Blindfolded escrita por Berezi


Capítulo 10
Capítulo 10




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Mais uma semana havia se passado, mas o sentimento que havia era de que o tempo havia parado. Nenhum progresso havia sido feito quanto a Vence, e o “trio imbatível” estava sem ideias para começar a agir. Tinham acabado em uma rua sem saída, ou apenas reparado que estavam em uma.

Os três estavam sentados na grama, no pátio da escola. Lysandre havia trazido um lençol para que ninguém fosse incomodado pela grama. Sentado, estava apreciando chá de camomila, que também havia trazido e feito.

Enquanto isso, Castiel estava deitado no lençol, de olhos fechados, possivelmente dormindo, e Chao estava brincando com os fios de cabelo do garoto, que não parecia se importar.

— Que dia mais pacífico, não é? – Disse Lysandre com um leve sorriso em sua face, assoprando o chá e tomando um gole dele logo em seguida.

— Chato você quis dizer... Não conseguimos pensar em nada quanto a você sabe quem... – Chao suspirou de modo pesado, obviamente frustrada.

— Mas, hoje ele não te importunou, não? Já é um progresso... E também algo que devemos levar em consideração se ele é alguém que realmente desejamos “derrotar”, pondo de modo simples...

A garota se deitou ao lado de Castiel e soltou um grunhido. O modo de falar de Lysandre poderia ser um tanto excêntrico, mas sua linha de raciocínio era geralmente quase que incompreensível.

— Aonde quer chegar? – Perguntou impaciente o garoto ruivo, que finalmente decidiu falar, quebrando seu momento de relaxamento.

— O que eu quis dizer é... Eu não vi Vence o dia todo na escola. Assumindo a conclusão de que o mesmo não veio não acha estranha a súbita mudança de atitude? Não sei quanto a vocês, mas eu achei interessante a ideia de focar nele como uma prioridade, e pude notar que ele tem uma rotina.

— Uma rotina? Como assim? – Perguntou Chao, se sentando novamente, interessada.

— Na semana passada eu tirei a maior parte do meu tempo o observando pela escola e pude notar que ele possui um padrão... Bem peculiar. – Lysandre sorriu de modo diferente, pondo sua xícara de porcelana ao lado de sua mochila.

...

“Pode me encontrar no parque central? Eu quero falar com você... Venha sozinha, não quero que nenhum de seus amigos toscos venha atrapalhar... Quero ter uma conversa privada. Sem truques.”

Chao parou no meio do caminho quando viu a mensagem que havia recebido. Lysandre e Castiel a olharam, indo até ela para ver o que havia de errado.

Quando leram a mensagem, os três tiveram a mesma expressão no rosto: desconfiança.

— Você não vai, né? – Castiel começou, já ficando irritado. – Isso parece mais do que suspeito para mim e você não é burra para cair nessa.

Lysandre acenou com a cabeça, concordando.

— Eu não acho sábio ir de encontro com ele sem acompanhamento... Sugiro que se decidir de ir que pelo menos nos leve junto.

— Eu não sei... Não sei se vai ser a mesma coisa se eu aparecer com vocês... Vence já reparou que nós andamos juntos demais, mas eu realmente estou me perguntando o que ele quer... – Chao apertou de leve o celular, e então, ergueu a cabeça subitamente. – Já sei!

Ela ficou de frente com os dois e sorriu de leve, animada com a ideia que teve.

— Ok, eu tive uma ideia... Agora prestem atenção e façam exatamente o que eu falar...

...

O parque central estava deserto. Os pássaros do final da tarde passavam por cima dele em grupo, indo para o sul. O vento estava pacífico, revolvia suavemente as árvores e arbustos do parque, e a distância, apenas uma pessoa poderia ser vista fazendo presença naquele lugar.

Vence, ou Vincent Fox estava em pé no meio do parque, checando seu celular no que seria a décima segunda vez, parecia ansioso, e de fato, estava. Achou que sua mensagem teria sido muito agressiva, fazendo com que Chao não viesse. Não que isso não o preocupava, afinal, se ela viesse mesmo assim, teria alcançado seu objetivo.

Depois de alguns minutos, quase que desistindo de esperar a garota, já se virando para ir embora, ouviu seu nome sendo chamado. Ao se virar novamente, viu que Chao estava vindo em sua direção.

Vence sorriu de leve, insatisfeito. Não mexeu nem um músculo, esperando que ela mesma se aproximasse dele.

— Você veio... Impressionante. – Disse com desdém.

— O que você quer? Se ficar me enchendo o saco eu vou embora. – Refutou a garota, com a língua afiada e com uma expressão desafiadora que já era bem comum para ambos.

— ... – Vence soltou uma risada e voltou a olhá-la, de cima para baixo. – Que adorável. Pensei que esse seu espírito flamejante havia morrido depois da minha chegada... Fico feliz que estou enganado.

Chao rangeu os dentes, já irritada com a atitude do rapaz.

— Desembucha logo. O que quer falar comigo?

Vence se assentou no banco, esticando as pernas e os braços, os colocando atrás de sua cabeça logo em seguida. Parecia relaxado.

Chao o olhou um tanto confusa, ainda desconfiada dele e o que ele planejava fazer.

— Eu estava me perguntando se você ainda tem interesse em mim... – O rapaz começou a dizer em um tom de voz totalmente diferente do normal. Quase que como estivesse sendo sincero.

