Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 21
CAPÍTULO21


Notas iniciais do capítulo

Bom dia meus queridos leitores, aqui vai mais um capítulo de Estado de Amor e de Sonhos. Hoje, se completa um ano da tragédia com o vôo que levava a delegação da Chapecoense; Chapecó é uma das personagens centrais dessa história, e hoje, antes de ler o capítulo, façamos uma prece por aqueles que perderam pais, filhos, amigos, entes queridos nessa tragédia.
Que Deus conforte o coração de cada uma das setenta e uma famílias que hoje, faltam um pedaço.
E vamos a o capítulo de hoje... boa leitura amores!



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    - Me conta isso direito, pai! Blumenau não é sua filha biológica,
como não é? - Joinville, sentada ao lado de seu pai na sala de espera do
hospital, agora estava nervosa, assustada:
— Filha! Sua mãe e eu namoramos desde a nossa adolescência; tivemos
vários encontros, desencontros, e quando ela tinha seus vinte anos, nós
estava-mos namorando firme mas ela acabou se relacionando com um outro
rapaz! Quando ele descobriu que ela estava grávida e que o filho poderia
ser dele, sumiu por esse mundo, nunca mais deu notícias, nunca mais
ninguém soube de nada! Daí eu decidi pedir sua mãe em casamento, mesmo
sabendo que o filho poderia não ser meu, nem ela mesma sabia quem era o
pai de Blumenau! Nós nos casamos, e quando ela nasceu, nós fizemos um
exame de DNA, que comprovou que ela não era minha filha!
— Meu Deus, pai - Joinville segurou comovida a mão esquerda dele -, eu
nunca imaginei uma coisa dessas; eu sempre soube que a mamãe casou
grávida mas...
— Filha, eu vou precisar que você me faça um favor!
— Claro, pai; pode falar!
— Eu preciso que você fique aqui com a sua mãe; eu vou até em casa falar
com Blumenau, a gente ainda não falou sobre esse assunto!
— As minhas irmãs estão aflitas em casa, pai; Jaraguá já me mandou duas
mensagens perguntando pela mamãe!
— Eu vou pra casa, converso com as meninas e depois volto pra passar a
noite com ela!
— Tudo bem, pai, vai tranquilo; eu fico aqui te esperando! Depois eu
quero dar uma passada lá no flat, Chapecó ainda nem sabe o que aconteceu
com a mamãe!
    Os dois pararam a conversa quando ouviram passos que vinham do
corredor; São José, que ainda segurava a mão da filha, sentiu seu
coração estremecer no peito quando viu diante dele aquela mulher linda,
sedutora, aquela Criciúma que sempre tinha a palavra certa para cada
momento:
— São José! - exclamou a jovem executiva; sua voz era amiga, inspirava
confiança para aquele homem:
— Criciúma! - ele respondeu levantando-se da poltrona; ela chegou mais
perto e o abraçou, enquanto Joinville observava a cena. A moça esperou
que seu pai se soltasse daquela mulher, cumprimentou-a cordialmente e
pediu licença, disse que ficaria com a mãe no quarto.
São José e Criciúma se sentaram e seus olhares se encontraram; enquanto
observava tão de perto aquele homem, ela sentia seu coração estremecer,
seu corpo dar sinais do quanto o queria:
— Parece que sua filha não gostou de me ver! - ela comentou iniciando
uma conversa:
— Claro que não é isso - ponderou ele tentando sorrir, mas sem sucesso
—, a verdade é que parece que a minha casa está desabando em cima da
minha cabeça! Eu nunca falei desse jeito com nenhum colega de trabalho
em todos esses anos, mas se eu não falar sobre isso com alguém, acho que
eu vou acabar pirando de vez!
— O que aconteceu? Sua mulher perdeu o bebê?
— Não, o bebê está bem, ela também! Bem... Criciúma, você conheceu
Blumenau quando esteve lá em casa, não conheceu?
— Conheci; linda, me recebeu bem...
— Pois é! Ela não é minha filha biológica; até hoje apenas eu e minha
mulher sabia-mos disso! A gente já namorava quando ela engravidou, mas
ela estava saindo com um outro rapaz que a gente conhecia, fazia parte
do nosso grupinho de amigos! Quando ele soube que ela estava grávida e
que o filho poderia ser dele, sumiu, nunca mais deu notícias!
Florianópolis casou comigo grávida, nem ela mesma sabia de quem era o
bebê, mas eu estava disposto a assumir mesmo sabendo que poderia não ser
meu, tamanho amor que eu sentia e sinto por essa mulher! Quando Blumenau
nasceu nós fizemos um exame que comprovou que ela não era minha filha de
sangue, e hoje ela encontrou esse exame no nosso quarto!
    Criciúma ouviu tudo; agora seu rosto tinha uma expressão surpresa,
tudo aquilo era muita informação para a cabeça de uma mulher apaixonada como ela:
— Estou zonza com essa história, São José! Então você sempre soube que
