Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 100
Capítulo100




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CAPÍTULO100

Jaraguá olhou para os pais e sentiu as lágrimas chegando; não queria
chorar, prometeu a si mesma que não ia chorar:
— Filha - São José deu alguns passos à frente e tocou o rosto da moça -,
minha filha! - o pai foi vencido pelas lágrimas:
— Pai! - ela tentou dizer mais alguma coisa mas não conseguiu; São José
estava abraçado à sua menina:
— Como você está linda, filha! Parece que foi ontem que a gente
descobriu que você ia chegar, que eu entrei em casa e Blumenau veio
correndo me encontrar dizendo que a irmãzinha dela queria nascer, que eu
te deixei na escola no seu primeiro dia de aula, que a gente dançou a
valsa dos seus quinze anos! E hoje eu vou te levar pro altar, minha
filha, você vai se casar...
— Pai! Mãe! - Jaraguá interrompeu o discurso de São José, sem saber se ia
conseguir dizer o que queria dizer; Florianópolis deu um passo a frente
e estava ao lado da filha e do ex-marido:
— Fala, filha; pode falar!
— Eu amo vocês!
Abraçada aos pais, Jaraguá se deu conta de que estava a um passo de
realizar seu sonho; muitas lágrimas de emoção foram deixadas naquela
sala, um momento que ficaria pra sempre na memória daquela família.
No dia de seu casamento, o dia mais feliz de sua vida, São Miguel do
Oeste recebeu uma surpresa inesperada. Havia enviado o convite do seu
casamento para sua mãe, os dois conversavam as vezes via internet mas o
jovem podia jurar que ela não estaria presente. Brusque não aprovou o
namoro do filho no início, chegou a dizer por telefone, depois que foi
embora, que abençoava o amor dele por Jaraguá, mas São Miguel, depois de
muito insistir com a mãe, tinha certeza de que não a teria por perto
naquele momento único em sua vida.
Ele se enganou. Quando já estava pronto pra ir pra igreja, o jovem foi
surpreendido pela chegada da mãe. Brusque teve uma crise de choro ao ver
o filho que ela deixou com a irmã a alguns anos atrás, seu garoto que se
transformou no mais belo homem que ela já viu.
E a hora chegou; São Miguel do Oeste estava a alguns passos da porta
da igreja; entraria guiado pela tia e pela mãe, que chegou de última
hora e ele fez questão que ela também o levasse até o altar. A música
que ele escolheu começou a tocar, sendo cantada lindamente por seu
cunhado, Santo Amaro da Imperatriz, conforme o noivo pediu; era sua hora
de entrar e esperar por Jaraguá:
— Em dois mil e cinquenta, posso ser um taxista de aeroporto, contando a
minha história a um garoto, falando de quando eu te conheci! Em dois mil
e cinquenta, eu vou ter algumas rugas no meu rosto, e uma foto sua no
meu bolso, e vou mostrar sorrindo pra esse mosso, e dizer assim! Olha
aqui a minha véia, torce pra você achar uma dessas, na vida, isso é tudo
o que interessa, minha melhor corrida foi pra ela, foi pra ela! Olha
aqui a minha véia, torce pra você achar uma dessas, na vida, isso é tudo
o que interessa, desculpa te alugar com essa conversa, pra todo passageiro eu falo dela!
Concórdia não conseguiu segurar a emoção ao levar o sobrinho até o
altar; era ele, o seu menino, aquele que lhe fez companhia, foi seu
melhor amigo, ele que, com sua pouca idade, muitas vezes lhe deu
conselhos.
E ela chegou, Jaraguá ia entrar na igreja; o noivo já estava à sua
espera no altar e a moça entrou de braços dados com seu pai, todos os
seus amigos e familiares estavam ali vibrando pela felicidade dela, que
entrou na igreja ao som da marcha nupcial.
Ao deixar a filha no altar, São José deu-lhe um beijo no rosto; Jaraguá
deu uma olhada em volta, o jovem casal tinha vários padrinhos, todos
eles sempre torceram pela felicidade dos dois, entre eles Blumenau e São
Bento do Sul, Joinville ao lado de um amigo de infância de São Miguel,
Márcia ao lado do marido.
O padre deu início à cerimônia, tudo estava perfeito. O jovem casal fez
os votos de amor e fidelidade, trocaram alianças como deve ser:
— Eu vos declaro marido e mulher! - disse o padre com um sorriso largo
ao fim da cerimônia; olhou para o noivo e concluiu:
— Pode beijar a noiva!
Depois das fotos e dos noivos e os padrinhos assinarem o livro, era
hora de festejar aquele momento; teve até chuva de arroz na saída dos
noivos.
Assim como a cerimônia, a festa de casamento de São Miguel e Jaraguá
foi reservada à família, os padrinhos e amigos mais próximos.
O jantar correu bem, as crianças esbanjavam alegria por onde passavam, e
ao cortar o bolo de casamento junto com seu marido, Jaraguá ofereceu o
primeiro pedaço para aquela que foi sua fiel escudeira desde o dia em
que ela nasceu, e que foi madrinha de seu casamento; era ela, Márcia,
que cuidou de tudo, sempre esbanjando carinho.
O jovem casal dançou a tradicional valsa de casamento, ficaram ali por
mais algum tempo e depois saíram de fininho. Passariam aquela noite em
um hotel e viajariam para a Europa no dia seguinte, passariam um mês por
lá.

