A Aurora de Castelobruxo - A Harry Potter Story escrita por ThaylonP


Capítulo 11
Amuletos de Biblioteca




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As preocupações das meninas mudaram bastante ao longo da semana. Sabiam que poderiam usar o tempo livre no sábado para vasculhar algo na biblioteca, porém, faltando dois dias até lá, ambas focaram em suas tarefas. E por incrível que pareça, tudo passou muito rápido.

As duas classes de História da Magia receberam mais protestos de Inara, enquanto Teoria ainda falhava em convencer Aurora da sua importância, mesmo que o professor se dedicasse a continuar tentando. Os Ninfusgos custavam a aparecer na classe de Negrini, enquanto Rodinhas apesar de concluir a explicação de seu feitiço, passou o restante da aula demonstrando a um aluno de Guaraci como a fumaça de seu cachimbo podia transformar-se num dragonete. Nino perdeu a compostura, xingando, quando desceu a escadaria direto para a outra aula, e por um curto período, esqueceu-se que teria de encarar a matéria de Poções.

O restante do grupo se deu bem. Aurora conseguiu que a poção tivesse um tom de roxo semelhante ao da professora, mas o cheiro ficou distante da fetidez desejada, diferente de Inara, que foi precisa nas duas exigências, quase igual à demonstração. Matheus, por outro lado, errou a temperatura ao ponto de empestear a sala com o odor da cauda de gambá presente na mistura, e todos os alunos precisaram sair para não se intoxicar, enquanto Miranda preparava uma bebida que neutralizasse o cheiro. Quando chegou a vez de Nino, os amigos ficaram ansiosos pelo resultado, mas já anteciparam más notícias quando o garoto não parava de tremer ao adicionar cada ingrediente. Às vezes, quando desviava o olhar para encarar a mãe, podia ver a famosa exigência que o amigo falava tanto fervendo entre os dois, por entre as bolhas de dentro do caldeirão. Ao concluir, a mulher cheirou o frasco, e afirmou que o ponto de catinga estava mediano, mas olhando de fora, buscando comparar com a da instrutora, Aurora reparou que ambas pareciam iguais em cor e textura. Talvez ele tivesse errado mil outras coisas para receber a média, e ela estivesse só opinando sem saber ao certo.

A sexta passaria ilesa, não fosse a penúltima aula do dia com Ruína. Mesmo tendo prestado atenção na azaração que fazia objetos flutuarem, Aurora foi impedida de executar o feitiço na sala de aula. A menina perguntou o porquê, e o máximo que recebeu da professora foi um olhar atravessado junto de uma resposta entrocada:

— Ainda não está apta, srta. Magalhães. Devemos evitar confusão.

Até o sono chegar, ficou repetindo a frase para si, se irritando a cada vez que se lembrava. Ela não podia impedir um aluno de participar das aulas, praticar e executar as atividades. Lembrou-se dos olhares, tentando descobrir o que haviam perdido daquela relação, e segundo o que ela deduzia, se contentando com os fatos recentes sobre as escolhas da estátua e dos Curupiras. O que não sabiam, é que Aurora podia desintegrar algo em vez de fazê-lo flutuar caso realizasse o feitiço em classe. E esse algo, podia ser um aluno. Sentiu um calafrio macabro correr sobre seu corpo e permitiu-se dormir, sem aceitar a decisão da sua treinadora, mas entendendo porque havia sido feita.

No dia seguinte, Inara balançou sua cama para despertá-la, sem nem permitir que o sol acordasse primeiro. Puxou-a do beliche, sussurrando que estava na hora.

— Ainda está escuro – reclamou, tentando voltar para as cobertas.

— Se vamos pesquisar algo assim, precisamos de todo o tempo que pudermos ter. Sei o quanto demora no banho – disse, depois completou: – E além do mais, são só 5h30.

Aurora concordou, mesmo que quisesse ter aqueles preciosos trinta minutos de volta. Pegou as coisas do baú rente a cabeceira, seguindo para o chuveiro. Quase pegou no sono mesmo com a água despencando sobre sua cabeça, porém quando Inara socou a porta, a menina sentiu o terremoto e concluiu o banho. Cruzou a pedra portuguesa direto para o quarto, mal enxuta graças à sonolência. Foi só quando vestiu o uniforme que sentiu-se plena para executar o planejamento. As duas desceram até a Sala Comunal, e foi quando Maria despertou, berrando para acordar as outras garotas.

