Uma Chamada de Socorro escrita por InoriSama


Capítulo 7
Capítulo 6 - A Visão Além de Pisom: Akimichi Choji


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! Poxa vida, perdão pela demora. Queria muito ter postado antes, mas não consegui. Espero que vocês não tenham abandonado a fic, por que eu não abandonei =)

Bom, este é um capítulo com música, então é OBRIGATÓRIA a leitura dele com a respectiva canção, okay? rs
Eu não coloquei a letra inteira da música e será sempre assim: vou colocar os trechos que me convier, que tiverem uma relação especial com o enredo, belezinha?
A música é "In My Place - Coldplay" (https://www.youtube.com/watch?v=gnIZ7RMuLpU), e eu marquei o momento exato pra vocês darem o play com a primeira letra do parágrafo em negrito. "Ah, Inorisama, e se acabar a música e eu não tiver terminado de ler?" Repete. Okay? ;)
Por favor gente, é importante que vocês ouçam enquanto leem. É preciso sentir a história, e a música facilita isso. Esta fanfic terá muito isso.
Acho que é só... Espero de verdade que gostem!

ATENÇÃO: Esta pode ser a sua história, ou a de alguém próximo a você.

Tenha uma excelente leitura!



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Osaka, 18 de junho de 2015.

 

Eu estava ansiosa. Desde que aceitei meu chamado, ainda não havia feito nada com ele; também pudera, mal sabia o que fazer exatamente. Aguardava alguma instrução específica de Neji, mas até aquele momento, ele não havia me aparecido mais.

Eu estava vivendo! Coisa que tinha me esquecido de fazer há algum tempo, e que Sakura me ajudou a lembrar. De fato, algo preenchia o antigo hiato dolente que fendia no incôndito do meu ser; não havia mais o peso de existir. Não havia a desídia em viver, só havia uma alegria estranha que me fazia colocar músicas para cantar enquanto me banhava ou cozinhava; Só o entusiasmo esquisito que me fazia ligar para meus pais todos os dias, ou aceitar ir a algumas baladas com a rosada. Eu procurava no espelho algo que explicasse fisicamente esta ledice, mas era inviável. Demorei, realmente, para constatar que estava dentro de mim.

Não, eu não havia me esquecido dos eventos que vivi no Éden, mas meu ceticismo parecia adquirir algum espaço em minha mente quando voltava à Terra, e eu, às vezes, oscilava entre o que realmente seria real ou apenas minha imaginação. Tudo era surreal demais para o meu intelecto, anteriormente, estritamente científico; estava me acostumando com aquela sensação de crer no invisível e confiar no desconhecido. Era um tanto insólito. Às vezes, volúvel.

 Naquela quinta, Sakura veio passar a noite em casa. As consultas dela são, geralmente, desta maneira: em um barzinho, na minha casa, na casa dela, em algum restaurante... Ela se dizia íntima o suficiente para ter consultas “personalizadas”, o que para mim é válido, uma vez que o que prevalece é o progresso do paciente. E Sakura era mais do que isso para mim.

Ela passou o dia inteiro roendo as unhas e até havia faltado na faculdade; tudo isso por conta das problemáticas das quais ela se envolveu ficando com dois rapazes simultaneamente. A particularidade está no que já relatei antes: eles não estão cientes um do outro. O que me deixava aborrecida era o fato de eu já ter experienciado esta situação com Sai, e me irava ver a semelhança com o cenário de Sakura. E por falar em Sai...

— Você ainda não agradeceu à ele por ter te socorrido, né? – A rosada saía do banheiro, secando os cabelos molhados com uma toalha branca. Ela a estendeu no pequeno varal da área de serviço, ao lado da simples cozinha americana, e esparramou-se pelo sofá.

Eu estava fazendo nosso jantar, com o abdome escorado na pia. Não me recordo do que comemos naquela noite, mas lembro de meu humor variar com a pergunta dela. Falar de Sai sempre é um incômodo que eu procurava, e ainda procuro, evitar.

