Titanomaquia escrita por Eycharistisi
Notas iniciais do capítulo
[Capítulo agendado]
O brilho era tão intenso que, mesmo com os olhos fechados e os braços diante do rosto, eu soube o exato momento em que a luz branca desapareceu. Foi o mesmo momento em que o vento gélido da floresta foi substituído por uma bolha de ar quente e seco, como se tivesse acabado de entrar numa casa aquecida, apesar de não ter movido os pés por um só milímetro. Bastou-me isso para perceber que, de algum modo… eu estava num sítio completamente diferente de há meros segundos.
Engolindo em seco, baixei cautelosamente os braços e abri os olhos. O que vi fez-me arfar.
Diante de mim quedava-se o maior cristal azul que já vira em toda a minha vida. Era quase do tamanho de um carro e brilhava como um pequeno sol, capturando a luz que entrava a jorros pelas janelas e canalizando-a num singelo fio de luz que subia até ao teto.
Completamente seduzida pela beleza da pedra, aproximei-me. O brilho era quase demasiado para suportar, deixando-me a pensar se a pedra estaria quente. Pretendendo satisfazer a minha curiosidade, poisei uma mão na sua superfície lisa e… ah, sim, tão quente. Senti um arrepio de prazer percorrer-me enquanto o calor do cristal me subia pelo braço, relaxando os meus músculos e deixando-me deliciosamente sonolenta. Um pequeno sorriso abriu-se-me nos lábios por razão nenhuma… mas logo o deixei cair quando notei algo através do brilho do cristal.
Aquilo era… uma mão?
— Quem ser você?!
Virei-me com um pulo, o coração quase me subindo à boca com o susto. E isso foi antes de ver o humanoide de dois metros e meio de altura atrás de mim, a apontar uma alabarda bastante afiada na minha direção. Quando fixei o seu rosto severo com focinho e presas de javali, a única coisa que consegui fazer foi gritar. Muito alto…
A minha reação pareceu surpreender o homem-javali, que perdeu alguma da firmeza com que segurava a arma. Ainda tentei dar meia volta e fugir para trás do cristal, mas ele agarrou-me rapidamente pelo colarinho do casaco e segurou-me junto dele.
— Não! — berrei, debatendo-me com todas as minhas forças — Não!
— Quieta — ordenou o homem-javali — Jamon magoar se você não parar…
— Que raio se passa aqui?!
Eu voltei rapidamente a cabeça na direção da nova voz, vendo uma mulher com um cajado e orelhas de raposa emergir dumas escadas ao fundo da sala. A sua expressão não era propriamente amigável e apenas piorou quando me viu.
— Jamon apanhar ela — disse o homem-javali, sacudindo-me — Ela tocar cristal.
Nas costas da mulher, quatro grossas caudas de raposa negras com pontas azuis ondularam perigosamente e eu soube estar metida em grandes sarilhos.
— Revista-a — pediu ela num tom frio.
— O quê…? — admirei-me enquanto o humanoide se baixava para poisar a alabarda no chão — H-hey! — protestei ao sentir as suas mãos grandes e pesadas percorrer-me.
Voltei a debater-me contra o homem-javali, mas ele dominou-me com facilidade, prendendo os meus dois antebraços com uma das mãos enquanto palpava a minha roupa com a outra. No entretanto, a mulher-raposa aproximou-se, batendo o cajado no chão a cada passo.
— Quem és tu e o que fazes aqui? — perguntou-me num tom autoritário.
— Eu não sei! — respondi, ainda a tentar soltar-me — Eu não percebo… Que sítio é este?!
— Limpa — anunciou o homem-javali.
— Verifica de novo — pediu a mulher-raposa.
— Eu não estou a esconder nada! — intrometi-me — Não sei o que procuram, mas eu não estou a esconder nada, juro! Por favor, deixem-me ir…
— Como chegaste aqui? — insistiu a mulher-raposa enquanto o humanoide voltava a verificar os meus bolsos.
— Eu não sei, eu não sei! Por favor, eu não fiz nada…
— Quem te enviou?
— Ninguém! Eu não sei! — guinchei com lágrimas de desespero a subir-me aos olhos.
Calei-me para me concentrar na luta contra o choro e a mulher-raposa limitou-se a fixar-me, sem qualquer indício de remorso ou piedade. Quando o homem-javali anunciou pela segunda vez que eu estava limpa daquilo que procuravam, ela soltou um pequeno suspiro enfadado.
— Venda-a e leva-a para as masmorras — ordenou ao humanoide — Talvez ela decida cooperar depois de passar algum tempo de qualidade numa cela…
— Não… Não! — gritei, voltando a debater-me — Eu não fiz nada, já disse que não fiz nada, ouçam-me, por favor…!
A última coisa que vi antes de o homem-javali me cobrir a cara com uma mão gigantesca foi os lábios da mulher-raposa curvarem-se num sorriso forçado.
— Teremos todo o prazer em ouvir-te quando decidires dizer a verdade…
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[Próximo: 8/9/17]