Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 31
CAPÍTULO31




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CAPÍTULO31

    Passaram-se alguns dias, e algumas coisas aconteceram nessa família;
Palhoça, por não ter levado a prova de matemática assinada pelos pais pra escola,
acabou sofrendo as consequências. Seus pais descobriram tudo quando a
direção ligou para a casa da menina e contou o que aconteceu;
Florianópolis foi até a escola, de novo, conversou com a professora, e o
resultado da irresponsabilidade de Palhoça foi uma semana sem celular e sem poder sair
com as amigas; só podia ir a escola.
E agora a garota teria uma nova aliada, a
professora de matemática Deise, que lhe daria aulas particulares. No
início, Palhoça não gostou nada dessa ideia; mas Deise conquistou o
coração de sua nova aluna.
Blumenau acabou se afastando de Itajaí, que por sua
vez, estava decidida, agora mais do que nunca ela queria recuperar o que
perdeu, queria seu amor de volta.
    Jaraguá, que havia sido expulsa da casa de São Miguel do Oeste na
primeira vez que esteve lá, jamais imaginou que amasse tanto aquele
garoto, jamais supôs que com a pouca idade que tinha, fosse capaz de
amar alguém assim, com tamanha força.
Não voltou a pisar na casa de sua sogra; via o namorado na escola, ele
visitava sua casa, saíam juntos e a garota sabia que não poderia ser
assim pra sempre. Um dia ela teria que voltar lá e encarar a situação de
frente; mas ainda não estava preparada pra passar por isso, pelo menos
por enquanto.
A tia de São Miguel, Concórdia, sempre deu total apoio a o garoto; os
dois sempre conversaram sobre todos os assuntos, e ele sentia que tinha
mais afinidade com a tia do que com a própria mãe.
    Certo dia, Florianópolis e Concórdia acabaram se encontrando por
acaso em uma loja de departamentos no shopping; a mãe de família ficou
surpresa ao ser abordada pela promotora de eventos e só compreendeu a
situação quando ela se apresentou como tia de São Miguel, que vinha a
ser o namorado de sua filha.
As duas acabaram indo até a praça de alimentação; tomaram um café,
conversaram, e só então Florianópolis teve a chanse de conhecer melhor a
realidade do rapaz. Descobriu que o pai dele sumiu no mundo depois da
separação, negando-se a ter contato com a família; descobriu que a mãe
dele era a professora de Matemática de sua filha, que vivia uma vida cheia de altos e baixos e tomava
medicamentos para depreção, e o mais importante, descobriu o quanto o
rapaz amava sua filha.
    Florianópolis estava sem ação diante de tudo o que Concórdia lhe
contou:
— Seu sobrinho é um garoto como poucos nos dias de hoje, Concórdia;
apesar do que aconteceu naquela noite em que a minha filha foi jantar na
casa dele, eu sei que ela tirou a sorte grande!
— Ele ficou muito deprimido naquela noite, dormiu lá em casa e tudo,
você acredita? Não é porque São Miguel é meu sobrinho, a razão da minha
vida; mas ele sempre foi um garoto diferente, sensível, amável, eu sei
que eu sou suspeita pra falar! Qualquer dia desses eu quero ligar pra
sua filha, combinar alguma coisa com ela, talvez sair com eles e
conversar sem aquele climão que acabou estragando aquela noite!
    Florianópolis e Concórdia ficaram ali por mais de uma hora,
sentadas, conversando. Antes de saírem dali, trocaram telefones; nascia
ali uma amizade que duraria a vida toda.
    Era uma quinta feira; São José estava no carro, dirigia até sua casa,
mas se pudesse, queria voltar atrás e não ter feito o que acabara de
fazer. Faziam muitos anos que aquele pai de família voltava pra casa
todas as tardes do trabalho na empresa; mas naquele dia, estava voltando
para a família já passava de oito da noite.
Era difícil acreditar, mas São José esteve no apartamento de Criciúma;
depois de vinte e um anos de casamento, naquele dia ele traiu
Florianópolis pela primeira vez.
A tempos aquele pai de família não se sentia tão cansado; mas nada se
comparava a o peso de sua consciência; e ali, dentro daquele carro, ele
jurou que aquela seria a primeira e última vez. Foi bom, foi muito bom;
mas ele não queria sentir aquele arrependimento nunca mais.
    Ao colocar o carro na garagem do prédio, São José começou a sentir
algo estranho, uma sensação de que algo não estava bem. Seria sua
consciência? Ou algo realmente não estava bem em sua casa?
Pegou a pasta que estava no banco de trás do carro, as chaves, o celular
e subiu de elevador até o oitavo andar, onde ficava seu apartamento.
    O pai de família mal teve tempo de girar a massaneta da porta e
abríla; encontrou uma Jaraguá muito nervosa, com o celular na mão:
— Pai - a menina quase gritou, com lágrimas nos olhos -, ainda bem que
você chegou; nós estamos tentando falar com você a mais de uma hora e só
cai na caixa postal!
— O que foi, filha? Calma, por favor, me diz o que aconteceu!
Jaraguá olhou fixamente nos olhos do pai, como se procurasse as palavras
certas para dizer o que precisava dizer. As lágrimas vieram implacáveis,
junto com as palavras da garota:
— A mamãe teve sangramento de novo, pai; minha madrinha levou ela pro
hospital!
— Eu não posso acreditar, filha! - São José agora parecia transtornado:
— Faz uns quarenta minutos que a madrinha saiu com ela!
— E como é que ela estava quando saiu, meu amor?
— Nervosa, pai, muito nervosa! Aquele livrinho de orações que ela ganhou
no dia das mães, ela não largou dele um segundo; levou junto pro
hospital!
— Filha, eu vou pra lá! E suas irmãs?
— Eu e Palhoça estamos sozinhas em casa; Joinville e Blumenau já tinham
ido pra faculdade quando aconteceu!
— Olha, Filha - São José abraçou sua caçula -, fica tranquila; fica com
a sua irmã, eu vou pro hospital! Liga pra Márcia, pede se ela pode...
— Chapecó está vindo pra cá, pai; eu liguei pra ela assim que a mamãe
saiu, ela disse que estava no super mercado mas logo vinha aqui com a
gente!
    São José voltou para a garagem, e ao entrar no carro, se sentou e só
então desbloqueou a tela do celular. Viu que ali haviam várias chamadas
dos celulares de Jaraguá, Palhoça e também do celular de sua esposa.
Havia também uma mensagem de Criciúma, onde ela dizia o quanto aquele
fim de tarde foi bom para ela. O pai de família se sentiu o pior dos
homens naquela hora; sua mulher poderia estar perdendo o bebê, suas
filhas precisaram de sua presença, e ele, bem, ele estava em outra casa,
em outra cama, em outros braços.
    Lages estava na sala de espera do hospital quando São José chegou;
estava nervoso, sentia vontade de chorar mas tinha que ser forte:
— Comadre, o que aconteceu:
— Calma, compadre - ela estendeu a mão no ombro dele -, calma; ela está
sendo atendida!
— Mas como é que isso foi acontecer de novo, Lages?
— Eu não sei; Palhoça foi me chamar no meu apartamento, nervosa; eu
trouxe ela pra cá!
São José tinha a impressão de que poderia ter evitado aquilo; talvez se
não tivesse feito o que fez, se tivesse ido direto pra casa como fez
todos esses anos, mas não podia voltar atrás.


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