A Aurora de Castelobruxo - A Harry Potter Story escrita por ThaylonP


Capítulo 25
Situações Desesperadoras




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Aurora só soube que estava desperta quando sentiu a dor no braço. Depois, o restante chegou: a paisagem de cachoeira reproduzindo acima de si, a cabeça inclinada junto do corpo lançado no colchão macio e a sensação grogue de saber que está de manhã. Tudo isso de uma vez só, seguido de uma noite conturbada. Assim que moveu o pescoço, a enxaqueca apareceu, como o último elemento da composição.

Demorou pouco até entender que estava na Casa de Doentes e Feridos, acompanhada de uma pessoa adormecida numa cadeira do lado da cama. Mesmo sonolenta, reconheceu a vestimenta quadriculada que ele fazia de uniforme.

Tentou tocá-lo devagar, mas não conseguiu mover a mão, notando que estava engessada. Aparentemente, o feitiço que consertara seu braço prejudicara mesmo o restante do tratamento.

Foi só então que o sono sumiu, dando lugar à preocupação. Agitou-se debaixo das cobertas conferindo ao redor e sentindo um alívio. Ali estava Orabutã, ainda em sua nova forma crescida, o que a fez entender que o que passara não era um sonho.

Tudo naquela noite fora real. Javier, as Curupiras, o cajado, Escárnio, as Caiporas. Tudo aquilo que jamais deixaria sua mente em paz.

—Ei - Aurora resolveu chamá-lo, sussurrando para não acordar mais ninguém. Se pensasse no que estava passando por sua cabeça por muito tempo, desmaiaria outra vez. - Nino.

O garoto se sacudiu, teimando em acordar. Ela tentou uma outra vez, e os olhos do rapaz se abriram. Quando viu Aurora, ajeitou-se na cadeira com um salto.

— Ei, ei, b-bom dia - esfregou o rosto, preocupado em parecer apresentável. - Você acordou, que bom. Como se sente?

— Afetada - foi a melhor palavra que conseguiu usar. - Você passou a noite toda aqui?

— É, eu... - limpou a garganta. Em seguida, continuou, acelerado: - não consegui dormir depois que o dormitório das meninas ficou uma bagunça. Bom, ninguém conseguiu. Todo mundo queria saber como você tinha sumido no meio do quarto. Elas disseram que você desapareceu do nada, às vistas de todo mundo. Kevin contou pra gente também, depois que a Maria contou pra ele. Eu... sabe, fiquei preocupado - disse, sorrindo cansado. Esticou as costas, reclamando uma dor. A cadeira lhe fizera muito mal. - Quando vi você chegando desmaiada de madrugada, junto da Miranda, eu... não consegui ficar no quarto, queria saber como você estava. Pedi pra ficar aqui até você acordar e, bem, Miranda deixou.

Aurora sentia-se lisonjeada, apesar de também sentir pena pelo estado que ficara. Desde a preocupação ao sono torto na cadeira dura da enfermaria.

— Nino, não precisava, eu...

— Não, é que - o menino suspirou. Parecia aliviado. - Eu queria fazer.

A menina agradeceu com um aceno, enquanto os temas voltavam depressa. Um chegou como um punho acertando seu rosto.

— E os dois? Inara e Matheus? - ergueu-se na mão boa, o travesseiro se enroscou na cabeceira. - Estão bem? Conseguiram ajuda?

Nino sorriu outra vez, empurrando a cadeira para o lado. A passagem que ele abriu revelou uma dupla de camas ao fundo. Um garoto dormia pesado, de rosto para cima e mão na barriga. Do seu lado, uma garota apertando os cobertores, formando um casulo confortável de si mesma.

— A professora Negrini trouxe eles. Dormiram que nem pedra - anunciou Nino.

O peito de Aurora esvaziou, levando suas preocupações embora, que foi seguido de um alívio que ocupou o espaço sobrando.

— E os outros? Todo mundo que tinha sumido conseguiu ser achado?

— Sim, parece que todo mundo disparou faíscas do meio da floresta, já longe da área protegida da escola. Todo mundo voltou bem... - a expressão do menino teve uma morte lenta. - Bem, quase todo mundo.

— O quê quer dizer? - perguntou Aurora, sentindo o coração acelerar.

— Celeste - explicou, os ombros despencaram. - Não a vejo desde ontem. Você me viu sair com ela, não viu?

Nino lhe fizera um pedido difícil. Tinha de vasculhar na bagunça que era sua cabeça uma memória daquilo. Por sorte, chegou depressa, o menino invadindo o campo para avisar da contagem, enquanto a cobra estava feita de colar em seu pescoço.

— Vi, você tava com ela quando saímos - lembrou-se de outra coisa. - E quando voltei, lembro de ter te abraçado. Não te abraçaria se ela tivesse contigo.