As duas passaram pelo carpete, que ilustrava um bando de corças saltando um riacho, acompanhados pela visão protetora de Anhangá e seu cajado de rubi-citrino, mas assim que tocaram a porta para as escadas da torre, escutaram um barulho. Trocaram olhares desconfiados, porque identificavam uma espécie de sussurro vindo das escadas. Inara sacou o cajado, Aurora pediu que abaixasse. Abriu a porta devagar, e quando o ranger da madeira ecoou nas escadarias, o som vindo do garoto engomadinho parou. Nino guardava Celeste dentro do paletó, onde a cobra não parecia querer ficar.


— Nino? – Aurora tentou olhá-lo nos olhos para evitar o bicho.

— O quê você tá fazendo aqui? – Inara cuspiu.

— Ina… Aurora? – pigarreou, se consertando.

O garoto empurrou a cobra para dentro, fechando dois botões para prendê-la ali. Das costas, puxou uma flor branca que ainda pingava pedaços de terra de onde fora arrancada. Ajoelhou-se na escada, desviando o olhar para Inara, como se não quisesse que a menina estivesse ali para isso.

— Hu-hum – tossiu, o cabelo com muito gel brilhava. – Vim convidar-te… pa… para passarmos o tempo livre do fim de semana juntos, caso não esteja muito ocupada.

Aurora pescou pela expressão de Inara, cujo queixo quase chegava ao chão, apenas para ter como reagir. Quando percebeu que não tinha nada adequado a responder, disse a primeira coisa que veio à mente:

— Hã?

— Quê? – a outra menina rebateu, ainda estranhando. – Por que arrancou a flor?

— O convite é para Aurora – retrucou, voltando-se a ela em seguida. – Não queria acordá-la, e por isso não bati à porta, mas esperava ser o primeiro a lhe convidar, por isso acordei tão cedo – explicou.

O braço começava a tremer por segurar a flor estendida. Portava-se como um cavaleiro encantado que a menina não pedira. Tinha que negar. Desceu dois degraus e o pediu para se levantar, ainda sem jeito de como dizer não à proposta.

— Ah… Nino, então… eu…

— Está tudo bem – o garoto respondeu, começando a ficar cabisbaixo. A boca encurvou-se depressa. – Eu entendo que tenha suas próprias tarefas – completou.

A menina se lembrou da aula, e como ele ficara desolado depois de ter recebido uma média da mãe. Quase arrependeu-se do que estava pensando, porém não podia lançar-lhe outra bomba sem que ele antes se recuperasse da primeira.

— Você… pode… vir com a gente – ouviu-se dizer, para a surpresa dos outros dois presentes na conversa.

— O quê? – a expressão de Nino se abriu.

— O quê!? – Inara torceu o nariz.

— É… pode nos acompanhar. Nós vamos à biblioteca. Se não tiver problema, vamos demorar um bocado – explicou.

Ele voltou o olhar para a outra menina, apenas para entender o “nós” daquela frase.

— Vocês… não, está tudo certo – concordou – Fico feliz de acompanha… acompanhá-las.

Aurora devolveu-lhe um sorriso torto, ainda duvidando se era a melhor opção. Então, como se para mostrá-las onde a biblioteca ficava, saiu na frente, pedindo que as duas o acompanhassem. A menina fez que sim, mas sua parceira de expedição sussurrou em seu ouvido, voraz:

— O que você tá fazendo?

— Só estou tentando ajudar – tentou se explicar, depois arranjou outra desculpa mais convincente. – E além do mais, ele não vai precisar saber porque vamos lá.

Inara não se convenceu, entretanto deixou as críticas para mais tarde. Deixaram a Torre de Anhangá direto para uma construção de base piramidal, que abrigava uma templo de colunas na parte de cima, coberto por um teto abobado. Subiram as escadas, sem ver mais nenhum aluno na clareira àquela hora.

Ao entrarem, depararam-se com uma ampla sala onde seus passos ecoavam, forrado de um piso de cerâmica. Além de quadros que se moviam, ilustrando autores de livros bruxos, havia uma bancada de recepção na frente de um grande relógio solar, que mesmo não tocado pelo sol, criava uma sombra que marcava 6h30. À primeira vista estava vazia, e foi Nino que se aproximou do balcão, tocando o sino para chamar o atendente.

O som vibrou no ar, uma figura pareceu abrir um compartimento do outro lado, para em seguida surgir diante deles com uma expressão dura. Mal conseguia mostrar-se por completo, deixando apenas a cabeleira desgranhada e o nariz pontudo saltar para atendê-los.

