Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 15
CAPÍTULO15




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    Lages voltou para o Brasil; havia ido para o esterior a cinco anos
atrás, depois de dez anos de casamento e uma separação dolorosa e com
muitas desavenças.
Tornou-se uma mulher decidida; durante os anos em que foi casada, Lages
viveu para o marido, sonhou em ter um filho mas isso não aconteceu.
Superou o fim de seu casamento, transformou seu sofrimento em
aprendizado, e hoje era uma mulher realizada.
    Quando chegou ao Brasil, o maior desejo de Lages era voltar para seu
apartamento; mas algumas coisas ainda precisavam ser resolvidas para que
ela pudesse se instalar em sua casa, por isso, Florianópolis a acolheu
em casa durante alguns dias.
    - É muito bom ter a casa de uma melhor amiga pra poder voltar; se teve uma coisa que eu senti falta nesses cinco anos foi da
hospitalidade brasileira! - desabafou Lages na mesa de café da manhã,
com Florianópolis sentada à sua frente:
— Eu posso imaginar!
— Nos Estados Unidos é tudo muito diferente; parece que os americanos
não tem o carinho, o afeto, o calor que a gente tem aqui, pra ser sincera eu não
via a hora de voltar pra casa! Eu me separei, acabei indo pra lá mas
tudo o que eu queria era voltar!
— Eu me lembro que quando você foi, disse que ficaria pouco tempo até se
refazer!
— O plano era esse, Florianópolis; mas fui ficando, no fundo acho que eu
tinha medo de voltar e ter que lutar contra tudo o que aconteceu! Eu não
tive filhos meus, mas quando eu embarquei, tinha a sensação de ter deixado
um pedaço de mim!
— Você acabou sendo a segunda mãe das minhas meninas; Jaraguá tinha dez
anos quando você embarcou, não foi nada fácil pra ela!
— E vou adotar mais esse que você tem aí! Como é que foi isso, amiga?
Quer dizer, veio sem querer mesmo, ou sem querer querendo?
— Foi sem querer mesmo! Ter um quinto filho estava totalmente
fora de cogitação pra gente, imagine, as nossas meninas já são moças, a
gente não planejou mesmo! Mas ele veio; e se ele veio a gente recebe com
amor, o mesmo amor que nós recebemos as meninas!
— E por falar em meninas, Blumenau nunca soube que...
— Não, Lages; ela não sabe! A algum tempo atrás nós pensamos em contar,
depois repensamos e achamos que não tem por que ela saber!
— E não tem risco nenhum dela ficar sabendo de outro jeito?
— Não; somos só nós três que sabemos disso; eu, você e meu marido!
    Lages foi madrinha da filha mais nova de sua amiga na igreja, e
também do casamento dela com São José, a vinte e um anos atrás. As duas
sempre dividiram tudo uma com a outra, e a convivência das duas só foi
interrompida quando Lages foi embora para os Estados Unidos depois de
sua separação.
    Jaraguá chegou da escola a o meia dia; ainda não havia visto sua
madrinha já que ela chegou de madrugada, e a emoção foi forte.
Ao sair do elevador ao lado de Palhoça e de seu pai, Jaraguá percebeu
que a porta de seu apartamento estava aberta; lhe bastaram apenas alguns
passos para que ela visse ali aquele sorriso do qual sentiu tanta falta,
o sorriso que ela não via pessoalmente desde que tinha dez anos de
idade:
— Madrinha! - foi a única coisa que a garota conseguiu dizer; as
lágrimas vieram implacáveis; Lages fez a primeira coisa que teve
vontade, envolveu a afiliada em um abraço, e por mais que quisesse
mostrar-se forte, não conseguiu.
    Depois de um tempo abraçadas, ainda no corredor do prédio, madrinha
e afiliada olharam-se nos olhos:
— Meu Deus - dizia Lages, emocionada, admirada -, durante todo esse
tempo a gente trocava fotos, mensagens, eu via a moça linda na qual você
estava se transformando; mas eu não imaginava que fosse tanto! Você se
transformou na moça mais linda que eu já vi!
— Você também está linda, madrinha, muito linda! Eu senti tanta falta de
você, dos seus conselhos, do sorriso que você sempre tinha pra mim...
