheira foi abrir a porta, mas não era São José que estava ali; a
visão que teve fez seu coração desparar, o sangue subir, estava ali uma
jovem de cabelos curtos, a razão de tudo o que estava acontecendo com
ela:
— Bom dia, meu amor! - cumprimentou Itajaí.


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