Tronos de fogo e gelo escrita por Sojobox


Capítulo 12
Ouça-me rugir




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Gerold Lannister

 

— Preciso chegar logo.

 

O sol não podia nem ser visto no céu ainda, mas Gerold já subia as escadas principais do castelo, com uma disposição e pressa acima do normal.

 

Normalmente, a esse horário, ele estaria cuidando de seus afazeres como conselheiro do rei, ou melhor, fazendo o trabalho que deveria ser do rei, que sempre ficava em seu quarto até tarde.

 

Quando estava nos últimos degraus da escadaria, tropeçou e caiu. Um dos guardas se moveu com a intenção de ajudá-lo a levantar.

 

— Não me toque, imundo!

 

Após ficar de pé novamente, dirigiu-se a porta a sua frente e ordenou ao outro guarda para que o deixasse entrar. Mas ouviu que o próprio rei havia dito que não queria ser perturbado até a hora das refeições.

 

Indignado, Gerold empurrou o homem e entrou no quarto. Lá dentro, viu seu rei na cama gigantesca, embaixo dos lençóis, ao lado de cinco mulheres, todas em êxtase.

 

— Senhor! É urgente!

 

— Ah, Gerold! O que é tão urgente para me interromper num momento desses, em que eu estava quase mostrando a essas mulheres o maior prazer que elas podem ter?

 

— Hihihi! Mais do que você já mostrou? É possível? — questionou uma das moças.

 

— Mais do que todas as vinte e duas vezes anteriores? — perguntou outra.

 

— Voltem para debaixo dos lençóis que eu mostrarei.

 

— Soberano! Tenho certeza que essas senhoritas apreciariam bastante o que o senhor tem para mostrar para elas, mas temos deveres a cumprir — interviu Gerold novamente.

 

O rei praguejou algumas palavras impronunciáveis e impublicáveis aqui. Talvez a mais branda tenha sido quando ele mandou Gerold para lá de Asshai.

 

— Elas não são senhoritas, não mais — disse o rei maliciosamente.

 

— Não mesmo, hihihi. Somos as putas do rei — disse uma delas.

 

— Adorei esse nome — comentou o suserano.

 

— Aposto que sim, mas agora temos um assunto a resolver, por favor, a sós — o conselheiro interrompeu pela terceira vez.

 

Mais palavrões foram escutados no quarto, antes que o rei mandasse as mulheres deixarem os homens a sós e voltassem a seus afazeres.

 

Enquanto as mulheres colocavam suas roupas, Gerold pensava se seu soberano poderia “emprestar” uma delas para que pudesse esquentar sua cama algum dia desses. Mas rapidamente tirou esse pensamento da sua cabeça, pois sabia qual era seu lugar e principalmente conhecia seu rei, que também era seu pai: Lann.

 

Quando as moças começaram a sair, todas sorridentes e cochichando algo, uma delas imitou brevemente uma leoa, som que foi imitado pelo seu suserano. O que irritou Gerold.

 

— Você não ouviu nada do que eu disse, não é? — perguntou o conselheiro, após fechar a porta.

 

— Claro que estava. Você falou sobre a viagem de Tyrion e suas façanhas.

 

— Não. Estava falando da carta que chegou há pouco. Embora seja verdade que Tyrion chegara não faz tempo, um pouco antes de receber a mensagem. Ele veio com suas histórias de sempre, dizendo que derrotou dois gigantes ao mesmo tempo e desflorou inúmeras donzelas.

 

— Hahaha. É a cara dele. Ele será lembrado por gerações.

 

— Certamente. Talvez como Tyrion, o Contador de Histórias. Mas não mude de assunto. Qual é a sua resposta?

 

—Ahm... Sim?

 

— Sim? Tem certeza?

 

— Então... Não.

 

— Você não prestou atenção em nada do que eu disse, não é mesmo? Estava apenas olhando para as bundas das mulheres.

 

—Não! Como pode dizer... Aquelas bundas são tão lindas e durinhas.

 

— Eu sabia!

 

— Desculpe. Não pude resistir. Mas você está muito tenso. Que tal se eu mandasse Julieny passar lá no seu quarto e fazer você relaxar um pouco? Ela faz uma massagem digna dos deuses, aliás, não só massagem. Espera... Não era a Céline ou seria a Martinia? Não me recordo ao certo agora.