— Sua madrinha nunca deveria ter saído daqui, minha querida; quando eu
embarquei naquela tarde, eu tinha a impressão de que um pedaço de mim
tinha ficado aqui, e ficou, realmente ficou porque você é um pedaço de
mim, você e suas irmãs são um pedaço de mim!
    Palhoça, que até então se manteve calada, se aproximou e abraçou-se
à Lages:
— Oi, tia! - disse a menina:
— Oi, minha querida - a mulher correspondeu -, você está linda também,
eu acompanhei cada fase da sua vida por foto, mas você é muito mais
linda pessoalmente! Agora vamos entrar; a Márcia está colocando a mesa
pro almoço, eu quero muito conversar com vocês, saber de tudo o que
rolou por aqui...
— Jaraguá já está até namorando! - revelou Palhoça com o sorriso mais
malicioso que conseguiu:
— Eu mato você! - reagiu Jaraguá:
Lages não conseguia acreditar; finalmente estava de volta, e nos dias
que se seguiram, ela quis apenas saber como estavam as coisas e retomar
sua vida no Brasil.
    - Eu estou gostando dele, mana; eu estou gostando muito dele! -
Jaraguá abria o coração com a irmã, Joinville, enquanto as duas
caminhavam lado a lado na calçada, bem próximas ao prédio onde moravam;
era uma linda noite de sexta feira, e a caçula da família convidou a
irmã para andar um pouco, precisava falar e tinha que ser com Joinville:
— E por que esse desânimo todo, hein, maninha?
— Porque eu estou meio confusa, sabe! Eu gosto dele, eu sei que ele
também gosta de mim, mas nenhum tem coragem de chegar no outro e falar!
As duas falavam sobre São Miguel do Oeste:
— Mana, é normal; não seria normal se isso não acontecesse em algum
momento da sua vida! Eu não tive um amor de colégio, nunca me interessei
por nenhum garoto! Eu jamais imaginava que... bem, que o meu destino
fosse outra mulher; eu precisei conhecer Chapecó pra descobrir isso! Eu
só quero que você saiba que eu estou do seu lado, pro que der e vier!
— Eu fico com medo de tomar a iniciativa, mana; sei lá, eu sempre ouvi
que a iniciativa deve ser do garoto, eu tenho a impressão de que se eu
chegar nele vou parecer oferecida, entende?
— Mana - a voz de Joinville era calma, amiga -, hoje em dia já não tem
mais isso; infelizmente o mundo ainda é muito machista! Mas não tem por
que você se sentir assim, vocês dois são amigos, tem que arriscar, minha
querida; eu aprendi que quando a gente gosta realmente, vale tudo!
— Você fala isso por causa de Chapecó?
— Também, minha irmã! Quando eu descobri que... em fim, quando eu
descobri o que eu queria realmente, eu achei que eu fosse enlouquecer;
tive medo, tive dúvidas, mas a cima de tudo eu amava ela, eu já amava
ela! E é por isso que eu te falo que quando a gente gosta de verdade,
nada mais importa!
— Palhoça também está me dando a maior força com isso! Sabe, mana, eu
acho que se a nossa irmã não tivesse esse jeito destrambelhado que ela
tem, como você mesma disse outro dia lá no meu quarto, ela não seria tão perfeita!
— Ela é a mais descolada de nós quatro! Brinca com tudo, não leva
absolutamente nada a sério, mas com a gravidez da mamãe ela tem se
mostrado muito responsável!
    Jaraguá estava começando a criar coragem para abrir o jogo com
SãoMiguel e dizer finalmente que o amava. Mas o rapaz a surpreendeu ao
enviar uma mensagem para o celular dela, alguns dias depois,
convidando-a pra sair. Caminhou com ela de mãos dadas até a praia,
conversaram muito, e ali, olho no olho, o garoto se declarou para ela; a
paisagem era deslumbrante e o jovem casal tinhao mais lindo pôr de sol à
sua inteira disposição.