— Maldita cadeira minúscula – protestou, com os olhinhos pretos piscando forte. – Em que posso ajudá-los?

O trio se distanciou para vê-lo melhor, e Aurora notou que não era humano.

— Um duende? – questionou Nino. – Pensei que só eram empregados em bancos bruxos, protegendo dinheiro.

— Então pensou errado, mocinho – rebateu, mal encarado. – Aqui, protejo a riqueza mais valiosa de todas: o conhecimento.

— Sei – o garoto não deu muito papo, foi direto ao assunto, voltando à pompa de antes. – As damas e eu precisamos fazer uma consulta na biblioteca.

O pequeno farejou o ar, como se compreendesse a situação.

— Primeiro ano – grunhiu, e depois, completou com um discurso protocolado. – Devem registrar-se nos amuletos, colocando uma porção, tocando-os num toque de cajados e estarão aptos a entrar – ele empurrou uma caixinha na direção dos garotos, e nem esperou que pegassem: – Existe um limite de quantidade de livros que podem ser alugados pelos estudantes de cada ano, e caso excedam quaisquer um desses limites, isso ficará no registro do amuleto e depois chegará à coordenação de Castelobruxo, portanto evitem imprudências que possam levá-los a expulsão – o aviso os assustou. – Caso danificarem, de qualquer forma, algum livro dessa instituição, o amuleto fará o registro e por consequência…

— Seremos levados à coordenação? – Aurora tentou completar.

Sem confirmar se estava certa, o duende voltou a sua fala.

— Se estivermos entendidos, depois do registro, podem seguir pela porta ao fundo, que leva até os livros – os três se viraram para ver uma porta de madeira singela, quase escondida. – Alguma outra dúvida?

Os três se entreolharam, sem decidir se tinham, até que antes que pudessem dizer algo, o duende respondeu:

— Tenham um bom dia – e ouviram o compartimento de onde veio, se fechar, atrás da bancada.

Inara apontou o dedo para o rosto de Antonino.

— Você irritou ele! Ficar quieto é tão difícil pra você? Não podia só ter dito o que queria?

— Eu estava com dúvidas – justificou-se. – Devemos sempre sanar o que nos fica nublado— disse, citando alguma coisa, voltando à voz elegante que sempre empostava.

Aurora ignorou a discussão e recolheu a caixinha. Abriu-a para encontrar um compartimento forrado de veludo vermelho, com três círculos de pedra polida com relevos cravados em forma de uma corça, no estilo asteca.

— Oh – surpreendeu-se. – Ele deve ter visto nossas faixas.

Os dois pararam um momento para recolherem os amuletos e observar de perto.

— Certo – Nino puxou seu cajado de dentro de um dos bolsos no paletó e apontou para o círculo. Tocou-o de leve, e num segundo os olhos da corça se acenderam. Um retângulo vazio embaixo se transformou num contador com três partes de três casas decimais. – É fácil, podem tentar.

Inara revirou os olhos, julgando-o por querer se mostrar a Aurora, e tocou seu cajado na pedra. Depois, ela subiu o olhar direto para a bruxa que ainda não sacara sua própria ferramenta. As duas trocaram uma confidência no olhar, suspirando fundo quando finalmente expôs a Orabutã. Fechou um dos olhos, com receio, porém a reação foi semelhante aos outros toques.

Nino questionou o porquê do anseio, mas ambas fingiram que não havia nada estranho no comportamento. Seguiram pelo aposento, passando pelas imagens e Nino apontou as pinturas, referenciando os livros de onde haviam sido tiradas. Aurora reconheceu uma das figuras com a Emília sobre o ombro, agora como um grande bruxo denominado apenas de Lobato. Quando perguntou sobre suas obras também serem divulgadas no mundo puto, o garoto respondeu:

— Não foi ele que quis isso, na verdade, ele era bem – o menino pigarreou, na busca de uma palavra adequada – incisivo quanto ao que achava da mistura do sangue bruxo. A história que meu pai contou é que um puto encontrou sua casa e seus manuscritos, mas como não entendeu boa parte do conteúdo mágico, acabou criando muita coisa em cima.

— Minha Emília acha que é culpa dele que ela seja vista como uma boneca falante – disse Aurora.

