Meredith Gruwell escrita por Karina A de Souza


Capítulo 5
Sonho, Lembrança e Realidade


Notas iniciais do capítulo

Bom dia/Boa tarde/Boa noite, pessoinhas :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/741826/chapter/5

Harry, Hermione e Rony me chamaram para acompanhá-los após o término das aulas. Eles sabiam que os olhares estranhos estavam me incomodando mais do que nunca. Nós quatro fomos até a cabana de Hagrid.

—Você parece do mesmo tamanho. –Comentei, enquanto ele nos deixava entrar.

—E você parece pequena do mesmo jeito. –Um cachorro correu na nossa direção. –Esse é o Canino, você não o conhece.

—Adoro cachorros. –Me abaixei, o cão era enorme, e ficou maior que eu quando me abaixei. –Nunca pude ter um no orfanato.

—Você morava num orfanato?-Hermione perguntou.

—É. Num orfanato bruxo. Meus pais... Morreram num acidente.

—Me lembro disso. –Hagrid disse, colocando alguns copos na mesa. –Conheci seus pais, eram boas pessoas. Depois você foi enviada ao primeiro orfanato bruxo, não é?-Assenti.

—Existe um orfanato bruxo?-Harry perguntou, então olhou para Hagrid.

—Que isso, Harry? Você não poderia ter sido enviado para lá, a situação era diferente. Meredith não tinha ligação com Você-Sabe-Quem. –Esfreguei a cabeça de Canino, evitando pensar nos meus pais. –Então, Meredith, como estão te tratando?

—Depende. –Sentei ao lado de Hermione. –Alguns me tratam bem, como esses três aqui. Ou uma menina loira muito engraçada que sempre me cumprimenta no corredor. Mas tem uns...

—Como Draco Malfoy. –Rony murmurou.

—Isso mesmo.

—Vai me dizer que arrumou encrenca com o Malfoy filho?-Hagrid perguntou.

—Ah, deve ser uma maldição, sei lá, ter problema com aquela família. Impossível ir com a cara de algum deles.

—E Snape?

—Pior do que pode imaginar. Ele ainda me odeia.

—Pelo menos tem Sirius... –Quase me engasguei com o chá. Harry parecia curioso. –Vocês também brigaram?

—Podemos falar de outra coisa?

Mais tarde voltamos ao castelo. A garota loira que sempre me cumprimentava parou na nossa frente, sorrindo.

—Sabe, não acho que seja louca. Você, Harry e eu somos muito injustiçados aqui. Somos normais. –Tive a impressão de que Rony tentou segurar uma risada. –Sou Luna. Luna Lovegood.

—Obrigada, Luna.

—Bom, vamos, o jantar logo vai começar. –E saiu na frente, saltitando. Hermione parou ao meu lado.

—Ela é doidinha. –Sussurrou. –Mas uma boa pessoa.

***

—Algum de vocês entendeu o que Snape explicou hoje?-Perguntei, enquanto seguíamos para a Sala Comunal. –Sério, eu juro que não entendi nada das poções que ele mostrou hoje.

—Não só você. –Rony disse. –E ele ainda pediu trinta centímetros de pergaminho de cada poção.

—Entendi só uma delas. –Harry comentou. –A primeira.

—Isso é tão... –Bufei. –Nem mesmo nosso antigo professor, o senhor Slughorn passava tanta coisa. Acho que Snape gosta de infernizar os alunos.

—Você acha?-Paramos. Havia um grande congestionamento de alunos na nossa frente.

—Severo faz Poções ser uma tortura. Eu costumava gostar da matéria... Até ele a ensinar. E, ainda por cima descontou dez pontos da nossa Casa, só porque eu derrubei um caldeirão sem querer.

—Aquilo foi mesmo sem querer?-Hermione perguntou. –Por que ele caiu bem na hora que Snape estava passando. Ele se sujou todo.

—Foi um acidente. Mas ele bem que merecia. Mas provavelmente deveria ser com alguma poção que criasse tentáculos nele todo ou algo assim. Éramos amigos, mas esse Severo Snape é terrível. Como raios ele ficou assim? Não costumava ser esse... Morcego bizarro que é agora. Eu devia... –Alguém limpou a garganta. Hermione empalideceu na minha frente, olhando por cima do meu ombro. Rony desviou o olhar. Harry parecia estar prendendo a respiração.

