Como acabar com o amor da sua vida escrita por Ana Carolina Marquês


Capítulo 8
I Karma I




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 Noah

Enfio mais um pedaço de bolo na boca e tento sorrir, minha mãe está sentada de frente pra mim com aquele olhar investigador: a sobrancelha arqueada e as mãos alisando o pano de prato sobre o ombro. Ela me conhece muito bem para saber que por mais esforçado que eu fosse, não levantaria tão cedo aos sábados por uma atividade extra.

— Então, esse projeto vai render muitos pontos extras?

— Não tantos quanto eu gostaria — digo de boca cheia, terminando de engolir — mas é menor que nada.

Ela abre a boca e depois fecha, antes que possa perguntar mais alguma coisa que me deixe em uma situação delicada a buzina toca do outro lado da rua. É impossível não reconhecer. Tomo mais um gole de café apressado e pego a mochila com os papeis importantes dando um beijo na testa da minha mãe e saindo o mais rápido possível de casa. O Corolla preto de Jack está parado na porta de casa, entro fazendo o máximo de cuidado pra não bater a porta e jogo a mochila no banco de trás.

— Bom dia pra você também, lindinho.

Jack abaixa o óculos de sol só pra me dar uma piscadinha e depois coloca de novo, ele acelera o carro enquanto eu coloco o cinto.

— Como você conseguiu essas informações? Porque sabemos que pagando não foi.

—Você é tão sensível comigo. Bastou enviar um e-mail pra escola, eu olhei uns anuários e vi que tinha alguns alunos de intercâmbio lá. Peguei o nome deles e fingi que queria reencontrar os amigos do ensino médio.

— Uau, meu melhor amigo é um badboy, talvez assim você tenha chances comigo.

— Nunca terei chances contra o Senhor Gregor.

Jack aumenta mais o som e pisa no acelerador. Ok, falar o sobrenome do cara que ele ama não tenha sido uma boa ideia. Aumento um pouco o volume do ar e fico repassando o nosso plano na cabeça.

— Ei, você disse que mandou e-mail pra escola, mas como descobriu onde ela trabalha?

— Essa foi a parte difícil, eu liguei algumas vezes pra casa dela até a mãe dela anteder e eu tive que convencer muito ela parecia com certo medo de me passar o endereço e então só me deu o do trabalho.

— Eu também ficaria com medo de passar meu endereço pra um maníaco que me liga depois de anos querendo saber da minha filha, mas pra onde iremos?

Reviro os olhos e começo estalar os dedos, não sou bom em falar com pessoas muito menos quando quero descobrir algo com elas.

— Vamos a uma lanchonete que fica em frente da escola antiga de Ash.

Engulo em seco, parece extremamente abusivo o que estou fazendo. Entrar assim no passado de alguém e mexer em algo que ela quis deixar lá... mas caso não faça isso, alguém vai usar as informações de forma ruim. Só espero que ela consiga entender meu lado. Jack desacelera um pouco o carro e segura minha mão quando vai trocar a marcha.

— Vai ficar tudo bem, cara. Estamos juntos nessa.

♡ ♡ ♡ ❤ ♡ ♡ ♡

Não foi difícil achar a lanchonete, vários adolescentes conversavam do lado de fora da fachada antiga e quando entramos vimos mais deles brincando no lado de dentro. Apesar de movimentado o lugar é velho com um chão encardido e cadeiras quebradas. Jack e eu sentamos em um dos poucos lugares disponíveis perto do balcão amarelo. Do outro lado consigo ver a garçonete e meu coração acelera, mesmo com uma aparência cansada e desleixada os cabelos ruivos volumosos são iguais os da filmagem. É Heather. Ela segura uma garrafa de café e quando percebe nossa presença deixa em cima do balcão e vem nos atender com uma caderneta na mão.

— Bom dia, sejam bem-vindos ao NPA, já escolheram?

Apesar do enorme sorriso sua voz é vazia pra mim, sem qualquer emoção ou verdade. Estou um pouco travado olhando pra ela.

— Eu quero um café da manhã completo e um suco de laranja, por favor.

Heather anota e fica me encarando. Seus olhos estão vermelhos e com maquiagem borrada nos cantos.

— Hum... eu quero um café e panquecas.

Ela termina de anotar e recolhe os cardápios de plástico na mesa e por impulso em pego na sua mão. Quando percebo isso puxo meu braço e acabo batendo o cotovelo na mesa. Sinto minhas bochechas esquentarem e Jack abafa a risada do outro lado.

— Desculpe, você é a Heather, certo?

Heather olha pro próprio crachá e depois pra mim, as sobrancelhas erguidas e o cardápio sendo praticamente esmagado pelos seus dedos.

— É assim que me chamam.

— Eu poderia falar com você no seu horário de almoço?

O rosto dela se contraí e fica totalmente vermelho, tenho certeza que ela vai me dar um tapa na cara a qualquer segundo e começo a erguer as mãos.

— Não é isso que você ta pensando, juro. Eu quero falar sobre Ashley Cora.

Digo tudo tão rápido que tenho medo dela não ter entendido, mas suas expressões se suavizam e agora ela não parece tanto uma assassina em potencial.