— Você agradeceu por mim. É a mesma coisa. – tentei camuflar o desconforto com a indiferença em meu timbre.

— Caramba, você o odeia mesmo em! Mas tanto faz! – Sakura saltou do sofá e veio até a copa, me assistir cozinhar. Ela estava mais elétrica do que usualmente. – Você precisa me ajudar a descobrir como vou adiar o pedido de namoro do Gaara, pelo amor de Deus, Ten!

Eu não aguentei e gargalhei achando graça do desespero dela, e sendo corrigida com os tapas da rosa em meu braço. Sakura não tem noção da força física que possui, o que provocou certa ardência no local.

— Pare de me bater, sua louca! – falei entre risos e acariciando a região levemente avermelhada. – Por que você fala que não quer e pronto?

— Por que eu quero aceitar, ué! Mas tem o Sasuke... – ela se pôs a caminhar de um lado para o outro, fazendo um rastro de inquietação no piso quadriculado. – Que merda! As coisas não podem simplesmente ficar como estão?

Eu parei de zombá-la e, após deixar a panela no fogo, peguei-a pelos ombros e sentamos juntas nas altas baquetas, próximas ao modesto balcão de quartzo branco. Decidi levar a questão a sério, pois havia percebido a intensidade da preocupação da Haruno.

Fiz um contato visual firme e trouxe à tona minha postura profissional, o que me exime de dizer o que quero, para dizer o que o paciente precisa ouvir. Fui sincera com Sakura.

— Primeiro, falarei como profissional, pelo o que conheço depois de tanto tempo de consultas, certo? – Ela assentiu, focando totalmente sua atenção em mim. Vi seu receio no modo como apertava as mãos, e percebi que a mesma estava ciente de que seria confrontada com a verdade. – Sakura, o que você está fazendo não é justo com eles dois. É egoísta, pois pelo o que me conta, eles estão apegados romanticamente à você, enquanto que você mantém um como “reserva” do outro. Você “sente” que ama ao Sasuke, mas tem medo de que ele parta seu coração outra vez. Porém, tem em mente que, caso isso aconteça, Gaara estará lá. – seus olhos começaram a marejar e ela tentou desviar o olhar para o chão, contudo eu não deixei, segurando delicadamente seu fino maxilar, para que continuasse com os orbes esverdeados fixos aos meus. – Por outro lado, Gaara é uma pessoa bacana que faz com que você se sinta amada da maneira que não se sente com Sasuke, já que ele é naturalmente apático. Mas você teme se frustrar com outro alguém e sofrer mais uma rejeição, por isso não se desfaz do que sente pelo Uchiha. Você tem medo de não ter ninguém para dormir contigo, para te tocar, embora tudo o que você realmente queira, Sa, é um amor de verdade.

Sakura começou a chorar e se jogou em meus braços, sendo reciprocamente envolvida por mim. Ela é do tipo de mulher resistente e delicada, ao mesmo tempo.

— Agora, falarei como amiga, tá bom? – meu tom mudou, ficando suave e doce. Eu tinha a intenção de ser extremamente realista e mostrar à ela como o que estava fazendo era errado, mas respeitei sua fragilidade e procurei ser mais amável o possível. – Esquece esse Uchiha, Sa. Você consegue sim e pode sim! – Sussurrei ao seu ouvido. Ela se afastou me dirigindo uma feição curiosa, como se eu possuísse a solução pra seus sentimentos inconstantes. – Gaara é legal, não é? Faz você se sentir amada, não faz? Você gosta muito dele, não gosta? – sorri. – Se dê uma chance com ele, Sa!

Depositei um beijo na testa saliente de Sakura e voltei para o fogão. Ela precisava pensar, e eu precisava checar a panela. Tanto a mente da rosada, quanto o recipiente metálico, estavam em ponto de ebulição.

 

Osaka, 19 de junho de 2015.

