Kira escrita por zoiudinhadamamae


Capítulo 7
Capítulo 6




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6

            Kira acordou no chão. Os eletrodos de seus braços e mãos se desprenderam de sua pele. A dor era tanta que mal se mantinha em pé ou tinha forças para se levantar. A dor era especificamente na parte de trás da cabeça, onde havia levado o tiro na simulação. Em sua mente, não passava nenhum pensamento, ele apenas pedia para qualquer entidade ou até mesmo para o universo que aquela dor parasse. A menina de cabelos rosas, Mayumi, adentrou a cabine de kira e se ajoelhou ao seu lado.

            — Consegue falar? — perguntou ela

            Kira abriu a boca na tentativa de falar algo, mas a única coisa que saiu de seus lábios foi um urro de dor.

            — Paulo! — gritou Mayumi e então apareceu um garoto alto vestido de preto — Chame Shinya, ele vai saber o que fazer.

            O garoto, Paulo, assentiu e saiu correndo em direção a porta. Kira tentava acompanhar o que estava acontecendo, mas tudo estava rápido demais. Então lembrou-se de Dante; queria que o amigo estivesse ali com ele naquele momento. Lembrou-se que Dante estava na cabine ao lado e tentou se movimentar na direção da mesma.

            — É melhor você ficar parado um pouco. Já chamei por ajuda, logo você vai ficar melhor.

            Kira ouvia ou pelo menos tentava ouvir o que Mayumi lhe dizia, mas assim como sua visão, sua audição também estava surda, então ele tentava captar palavras-chave. Ele olhou pra ela e tentou falar algo, mas ao abrir a boca, vomitou. A dor era tão forte que seu corpo não estava conseguindo dar conta. A visão estava cada vez mais turva e cabeça ia ficando mais pesada e o corpo mais mole. Mayumi fez com que ele se deitasse com a cabeça apoiada em seus joelhos, pois já havia percebido que talvez ele fosse desmaiar. Kira já estava fechando os olhos quando ouviu passos rápidos ao longe que ia ficando mais perto e então o garoto vestido de preto que se chamava Paulo estava na porta de sua cabine e acompanhado dele, estava Shinya. Kira não estava em condições de se lembrar exatamente quem era Shinya ou porque ele estava ali, mas sabia que ele lhe era familiar então apenas aceitou a presença do garoto.

            — Ei, você precisa respirar. — disse Shinya se aproximando de Kira — E não desiste, por favor.

            Kira queria responder algo, mas não deu. Shinya o pegou no colo e o levou para fora da sala de simulações do B-13. A luz do corredor era tão forte que kira achou melhor fechar os olhos e ao fazê-lo, acabou adormecendo.

 

*  *  *

Se para Kira a luz da sala de simulações do B-13 já era forte, era porque ele ainda não havia visto a enfermaria. Era um quarto branco e silencioso; em volta de sua cama haviam duas cortinas azul-bebê, uma em cada lado da cama. Ao lado direito da cama, havia um criado mudo com uma jarra de vidro contendo água, um copo e ao lado do copo, uma barra de chocolate.

— Ah, você acordou — disse Shinya, se aproximando do leito do garoto — Está melhor?

— Mais ou menos — disse Kira enquanto se sentava e tateava de leve a parte de trás da cabeça — O que exatamente aconteceu comigo?

— Você foi baleado na simulação e seu corpo acreditou que a dor era real. Isso é normal de acontecer, digo, seu corpo achar que é normal.

— Então você está dizendo que eu ter vomitado de tanta dor é normal?

— Acho que sim.

— Vocês aqui são loucos, isso não tinha que ser tão real.

— Por um lado eu concordo. — disse Shinya — Mas por outro, não acho que seja um problema muito grande.

Kira o olhou incrédulo.

— Você viu o meu estado! Como pode dizer que não acha que seja um grande problema?

— Eu entendo sua indignação, mas uma das primeiras coisas que aprendemos quando chegamos aqui é que devemos tentar ao máximo não sermos atingidos, então mesmo você estando de vítima, foi uma falha sua.

Kira ficou sem reação. Shinya estava mesmo o culpando pela própria desgraça. Por um momento, ficou com raiva dele, a mesma raiva que Dante teve quando cruzaram com o ruivo no elevador.

— E como eu fico agora? — perguntou Kira — Aposto que minha pontuação no B-13 que já não era das melhores agora piorou.

— Por que iria piorar?

— Porque eu fiz minha equipe perder. Eu fui primeiro atingido no braço por uma flecha e depois saí correndo do meu posto igual uma criança que não sabe pra onde está indo.

— Falaram isso pra você?

— Como assim?

— Não parece algo que você diria sobre si mesmo. — disse Shinya olhando para Kira, que por sua vez olhava pra ele desconfiado.

— Por que pensa assim?

— Não sei, é só um palpite.

Kira olhou para as próprias mãos até chegar no ponto onde fora atingido pela flecha na simulação. O braço estava intacto. Diferente da simulação que havia sangrado e machucado feio, na realidade o braço estava em perfeito estado e com saúde.

— Como isso é possível? — perguntou Kira

— O quê?

— Isso. Fui atingido por uma flecha na simulação e meu braço estava todo ensanguentado e quase roxo perto de onde a flecha penetrou. Agora, está tudo bem, como se nada tivesse acontecido.

— É as simulações são bem realistas mesmo.

— Mas por quê?

