Estava chovendo naquele dia infortúnio, o céu já estava escuro como se já fosse noite, e o sol já havia morrido por conta das nuvens que o cobriam. Porém, mesmo com esse cenário melancólico, duas figuras ainda estavam recebendo a chuva com grande descuido.

— Me desculpe... Mas... Acho que não posso mais ficar com você. – A garota abriu a boca para falar, mas sua voz estava sendo abafada pela chuva. Mesmo assim, o garoto que estava a sua frente pôde ouvir suas palavras em alto e bom som.

O rapaz nada disse, apenas a encarou, sendo consumido pela chuva e a tristeza que havia ali. Não havia mais nada que poderia ser feito.

Havia acabado.

...

Um ano depois...

Vincent Fox era um rapaz bem sucedido na vida. Único filho de um homem de grande prestígio e herdeiro do trono do pai em uma das maiores empresas de tecido do mundo. Era reconhecido tanto pela grande qualidade de suas roupas e também por conta de sua carreira como modelo, que começou quando tinha apenas 12 anos de idade. Vincent tinha tudo que precisava para fazer sucesso, dinheiro, influência, beleza, fama...

 Mas algo faltava. Ele podia sentir. Ele queria algo mais, algo que realmente iria fazer as pessoas caírem de joelho sobre ele... Algo que o fizesse ainda mais popular, ele precisava de algo que fizesse as pessoas lutarem até a morte por ele.

Um escândalo.

É comum no mundo das celebridades sobre pessoas se separando entre elas para ficarem juntas de outros famosos, mas isso é coisa de ralé, celebridades do povo, tão nojentas quanto a própria plebe que os adora. Porém, no mundo das celebridades de alto escalão, a coisa é diferente.

Assim como acontece na realeza ainda existente no mundo, a pior coisa que poderia acontecer à família real, mas também a melhor para o público que os assiste, é um escândalo. O herdeiro do trono se enamorando de uma plebeia.

Não era por amor, porém, era puramente para fazer sua imagem ganhar uma visão totalmente diferente. Pois afinal, se algo grande escolhe algo pequeno para acompanhá-lo, “por que não eu?” pensarão.

E isso seria mais do adequado em sua situação.

Vincent é jovem, no auge dos seus 17 anos, além de bonito e extremamente popular, sabia que aonde passasse, garotas de todas as idades iriam querer se aproximar, o tocar, mas nada passaria de um simples endeusamento de sua pessoa.

Ele não queria ser visto como um deus intocável, mas sim como um anjo acessível.  Se as pessoas que o adoram vissem a única oportunidade para alcança-lo então iria ser um banho de sangue.

E Vincent estaria no topo, observando, com o sentimento que mais almejava: prazer.

. . .

— Vincent não é uma pessoa normal... – Chao continuou, olhando para sua xícara de chá com um olhar meio triste. – Ele consegue o que quer quando quer, e faz coisas incompreensíveis quando quer e só porque bateu vontade... Ele realmente está em um nível totalmente diferente de qualquer um de nós.

Lysandre olhou para baixo, com uma mão no queixo. Parecia pensativo.

— Na verdade, mesmo quando o namorei por um tempo, eu nunca conheci seus pais, ou sua família no geral, ele nem me deixava saber o endereço da casa dele...

Castiel soltou um longo e pesado suspiro, obviamente insatisfeito com o que estava ouvindo.

— Eu estou começando a pensar que esse cara é mais problemático do que podemos lidar... Mas afinal... – O ruivo olhou para Chao com uma expressão de dúvida. – O que uma pessoa de elite vem fazer nessa cidade, e justamente na nossa escola? Sweet Amoris pode até ser uma escola particular mas não é tão famosa assim, e sinceramente, não tão boa...

Castiel suspirou uma vez mais, antes de continuar.

— Se ele pode ir para qualquer escola que deseja, por que essa?

— Será... Que é só porque Chao está nela? – Lysandre falou com sua voz baixa e monótona, finalmente levantando a cabeça.

Chao tossiu, quase que soltando chá pelo nariz ao ouvir isso.