— Sim - concordou, cabisbaixo demais para Aurora conseguir se manter olhando. - É que... eu não me lembro bem dessa parte. Talvez tenha sido a adrenalina.

— Talvez - havia justificativa para isso. - Sem contar que ela pode estar caçando, Nino. Você deixou ela ir, não deixou?

O menino fez que sim, aceitando a possibilidade ainda que cheio de receios. Aurora não gostava de vê-lo assim, ainda mais naquela situação, falando de uma parceira tão próxima. Esticou a mão até a dele, apertou o quanto podia.

— Vai ficar tudo bem - prometeu, sem saber se aquilo se cumpriria.

Atrás dele, enquanto mantinha o sorriso gerado pelo gesto, uma figura cresceu. O rosto estava três vezes mais enrugado, as bochechas agudas, a expressão carrancuda. Com as mãos nas mangas, a mulher pareceu uma estátua. Nino assustou-se com a chegada repentina, mas se recompôs assim que deu espaço para que ela falasse.

— Como se sente, srta? - questionou Ruína.

Os olhos estavam em outro lugar, talvez num outro problema, talvez numa outra situação. Distantes como nunca estiveram antes.

— Bem - mentiu, querendo saber o que viria além.

— Certo - aceitou, e em seguida deixou o ar descer pesado por suas narinas. - Precisamos que compareça a uma reunião de emergência. Há muito o que se discutir sobre o que houve.

Nino sobressaltou-se. Um bocado acontecera, e o coitado sabia menos da metade.

— Tá bom - confirmou a menina, apenas para ver o estômago embrulhar.

A professora lhe ajudou a descer da cama, e Aurora escapou de uma vertigem por pouco. Uma leve tontura alcançou-a na mesma velocidade que partiu, permitindo que o resto do corpo denunciasse suas dores. Sentia-se como se saída de uma maratona sem nunca ter treinado, dolorida nas juntas dos cotovelos, joelhos, coxas, bíceps e até abdômen. Não mancava, mas estava próxima disso. Com um ajuste de Nino, seguido de um apoio de Ruína, conseguiu agarrar o cajado e arrastar-se vagarosa até a saída. Não o deixaria para trás mais.

Antes de sair, concedeu um olhar ao amigo acordado, acompanhado de um pesar de cenho aos amigos adormecidos. Esperava que acordassem logo.

As escadas enfeitiçadas diminuíram sua dificuldade, porém ao alcançar as portas duplas do castelo, tudo voltou a piorar. O refeitório estava vazio, num silêncio mórbido, diferente das algazarras nas refeições ou mesmo da confraternização dos fantasmas. Tudo gritava um vazio aterrador demais, distante da paz que deveria haver com tanta quietude.

Aurora foi guiada até a direção, tendo que atravessar os Pilares Primavos. Dessa vez, o olhar permaneceu em Anhangá até que ele abandonasse seu campo de visão, pensando no quanto errara sobre a figura, e o quanto ela errara sobre ela. A passagem à direita se abriu, a antessala surgiu vazia, e ambas atravessaram direto para o aposento.

O lugar parecia maior que antes. A configuração estreita nas paredes, extensa ao fundo, alterara-se para uma abóbada circular ampla. Assim que entrou, notando a dezena de olhos sobre si, sentiu um arrepio varrer-lhe a nuca. O motivo do tamanho da sala revelou-se logo de cara, pois todos os professores estavam presentes, mesmo Negrini que mal costumava entrar no castelo. À mesa, no lugar da diretora, Miranda estava sentada. O restante estava de pé, aguardando que a pequena se sentasse na única outra cadeira do recinto, de frente a escrivaninha.

Quando o fez, arrastando som de madeira ao ajeitar-se, percebeu que o som que fizera incomodara os ouvidos dos visitantes, pois pelo silêncio sepulcral que se fazia ali, ficaram desacostumados a qualquer outra vibração se não a do ar esgueirando-se entre as estantes, molduras e troféus.

— Aurora - começou a mulher que estava sentada. Não havia dança na voz, nem mesmo as frases cantantes. - Sei que deve ser uma situação difícil, mas é muito importante que descreva com detalhes o que viu.

A menina engoliu um nó que se formara na garganta. Miranda olhava-a mirando uma preocupação nova; haviam dezenas de rugas que não haviam aparecido antes. Sentiu que precisava falar, mas não queria. Não queria ter de voltar atrás, reviver tudo aquilo. A boca se comprimiu, enquanto ela pensava em pedir para a mulher vasculhar sua mente para extrair o que precisava. Não pediu. Esperou que tudo viesse de uma vez, para que fosse mais rápido, como arrancar um curativo de um machucado.