— Em parte, é – explicou, chegando na porta, agarrando a maçaneta. – Ele não podia ter permitido que seus manuscritos fossem expostos assim. Houve até um debate na comunidade bruxa sobre se deveriam ou não seguir sustentando as obras deles como clássicos, mas no fim, decidiram que ele tinha contribuído demais para que fosse descartado por um erro. Principalmente para Castelobruxo.

Aurora assentiu, vendo a porta, esquecendo o assunto do escritor por um momento. Antes que Nino pudesse abri-la, leu o que estava escrito na placa, encrustado na madeira: O conhecimento é para todos, mas a consequência que vem da sapiência, é única. Não havia autor para a citação.

A passagem deu lugar a um corredor extenso, onde um minúsculo ponto de luz do outro lado indicava a outra passagem. Lembrando-se do tamanho do lugar, achou que aquela distância era impossível, porém quando atravessou a passagem e viu tudo mudar num fragmento de segundo, revelando uma área colossal com uma multidão de livros, entendeu que estava mais uma vez pensando errado sobre magia.

A biblioteca cultivava estantes e mais estantes, categorizadas por placas flutuantes em forma de mão indicando fileiras de gênero, assim como também indicavam escadas espirais que subiam para ainda mais volumes. O teto abobado ainda marcava mais das figuras se movimentando, agora ilustrando uma história, onde um bruxo enfrentava um vilão por uma donzela. Os feitiços se colidiam, havia explosões, até que o teto se apagava, sem revelar quem havia ganhado. Alguns livros se organizavam sozinhos, batendo as páginas como pássaros indo aos seus devidos lugares, reorganizando as estantes. Cada tomo parecia único, e ao notar isso, Aurora soube que demorariam mais do que esperavam demorar.

— Por onde começamos? – questionou Nino, e ela não soube responder.

Encarou outra parte, um segundo andar aberto como uma varanda, onde mais escadas levavam a mais compartimentos, como se acima daquele teto, houvessem ainda mais camadas de livros.

— Não faço ideia – balbuciou.

— É, fácil, querem ler histórias ou querem algo mais teórico? – perguntou.

— Ah… – começou, mas foi interrompida.

— As Caiporas – Inara respondeu. – Queremos saber das Caiporas.

Nino duvidou se o pedido era real, mas quando Aurora concordou com a cabeça, ele foi em busca, evitando uma dupla de livros que passou voando rente a ele.

— Tá bom – sussurrou Inara. – Isso vai dar um tempo pra gente.

— Certo – Aurora concordou, olhando ao redor. – O quê a gente procura? Árvores? Cajados?

A menina concordou. Tudo que estivesse relacionado podia ser importante.

Aurora seguiu em busca dos livros. Passou pela seção de romances, até chegar nos livros de História, e puxou um sobre o descobrimento das terras brasileiras. Ainda empunhava o amuleto, que fez um som de clique quando ela tocou a capa verde-escura. Olhando direto para o objeto, viu que o primeiro contabilizava o número de livros retirados da prateleira.

Sabendo disso, recolheu o que achou que poderia estar relacionado. Um que carregava o título Das Frutíferas Mágicas às Mágicas Frutíferas e outro escrito pelo fundador da Cajados-Não-São-Bengalas, Pedro da Costa Fonseca. O contador atingiu três.

Aproximou-se de Inara e pôs os livros sobre uma mesa. Ela cerrou os olhos em resposta enquanto Aurora folheava o último deles. Leu uma citação:

O Mogno, material recorrente nos cajados mais resilientes do país, começou a ser cultivado depois que uma tribo indígena ofereceu uma muda a um dos navegadores portugueses, por volta de 1600, quase uma centena após sua chegada nas terras...

— Já pode descartar esse – Inara cuspiu. – Ele diz que foi uma chegada, e não uma invasão.

— Espera, mas pode ter alguma coisa – Aurora recorreu ao índice, e mesmo na centena de árvores categorizadas, não havia uma citação sequer ao Orabutã. – Se é tão raro, deveria ter um destaque aqui – reclamou, fechando a capa.

— É mais fácil dizer que é raro do que dizer o porquê é tão raro – argumentou, terminando de folhear um outro exemplar à sua frente. – A gente só vai acertar quando pegar um que disser a verdade.

— Mas e se for verdade? Ainda não entra na minha cabeça que esconderiam tanta c…

— Quer minha ajuda ou não? Nosso acordo era esse – retrucou.

— Tá bom, tá bom – concordou, pegando o outro que trouxera.

