Não era hora de pausa para beber uma xícara de chá.

Sunhee só poderia descansar depois de analisar mais uma pilha de documentos sobre transações financeiras, atualizações de investimentos, contratos e mais papelada envolvendo empresas subsidiárias da Equinox Corporation para seu primo, de quem era assistente.

Ir com calma? Ela não podia fazer isso nem se quisesse. Não só por causa da quantidade de coisas que tinha para fazer, mas também por estar com várias crises de nervosismo recentemente. Estava envolvida numa grande encrenca...

— Alô? — falou friamente assim que atendeu o celular. Era seu primo quem estava na outra linha.

“Oi, Sunhee. Só liguei para saber como está seu progresso.”

Sim, para saber como meu trabalho está e não como eu estou.

— Tudo sob controle. Você sabe que sou competente. — Pausou por alguns instantes e mudou de assunto com certo desconforto. — Alguma notícia sobre Len Park?

“Não, ainda está foragido. Mas não se preocupe quanto a isso, não há coisa alguma que possa o salvar. Todas as evidências o apontam como culpado. E ninguém além de nós dois, nosso pessoal e o próprio senhor Chang sabe o que realmente aconteceu.”

Estavam conversando por meio de linha particular, então não havia perigo de alguém obter a gravação da ligação. Mesmo assim, um calafrio percorreu a espinha de Sunhee.

Preciso ser fria. Preciso ser forte.

— Que bom. Mantenha-me atualizada.

A que ponto ela havia chegado? De uma pequena menina sonhadora a uma conspiradora sem coração... A ganância por dinheiro realmente muda as pessoas.

Com o senhor Chang fora de cena, seus negócios passariam a ser administrados por Len de acordo com a hierarquia da empresa adversária. Com Len incriminado pelo envenenamento do senhor Chang... Seria uma mera questão de dias para a Equinox liderar outro setor de negócios. Ela e o primo conseguiriam mais importância ainda no trabalho, e eventualmente chegariam ao topo.

Convencer o senhor Chang a cooperar com o plano foi fácil. Sem muitos amigos, aquele velho também não tinha parentes, nem raízes, nem princípios – e ele estava mais do que disposto a forjar a própria morte para livrar-se de suas muitas dívidas e passar o resto de sua enfadonha vida numa ilha caribenha. Difícil foi subornar tantas pessoas para tornar possível a incriminação de Len.

Ah, Len. Sunhee lembrava-se de ter cruzado caminho com ele algumas vezes no passado, e inclusive tinha o visto no encontro do Solstice – situação bem inesperada, e ela passou o resto do evento tentando o evitar.

Ele não parecia má pessoa… Ah, mas que se dane. Melhor ele na cadeia do que eu num casebre.

Após desligar a ligação, Sunhee dedicou-se a terminar de cuidar daquela papelada o mais rápido possível. Só parou de trabalhar no horário de almoço, faltando poucos documentos a serem analisados.

Estava exausta. Pretendia ir à doceria na rua paralela ao edifício da Equinox e comer uma fatia de sua torta de morango favorita para recuperar a disposição.

Enquanto andava pelo corredor do décimo quarto andar da empresa, em direção ao elevador, uma voz estridente quebrou o silêncio que predominava e deu-lhe um pequeno susto.

— Como assim você contou pra ele, Elisa?! Pode esquecer seu pagamento! — Um colega de outro setor estava gritando ao telefone com a porta do escritório dele aberta. — Não me interessa que te cercaram! Você é incompetente!

Tentando ignorar a discussão, Sunhee chamou o elevador e entrou assim que ele chegou.