 

Akimichi Choji estava inquieto. Ele já era um adolescente imperativo, mas naquele momento balançava os joelhos em um ritmo acelerado, enquanto sujava-se todo com o costumeiro salgadinho que comia. Irritou-me um pouco ver os farelos caídos em meu sofá limpo, mas apenas suspirei e perguntei-lhe como estava. Choji não precisava de mais repreensões. Seus pais já faziam muito isso.

  - Tá tudo bem sim Tenten-san! – percebi as gotas de suor nos cantos de sua testa e em como sua voz soou uma lástima. Parecia atordoado. – Você quer?

Ele me estendeu o pacote forçando um sorriso, e eu simplesmente neguei com a cabeça, sorrindo também. Sentei-me em uma poltrona a sua frente, percebendo que não apenas a mesinha de centro estava entre nós. Choji esconde todos os seus traumas e tristezas dentro si, sempre forçando uma alegria falsa, acompanha do sorriso superficial, para evitar que as pessoas o vejam como rúptil. Ao passo que se achava fraco por crer que seus problemas eram insignificantes, ele acreditava que resolvê-los sozinho era sinal de força. Mesmo que não encontrasse solução para eles, ainda assim se sentia valente por ninguém saber e querer ajudá-lo. Ele buscava provar para si mesmo que era capaz de expulsar seus próprios demônios.

Assim como Sakura, Choji sofria de um Transtorno Alimentar, mas ao contrário dela, lutava contra o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica, e sua Ansiedade Crônica era um fator agravante deste quadro. O Akimichi tinha apenas onze anos e já enfrentava as adversidades da Obesidade Mórbida Infantil, e as crianças da sua escola não favoreciam sua melhora, cometendo contra ele abusos como o bullying. Ele já havia trocado de colégio no início do ano, mas seus pais não eram compreensíveis com o seu caso. Choji era solitário, e acredito que eu era a única a ouví-lo com apreço.

— Choji... O que houve? – perguntei, com a voz complacente. Meus olhos se semicerraram, estudando o corpo tensionado do menino cevado à minha frente.

— N-nada não! N-não houve nada! Eu estou b-bem! – e mais uma vez, aquele sorriso dolorido. Ele encobria bem a vontade de chorar, mas não de mim. – Está tudo bem na minha escola! Eu fiz um amigo, sabia?

— É mesmo? Quem é? – contornei a mesinha e sentei-me ao seu lado. Para Choji, eu era uma amiga. E para mim, ele era como um irmão mais novo. A realidade dele realmente estremecia meu coração.

— Tem o Shikamaru! Ele é muito inteligente e legal! – Choji mostrou os dentes em seu primeiro sorriso sincero, desde que chegara. Mas logo o traço aberto murchou, seu olhar se perdeu e a mão suja de farelos caiu em seu colo. – Eu... Às vezes, eu queria ser ele... – sua mente viajou para longe e encarei o estado pensativo em que se encontrava, percebendo que ele havia se esquecido completamente da minha presença. – Ele é inteligente, legal, bonito... Ele é magro...

Comecei a duvidar se realmente Shikamaru era um bom garoto, já que para Choji até seus valentões eram crianças generosas. O enorme coração ludibriava sua vista, tudo para se proteger da verdade do que vivia. De que ele era odiado pelos colegas. Uma chacota ambulante.

Meu coração apertava e eu queria fazer mais por ele. Sentia vontade de conversar seriamente com os Akimichi, que só sabiam cobrá-lo, e acabavam por empurrá-lo cada vez mais para a ansiedade. Para o seu transtorno. Para seu inferno.

Mas eu não podia fazê-lo precisamente. Choji me fez prometer que não falaria com seus pais e, em troca, ele me permitiria ajudá-lo a se ajudar. Mesmo assim, por vezes, tentava estrategicamente tocar em alguns pontos com a mãe do garoto, mas seus cabelos e unhas pareciam ser mais importantes. Aquela mulher é ridícula e sacrifica o filho pela sua própria vaidade. Por outro lado, o senhor Akimichi é um omisso e ausente. Sentia como se a responsabilidade da assistência emocional de Choji fosse completamente minha; como se eu fosse realmente uma figura familiar. Sua irmã mais velha.