ela não era sua filha de sangue?
— Sim, eu sempre soube que ela não tinha meu sangue; mas eu amei ela
desde o momento que eu a vi no berçário, aqui mesmo nesse hospital! O
fato dela não ter o meu sangue se tornou insignificante pra mim,
entende?
— Claro que eu entendo, entendo, acredito nisso! E o que é que você
pretende fazer agora?
— Eu estava justamente indo pra casa pra falar com ela, falar com as
duas mais novas também que estão aflitas lá...
— Eu só vim mesmo pra saber como estavam as coisas por aqui; fiquei
preocupada quando a Márcia ligou na empresa contando da sua mulher!
— Eu te agradeço por tudo; a médica que cuida do caso dela disse que
é possível que ela receba alta amanhã se tudo der certo!
— E vai dar, com certeza vai! E se precisar de mim pra qualquer coisa, é
só chamar!
    No quarto do hospital, Joinville sentou-se em uma poltrona, e
enquanto velava o sono de sua mãe, lembrou-se de muita coisa. Pensou na
linda infância que teve com os pais e as irmãs, sua adolescência e o
fato de nunca ter tido interesse por nenhum garoto, o dia em que
esbarrou em Chapecó na biblioteca da universidade, o dia em que ela se
declarou, em fim, a vida de Joinville passou por sua cabeça como se
fosse um filme de vários gêneros; algumas lembranças lhe faziam sorrir,
enquanto outras lhe faziam sentir um aperto no coração.
    - Filha! - a voz sonolenta de sua mãe tirou a moça de seu devaneio:
— Oi, mãe! Estou aqui!
Joinville agora caminhava até o leito de Florianópolis; se aproximou
calmamente e tocou a mão direita da mãe:
— E suas irmãs? - foi a primeira pergunta que Florianópolis lançou
naquele momento:
— Está tudo bem, mãe; meu pai foi até em casa ver as meninas, conversar
com Blumenau...
— Você já sabe que...
— Sei, mãe, ele me contou! Mas agora você precisa descansar, se poupar
pra segurar esse bebezinho aqui dentro!
— E a Márcia?
— Está lá em casa; ela vai ficar lá com Jaraguá, Palhoça e Blumenau, não
se preocupe!
    São José chegou em casa e sentou-se para conversar com as duas
filhas mais novas; teria que contar a elas a verdade sobre Blumenau e
ficou surpreso com a reação das duas. Jaraguá disse que para ela nada
mudaria, que apesar de tudo, ela continuaria amando sua irmã com a mesma
força; Palhoça, que sempre encarou a vida com bom humor e alegria, olhou
nos olhos do pai e disse o que pensava naquele momento:
— Está explicado, pai; o gênio que ela tem só pode ter sido um
presentinho que o tal carinha lá deixou de herança pra ela!
— Eu estou falando sério, filha! - São José repreendeu:
— Eu também estou falando sério, pai! Só que ela não tem culpa de nada;
pode ter certeza de que pra mim também não vai mudar nada!
    A conversa com as duas filhas deixou São José mais tranquilo; mas ao
tentar falar com a filha mais velha sobre os últimos acontecimentos, o
pai de família não teve sucesso.
Blumenau estava trancada no quarto desde a hora em que saiu do quarto
dos pais, depois de descobrir tudo; se recusou a abrir a porta para ele,
ela só queria ficar sozinha e entender seus próprios sentimentos, a sua
própria revolta.
    Já era tarde da noite quando Joinville deixou o hospital; o plano
era voltar pra casa e ficar com as irmãs, mas estava se sentindo
esgotada, havia sido forte até então mas não conseguia mais. Não queria
que Palhoça, muito menos Jaraguá lhe vissem assim.
    - Márcia, sou eu! - Joinville estava dentro do carro, em frente a o
flat de Chapecó, falando com a fiel escudeira de sua casa:
— Oi, minha querida, pode falar!
— Márcia, eu saí do hospital agora, ia voltar pra casa mas estou me
sentindo meio esgotada; eu estou aqui no flat, preciso conversar com
Chapecó, você cuida bem das meninas, por favor!
— Não se preocupe - ponderou Márcia -, eu vou dormir aqui, já avisei lá
em casa também; as meninas estão bem, jantaram, estão vendo filme lá na
sala!
— Elas estão calmas?
— Estão! O doutor veio pra casa, conversou com elas, explicou que está
tudo bem, e Palhoça, bem, você conhece a peça, né, ela se incarrega de quebrar qualquer clima desconfortável!
— Está bem, Márcia; qualquer coisa você me liga?
— Pode deixar! Pelo jeito as duas resolveram assistir um filme de
comédia lá na sala!
E naquele momento, Joinville só queria um refúgio, um lugar onde não
precisasse ser tão forte o tempo todo, onde pudesse lidar com suas emoções; esse
lugar estava tão próximo. Ela desembarcou do carro e olhou por um
instante aquele prédio enorme; sua segunda casa, seu refúgio estava no
quinto andar.


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