— Olha, seja lá qual for o motivo pelo qual você está aqui, saiba que isso é entretenimento. Isso aqui não um treinamento de exército onde pessoas como eu e você vamos pra guerra. Isso é como se fosse uma grande lan house, onde as pessoas treinam pra serem jogadoras de vídeo game profissionais, é isso. Quando sair daqui, você vai virar um produto da mídia, você e sua equipe. Portanto, as simulações são realistas porque ninguém quer ver algo falso, querendo ou não, as pessoas gostam de ver os outros sofrerem e pode apostar que se o que aconteceu com você ontem dentro daquela sala tivesse acontecido em horário nobre da TV, você estaria rico. — disse Shinya com frieza na voz.

Kira encarou o ruivo, que sustentou o olhar.

— Você não me disse se eles vão ou não abaixar minha pontuação pelo o que aconteceu.

— Acho que não. Se sua pontuação cair, vai ser pela ascensão dos outros, e não pela sua queda.

Kira suspirou e parou pra pensar em tudo o que estava acontecendo e o que já acontecera. Ele havia entrado na Escola de treinamento, passou pelo processo seletivo e caiu no nível B-13. Fez um amigo chamado Dante que tinha pavio curto com as pessoas e uma amiga chama Mia que uma das pernas era um robô e a outra era sua mesmo; depois, na primeira simulação, fez sua equipe perder e foi flechado no braço e baleado na cabeça. Agora estava ali, na enfermaria conversando com Shinya que era umas dos jogadores top 15 do Japão.

— Quando são separadas as equipes?

— Depende... — disse Shinya pensativo — Você pode cair em uma equipe que já está formada ou em alguma que está começando do zero.

— Mas eu achava que todo mundo que vinha pra cá, ia pra uma equipe que ainda está começando.

— Não necessariamente, se algum líder de equipe te quiser na equipe dele, você vai pra ela.

Kira se alegrou um pouco com a informação. Ele queria estar na equipe Shinya, e agora que sabia que tinha uma chance disso acontecer, estava mais esperançoso.

— O que eu teria que fazer pra entrar em uma equipe que já está começada? — perguntou Kira, despretensiosamente.

— Toda sexta feira tem uma simulação especial, é a Eliminatória. Você se inscreve e se passar, entra em uma equipe que já esteja sendo começada.

— Dá pra fazer isso essa semana ainda?

Shinya lançou-lhe um sorriso um pouco malicioso.

— Não é melhor aprender a andar antes de começar a correr? — disse o ruivo — Você anda está no primeiro dia de seu treinamento, ou melhor, segundo. Espera umas duas semana, depois você tenta.

Kira assentiu, mas ainda estava tentado a se inscrever para aquela semana.

— Acho que já estou melhor. — disse Kira — Posso ir pro B-13 agora?

— Pode. E coma o chocolate, vai ajudar a passar.

Kira se levantou da cama e comeu o chocolate. Se afastou de seu leito com Shinya ao seu lado, andando e direção a porta. Os dois foram para o elevador.

— Vá direto pro dormitório do B-13, — disse Shinya — e não faça nenhuma inscrição. Se você fizer, eu vou recusar.

Kira assentiu e entrou no elevador sozinho. Apertou o botão que levava ao andar do B-13 e quando lá chegou, foi em direção ao dormitório

Chegando lá, a maior parte das pessoas olhava para ele enquanto ele ia em direção à sua cama. Reconheceu alguns que estavam na sua equipe durante a simulação, e os outros só lembrava do dormitório mesmo. Quando chegou na sua cama, viu que Dante estava lá na cama do lado, o que trouxe um alívio para Kira.

— Olha só, — disse Dante, sorrindo — quem é vivo sempre aparece.

— Pois é, estou melhor agora. — disse Kira retribuindo o sorriso.

— Eu achei que você tinha morrido, ou que ia morrer mesmo. Você tomou um tiro na cabeça, isso é muito forte. A Mayumi ainda está vendo o que ela vai fazer com o atirador.

— Vão punir o cara?

— Talvez; porque pensa, você tomou uma flechada no braço e doeu muito não foi? Imagina na cabeça?

— Não só imaginei, como senti também.

— Viu só? É sério.

Kira sentou-se na cama. O que iria acontecer agora? Provavelmente ele ia continuar tendo as simulações de treinamento normalmente, só que dessa vez tentando ao máximo não ser atingido, especialmente na cabeça.

— Você sabia sobre as Eliminatórias? — perguntou Kira

— Sim — disse Dante enquanto dobrava algumas roupas — Tem toda sexta. Por quê?

— Acho que quero me inscrever.

Dante largou as roupas em cima da cama.

— Você teve sequelas do tiro? — disse Dante olhando para Kira com uma certo ar incrédulo — As Eliminatórias são as simulações mais difíceis que tem.

— Não importa, quero tentar entrar na equipe do Shinya.

— Ah, por favor. O Shinya é um bom líder, mas não sei se vale o risco. Por que quer tanto assim entrar na equipe dele?

— Ele me parece sábio...

— Ele tem 25 anos! — disse Dante — Que sabedoria toda é essa que ele tem pra te passar?!

— Como ser um bom jogador!

Dante soltou um suspiro.

— Escuta, ele é um bom jogador, é um bom líder de equipe, mas ir para as Eliminatórias é suicídio. As pessoas que se inscrevem realmente sabem jogar, e eu não estou dizendo que você é ruim, é só que ontem você tomou um tiro na cabeça e poderia ter entrado em coma por causa disso. As pessoas se ferem de verdade nas Eliminatórias e são ferimentos sérios. — disse Dante tentando mudar a cabeça do amigo. ­— Deixa isso pra depois...

— Não, semana que vem vou me inscrever e vou conseguir, você vai ver, Dante. — disse Kira — Eu vou conseguir entrar na equipe do Shinya.


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