Estava refletindo sobre tais coisas com tanto empenho, que não me dei conta do momento exato em que ele começou a limpar as lágrimas que fugiam dos olhos negros.

— Que bobagem né? Eu com inveja do Shikamaru! – Choji esfregava as costas das mãos com raiva em seu rosto, como se quisesse apagar todo e qualquer rastro das gotas salgadas na face rechonchuda. Ele ria constrangido e pesaroso. – Que grande amigo eu sou! Shikamaru não me merece...

— Que é isso que você está falando, Choji? – eu ri descontraída e ele me fitou surpreso. – Você é meu amigo, então sei bem como você é uma pessoa maravilhosa! Agora... Por que você sentiria inveja do Shikamaru? – eu sabia as respostas, mas Choji precisava refletir sobre elas por conta própria.

— Hm, por nada né? É verdade... Que bobeira... – ele voltou a comer do salgadinho, desta vez, com mais calma. – Eu só... Queria entender por que comigo as coisas são diferentes... Por que só as brincadeiras feitas comigo são engraçadas, ou por que só eu não sou escolhido nos trabalhos em grupos e em jogos de equipe na educação física, sabe?... – o menino deu de ombros e me encarou com sorriso fechado – Estranho isso se repetir na minha nova escola... Estranho né?

— Não há nada de errado com você, Choji. Os “amigos” que você faz que são “estranhos”. – falei balançando a cabeça. Ele firmou seu olhar curioso em mim e voltou a mostrar sinais de ansiedade no modo como balançava as pernas. – Escuta, você gosta muito do Shikamaru e quer tudo de bom para ele, não é?

— Sim, sim! Muito! – assentiu caloroso.

— Pois então, você acha que as pessoas que fazem estas brincadeiras, que você não gosta, são suas amigas? – Choji ficou em silêncio, deixando de comer. Decidi lhe propor uma reflexão mais didática, vendo sua expressão pensativa. – Ou, você faria tais brincadeiras com o Shikamaru, sabendo que ele não gosta?

Ele tinha medo de cogitar sobre como seus colegas o viam, mas precisava fazê-lo. Ele precisava ter consciência de quem realmente queria seu bem, e minha expectativa era que ele não permitisse mais os abusos que suportava, uma vez que assimilasse o mal que desejavam para si sem alguma razão aparente. A intenção era que ele escolhesse novas amizades a partir do momento que entendesse o que de fato esta palavra significa.

— Não... – Choji abaixou a cabeça e deixou o salgadinho cair no carpete pardo. – Eles não são meus amigos, não é?

Aquela fora uma pergunta retórica e, como deve ser, deixei que apenas o zumbido que o ar condicionado provocava fosse a minha resposta. O menino voltou a deixar algumas lágrimas lhe escaparem, mas logo voltou a eliminá-las com as mãos. Seus ombros se encolheram, dando-lhe uma postura indefesa.

Eu estava prestes a ajudá-lo a concluir o raciocínio, no entanto fui interrompida abruptamente por sua voz chorosa e seu sorriso fictício.

— Eu já sabia... Mas, nesse caso, acho que Shikamaru também não é meu amigo...

Recordo-me da sensação suspicaz que seu tom de voz obscuro provocou em mim. Uma onda percorreu meu corpo, levantando os pelos do braço. Eu conhecia aquele sentimento, e temi que minha suspeita fosse confirmada.

 

Osaka, 20 de junho de 2015.

 

Até o momento em que me deitei, aquela intuição me acompanhava. Já era madrugada do dia vinte, e eu optei por dormir na sala, por ser o cômodo mais fresco do apartamento e ainda dispor de uma janela-balcão para uma boa corrente de ar. Deixei-a aberta, e logo peguei no sono.