— Eu não escuto esse nome a algum tempo, mas imaginei que um dia me perguntariam disso. Nem sempre da pra fugir do passado, né? — ela suspira e escuto alguém reclamando alto do péssimo atendimento e demora — olha, me encontre daqui uma hora lá onde os fumantes ficam.

Apenas assinto e deixo que ela volte ao trabalho. Dou um chute em Jack por baixo da mesa, ele continua rindo com os olhos cheio de lágrimas.

— Cara, eu devia ter filmado isso.

Mostro a língua pra ele e começo a estalar os dedos, meu estomago está todo embrulhado. Ash me manda um meme e visualizo pela barra de notificações, não sei se consigo mentir pra mais alguém hoje.

♡ ♡ ♡ ❤ ♡ ♡ ♡

Jack reclama da barriga cheia depois de ter comido o equivalente a três refeições. Deixamos uma gorjeta grande pra Heather e quando percebemos que ela havia sumido fomos direto pro beco atrás da lanchonete. Ela joga o cigarro fora quando nos vê e solta a fumaça pro outro lado, tirou o avental manchado e usa uma blusa rosa desbotada.

— Então o que vocês querem saber sobre a Ash?

Solto o ar, sentindo meu coração acelerar ainda mais e tiro o celular do bolso. Os e-mails já estão abertos e entrego pra ela. Heather lê tudo antes de abrir as mídias, ela vai nas fotos primeiro e fico olhando quando ela abre o vídeo. Sua expressão é difícil de distinguir, seu rosto não muda em nenhum momento. Quando termina ela me entrega o aparelho.

— Você ta achando que fui eu que enviei isso. — Assinto e ela solta o ar, cruzando os braços — eu não mandei isso, pra falar a verdade pensei que esse negócio tinha sumido junto com o Victor.

Jack está parado ao meu lado ele olha pra mim e dou de ombros. Victor é o cara da filmagem, mas eu não consegui informações sobre ele. Estamos em silencio ate Heather sorrir e se encostar na parede.

— Pelo visto você não pesquisou tanto sobre mim, mas deve saber ou deduzir que eu era a capitão do time das líderes de torcida. Depois do baile seriam as finais e os treinos ficaram mais pesados, mesmo passando mal eu ia em todos até que eu cai e quebrei o pulso — ela acende mais um cigarro e só depois do segundo trago que continua — eu não ia deixar aquilo me parar, mas precisava ir no hospital. Me pediram alguns exames e quando chegou o resultado descobri que estava grávida. Depois disso não pude mais ser capitã e me expulsaram, meu pai foi embora dizendo que tinha vergonha de mim e o Victor não acreditou que era dele, foi embora e eu nunca mais o vi.

Sabe aqueles momentos em que você congela? Heather é um ano mais velha que eu e ouvir isso dela me faz questionar tudo. Meu corpo todo está frio por causa do suor e Jack segura meu braço.

— Eu não sabia disso, desculpa.

— Você não tem culpa, não é algo que as pessoas têm orgulho de divulgarem por aí, mas se você se puder diga a Ash que eu realmente sinto muito.

É nesses momentos que penso que o karma existe ou um efeito borboleta. Heather se levanta e estala as costas, da uma olhada no relógio de pulso e solta uma careta.

— Preciso ir, não posso perder esse emprego.

— Tudo bem, acho que descobri bem mais do que vim procurar.

Ela ri, apagando o cigarro e arrumando os fios do cabelo que estão soltos. Estou pronto pra ir embora.

— Como você chama mesmo?

— Noah e esse daqui é o Jack.

Jack está menos tenso e da uma piscadinha, ele não para de digitar no celular e imagino que deve estar brigando com o namorado. Eles sempre estão brigando.

— Certo, Noah. Tome cuidado com minha prima, acho que é de família ser assim.

Olho pra ela em total confusão. Será que ela tinha ficado maluca? Heather da mais uma risadinha e tira uma carteira do bolso, ela mexe e tira duas fotos de lá. Uma tem um bebê sorrindo segurando uma chupeta rosa e na outra é ela com Cristal ao seu lado. Devolvo as fotos pra ela e dou um passo pra trás, puxando a parte de trás do cabelo de leve.

— Preciso ir.

Digo e puxo Jack pela blusa, mando um tchauzinho e não olho para trás quando saímos do beco. Meu coração está acelerado e a boca seca, Jack destrava o carro do outro lado da rua e vamos em silencio. Quando me sento no banco, deixo tudo vir. Sinto um pouco de tremor nas mãos e a respiração fica mais difícil. Jack está ao meu lado, passando as mãos pelas minhas costas e consigo ficar mais calmo. Não posso dar uma crise de ansiedade agora. O carro começa a sair do lugar e tento me concentrar na música, sinto meu celular vibrando e vejo as notificações pela barra. É uma mensagem nova de Ash e um novo e-mail anônimo.

 


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora, prometo tentar postar pelo menos uma vez por semana. Descobri que vou ser mamãe e meu deus que loucura! Espero que vocês estejam gostando, finalmente as coisas estão se desenrolando ou enrolando mais né? Acham que o Noah foi certo?



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