As duas continuaram na tarefa, pegando, folheando e lendo trechos em voz alta, apenas para descartá-los logo em seguida. Seguiram fazendo isso por um tempo, até perceberem como os contadores funcionavam. O primeiro, além de contabilizar a quantidade retirada das estantes, limitava um número de dez exemplares por vez, e se tentassem pegar mais, os livros se recusavam a sair das prateleiras, e se insistissem, o segundo contador começava a girar. Este, servia como contador de danos, e notaram isso quando Nino tentou carregar uma pilha de romances sobre Caiporas sozinho, derrubou um deles e pisou na capa por acidente, isso contou um ponto. Era a única contagem que não zerava, pois, pelo que discutiram, isso seria contabilizado em sua ficha como estudante. Já o terceiro, abrigava o número um e não se movia por nada.

Depois de algumas horas no lugar, as duas recorreram à mesa com os últimos exemplares dos temas que procuravam. Nino ainda acreditava que Aurora apenas não estava satisfeita com as obras que se referiam às Caiporas, então seguiu vasculhando. Inara mexeu nas páginas, e Aurora ficou impaciente quando a menina afirmou que os dois não passavam de lixo.

— O quê? Mas não tem mais – disse, batendo as mãos na mesa.

— Então, não tem nada aqui – respondeu, cruzando os braços.

Aurora olhou ao redor para reclamar mais uma vez, mas perdeu um momento reparando nas escadas em espiral.

— Elas levam até algum lugar, e dentro de uma biblioteca, só pode ser pra onde tem mais livros para gente conferir – animou-se. – Então, é só seguir.

— Estamos aqui há horas e não achamos nada!

— Não procuramos o bastante ainda, tem out…

— Ou só estamos procurando no lugar errado. Aurora, me ouve – quando a menina chamava-a pelo nome, ainda soava estranho. – Isso aqui foi construído por um monte de gente que ama tirar o nome de pessoas como eu e colocar o nome de pessoas como você no lugar – aquilo pareceu doer fundo enquanto falava. – Não tem o quê mais procurar, mesm…

— Ah! – uma voz gritou.

Nino estava no segundo andar, na frente de uma das escadas, apontando para o amuleto na mão. As duas estranharam o barulho, mas ele explicou em seguida:

— O terceiro contador, ele mudou! – anunciou, balançando-o na direção das duas.

Ambas subiram até chegarem ao seu lado. Viram a mão estendida, surpreendendo-se; a contagem deixava um três e voltava para um original, bem devagar, enquanto o do meio contava um número depois da casa dos cem, também retornando.

— Espera, três? – Aurora encarou a escada.

— É, eu queria ir lá em cima procurar mais livros, mas o amuleto tremeu, e eu parei – explicou, assustado com o que dizia.

— Por quê? Um é de quantidade, o outro é pra contar os danos, e o último… – a menina começou a vasculhar o lugar.

— Será que é por que a escada leva pra um terceiro andar? – Nino argumentou, vendo que aquilo soava razoável.

Um limite pra cada ano, lembrou do que o duende dissera.

— Nino, são quantos anos aqui em Castelobruxo? – perguntou.

— Seis.

A mente da menina clicou. Buscou à sua volta, contando a quantidade de escadas espalhadas pelo segundo andar. Seis. Podia ser uma tremenda coincidência, então, a menina resolveu testar. Correu dali direto para uma outra escada mais à esquerda, e o contador ameaçou o número cinco, enquanto o segundo fez que ia saltar para além de duzentos e cinquenta.

— Lembram do que o duende disse? – perguntou, voltando aos amigos.

Inara cruzou os braços para tentar compreendê-la antes de responder. Contudo, querendo ser prestativo, o garoto respondeu primeiro:

— Que deveríamos evitar imprudências para não sermos expulsos.

— É, mas também disse que seríamos se tentássemos exceder quaisquer um dos limites — lembrou-os, voltando a se aproximar da escada de antes, para conferir o que aconteceria em seu amuleto. O mesmo padrão de Nino foi feito no dela; a segunda contagem acima de uma centena, a terceira indicando o número 3. – E esses limites foram os danos, a quantidade e…

— Os anos? – Inara entendeu.

Aurora confirmou.

— Então, espera, vocês acham que tem um andar de biblioteca pra cada ano da escola? – Nino perguntou. – Por que separariam assim?

— Talvez porque tenham coisas que não podemos ler – Aurora sugeriu, olhando para Inara, que completou sua frase.

— Ou coisas que querem esconder.