 Acordei sentindo uma maresia balançar o pequeno barco em que estava, e reconheci a silhueta das costas de Neji, que estava em pé à minha frente. Fluíamos morosamente, e quase voltei a pegar no sono por conta do som relaxante que o embalo das águas ressoavam. Tudo estava calmo e escuro. Era noite no Éden.

A visão esplêndida do céu incrivelmente estrelado era privilegiada, e eu tinha a impressão de ver as estrelas se reorganizarem saltitantes, deixando rastros reluzentes pelo espaço. A lua estava cheia, fabulosa e sua proximidade me intimidou; parecia olhar para mim, me hipnotizando com o feitiço de sua luminosidade amarelada. Em cada minucioso detalhe, o céu estava belo

— Uau... – murmurei, enquanto me sentava. Cruzei as pernas, me descuidando da postura ereta que sempre tinha. – Como é linda... E como está perto...

— Você está pronta? – perguntou-me Neji, ainda com o lilás de seus olhos fixos ao longe.

Logo me dei conta de que havia chego o momento de dar utilidade ao meu dom. De estrear o meu chamado. Subi e desci os ombros, suspirando profundamente. Senti uma adrenalina empolgante e, ao mesmo tempo alarmante, correr drasticamente por minhas veias. Eu não sabia ao certo, mas cria estar preparada. Meu único medo eram as possibilidades de fracassar, que pela minha inexperiência, eram estatisticamente maiores.

— Estou. – hesitei.

Neji finalmente virou-se na minha direção e estendeu-me uma mão para que levantasse. Assim que o fiz, tomei lugar ao seu lado, fitando um túnel negro onde o único vestígio que restava do Éden era o rio pelo qual velejávamos.

— Pra onde estamos indo? – desejei tomar sua mão, levada pelo nervosismo que a ocasião sugeria, mas não o fiz. Eu sentia algo romântico por Neji, mas parecia tão desconexo... Tão incoerente.

— Nós estamos no primeiro braço do rio que atravessa todo o Éden: Pisom. – ele pausou e olhou para mim, enquanto gesticulava moderadamente, auxiliando-me a absorver sua explicação. – Este rio tem quatro braços, e os locais onde te revelarei as visões estão ao término deles, fora do Éden. Você não teria a experiência completa, que se faz necessária, se as tivesse aqui. Acredito que já tenha percebido isso.

Eu apenas assenti, reparando minhas mãos transpirarem em tensão. Já não tinha mais tanta certeza de estar pronta, pois as memórias da visão sobre Inari sucederam-me repentinamente, junto às náuseas e vertigens que atestavam a veracidade daquela experiência.

— Cada uma das visões estará ao final de cada um dos braços e, após passar pelos quatro, você completa um ciclo.

— Um ciclo? – repeti. Neji sorriu e afirmou com a cabeça.

— É semelhante às estações, e após a natureza passar por todas elas, encerra-se um ciclo. Estes ciclos indicarão sua maturidade espiritual, e ao final de cada um deles, terá uma recompensa. Uma paga.

Fiquei repleta de expectativa, e fantasiei sobre as inúmeras coisas que poderia elucidar e obter diante daquela oportunidade. Mas tinha o conhecimento de que minha mente humana e limitada jamais alcançaria o primor da “lógica” que regia aquele lugar.

— Que tipo de recompensa? – questionei, com os castanhos brilhantes. Neji negou com a cabeça e desceu da pequena barca de madeira, estendendo-me mais uma vez sua mão. Eu estava tão distraída com a novidade, que mal havia percebido o vácuo ao nosso redor.

Aceitei seu apoio e saí da barca, encarando com estranheza o fundo negro que nos encontrávamos. Era vazio, escuro, inanimado. Era o nada.