—Ele... digo, o Javier me fez desaparecer do quarto com uma chave de portal. Parece que o Projector não servia pra o que ele dizia que seria - apontou, travando bastante ao longo da fala.

— Meus alunos também reclamaram, os desse ano estavam particularmente ruins - confirmou Rodinhas. - Pensamos que era por causa do cansaço dele. Não era incomum.

— Eu também pensei - sustentou Morgana, que também parecia lembrar das reclamações de seus estudantes. - O homem estava sempre abatido, coitado.

— Coitado — repetiu Aquino, como se para pontuar o quanto era ridículo chamá-lo assim.

— Deixem que ela conte a história - Miranda pediu, calando o restante dos professores.

Aurora engoliu em seco. Sentiu-se como uma formiga numa sala de gigantes.

— Bom, lá, ele mostrou... apareceram - corrigiu, tentando encontrar palavras para o que estava vendo. - uns olhos no rosto dele. Eram seis pares - explicou, dando uma ênfase no horror daquilo mas ninguém ligou para isso, pareciam ponderar outra coisa. - Um deles disse que precisava observar enquanto Javier recolhia o cajado. Era isso que queriam. E-e... ele ainda estava cansado. Então, talvez isso, essa magia... dos olhos, cansasse-o, não?

Os adultos se entreolharam. Ruína foi a primeira a falar.

— Miranda, acha que a descrição da menina, refere-se a um Acordo de Posse?

— É o que me parece - respondeu ela, baixando a cabeça. - Ninguém desconfiaria, depois de 10 anos como inspetor, principalmente porque ele se dedicou para se tornar o melhor que Castelobruxo já teve - a fala recheava-se de ressentimento. - Um trabalho que o deixava cansado, mas que encobria o verdadeiro cansaço que o acordo trazia. Abrigar tantos corpos dentro do seu... - aquilo assustava-a, ao mesmo tempo que a deixava abatida. - O que aconteceu com eles, Aurora?

— Eu... teve um momento que decidi quebrar o cajado, já que era algo que queriam tanto - a lembrança da visão em seguida chegou antes que ela terminasse a frase. - Antes que pudesse vir na minha direção pra me impedir, os olhos sumiram.

— Ele não aguentaria conjurar nada contra você naquele estado - concluiu Ruína, dando um motivo para aquele afastamento.

As duas mantiveram uma única faceta de preocupação. Junto dela, houve um rápido cochicho entre os professores, cortado por uma questão de Negrini.

— Os Curupiras. O que faziam lá?

— Eles estavam atraídos pela magia do... - prendeu a palavra, sabendo que não deveria compartilhar. - meu cajado. Mas também pareciam obedecer ele.

— Então, todo esse tempo... - Negrini entristeceu. - usava-os para avaliar a chegada desse cajado? 

O silêncio entregou um consentimento. Tudo ficava mais real a medida que se afundavam na história.

— Mas o que tem demais nesse cajado? Por que ele o queria? - perguntou o professor de Teoria da Magia.

O segredo seria descoberto. O temor voltou a Aurora, que fitou Miranda, em busca de ajuda. A mulher fez que sim. Àquele momento, era importante que não houvessem segredos.

— Ele é feito de... - a voz endureceu, uma pedra se formando em sua garganta. Pôs o cajado em cima das coxas, analisou-o por um segundo que se arrastou para outros cinco. - Orabutã.

Como esperado, o cochicho das reações evoluiu para uma pequena algazarra. Estavam apavorados com a ideia daquela madeira rara estar em mãos tão jovens, embora também estivessem surpreendidos com o simples fato de que algum vestígio dela ainda existia.

— Vocês sabiam disso? - questionou Aquino, enfurecido.

Miranda estudou-o por um momento, querendo entender o que aconteceria com sua resposta seguinte.

— Sim - disse, depois de um suspiro. - Minha mãe entendeu o que tinha acontecido assim que discutimos a estátua de joelhos - Aurora correu os olhos para a réplica sobre a mesa, na mesma posição. - Por isso ficamos de olho.

— Ficaram de olho? - Aquino rebateu outra vez.

— Depois que a vi usando na minha aula, achei que poderíamos ficar próximos para ajudá-la. Como sabíamos que os Curupiras se agitariam com a presença, deixamos alguém responsável pelo Clube cuidar de perto - Miranda deixou o olhar saltar de Aurora para Ruína. - Valéria estava encarregada de mostrá-la como usar, além de vigiá-la. Contudo, achamos que o problema estava na usuária da ferramenta, quando na verdade, deveríamos estar olhando para quem poderia pegá-la.