— O que isso significa? Eu não sou um tipo de protagonista ou algo assim... Mesmo que eu e ele tenhamos tido alguma coisa no passado, conhecendo como ele é, ele não faria isso nem em um milhão de anos. Ele querer me forçar em um relacionamento assim do nada deve ter algum motivo oculto por trás...

— Motivo oculto... – Lysandre voltou a pensar, parecia mais sério do que antes. – Poderia ser... Que algo mais nessa escola o interessa?

— Isso soa ainda mais estúpido. O que nós temos que o interessa? As garotas daqui nem são tão bonitas assim... – Castiel encostou as costas no sofá, cansado da discussão.

— Esse não é o que o interessa no caso... Se Vincent é a pessoa que Chao está nos contando realmente... Isso não faria nenhuma importância para ele. – Lysandre endireitou as costas e fechou levemente os olhos, entrando em sua zona zen para se concentrar melhor. – De fato, acho que já sei porque escolheu “um peixe pequeno” como nossa escola para agir...

Chao e Castiel se entreolharam com a mesma expressão de confusão, olharam de volta para Lysandre, ansiosamente esperando uma resposta.

O rapaz com os olhos heterocromáticos olhou para os outros dois, ainda com a mão debaixo do queixo.

— Ninguém se importaria realmente se ele fizesse o que quer aqui. Ele pode destruir tudo dessa escola, e ainda sair impune por sua grande influência e dinheiro. Se pusermos Chao na equação como apenas mais uma peça, porém que tenha certa importância em sua estratégia... Então, o prazer de fazer isso seria duplamente maior para ele... Não acha?

Tanto a garota, quanto o garoto ruivo arregalaram os olhos. Aquilo era muito maior do que esperavam desse problema que havia caído em suas mãos.

— Destruir a escola? O que você está querendo dizer com isso? – Chao se sentiu angustiada, parcialmente culpada da situação, mas especialmente desesperada.

— O que eu quero dizer... É que ele pode tanto manipular os alunos e o conselho estudantil, quanto literalmente destruir a escola por dentro ao fazer isso... Realmente, eu diria que isso é um sadismo em um nível elevado, e absolutamente crônico. – Lysandre soltou um leve suspiro, tomando um gole do chá. – Vincent Fox... É um sádico de primeira classe.

Foi o que ele disse.

Mas, como sair de uma situação dessa? Afinal, como algo assim foi acontecer tão rapidamente? Mesmo descobrindo um possível motivo para sua chegada, realmente... O que alguém como ele queria?

. . .

Um ano atrás...

— Eu? Por... Por que? – a garota ruiva parecia confusa, cheia de sentimentos contrários dentro de si. Seu coração batia forte, e sua cabeça estava bagunçada.

— Você é uma pessoa intrigante, bem mais interessante do que eu antecipei... Se for do seu agrado, eu gostaria de saber mais o que você esconde dos olhos das pessoas ao seu redor... De fato, eu quero ser a única pessoa que saiba quem você realmente é... “Pequena Chao”.

“Por favor, me dê a honra de ser seu namorado.”

...

— Você realmente acha que damos conta de lidar com ele? – Chao suspirou, andando de volta para casa com Castiel ao seu lado, igualmente frustrado.

— Se ele for tudo o que achamos que é e se Lysandre estiver certo... Não, eu não acho... – Ele bufou, cruzando os braços enquanto andava. – Para ser bem sincero acho que as coisas só vão piorar daqui para frente...

— De alguma forma eu sinto que isso é culpa minha... Se eu não o conhecesse...

— Se você não o conhecesse, ainda haveria uma chance de ele vir para essa escola com o mesmo motivo e a vida de todo mundo seria uma merda do mesmo jeito. Não é culpa sua. Você é melhor que isso, droga.

Castiel parecia irritado, mas isso não a magoou, apenas a fortificou. Ela levantou a cabeça e olhou para o rapaz.

— Então, vamos dar nosso melhor. Não é?

O garoto soltou uma leve risada, quase que de deboche.

— Claro, claro... Vamos ver o que podemos fazer.