Ele estranhou o comportamento das duas, tentando entender se aquilo ainda se tratava de uma pesquisa sobre as Caiporas. Fez que ia dizer algo, mas conferiu a escada, testando se a teoria fazia sentido. Em seguida, comentou:

— Mas como vocês sabem que o que querem saber das Caiporas, seja lá o que for, está escrito mesmo? Pode nem existir nada disso!

Aurora concordou, mesmo que ele ainda estivesse longe do tema, entretanto Inara, por sua vez interveio com outra hipótese, ainda discutindo no mesmo terreno dele.

— Você já viu uma Caipora atacando, garoto? – foi dura, mas dessa vez, tinha um tom de ameaça. – Eu já. E de todos aqueles livros que você trouxe, nenhum tem o que eu vi. Só um monte de baboseira pra crianças, avisando do perigo de mexer com elas. Sei que são muito piores do que aquilo, porque desde que vi o que vi, sonho com isso todos os dias.

Pela primeira vez, a menina apavorara Nino, porém, o fazia enquanto apavorava a si própria, pois os olhos estavam saltados, a boca tremia. Pensando sobre as vezes que dormira com Inara durante a semana, lembrou-se da cama balançando a ponto de acordá-la com os solavancos.

Aurora a afastou da conversa, esperando que se acalmasse. Ambas desceram o olhar para seus amuletos, enquanto vez ou outra conferiam quando Nino tentava bisbilhotar qual era o problema.

— Se fosse pra acharmos o que a gente precisa, me diz, sabendo o que você sabe – Aurora cochichou, tentando puxar o que a menina tinha de conhecimento para auxiliá-la. – Onde tínhamos que procurar?

A colega devolveu um olhar severo, ainda assim carregado de medo. Limpou a garganta, lembrando do que precisava lembrar e respondeu:

— No sexto andar.

Ambas suspiraram, sabendo que era impossível. Viraram-se de volta a Nino, que agora deixara Celeste sair de seu esconderijo para acariciar sua cabeça. A serpente envolveu o pescoço do garoto, dificultando Aurora olhá-lo diretamente.

— Meninas, o que está acontecendo? – perguntou.

Havia um olhar reprimido depois da fala de Inara, de alguém que queria ajudar, mas que era posto de lado, num segredo que não era dele. Ainda sem respondê-lo, Aurora tomou à frente para procurar a escadaria correspondente, e depois de ameaçar subir em várias, chegou em uma no extremo oposto de onde estavam. Os companheiros seguiram, vendo-a encarar o amuleto e dizer a contagem.
— Quinhentos pontos de dano – cochichou.

— Os pontos não são descontados do time? Isso quer dizer que as Corças perderiam? – perguntou Inara, tentando contar o quão ruim seria tomar aquela atitude.

— Não, acho que não nesse caso – disse, apontando para seu próprio amuleto. – A consequência da sapiência é individual – citou, cabisbaixo Acho que tem a ver com nossa contagem de pontos de advertência na ficha como estudante. Com quinhentos você seria expulsa, com certeza – pareceu desolado ao dizer aquilo. – Você não pode subir aí, Aurora. O quê… quê você quer saber que é tão importante assim?

Por um segundo, achou que viu lágrimas brotarem de seus olhos, e então desviou para Inara, em busca de alguma ajuda. Entendeu que havia procurado no lugar errado, afinal era a última pessoa que saberia lidar com aquela situação.

— Não é sobre Caiporas, né? – compreendeu ele, sem o brilho de antes nas pálpebras. – Olha, se não quiser me contar, tudo bem, eu não ligo – levantou a voz um pouco, e percebendo a exaltação, voltou à sua postura educada. – Mas eu não vou deixar você subir aí e estragar sua vida como b…

— Nino, calma – Aurora pontuou. – Não vou subir.

Mesmo que quisesse muito, sabia o que havia enfrentado para chegar até Castelobruxo. Desde as lembranças apagadas ao conflito que fizera surgir quando o pai n°1 decidiu que poderia entrar. Tudo isso custara muito para abandonar de uma hora para outra.

Olhou para a escadaria subindo até ficar escura no topo, pensando, ainda assim, no quanto gostaria de saber mais sobre tudo. Voltou a fitar os amigos, que a olhavam esperando alguma conclusão que os fizesse desistir da ideia que poderia expulsá-la. Até que, ouvindo um sibilar que costumava ignorar, uma ideia saltou direto à sua cabeça.

— Celeste – balbuciou, num sorriso empolgado que pareceu arrepiar Nino.


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