Aurora sentiu que ia explodir. Elas sabiam, e haviam planejado tudo. Até mesmo o Clube, os treinos, não estavam ali por terem observado um potencial, mas sim para criar um, que pudesse usar a arma. Os olhos encheram de água, os braços tremeram. Teve que engolir, pois se começasse ali, atrapalharia a todos. Depois de tudo, era o que menos queria. Para ajudá-la em seu autocontrole, o foco da conversa mudou do lamento de Miranda à revolta de Aquino.

— Essa é a vigília de vocês? Façam mil favores! - protestou.

— Não estávamos cientes do conluio do inspetor Barden, Thomás - devolveu Ruína.

— 10 anos como inspetor, Valéria, como ele nunca foi notado? - inferiu o professor. - Benedita não pôde lê-lo? Está velha demais para isso?

Aurora desviou-se para Miranda de uma vez, vendo-a se inflamar.

— Eu não pude lê-lo igualmente, Thomás. O que tem a comentar sobre a minha idade? - defendeu, crispando os lábios.

— Ainda assim - continuou, desviando a tensão para outro lado. - É claro que foram descuidadas.

— Todos fomos, não se exclua dessa - Ruína esclareceu, e depois se reservou a lamentar. - Tivemos um deles na mão, e deixamos escapar.

Os comentários aumentaram, divergindo as palavras que cada um dizia. Ouviu coisas sobre despreparo, direto no lado onde Renée e Sampaio estavam. Mais à frente, entre Rodinhas e Aquino, ouviu a palavra "sacerdote" ser citada.

— O homem tinha a escola nas mãos, mal era visto - o professor Sampaio começou, mais alto, fazendo os outros diminuírem suas vozes. - Que tipo de feitiço pode ter usado para se disfarçar assim?

— O mais óbvio, Ricardo - Miranda pôs-se de pé, ambas as mãos sobre a mesa. As estrelas de seus olhos estavam apagadas. - O de nos fazer acreditar que era uma sombra. O de nos fazer esquecer a sua presença. De vê-lo como uma peça fundamental de todo o jogo, enquanto na verdade, controlava o tabuleiro.

Aurora não era religiosa, mas ouvira uma frase similar, diversas vezes. O grande poder do diabo é nos fazer acreditar que ele não existe, lembrou. O arrepio foi imediato, e não baixou logo em seguida.

— Não interessa - cochichou Joana, de um ponto ao fundo. A única que ficara a maior parte do tempo calada, e agora a única que citava o que realmente importava. - Não deveríamos focar nele. É sobre Escárnio que devíamos estar falando, e todos vocês sabem, só não querem dizer.

Os professores se calaram, com a exceção de um.

— Você sabe bastante - Aquino sugeriu, malicioso. - Talvez seja por isso que já está tão certa de quem é esse por trás de tudo.

— E quem mais seria, Thomás? Não seja negligente! - a mulher rebateu, sentindo-se insultada.

— Qualquer um! Literalmente qualquer bruxo das trevas em busca de poder - Aquino rugiu de volta, preparado para se engalfinhar no discurso.

— Não — Aurora cortou, bem alto. Estava cansada de ouvir as asneiras do professor. Não tinha visto o que ela vira, não podia continuar dizendo nada daquilo. - Era ele. Me confirmou que era.

— Não podia estar mentindo? - Aquino sugeriu. - Descreva-o para nós, menina.

— Estava dentro de um invólucro num Acordo de Posse, Thomás - Ruína cortou-o.

— Mas ela ouviu a voz, não ouviu? Deve saber dizer como era - o professor rebateu, e os outros esperaram pela descrição.

A voz significava tudo. Tudo aquilo compunha a imagem daquele ser.

— Era serena, empostada - disse, lembrando-se de cada detalhe. - Um pouco rouca, mas muito educada. E... ele também parecia ter um tique. Uma coisa engasgada, que lembrava uma risada.

A sala voltou a ser um cemitério; calada, opaca, distante. A vida só retornou quando uma ressurreição começou em Joana Dourado.

— Era ele - confirmou, com muita certeza. - Voltou, e é isso que ele quer. Poder.

— Esse poder - corrigiu Aquino, ponderando um medo atrás das rugas dos olhos.

— Por quê? - perguntou Rodinhas, esquecendo do possível incômodo, acendendo a fumaça do cachimbo. - Você o ouviu falar diversas vezes, Joana. O quê acha que pode querer?

Em seguida, houve um muxoxo esquisito em direção a ela. Havia uma certa desconfiança pairando no ar, comandada por Aquino, que não parava de entortar a boca. A filha da diretora respirou fundo.

— Antes que deixasse a escola, os discursos eram muito claros no que queriam. Ele copiava muito do pensamento que os bruxos das trevas europeus carregavam - a mulher mordeu os lábios antes de continuar, pescando em Aurora. Talvez estivesse pensando que a menina era nova demais para aquela conversa. - Pureza racial através de extermínio. E assim que começou a povoar as ruas com seu discurso, houve uma repressão entre os nascidos-putos que o deixou recluso. É por isso que resolvemos reabrir. Agora, não dá pra saber o que ele defende.