 

— Faria isso?

 

— Claro... que não. Se quer uma mulher para satisfazer suas necessidades, faça como um homem e pegue-a você mesmo. Mas mudando de assunto, o que era tão urgente que você me interrompeu mesmo?

 

— Vista-se! Tyrion e Loreon estão aguardando o senhor na sala do trono.

 

— Loreon também? Mas o que querem afinal?

 

— Tem a ver com o conteúdo da carta.

 

— Que carta?

 

— Por favor, não demore.

 

— Gostava da época em que o nome Lann significava algo. Agora não posso nem mesmo me divertir por apenas doze horas sem ser interrompido.

 

•·•·•·•·•·•·•·•·•·••·•·•·•·•·•·•·•·•·••·•·•·•·•·•·

 

Lann

 

— Meus amados filhos! — o rei disse ao entrar no salão real.

 

— Pai, como está? — perguntou Tyrion antes de abraçá-lo.

 

— Bem, e você? Como vai o resto de Westeros?

 

— Muito boa. Westeros continua a mesma de quando saí, com bem menos gigantes e donzelas.

 

— Hahaha! Esse é o meu filho!

 

Tyrion era o terceiro filho de Lann, mas parecia por vezes o herdeiro pela forma que o pai o tratava, já Loreon era o primeiro e consequentemente seu sucessor, embora, por vezes, precisasse convencer os demais irmãos disso.

 

Ao caminhar e sentar no trono, sem ao menos cumprimentar o outro filho, Lann ouviu um resmungo.

 

— Também é bom te ver, pai — disse Loreon.

 

— Não entendi. Falei algo contrário disso?

 

— Não, mas o tratamento deixa óbvio.

 

— Ah, desculpa, quer um abraço também? Não havia percebido que era tão sensível quanto uma moça — comentou o rei.

 

Tyrion não perdeu a oportunidade e provocou:

 

— Isso é falta de...

 

— Não ouse! — ameaçou o irmão mais velho, e começaram a discutir ignorando o pai.

 

— Só ia dizer que talvez o fato de sua esposa estar de resguardo esteja te afetando mais do que a ela. É normal. Um homem tem suas necessidades. É só pegar uma puta dessas aí e ser feliz.

 

— Eu não durmo com esse tipo de mulher.

 

— Não disse especificamente nenhum tipo. Apenas generalizei. Qualquer mulher se deitaria com o herdeiro de Lann. Você é mesmo o herdeiro, não é?

 

— Tenho respeito a minha mulher, se você não tem uma, não pode saber como é.

 

— De fato. Não tenho uma, tenho várias. Deve ser horrível dormir ao lado de uma mesma mulher por tanto tempo, não consigo imaginar o pesadelo que seria.

 

— Ora, seu!

 

— Ficou brabinho, é? Vem pra cima!

 

— Chega! — berrou Lann tão alto e feroz quanto um leão, o motivo da criação do lema “Ouça me rugir”. — Parecem duas crianças e não adultos.

 

— Tem como abaixarem o tom um pouco? Os filhos de Loreon estão dormindo — disse Gerold ao entrar no salão.

 

— Quem mais poderia ser? Meus netos por parte de você. Parecem três bebês chorões. Nenhum dos meus filhos se incomodaria com isso, a não ser Loreon.

 

— Talvez por serem mesmo bebês? — questionou Gerold. — Mas mudando de assunto, aqui está a carta.

 

Enquanto o conselheiro entregava para o rei o que foi direcionado a ele, Loreon questionava:

 

— Ainda não queimou isso?

 

— Sem o consentimento do rei? — perguntou Tyrion. — Mas é claro que ele ainda nem leu o seu conteúdo.

 

— A essa hora? Impossível! — Loreon se irritou com o comentário do irmão.

 

— Esta mensagem é “dele”!? — Lann se espantou com o remetente.

 

— Eu disse. Parece que não conhece nosso pai — zombou Tyrion. — Aliás, é mesmo filho dele?

 

— Eu não vou nem mais responder suas idiotices.

 

Enquanto os dois irmãos conversavam em seu mundinho particular, o rei, atordoado com o conteúdo da carta, apenas se virou para seu conselheiro e perguntou se tudo que estava escrito ali era verídico, e este respondeu:

 

— Não tem como afirmar com absoluta certeza sem que enviemos uma carta para confirmar ou alguém.