Neji passou a mão no ar, como se desenhasse um arco, e nascendo do percurso feito por este, uma imagem tomou forma, nos inserindo em um ambiente escolar. Tudo era cinza.

O receio que pulsava em meu peito antes de dormir me invadiu novamente, e não dubitei mais em segurar a mão de Neji com rigidez. A atmosfera era pesada, e a pressão do ar se tornou mais espessa. Eu respirava um pavoroso miasma que espirava revolta. Ódio.

Quando vi o menino que corria desajeitado pelos corredores vazios, erguendo as calças, antes arriadas, e lamuriando em angústia, congelei no lugar. Era o Choji.

— Meu Deus do céu... – levei a mão até a boca, impressionada com as informações petrificantes diante de mim. Tratava-se de mais um paciente meu, e ele estava em um estado túrbido.

— Ei, gordão, o que foi? – um garoto apareceu na porta do banheiro masculino, chamando a Choji entre risos e deboches. – Você não tem nada demais aí, não me diga que machucou?

 

In my place, in my place

Were lines that I couldn't change

I was lost, oh yeah

 

(Em meu lugar, em meu lugar

Estavam linhas que eu não podia mudar

Eu estava perdido, ah sim)

 

Choji não respondeu, e o cenário seguiu seus passos até um galpão de limpeza, depois da quadra esportiva coberta. Provavelmente o último cômodo do térreo. Ele bateu a porta com violência, fazendo as prateleiras ao redor sacudirem raivosamente. Algumas caixas foram ao chão, mas Choji não ligou; encostou a testa e as mãos na porta e começou gritar enfurecido, junto ao choro que derramava. Havia uma soturnidade horrenda me perfurando no peito. Ela vinha dele.

Apertei a mão de Neji e gritei agoniada, sendo abafada pelo choro soluçado que me transpunha. As pontadas de dor em meu coração assemelhavam-se a dores de infarto. Eu sabia que estava sentindo o que Choji sentia. Conturbação.

 

I was lost, I was lost

Crossed lines I shouldn't have crossed

I was lost, oh yeah

 

(Eu estava perdido, eu estava perdido

Cruzei linhas que não deveria ter cruzado

Eu estava perdido, ah sim)

 

O arcanjo ao meu lado segurou-me pela cintura, evitando minha queda, enquanto ainda me ofertava sua outra mão para descarregar aquele sufoco. Neji tornava tudo mais sofrível.

Voltei a escarar o menino com a vista embaçada, almejando em minha alma que as coisas não terminassem como estavam sendo conduzidas. Morte.

— Por que...? – Choji largou a calça jeans, deixando amostra sua genitália completamente arroxeada, o que me causou um assombro. – Por que?! – ele vociferava, tomado de afogo, destacado em seu berro estridente. Logo entendi o que havia acontecido. Mais uma maldita brincadeira daquelas crianças maldosas. Não me esforcei para adivinhar o que teriam feito à ele, mas o tinham agredido. E, infelizmente, não apenas fisicamente.

 

Yeah, how long must you wait for it?

Yeah, how long must you pay for it?

Yeah, how long must you wait for it?

For it, yeah

 

(Sim, por quanto tempo você tem que esperar por isso?

Sim, por quanto tempo você tem que pagar por isso?

Sim, por quanto tempo você tem que esperar por isso?

Por isso...)

 

Ele estava amedrontado e encarava seu membro sem saber o que fazer e, apesar de sentir o medo da morte que ele emitia, percebi ao mesmo tempo o anseio dele em por fim àquilo tudo. A si mesmo.

Choji estava na escuridão daquele cômodo fétido, socando a parede com o ódio mais animalesco que já vi; e foi então, que no canto oposto ao menino, os olhos avermelhados se fizeram visíveis. Era a única cor no ambiente plúmbeo.

— Neji... Me diz que isso não vai acontecer de novo... Me diz que isso não vai acontecer de novo! – esbravejei, observando a coisa deformada se aproximar da figura desequilibrada de Choji.