— Então, estamos no escuro - reclamou Aquino.

Os professores pareceram concordar, porém, houve uma outra voz que saltou por cima, apresentando uma nova perspectiva.

— Não por completo - falou Renée, alta, de voz cheia. - Temos o que ele quer, não temos? Mesmo que não saibamos o que ele fará caso pegar, é certo que precisamos impedir que ele pegue.

Todos viraram de uma vez para Miranda. A mulher mantinha as mãos sobre o queixo, pensativa. Sabendo que a mulher podia vasculhar as mentes, Aurora poderia dizer que ela estava fazendo isso naquele momento. Como se investigasse cada cérebro repetidas vezes, à procura de novos suspeitos, novos culpados, para que tudo que aconteceu não se repetisse. Aparentava um insaciável esforço em sua tarefa, a ponto que quando respondeu à posição de Renée, disse algo cirúrgico:

— Que sejamos precisos nisso, então.

— E o que sugere? - perguntou Joana à irmã, que não teve tempo de respondê-la.

O professor Aquino, por outro lado, tinha uma sugestão em mente.

— Podemos destruí-lo - começou, depois se virou para Aurora. - Quer dizer, já que cajados só podem ser destruídos por seu portador, você pode.

Aurora se iluminou por um momento, porém, aquilo cedeu assim que avaliou a madeira do tamanho de um bastão, deitada em seu colo.

— Bom, da última vez que tentei ele não era tão grande - respondeu.

— Tenho outra sugestão - Renée começou assim que Aurora declarou que a primeira ideia falhara. - Pode parecer drástico, mas a sugiro é que tomemos a ferramenta desta aluna, que é claramente inexperiente e a coloquemos num cofre reservado, protegido aqui dentro. Enterrado, defendido, enfeitiçado, o que pudermos... assim, mesmo que consigam quebrar as proteções da escola, nunca encontrarão. Podemos, ainda, usar Feitiços de Memória naqueles que souberem o esconderijo, para que não revelem mesmo que sejam torturados.

Aurora tremeu ainda mais. Nem a própria treinadora entendia o quanto aquilo soava drástico.

— E a portadora? - Aquino parecia interessado.

— Pode ser igualmente apagada. Poderá voltar para casa, sem preocupações - sustentou Renée, num timbre que soava solícito.

A bruxa apertou o Orabutã, lembrando-se das horas até que ele chegasse até ela. Arfava pesado, sentindo a ideia penetrar seus ouvidos em forma de agulha. Aquilo a lembrava do pior: a sensação de sua infância, de não saber o que era verdade e o que era um pedaço vago em forma de névoa.

— E viverá sem saber de mais nada? - continuou Aquino.

— Não! Não faz isso, por favor - Aurora não se aguentou, levantando da cadeira. - Por favor - escorreu uma lágrima, fora de seu controle. - Não faz isso, não façam isso - virou-se para todos. Ruína ergueu as palmas, pôs-as nos ombros de Aurora e começou a abaixá-la, até que retornasse a cadeira. Não estava mais calma, mas como era solicitada por silêncio, diminuiu o tom até alcançar um sussurro. - Não deixa fazerem isso, Ruína, por favor.

A mulher deixou os olhos caírem, visivelmente entristecidos. Mais uma vez, pediu calma, e a discussão retornou para a líder da reunião, que bufou uma incerteza na voz. Parecia ter saído do seu transe de pesquisa mental.

— Não podemos, seria crueldade - depois, encarando a mesa, foi mais lógica. - Sem contar que a viram, e isso quer dizer que a segurança dela pode ser ameaçada quando voltar desmemoriada e ainda corre o risco de ser usada como chantagem para que entreguemos o cajado, que mal saberemos onde está, pois também estaríamos apagados - a mulher olhou para Ruína, vendo-a aliviar a preocupação que surgiu. - E por último, a diretora Dourado nunca permitiria isso.

— Oh, por favor! - Aquino exaltou-se. - Estamos falando da segurança de uma sociedade aqui. Escárnio lidera um grupo terrorista, e você, Miranda, está depositando parte de seu argumento numa mulher que mal tem condições de estar nessa reunião. Está acamada, com a saúde aos pedaços, fragmentada...

— E que por acaso, sr. Aquino - inferiu um timbre idoso. - Ainda escuta muito bem.

A mulher soou do fundo, prestes a descer uma escada que levava até um aposento acima. Os passos eram vagarosos, soavam doloridos. Trajava uma roupa de seda branca, típica de descanso, contrastando o tom da pele. Aquino, que gritara contra ela na sua ausência, não se abalou ao vê-la.