 

— E por que ainda não enviou nada? — questionou Lann.

 

— Ora, o senhor não proibiu que qualquer carta ou mensageiro fosse enviado sem sua autorização prévia?

 

— Eu proibi? Por qual motivo eu teria feito... Ah, o caso com Crack, o Matador de Javalis, não é? Ouvi dizer que ele agora formou uma casa, é verdade?

 

— Sim senhor, seu lema é: Nenhum mais feroz.

 

— Hahaha! Mais feroz do que nós eles não são. Apesar disso, hoje em dia qualquer um tem uma casa, brasão e terras.

 

— De fato. Mas devo lembrar que foi o senhor que deu Paço de Codorniz para ele?

 

— Foi mesmo! Depois que matou um javali com as mãos. Aquilo foi incrível. Além do mais, ele jurou lealdade a mim e a casa Lannister.

 

— Com certeza, mas voltando ao assunto da carta...

 

— Ah! Você só sabe falar nessa carta. Não adianta fazer nada agora sem saber se seu conteúdo é verdadeiro. Descubra isso o quanto antes.

 

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Loreon Lannister

 

Depois que Lann e Tyrion foram ao grande salão comer com os demais moradores do castelo, e Gerold escrever e enviar alguma carta, Loreon tentava entender tudo o que acontecera nas últimas horas.

 

Fora acordado pelo barulho terrível do choro de seus filhos recém-nascidos. E já que sua esposa estava muito debilitada, após o parto em que tivera os trigêmeos, ele ficou de cuidar dos filhos quando a mulher não pudesse. O príncipe poderia utilizar uma das diversas servas a disposição, mas por desconfiar que uma delas a mando de Tyrion pudesse fazer algo a um de seus filhos, tremia.

 

Já desconfiava que foi o irmão o responsável pela saúde frágil de sua amada, após um jantar onde, por diversas oportunidades, Tyrion a encarava antes dela desmaiar na mesa.

 

Depois de ser tratada, a mulher foi diagnosticada com uma doença que gerava fraqueza em seu corpo. Bastante comum em mulheres pós-parto, não durante. E isso poderia significar o fim da vida de sua esposa e de seus filhos, mesmo depois que nascessem.

 

Após isso, passou a ser muito cuidadoso com ele e todos à sua volta.

 

Minha querida. Não vou abandoná-la por nada. Farei o que for preciso para impedir que parta desse mundo.

 

Outro segredo que Loreon queria descobrir era o que o pai guardava a sete chaves: de onde Lann veio?

 

O rei jamais dizia nada sobre seu passado. O mais distante que ele contava era a história de como conseguiu convencer os Casterly de abandonarem o castelo e suas riquezas. O problema era que cada vez que contava essa história, ele modificava alguma parte vital. Então, não dava para saber a verdade do que ele falava. As mães de suas dezenas de filhos sempre desapareciam ou morriam depois de algum tempo, a ponto de nem mesmo Loreon, o filho mais velho dele, conhecer nenhuma delas.

 

Mas caso ele conhecesse alguém mais velho, por exemplo, seu avô ou avó, o que era muito pouco provável, pois fossem quem tiverem sido, eles já deveriam ter morrido há muitos anos, poderia descobrir a verdade.

 

Mas há uma pessoa que pode saber: Daviane.

 

Ela era a parteira da família desde que ele se lembrava. Provavelmente foi a própria que o tirou de dentro de sua mãe. E, apesar de todos esses anos, ele jamais conseguiu tirar uma informação dela.

 

Nem tinha como saber se Daviane era mesmo o seu nome verdadeiro. Apenas a chamava desse modo, pois o próprio Lann que o usava para referir-se a parteira.

 

O último parto que ela realizou foi justamente de seus três filhos, mas depois pediu para parar. Alguns de seus irmãos pediram que a mandassem embora do castelo, já que não queria mais trabalhar, mas o rei negou de forma veemente. Outros criticaram a ordem de Lann de colocá-la num quarto nobre, que era destinado apenas a príncipes, princesas e convidados de honra. O que foi inútil, pois uma vez que o suserano do Rochedo dava sua palavra era lei. E, apesar de resmungos, ninguém se atreveria a desobedecer. O príncipe, então, decidiu ir até ela, levando suas dúvidas e questionamentos.