— Estou te mostrando isso para que você tente impedir que o pior aconteça. Não está mais ao nosso alcance, Tenten. – Neji estava estabilizado, e eu não compreendia se aquilo era insensibilidade ou apenas sobriedade. Porém, algo era óbvio: ele estava preocupado.

 

I was scared, I was scared

Tired and underprepared

But I waited for it

 

(Eu estava assustado, eu estava assustado

Cansado e despreparado

Mas eu esperei por isso)

 

— Você é um lixo, Choji. Vamos, acabe com esse fardo que você é pra seus amigos e sua família. Eles te odeiam, você não vê? – a criatura sussurrava ao pé do ouvido do garoto, usurpando da identidade da voz do Akimichi. Ele desejava soar como a consciência de Choji.

— Eu sou um fardo... Por isso todos me odeiam... Devo ser uma pessoa horrível... – murmurava com a voz falha, aceitando com facilidade as ideias absurdas que ouvia. – Eu... Nunca quis ser assim...

Choji levantou sua vestimenta e gemeu de dor ao fechar o zíper do jeans. Acendeu a luz do pequeno local e olhou perdido para cada objeto nas prateleiras. Quando minha dor começou a amenizar, pressenti o que ele estava prestes a fazer. Choji não queria mais esperar, apenas queria descanso absoluto daquela infelicidade dilacerante.

 

Yeah, how long must you wait for it?

Yeah, how long must you pay for it?

Yeah, how long must you wait for it?

For it, yeah

 

(Sim, por quanto tempo você tem que esperar por isso?

Sim, por quanto tempo você tem que pagar por isso?

Sim, por quanto tempo você tem que esperar por isso?

Por isso...)

 

— Olhe ali, ao lado do frasco rosa. – o demônio enrolou um de seus membros ao redor do pescoço do garoto e conduziu seu queixo para a direção de uma caixinha pequena. Rodenticida. – Aquilo é perfeito. Não há como errar.

— Se eu... Se eu tomar isso... – Choji pegou a caixinha em mãos, analisando os escritos em extrema desordem mental. – Não vou errar, não vou ter chances de sobreviver... Pelo menos alguma coisa eu farei certo na minha vida...

 

In my place, in my place

Were lines that I couldn't change

I was lost, oh yeah

 

(Em meu lugar, em meu lugar

Estavam linhas que eu não podia mudar

Eu estava perdido, ah sim)

 

Sentei-me na cama em um sobressalto, percebendo o banho de suor que ensopava minha fina camisola. Senti meu corpo frio e meu coração célere, quase saltando por minha boca. Meus pensamentos sobre Choji se debatiam desarranjados, quando ouvi a voz aprazível a qual constatei ser de um homem iluminado, de costas para minha janela.

— Acalme-se, Tenten. – assustei-me com sua presença, antes silenciosa, mas logo percebi que, como Neji, seu aspecto era plácido. Sua influência, pacífica.

Ele era alto e fisicamente corpulento, exalava vigor. Passava uma sensação agradável de companheirismo e segurança, e seus olhos azulados possuíam um brilho benévolo. O loiro, dos cabelos rebeldes, harmonizavam com o dourado da armadura lustrosa sobre as vestes brancas. Parecia um guerreiro.

— Quem é você? – indaguei com a voz calma. Ele sorriu abertamente e me saudou, encurvando parcialmente a cabeça.

— Meu nome é Naruto. Estou aqui para ajudá-la e é o que farei.


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Notas finais do capítulo

Ufa! Mais de 4 mil palavras! Espero ter compensado (pelo menos um pouquinho, vai) a demora para atualizar. Eu estou com um projeto (ferrado!) na faculdade, mas eu já disse e volto a afirmar: não completarei uma semana sem atualizar a fic! Prometo!

Em contagem regressiva para Neji terreno entrar em cena. Preparadas(os)? Em breve!

Acho que não esqueci nada, então... Até o próximo capítulo!



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