—Gruwell. –Me virei, sabendo que estava ferrada. Era Snape. –Menos dez pontos da Grifinória por causa da língua, e detenção.

—O que? O que eu...

—Na minha sala, oito e meia, ou perderá mais do que dez pontos.

—Mas eu...

—É bom aparecer. –E se afastou, sumindo entre os alunos.

—Que droga.

—Ele provavelmente vai te envenenar. –Rony disse. Hermione deu um tapa no braço dele. –Ai! Que? Vocês viram a cara dele.

—Boa sorte. –Harry disse. –As detenções dele não são nada legais.

***

Eu seriamente cogitei não aparecer na detenção de Snape. Mas imaginei que ele tiraria muitos pontos da Grifinória, e achei melhor não arriscar. Além disso, eu respeitava as ordens dos professores, mesmo que não gostasse deles. E não podia agir como se estivesse acima das regras: eu tinha voltado da morte, mas só isso. Era uma aluna comum. Ia obedecer cada ordem.

Me despedi do trio que estava ao meu lado na Sala Comunal, e saí. Enquanto saía, ouvi Rony murmurar para os outros que Snape ia me colocar num caldeirão fervendo. Eu não duvidava.

Coloquei a mão no bolso. Dumbledore havia entregado minha varinha. Disse que alguém havia a guardado, e que ela devia ficar comigo. Me perguntei quem poderia ter ficado com ela por todos esses anos. Sirius? Mas se era, por que não me disse?

Deixei de ficar me perguntando sobre isso e bati na porta. Snape me mandou entrar.

—Espero, Gruwell, que esteja vendo todos esses caldeirões. –Começou. Não respondi. –Todos eles precisam ser limpos.

—Tá. –Me movi pra pegar a varinha.

—Não, não. Sem magia. –Respirei fundo. Era como uma represa. Uma que estava estourando.

—Pra que esse show todo, Severo? Sério. Não aja como se eu fosse qualquer outra aluna, e não uma que conheceu você no passado. Éramos amigos...

—Sempre batendo na mesma tecla.

—Por que você se esqueceu disso! Vinte anos. Vinte longos anos e você não pode me perdoar por algo que, pra começar, eu nem fiz!

—Abaixe o tom de voz...

—Não! Você vai me ouvir! Eu não fiz nada errado. Se Lílian escolheu Tiago...

—Meredith...

—A culpa não é minha! Você não entende? Não foi algo que eu fiz, foi algo que aconteceu. Por que você não pode entender isso?

—Meredith Gruwell, pare agora...

—Ou vai tirar pontos da Grifinória? Ambos sabemos que no fundo não é o que importa. Lílian estava apaixonada...

—Chega!

Foi muito rápido. Ele ergueu a varinha, então eu estava no chão, as coisas escurecendo rápido demais.

Eu estava apenas andando no corredor, então senti a presença de alguém atrás de mim. Me virei, estava sendo seguida. Comecei a correr...

—Meredith? Meredith, acorde.

...Era rápido, rápido demais. Eu nunca seria rápida o suficiente...

Eu estava presa entre sonho, lembrança e realidade. Parte minha estava revivendo cinco de dezembro, a outra estava caída no chão de pedra, pedindo ajuda.

Snape me levantou, pegando-me no colo e me tirando dali.

...Continuei correndo, o pânico me invadindo...

—Meredith? Pode me ouvir?

—Ele está vindo... –Sussurrei. Não vi os corredores passando por nós, apenas a noite da minha morte. –Não o deixe me pegar, não o deixe chegar perto de mim...

—Meredith.

...Parei, cansada. Meu reflexo no vidro parecia apavorado. Eu devia estar assim. De repente, ele estava atrás de mim...

—Não o deixe me empurrar. –Implorei, lágrimas caindo. –Não...

...Suas mãos, abertas, acertaram meu peito. Então eu estava mergulhando para o nada...

—Não! Não!

—Meredith... Meredith, pare...

Tudo sumiu, o sonho, a lembrança e a realidade.