 

— Quem mais poderia me contar esse segredo? — perguntou Loreon.

 

— Tentou perguntar a seu pai? — questionou Daviane.

 

— Você confiaria inteiramente no que ele diz?

 

— Se não acredita no seu rei, por que a palavra de uma parteira de oitenta e nove anos, cega de um dos olhos, seria diferente?

 

— Você nunca mentiu para mim.

 

— Mas também nunca respondi nenhuma das suas perguntas.

 

— Vamos, por favor. Ele mantém esse segredo guardado há tanto tempo.

 

— Não apenas esse, ele detém vários segredos muito mais profundos do que esse.

 

— Você não vai me contar mesmo, não é?

 

— Esse é o meu segredo para ter vivido por tanto tempo — respondeu Daviane —, mantendo minha boca fechada.

 

— Vai fazer noventa anos, não é?

 

— Semana que vem. Quando era uma mocinha, sempre quis viver muito, mas nunca pensei que conseguiria.

 

— Isso é bom, não é?

 

— Você acha? Esse é o erro dos jovens. Bem, não posso discriminá-lo, eu também pensava assim. Mas depois que vi todos que conheci morrerem um a um e só eu continuar viva... Não acho mais que tenha sido uma coisa boa.

 

Ao terminar de dizer isso, ela começou a tossir sangue. O príncipe ajudou a velha a deitar. Loreon pediu desculpas por perturbar seu descanso. Quando estava prestes a sair do quarto, foi chamado novamente.

 

— Talvez eu conte a você afinal — disse Daviane. — Já cansei de viver tanto. Chegue mais perto. Mas me deve prometer uma coisa, jamais conte o que vou te falar para ninguém, muito menos para seu pai, as consequências serão severas se o fizer.

 

— Tudo bem, não planejava espalhar essa notícia, ainda mais para ele. Pode contar comigo.

 

— E a coisa mais importante de todas... Sob nenhuma condição, mesmo que a sua vida e de todos as pessoas que você se importa dependesse disso, jamais minta para sua avó.

 

— Ela ainda está viva? Conhece ela?

 

— Viva? Eu não sei se chamaria aquilo de vida, mas ela existe. E, vai por mim, não vai gostar de conhecê-la, embora tema que esse dia não irá demorar muito para chegar.

 

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Tyrion Lannister

 

No grande salão onde eram servidas as refeições, Lann estava assentado no seu lugar habitual, no meio da mesa mais alta, onde podia ver todas as trezentos e quarenta pessoas que comiam de seus pratos. Ao seu lado Tyrion, pensativo, mal tocava em sua comida.

 

Entre pratos de carneiros assados e javalis temperados — esse último um presente de seu novo subordinado —, o príncipe perguntou ao pai:

 

— E então o que fará a respeito da mensagem caso seja verdadeira?

 

— Sinceramente? Não vejo outra escolha a não ser aceitar.

 

— Mas e caso for uma armadilha?

 

— Dele? Hahaha! Aquele velho é tudo menos um trapaceiro, é mais fácil ele estar pensando que eu vou armar algo.

 

— Mas e se não for dele a mensagem?

 

— Sinto que vamos descobrir em breve.

 

— Gerold?

 

— Talvez, sim. Mas tenho o pressentimento que outra pessoa trará a resposta.

 

— Quem? — perguntou Tyrion, curioso.

 

— Não sei. Pode ser apenas um delírio de minha parte, estou ficando velho.

 

— O senhor, velho? Tens apenas trinta e oito anos.

 

— De fato. Se comparamos com o possível remetente daquela carta, eu seria um bebê. Mas ainda assim, não posso dizer que sou um garoto como você, na flor da idade.

 

— Hahaha! Pode ser verdade. Mas está longe de ser um velho que não tem mais forças para agradar uma mulher.

 

— Uma? O dia em que não tiver mais conseguindo me deitar com, pelo menos, três ao mesmo tempo, pode me enterrar, que não vale a pena viver.

 

— Não fale algo do tipo, mesmo duas ou uma podem dar prazer para nós.

 

— Para você talvez, mas para mim que já provei praticamente todas as mulheres dessas terras, não seria.