    Ainda naquela semana, São Miguel esteve no apartamento da família de
Jaraguá; pediu a mão da garota em namoro para seus pais, queria que tudo
acontecesse nos conformes, da maneira certa. Com seus dezesseis anos, o
jovem já sabia exatamente como agir, era bastante maduro para a idade
que tinha:
    - A nossa menina já está namorando! - comentava São José com sua
esposa; ele trazia um olhar um pouco preocupado, deitado ao lado dela na
cama:
— É; e parece que foi ontem que a gente descobriu que ela ia chegar, que
ficamos sabendo que era mais uma menina, que a gente saiu pra
maternidade as duas da manhã porque a bolsa rompeu!
— Achei bacana a atitude do rapaz, minha querida! Ele fez questão de vir
aqui, pedir a mão de Jaraguá pra gente como manda o figurino!
— Também achei lindo, sincero; apesar de tudo nós temos milhares de
motivos pra agradecer! Blumenau tem aquele jeito impaciente que só
vendo, Palhoça levada como ela só desde pequena, em fim, nossas quatro
filhas, cada uma com seu jeito de ser, estão se encaminhando aos poucos!
— E tem mais esse aqui a caminho! - lembrou São José pousando
carinhosamente a mão na barriga de sua mulher:
— As vezes eu custo a acreditar que aí tem mais um; e vai acabar sendo o
nosso companheirinho fiel! As nossas meninas vão se encaminhar na vida,
vão se casar, vão nos encher de netos, aliás, outro dia eu me peguei
pensando nisso, sabia?
— Espero que demore um pouco ainda, mulher; eu ainda não estou preparado
pra ser chamado de vovô não!
— Meu amor, não se preocupe; quando isso acontecer você certamente vai
ser o vovô mais charmoso do mundo!
    São José ajeitou-se na cama e abraçou sua mulher, unindo seu corpo a
o corpo dela:
— E Joinville? - ele perguntou com uma expressão de preocupação:
— O que é que tem?
— Você já parou pra pensar que ela não vai... ah, minha querida, eu
estou pensando bobagem!
— Você está querendo dizer que ela não vai ter filhos, que a gente não
vai ser avós dos filhos dela?
— Eu me peguei pensando nisso outro dia, sentado atrás da minha mesa lá
na empresa! Longe de mim condenar a nossa menina por isso, mas eu pensei
nisso!
— Eu também pensei, meu amor; no dia em que Joinville me contou sobre
Chapecó eu pensei nisso! Mas ela está feliz, meu marido, nossa filha
nunca esteve tão feliz; ela encontrou o caminho dela, a felicidade dela
é ao lado de outra mulher e isso a gente não pode negar!
— E quem sou eu pra duvidar de você, meu amor? As vezes na correria do
dia a gente acaba esquecendo de algumas coisas, mas eu queria te dizer
que eu te amo, e que se eu tivesse que nascer, que crescer, namorar,
casar, eu ia querer casar com você e ter quatro filhas com você!
— Cinco! - florianópolis sorriu:
— Cinco, é verdade!
— Dessa vez é um menino,, meu marido, eu sei que é; essas coisas a gente sente, eu não sei como explicar mas a gente
sente!
    São José estava com quarenta e cinco anos de idade e se considerava
um homem realizado em todos os sentidos; tinha uma família feliz, os
negócios iam muito bem, tudo parecia perfeito. Mas essa realidade estava
começando a mudar, e o pai de família teria que decidir como iria lidar
com tantas mudanças ao mesmo tempo.
    A alguns meses, quando a jovem executiva Criciúma começou a
trabalhar na empresa, os dois acabaram se tornando amigos; em pouco
tempo ela já sabia tudo sobre a vida do chefe, já conhecia suas quatro
filhas por foto e o viu ao lado da esposa por algumas vezes. Não demorou
muito para que Criciúma percebesse o que realmente se passava com ela;
estava apaixonada pelo chefe, nunca havia sentido nada parecido antes e
jurou a si mesma que lutaria por aquele amor. Criciúma sempre fora
decidida, não tinha escrúpulos, era capaz de ir até onde fosse preciso
para conseguir o que queria.
Pensou por alguns dias, qual seria o melhor caminho para conquistar de
vez São José; achou que seria melhor se conseguisse se aproximar das
filhas dele antes de qualquer coisa, e não mediria esforços para isso.


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