***

Acordei me sentindo como se algo tivesse sido arrancado do meu interior. Eu normalmente me sentia assim quando terminava de ler algum livro triste, mas sabia que não era isso o que tinha acontecido.

Estava na enfermaria. A porta abriu e Minerva entrou rapidamente, parecendo preocupada.

—Gruwell, já acordou? Como está?

—Estranha. –Respondi. –O que houve?

—Parece que teve uma crise. Chegou aqui gritando, então apagou. Pouco depois recomeçou a gritar. Não foi nada fácil fazê-la parar.

—Eu... –Comecei a me lembrar da noite anterior. –Snape.

—Foi ele que a trouxe aqui.

—Foi. Mas ele... Ele foi quem me deixou daquele jeito. Ele me enfeitiçou.

—Meredith...

—Não estou mentindo! Foi ele! Nós discutimos, então ele ergueu a varinha... E não sei o que fez, só sei que de repente eu estava revendo a noite da minha morte.

—O professor Snape não faria algo assim, Meredith.

—Ele fez! Eu sei que fez! É claro que ele não vai confessar...

—Por que ele a traria aqui se tivesse a enfeitiçado?

—Ele sabia que se me machucasse, todos iam saber. Eu estava cumprindo uma detenção com ele. Pergunte a Harry, Hermione ou Rony. Os três o ouviram me deixar de castigo. –Minerva suspirou.

—Bom, sugiro que descanse, e depois pode retornar às suas atividades.

—Mas...

—É isso, Gruwell.

—Tudo bem.

Horas depois fui liberada. Sem surpresa, a escola toda sabia que eu havia tido um “surto” e que fui parar na enfermaria. É claro que muito do que diziam era uma completa mentira. Uma garota do segundo ano, eu ouvi, estava dizendo que eu havia desmaiado enquanto tentava atear fogo no colégio. Um garoto da Sonserina disse que ataquei Snape com uma Avada Kedavra, mas errei e ele me azarou. As coisas ficaram absurdas o suficiente para dizerem que tentei matar Dumbledore e Harry.

—Sério, estão indo longe demais. –Comentei, andando ao lado de Potter para a aula de Herbologia.

—Eles sempre vão. Ignore.

—Hum, preciso falar com Hermione sobre as roupas que ela me emprestou. Você a viu?

—Ela disse que ia à biblioteca e que fala com você depois.

—Tá.

—O que houve com as suas coisas depois que você morreu?

—Não faço a mínima ideia. Talvez tenham doado, ou distribuído no orfanato onde eu morava.

—Mas sua varinha está com você agora.

—É. Dumbledore me entregou, e não disse quem a guardou. Achei que as varinhas eram enterradas com seus donos. Bom, seja como for, estou com ela.

Depois de Herbologia fomos para Transfiguração, onde Minerva me avisou que Snape havia cancelado minha detenção e que para compensar tirou vinte pontos da Grifinória.

—Não sei o que disse a ele, Gruwell, mas é bom não repetir. –Aconselhou, desapontada por eu ter perdido tantos pontos. Engraçado, só Snape me tirou pontos, os outros professores pareciam não ter problemas comigo.

***

Eu estava quase atrasada para o jantar. Na pressa, correndo pelos corredores, esbarrei na professora Trelawney. Eu não fazia adivinhação, mas já tinha a visto algumas vezes. Harry e Rony detestavam a matéria dela.

—Desculpe, professora. –Pedi, dando um passo para trás.

—Ah, Meredith. Queria mesmo falar com você. Talvez devesse passar na minha sala.

—Eu fiz alguma coisa...?

—Não, não. Mas poderia tentar ver seu futuro. Creio que tem algo... Que devíamos desvendar.

—Hã... Ah. –Harry havia me dito que a professora sempre previa morte pra ele. Se fosse fazer o mesmo comigo, a coisa ia ficar feia. –Podemos conversar depois? Estou atrasada...

—Claro, claro. –Passei por ela, sem olhar para trás. Trelawney fez um som estranho. Me virei.

—Professora?-Ela já era esquisita, mas agora parecia ainda mais. Hesitei em me aproximar dela. –Professora?