 

— Desculpe interromper, senhor. Quer mais vinho? —perguntou a serva enquanto se curvava mostrando o decote de seu vestido ao rei.

 

— Hum... Claro. — Lann esticou a taça e, enquanto a moça a preenchia com vinho, ele olhava para as coxas grossas da moça.

 

— És filha única, minha querida? — questionou o rei.

 

— Não, meu senhor, sou a quinta de cinco filhas de meu pai e minha mãe.

 

— Ora essa. E me desculpe a indelicadeza, mas já foi deflorada?

 

—Hihihi! Ainda não, estou esperando a pessoa certa.

 

— Que tal um rei, seria uma pessoa digna?

 

— Mais do que digno. Seria um momento mágico.

 

— Mais tarde, quando acabar seu expediente, passe lá no meu quarto com as suas irmãs que quiserem participar desse momento mágico. Caso alguma delas não queira, substitua por uma amiga. Não ouse aparecer lá sem pelo menos mais quatro mulheres, ouviu? Agora se manda. — Deu um tapa no traseiro da garota e voltou a beber.

 

— Não tenho como superar isso.

 

— Hahaha! Um dia quem sabe. Todos os filhos têm a capacidade de serem melhores do que seus pais.

 

— Todos? Mesmo Loreon?

 

— Hum... Talvez nem todos afinal.

 

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Gerold Lannister

 

Enquanto redigia a carta sobre a mesa, que seria enviada para confirmar as informações contidas na outra que recebeu de manhã, Gerold olhava pela janela de seu quarto, no primeiro andar do castelo, refletindo como o tempo parecia estar diferente estes dias.

 

O céu estava alaranjado, com o sol no horizonte, mas o tempo estava quente demais para o horário. As aves voavam para longe, afastando-se o máximo possível do Rochedo, como se estivessem com medo de algo.

 

Seria esse um sinal? Mas o que poderia ser?

 

Antes de terminar de escrever, ouviu alguém bater na porta chamando pelo seu nome. Ao abrir a porta, viu seu irmão Loreon.

 

— Posso falar com você? — perguntou o príncipe herdeiro.

 

— Claro, estou ocupado escrevendo uma carta a pedido do rei, mas quem se importa? — resmungou Gerold saindo de perto da porta e voltando para sua mesa.

 

— Eu sei que nós não nos damos muito bem...

 

— É mesmo? Nunca tinha reparado.

 

— Estou tentando ser legal.

 

— Eu não.

 

— Tudo bem então. Eu desisto. Você é insuportável.

 

— Esse é o papel da família, irmão.

 

— Eu só vim aqui para saber se poderia me ajudar com relação ao nossos avós, mas... parece que vou ter que descobrir sozinho.

 

— Espera! Como assim avós?

 

— Ora, acha que nosso pai, um belo dia, simplesmente apareceu do nada?

 

— Mas quem disse que eles podem estar vivos ainda?

 

— Ninguém, mas é uma possibilidade real, não acha?

 

— Hum... Talvez. Mas como pretende descobrir isso?

 

— Pensei que você pudesse pensar em algo, já que é o conselheiro do rei.

 

— Há! Agora eu sou importante? Quando dou minhas opiniões e conselhos ninguém quer escutar, e agora que precisa de mim...

 

— Eu sei, eu sei. Não trato você da melhor maneira possível, mas me diga que não está curioso em descobrir?

 

— Quem sabe...

 

— É claro que está.

 

— Certo... Que tal o chá da verdade? Colocamos na bebida do pai e ele vai contar qualquer coisa que perguntemos.

 

— Contaria, e nos mataria em seguida como fez com Elimy e Josef, doze anos atrás, quando pregaram uma peça nele. Convenceram uma serva a jogar um resíduo de gás da verdade no rei, para descobrir onde ele tinha ordenado que guardassem os doces de Codorniz. Lann prendeu a coitada em uma cela por quinze dias, sempre dava água e comida para ela, mas no último dia a mulher morrera. Ao examinar o corpo, não encontraram a causa da morte e como ninguém, a não ser Lann, entrava na cela, não tem como saber o que aconteceu, mas a jovem ao ser buscada tinha lágrimas de sangue. E o que fez com os nossos irmãos foi ainda pior.