— Diretora, estava apenas dizendo que acredito que esta opção não faz sentido de uma perspectiva protetiva... - disse.

A voz se perdeu assim que os passos ficaram mais próximos. Cada professor abriu espaço assim que a mulher os alcançava. Joana aparentava preocupação, observando a mãe de cima abaixo, como se fosse quebrar na próxima etapa da caminhada. Cortou pela passagem, sem tirar a vista cega do homem.

— Ainda assim, sr. Aquino, sou a diretora desta instituição, e sua fala estava direcionada a me desqualificar - disse, atravessando até chegar a sua cadeira. Miranda afastou-se para que ela se sentasse, com a mesma preocupação da irmã por trás dos olhos.

— Mãe, a senhora deveria estar descansando... - verbalizou.

— Estou em plenas condições de continuar nessa reunião, e acredito que seja necessário que eu esteja. Estão tomando decisões que afetarão o futuro da escola que, devo lembrá-los mais uma vez, está sob minha supervisão - concluiu, fazendo a mulher que usava azul recuar, tanto em sua posição como filha tanto como professora. Ainda assim, não concordava com aquela posição. - E aliás, vocês falam muito alto.

A diretora calou o restante; agora esperavam mais posições dela sobre o plano apresentado.

— Posso, devo e vou tomar as decisões que me couberem - dirigiu-se aos dois que mais sustentavam a ideia -, mas esse apagamento está fora de cogitação. Seria uma violação do próprio objetivo dessa escola, que é adotar crianças bruxas a fim de lhes conceder conhecimento. Além do mais, vai de encontro ao que acredito pessoalmente.

— Mas diretora, é muito perigoso - propôs o professor.

— Entendo os seus motivos, sr. Aquino, mas isso está fora de discussão - retrucou, com o mesmo timbre parcimonioso. - O cajado escolhe o portador, e assim que o faz, concede o ápice de um futuro com aquela ferramenta. Essa premonição não pode ser revogada, esse vínculo não pode ser partido - a mulher parou, dando espaço para uma tosse. - E enquanto eu viver, não será - algo em Aurora temeu que aquilo não fosse muito tempo. - Existe um motivo para essa escolha, e temos que respeitá-lo apesar de tudo.

Qual é esse motivo? E por que tive duas visões diferentes?

Ambas da família Dourado dispararam olhares a Aurora. Esquecera, por um instante, que as duas podiam saber o que ocorria na superfície de sua mente.

— E o que acontece em seguida, hã? - Aquino compartilhou outra vez, com a mesma irritação de sempre, exalando certeza. - E se resolverem atacá-la quando estiver voltando para casa com o cajado, nas férias? E se, num caso pior, tentarem infiltrar-se na escola outra vez, por um outro inspetor funcionário? Ou, no mais extremo, e me perdoe o exemplo, se tentarem furar as defesas do colégio, e acabarem conseguindo - colocou, mas assim que o fez, os professores cochicharam uma incredulidade.

— Sabemos que isso é impossível - Rodinhas fez questão de comentar.

— Também achamos que era impossível que ouvíssemos o nome dele outra vez, e aí está - o professor devolveu, e a turba sentiu verdade naquelas palavras. - Ele estava adormecido, esperando uma peça que faltava. E por pouco não demos a ele. Foi essa crença que nos fez reabrir Castelobruxo, em primeiro lugar. E nada nessa crença nos levou a lugar algum.

A diretora sentiu o baque, porém, manteve-se impassível.

— O que está sugerindo? - quis saber.

— Estou afirmando que esse objeto está mais protegido aqui do que estará em qualquer outro lugar.

Alguns sustentaram aquela posição, e mesmo que outros discordassem em alguns pontos, pareceu um consenso que, o colégio, agora sem um membro infiltrado, era o lugar mais seguro para Orabutã.

— Sugere que deixemos aqui, então? - Miranda perguntou. - Enquanto Aurora deixa a escola e retorna para buscá-lo quando voltar?

— Imagine os perigos disso - foi a vez de Morgana falar. Os cabelos de laquê deixavam escapar fios teimosos. - Uma bruxa, sem cajado, que agora é conhecida como a portadora do objeto que querem pegar, sujeita a todo tipo feitiço. Podem fazê-la beber alguma poção, lançá-la sobre a maldição Imperius, podem nos ameaçar com a vida dela, podem até tortur...

— Sem o cajado, ela se torna um alvo mais fácil ainda - Ruína cortou, antes que Aurora ficasse ainda mais nervosa ao citarem tortura.

E mesmo ela não sabia se isso era possível. A conversa estava ficando sem escapatórias, sem opções, e principalmente, sem esperanças.

— Então, estamos encurralados - começou Sampaio, balançando a cabeça. - Não há o que fazer.