A Morte não saiu de perto de você, Meredith. Você não escapou dela completamente. Ela está de olho em você. Não pode se esconder dela. Está esperando, esperando a hora certa. E ele está atrás de você...

—O que?-Então, como veio, sumiu. Ela estava normal de novo.

—Disse alguma coisa, querida?

—Não. Eu... Preciso ir. –Me virei e corri para o Salão Principal. Me sentei ao lado de Hermione, na frente de Rony e Harry.

—Está tudo bem?-A garota perguntou. –Você está tremendo.

—Encontrei aquela professora estranha de Adivinhação...

—E ela previu sua morte?-Harry perguntou.

—Ela disse que a Morte está... De olho em mim. Que não posso me esconder dela. E que... Alguém está atrás de mim.

—Claro. –Hermione disse, bufando. –Qualquer um poderia fazer uma “previsão” dessa. Você voltou da morte, e sonha que tem alguém atrás de você. Esses dados são úteis.

—Não sonhei com isso. Tem alguém atrás de mim.

—Com licença. –Olhei para o lado. Nick, o fantasma que estava ali muito antes de eu entrar para Hogwarts, estava inclinado na minha direção, parecendo curioso.

—Sim?

—Como foi que fugiu da Morte?

—Como eu... Não sei. Eu... Não fiz nada.

—Bom, alguma coisa você fez. Quando morreu... O que aconteceu?

—Você já estava aqui naquele tempo, sabe o que aconteceu.

—Mas não presenciei sua morte.

—Eu... Apenas... Caí pelo vidro. E tudo escureceu... Quando abri os olhos de novo, estava caída no mesmo lugar. Pouco depois Minerva apareceu.

Me lembrava da exata sensação de morrer. Atravessei o vidro, caindo, e sabia que ia morrer. Me obriguei a deixar os olhos abertos e encarar o céu estrelado mais uma vez antes de partir. Apaguei antes de atingir o solo.

—Mas como e por que voltou?-Nick insistiu.

—Eu não sei... Eu não fiz nada.

Aconteceu de uma hora para outra. De repente parecia que eu estava embaixo da água. A cabeça parecendo cheia de algodão e vazia ao mesmo tempo. Pisquei, enquanto algumas coisas entravam e saiam de foco. Alguém segurou meu braço esquerdo, Lílian, no lugar que Hermione ocupava.

—Meri?-Ela perguntou, preocupada. –Meri, o que foi?-Pisquei mais algumas vezes, Hermione reapareceu, mas sumiu de novo, e era Lílian ali. Desviei o olhar dela, confusa. Tiago e Sirius estavam sentados na minha frente, conversando sobre quadribol. Pedro estava ao lado deles, comendo sem parar. Remo apareceu, sentando ao lado de Sirius, um livro em mãos.

Me afastei da mesa. Tinha alguma coisa errada.

—Meredith. –Lílian chamou. Me soltei dela e levantei. Na mesa da Sonserina alguém ergueu a cabeça. Severo. –Meredith, o que foi?

Olhei na direção da mesa dos professores. Era como se tinta escorresse de um quadro, revelando algo diferente embaixo. Minerva disse algo para Dumbledore, os dois olharam pra mim e levantaram, Snape fez o mesmo. Olhei para a mesa da Sonserina de novo. Snape estava ali também.

—Meredith!-Lílian chamou de novo, parecendo desesperada. Dei alguns passos para trás. –Meredith, o que está acontecendo?-Alguém riu na mesa da Sonserina. Lúcio. Sirius olhou feio pra ele, e então pra mim, preocupado. Ele e Tiago levantaram, começando a dar a volta na mesa. Remo largou o livro que estava lendo. Pedro nem pareceu ter notado que havia algo estranho. –Meredith, por favor, o que foi?

O mundo começou a se inclinar, depois percebi que estava caindo. Alguém me segurou antes que eu caísse, então tudo ficou escuro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Em breve saberemos o que aconteceu com os pais de Meredith envolvendo esse "acidente". E essas loucuras da Trelawney? Prestem atenção nelas.
E aí, o que estão achando? Comentem aí. E obrigada a quem está acompanhando e comentando ♥