 

— Sim, aquilo foi terrível. Coitados! Ele cortou a garganta dos próprios filhos, os encheu de doces e os pendurou em uma estaca na frente do castelo por dois anos, para que servisse de exemplo.

 

— Terá de ser algo bem mais inteligente e sutil. Algo que nem o mestre das pegadinhas pensaria.

 

— Não sei se é uma boa ideia, nosso pai poderia fazer algo muito pior conosco.

 

— Acho que não, sou o herdeiro dele e você seu conselheiro.

 

— Duvido que isso o impeça de nos matar.

 

— Não entendo o que tem tanto medo. Você sempre disse que o pai não dava o verdadeiro valor a você. Esse segredo pode ser uma grande arma contra o velho.

 

— Deixe-me adivinhar... Você quer usar para conseguir atenção do rei?

 

— Não te interessa o motivo. Quer continuar vivendo essa vida de servo que tu levas para sempre? Eu não aguento mais ver um irmão mais novo ser tratado muito mais como um herdeiro do que eu mesmo... Além do mais... Já passou a era dos palhaços reinarem.

 

— Então esse é seu plano verdadeiro... Quer usar o segredo para garantir que vai se tornar rei.

 

— Do jeito que Lann é provavelmente vai viver por muitos anos ainda e não irá sair do trono por nada. Nosso irmão Tyrion pode tentar me matar antes que eu assuma.

 

— Ainda com isso? Embora concorde que os dois guardam segredos demais.

 

— Caso ele se torne o próximo rei, sua vida não vai melhorar nem um pouco, muito pelo contrário.

 

— De qualquer jeito estamos ferrados, é o que quer dizer? Tudo bem, eu concordo em te ajudar, porém, quando assumir o trono, deverás me dar ouvidos e respeitar a mim e aos meus conselhos.

 

Enquanto ambos pensavam em uma maneira genial de descobrir um segredo tão bem confinado, alguém falava do outro lado da porta:

 

— Senhor conselheiro, poderia vir até a entrada do castelo? — chamou um guarda.

 

— O que houve? — respondeu Gerold.

 

— Uma pessoa quer falar com o rei — respondeu o guarda —, mas não tem hora marcada e nem disse seu nome.

 

— Então mande embora. Guardas inúteis. Isso aqui tem ordem.

 

— Senhor, ela insiste. Diz que o rei a espera.

 

— Ela? Deve ser mais uma das putas que o pai chamou para a pequena reunião dele. Tudo bem, já vou.

 

— Bom, vou deixá-lo com sua pequena tarefa. Nos vemos mais tarde — disse Loreon.

 

— E a carta fica para outra hora, de novo — suspirou Gerold.

 

Eu sou o conselheiro do rei ou de um bordel?

 

Ao ir até a entrada do castelo, o décimo quinto filho de Lann, irritado ao extremo, ordenou:

 

— O que estão esperando afinal? Abram os portões.

 

Do lado de fora, uma jovem, que aparentava ter uns vinte e três anos, o encarava como se fosse pular em cima dele a qualquer momento. Não no sentido sexual, no mortal.

 

Suas vestes não eram simples como as de uma plebeia qualquer, nem cheia de “rasgos” para que pudessem ver sua pele, era de boa qualidade, e de cor verde-musgo, com imagens de flores. Somado ao seu ar de superioridade e etiqueta, dava para afirmar que se tratava de uma nobre.

 

— Até que enfim alguém importante veio me receber — disse a jovem de forma meiga, embora seus olhos se mantivessem mortais.

 

— Eu, importante? Acho que te enganastes, minha cara... Qual seu nome mesmo?

 

— Florys.

 

— De que família é?

 

— Da minha.

 

— Com certeza, mas me refiro a qual casa seria a sua?

 

— Novamente... a minha. Florent seria uma boa opção? Talvez Ball? Quem sabe Peake?

 

— Nunca ouvi falar nessas casas. São novas?

 

— Bom, tem também a casa que eu fazia parte antes de me casar.

 

— E qual seria?

 

— Greenhand. Meu pai é Garth Greenhand, Senhor da Campina e rei supremo dos Primeiros Homens. Tenho certeza que Lann terá uma surpresa muito grande ao me receber, não acha?

 


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capitulo:
Uma raposa numa toca de leões



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