A algumas semanas atrás, Itajaí descobriu que estava morando no
prédio onde Chapecó e Joinville moravam, e pior, de frente para o
apartamento delas. A moça encontrava todos os dias com a ex-namorada e
isso a fez perceber que seu amor por Chapecó ainda existia, ainda era
forte. O problema é que, Itajaí agora estava casada, com uma mulher que
era capaz de tudo por ela, que a amava mais que a si própria; não era
justo, Itajaí não achava justo continuar casada, continuar se deitando
ao lado de Laguna, que a amava incondicionalmente, pensando em Chapecó.
Naquele sábado, Laguna precisou pegar a estrada logo cedo por causa
do falecimento de um parente. Foi pro velório sem sua companheira, sua
família não aceitava o fato dela ser casada com outra mulher, e
principalmente, por essa mulher ser uma ex-presidiária.
— Laguna! Laguna! - Itajaí desceu correndo pra garagem do prédio, sua
companheira já estava no carro, com o motor ligado. A psicóloga desligou
o motor e abriu a janela ao seu lado:
— Que foi, Itajaí? - perguntou ela; apesar das circunstâncias, conseguiu
sorrir -,, o que foi que eu esqueci dessa vez? Sim, porque eu sempre
acabo esquecendo alguma coisa!
Itajaí se inclinou junto à janela do carro, ao lado de sua mulher:
— Você não esqueceu nada! Eu só desci por que... porque eu queria te
dizer que...
— Fala, meu amor, o que é?
— Eu queria dizer que você foi a melhor coisa que aconteceu na minha
vida, é isso!
Laguna sorriu, agora com alegria, com emoção:
— Eu te amo muito, do jeito que você é! Amanhã eu estou de volta; me
espera, tá!
Itajaí não podia continuar dando esperanças à Laguna, não podia
continuar fazendo com que ela acreditasse que um dia, poderia amá-la
como ela merecia. Naquele sábado, a jovem, preparou uma mala, escreveu
uma carta explicando seus motivos para Laguna e deixou o apartamento,
deixou ali a possibilidade de ser feliz, deixou sua mulher.

Depois do casamento de Jaraguá, Florianópolis, São José, Camila e
toda a família passaram o fim de semana na fazenda; quem mais aproveitou
foram as crianças, que brincaram muito, se sujaram pra valer, foi uma
verdadeira farra.
— Içara minha linda - pediu mansamente a enfermeira Camila, naquela
tarde de domingo -, você vai até lá fora e chama o vovô pra mim? Diz pra
ele que a gente precisa ir embora!
— Pode deixar, Cami; eu vou chamar o vovô? Vocês vem comigo?
São Joaquim e São Lourenço acompanharam a garotinha; os três eram
inseparáveis, andavam sempre juntos, aprontavam muito.
Sentado em uma das varandas da casa, São José conversava com São
Bento do Sul; até ser surpreendido por sua neta, que chegou na varanda
tentando fazer cara de séria, uma verdadeira Blumenau em versão menor:
— Vô, desculpa te interromper; mas a Cami está doida atrás de você!
A garotinha arrancou uma gargalhada do pai e do avô:
— Vem, vô, vem comigo, a Cami disse pra eu te procurar e eu prometi pra
ela que ia te achar!
— Sim senhorita, eu vou!
Camila teria plantão naquela noite no hospital; por isso precisava ir
embora.

Laguna chegou em casa naquele fim de tarde de domingo; nunca quis
tanto voltar pra casa, nunca quis tanto ver sua Itajaí, abraçá-la, ficar
ao lado dela. Mas a jovem psicóloga viu seus sonhos se tornarem fumaça
ao se deparar com o vazio em sua casa; ao dar falta das roupas de Itajaí
no closet, e pior, ao ler a carta deixada por ela. A carta onde ela
pedia perdão por não ter conseguido amar Laguna como ela merecia,
assumia que ainda amava Chapecó e que decidiu ir embora para lutar por seu amor.
O sonho de uma vida feliz ao lado de Itajaí foi desfeito naquela tarde,
diante dos olhos de Laguna.


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