— E se ela ficasse conosco? - Joana disse.

Todos os ouvidos pareceram se atiçar, principalmente os de Aurora. A professora de Herbologia, entretanto, não parecia ter nada preparado, como se tivesse pensado em voz alta.

— O que você está dizendo? - perguntou Sampaio, descrente.

— Se é perigoso que ela saia com ou sem ele, que ela fique aqui, portando-o enquanto ambos estão protegidos - anunciou a ideia, tomando confiança a medida que as palavras saíam.

Os outros, sem saber o que dizer, mantiveram-se quietos e de cenhos franzidos, considerando. Aurora, a este ponto, engolira mais os nós na garganta do que respirara.

— Já fizemos isso antes - começou, gesticulando uma certeza. A mulher falava pouco, contudo, sempre que abria a boca, mostrava-se precisa. Comprovara isso nas aulas, e agora provava outra vez. - E naquela época, desconhecíamos o que ele planejava, mas sabíamos do perigo. Fomos precavidos. E agora, nós sabemos o que ele quer, e está conosco. Podemos ser cautelosos mais uma vez, porém um passo a frente - havia afinco em suas palavras, como se estivesse comentando uma muda de sua aula. Parecia que discursava sobre sua missão de vida. - Podemos fazer o mesmo que fizemos, mas dessa vez com ela aqui dentro, segura.

— Presa - sussurrou Aurora, começando a se enxergar nessa situação.

Já podia se ouvir negando aquilo, ecoando enquanto as têmporas latejavam, porém Miranda disse primeiro.

— Aurora, não temos como garantir sua segurança lá fora - soava como se concordasse com aquela proposta. - Mas podemos garanti-la aqui dentro, até sabermos o que fazer e como agir.

Sai da minha cabeça, Aurora pensou, e viu que a fala atingira a mulher, golpeando-a com desconforto. A menina viu-se ficando abatida de ter pensado aquilo, mas, por outro lado, pensou se não tinha o direito de ter um espaço seu, dentro de si. Ela devia ter ouvido o conflito também, pois sua expressão pareceu concordar.

— Uma contenção - tentou Aquino, agradado com o seguir daquela carruagem.

Joana confirmou.

— Sem novas entradas, garantimos a confidencialidade dessa informação só entre os membros desse grupo, e os outros alunos podem ser dispensados.

Próximo a ela, Sampaio contrariou.

— E o risco com os outros alunos? - perguntou, depois virou-se para a diretora. - Não é possível que tentem extrair alguma coisa deles, e igualmente nos ameacem com suas seguranças?

— Poderíamos solicitar proteção às famílias, que criassem defesas nas suas casas. Os liberamos aos poucos, próximos das férias para não causar um tumulto que atrairia atenção de Escárnio, e assim deixamos-os levar uma carta para avisar seus pais - Morgana sugeriu, compreendendo a dificuldade do que pedia. - Não será perfeito, é claro, mas é o bastante para que dificulte muito a aproximação do grupo.

— E eles sabem de Aurora - dessa vez, Ruína disse. - Mas não sabem de nenhum outro aluno a fundo, o que apesar de não impedir que invadam essas outras casas, inibe algumas possibilidades.

— Não sei, é arriscado - Rodinhas tentou. Até a fumaça que subia parecia indecisa. - Como convenceremos as famílias de que é seguro?

— Teremos que dizer a verdade, soar as notícias, alertar o Ministério - Miranda balbuciou. - Falaremos que o perigo está a solta outra vez, e agora apresentaremos uma precaução.

— E as famílias dos nascidos-putos? - Negrini ressaltou. - Como um estudante fará um feitiço forte o bastante para se proteger?

— Entraremos com o Ministério nisso, e assim que for solicitado a estadia em casa, pediremos que promulguem regras que mantenham esse status, até segunda ordem - afirmou Miranda, defendendo a ideia, prestes a concordar com ela.

— Essa é uma solução ousada. Demais - pontuou Negrini.

— Não é uma solução, Júlia - pontuou Joana. - É um ato de prudência. E não é como se fosse algo inédito, as famílias já fizeram antes, por puro medo.

— Mas agora é uma estratégia de massa. Isso seria um caos de proporções inacreditáveis - devolveu a professora.

— Escárnio seria um caos de proporções inacreditáveis - rebateu Joana, certa do que dizia.

Na verdade, parecia dizer sobre algo que sentira na pele.

A diretora estava quieta. Os dedos estavam unidos na frente do rosto, formando uma ponte entre ambos os braços. O olhar estava em sua posição habitual, encarando o nada, enquanto sua respiração marcava o silêncio eventualmente.

Aurora, que a encarava batendo o pé, impaciente, tentava fazer seus ossos se calarem. Cada vértebra parecia gritar o contrário àquilo, afirmar que deveria haver um outro jeito, que a última coisa que queria era ficar presa ali, porém, quando a pergunta surgiu de Dourado, tudo aquilo se aquietou bem no fundo da mente, rente a noção de que não tinha controle nenhum daquela situação. Aparentava ser um pensamento bem escondido, mas a menina tinha plena noção de que se mãe e filha quisessem, invadiriam e o encontrariam, sem dificuldades.

— Aurora, como se sente em relação a isso? - perguntou a diretora.

A menina sabia o que sentia.

— E-eu... eu... terei que ficar aqui, pra sempre? - questionou.

— Não, não seria pra sempre - Miranda foi solícita. - Será até que consigamos resolver esse problema. Temos um caminho a seguir, agora. Começaremos pela escola, e não deve demorar até que encontremos uma pista partindo de Javier. Enquanto isso, você seria preparada para enfrentar as Artes das Trevas - conferiu com a mãe, para ver se aquilo era viável. A mulher parecia concordar, então continuou: - Precisa saber como se defender, caso tudo mais der errado.

— E não dará, podemos te prometer isso - Joana sustentou, ao fundo.

Aurora nem reparou no argumento de ser treinada pessoalmente por Miranda. Não importava. E não importava por muitos motivos, contudo, um deles era óbvio: para isso acontecer, teria de ficar confinada na escola.

Não voltaria para casa, não reencontraria os pais, e além disso, não veria os novos amigos que fizera ali. Tudo isso por tempo indefinido, com o ônus de que estaria segura.

Daquela vez, entretanto, estar segura era o que menos importava.

— Não me sinto nada bem com essa ideia, diretora - respondeu, sem medo de soar indelicada. Tinha tudo para ser, naquela situação.

— Sei que não é a opção mais agradável, Aurora - Dourado começou, encarando-a com os olhos manchados de branco. - E todos aqui sabem que tomaria um milhão de decisões diferentes dessa, se pudesse. Acontece que esta é a medida que mais soa segura, para você e para todos. E é temporária. Não podemos te afirmar por quanto tempo, mas faremos o possível para ser o mais curto que pudermos - prometeu, mesmo que não pudesse confirmar nada daquilo.

Aurora não estava disposta a aceitar. Ainda assim, quis garantir.

— E meus pais? Como...

— Nós os avisaremos pessoalmente. Poderão fazer visitas esporádicas, acompanhados do pessoal do Ministério, escolhidos a dedo por nós - a mulher colocou, considerando a hipótese. - Afinal, também é perigoso que transitem muito por aqui. A não ser que também queiram fic...

— Não vão querer - afirmou, dolorida.

— Aurora, olhe - Dourado voltou a falar, mais tenra do que começara.

— Eu entendo, diretora - respondeu.

E entendia mesmo. Mas não queria aceitar. Não gostava de pensar na ideia de manter-se segura, enquanto também se mantinha privada. Não queria ter que perder tudo que conhecera e como conhecera apenas porque assim poderia estar livre das garras de um bruxo das trevas. Não queria esquecer-se de como era sair de casa, caminhar no parque, ir a feirinhas com um pai, fazer compras com o outro, tomar sorvete à noite ou café da manhã numa padaria que abria mais cedo. Não queria nada disso.

— Por sabermos o quanto isso é uma posição difícil - a diretora continuou depois de uma pausa, sem se importar em ser interrompida pela garota. - Deixaremos que decida. Se achar que não pode, pensaremos em qualquer outra coisa.

— Diretora, não podemos deixar tud... - começou Aquino, mas Dourado ergueu um dedo para impedi-lo de falar.

Qualquer outra coisa, pensou Aurora, mas refreou-se em dizer, encarando aqueles rostos que a esperavam pensar sobre tudo.

Aceitar aquilo significava perder tudo que costumava saber que era real. Aceitar aquilo dizia que sua vida seria diferente a partir dali, que teria de reaprender a viver uma nova perspectiva terrível. Significava, apesar de tudo, que estaria segura.

Recusar seria ótimo. Teria tudo de volta. Os pais, sua casa, sua cama, sua Emília, sua cidade, seu bairro. Tudo que sabia que queria de volta. Tudo que sabia que a faria feliz, mas que também a deixariam em perigo.

No fim, teria de decidir entre segurança e liberdade. Não só a sua, como as das pessoas ao seu redor.

Meses atrás, escolheria uma coisa, sem pensar duas vezes. Uma pessoa diferente tomaria a decisão certa, ficaria feliz com ela, e seguiria em frente. Tudo seria mais fácil. Quis voltar a ser ela, a fim de aproveitar a sensação de decidir sobre si mesma acima de qualquer outra coisa.

Infelizmente, aquela pessoa não existia mais.

 


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