A garota fez uma expressão de repugnância, cruzando os braços e o encarando ferozmente, não baixaria sua guarda por causa da mudança de tom.

— Que tipo de pergunta é essa?! O que você acha?! É claro que n—

Antes que pudesse terminar sua frase, Vence a olhou de um jeito que nunca havia presenciado antes. Era ameaçador. Chao se estremeceu inteira e se calou imediatamente. Não sabia o que aquilo significava, mas por um breve momento passou pela sua cabeça se ele realmente era humano.

— Acho que não entendeu minha pergunta... Eu não perguntei se você ainda sente alguma coisa por mim relacionada a “amor” ou “paixão”... Pelo contrário, eu me pergunto se alguma coisa em mim ainda é de seu interesse... Independentemente do sentimento por trás disso. – O tom de voz era o mesmo, mas seu olhar estava fixo na garota, como um predador encara sua presa antes de ataca-la.

— O... O que quer dizer com isso?

— ... – Vence riu, parecia debochar da menina. – O que há com você? É burra por acaso? Você sabe muito bem do que eu estou falando...

E então, ele se levantou, fazendo automaticamente com que Chao se afastasse. Ele percebeu o reflexo, e com isso sorriu, ainda a olhando, mas agora de cima para baixo, como se a analisasse.

— Não acha que eu notei?

Chao congelou. Se Vence estava falando do que pensava que estava então todos seus esforços foram em vão. Ela não conseguia mais olhar diretamente nos olhos dele, amedrontada e trêmula. Sentia-se encurralada por um animal feroz.

— Desde que arrumou amizade com a besta ruiva eu pude notar uma mudança no seu comportamento... Não era mais a mesma garota de um ano atrás... Estava mais rebelde, aceitando seu papel de “delinquente” imposto pela escola e por sua mãe adotiva... – Vence se aproximou ainda mais, imponente, fazendo com que Chao se afastasse ainda mais. – E tudo porque seu amigo também é... Você pôde confiar nele porque ele era igual a você, não?

Chao não tinha palavras. Não sabia aonde ele queria chegar com tudo isso, mas estava tremendo de medo. Todas as vezes que tentava olhá-lo nos olhos sentia que algo ruim iria acontecer, como se ele fosse comê-la viva.

— Com ele você sentiu que poderia se soltar ser quem você foi imposta a ser, aceitando que aquilo era sua verdadeira natureza... E quando o outro apareceu, então eu notei algo mais... – Vence deu mais dois passos à frente, fazendo com que Chao batesse na grade que determinava o limite do parque.

Chao o olhou com completo terror em seus olhos, agarrou a grade com força, esperando o que ele iria fazer. Seu coração estava batendo forte, não havia saída.

— Vocês estavam me observando, me analisando como se eu fosse alguma ameaça de outro mundo, queriam me derrubar como se eu fosse uma “coisa”... E isso realmente me irritou! – Vence bateu o punho na grade, bem ao lado da cabeça da garota, fazendo um barulho alto.

Chao se assustou com o ato, começando a suar, não sabia o que poderia fazer para sair daquela situação.

— O que você quer de mim? Diga-me! – Agora a voz do rapaz passou de assustadoramente calma para assustadoramente ameaçadora e feroz. – Quem vocês acham que são para me tratar assim?! Por acaso se esqueceu de quem você é?!

Silêncio.

O terror que afogava Chao cessou e passou a ser dúvida. O que ele estava falando? Por um momento tudo parecia fazer sentido e com aquela única frase tudo se transformou em dúvida.

“Por acaso se esqueceu de quem você é?!”

O que aquilo deveria significar? Não sentiu que aquilo era para se lembrar de que eram todos “plebeus” em comparação a ele, não... Sentiu que aquilo estava direcionado especialmente a ela. Mas o que ele estava falando?

— O... O que isso significa? – Tomou coragem de perguntar, querendo realmente saber do que ele estava falando de fato.

E então, ele quebrou. Sua expressão de predador se diluiu e se tornou frustração como se esperasse algo mais dela. Algo não estava certo.

— Eu não entendo... – Vence disse baixinho, a frustração cada vez mais mostrando em seu semblante. -... O que aconteceu com você?

— O que quer dizer?! – Foi a vez de Chao se aproximar dele furiosamente. – Eu não sei se eu deveria entender o que está falando agora, mas isso me deixa confusa! Até agora pensei que chegaria a algum ponto que eu soubesse... Como... “pare de fazer o que estão fazendo”, mas... Aonde quer chegar?

Vence abaixou a cabeça, sua expressão de frustração se tornou enfim o que Chao menos esperava: nojo.

— Esquece. Só... Fique longe de mim. – Quando finalmente ergueu a cabeça, sua expressão fez com que Chao se afastasse. Era puro nojo, como se ela fosse algo tão repugnante que fosse o fazer vomitar ali e agora. – Eu não sei o que aconteceu, mas pode ficar com eles... Eu não quero algo que nem você perto de mim nunca mais.

E com isso simplesmente, ele se virou e foi embora, deixando Chao no meio do parque com mais sentimentos contrários em seu coração.

Logo depois, Castiel e Lysandre saíram de onde estavam escondidos, indo em direção a Chao e a olhando com óbvia preocupação.

— O que foi isso? – Lysandre perguntou primeiro, tentando ver se Vence ainda estava ao alcance dos olhos.

— Você se machucou? Eu realmente pensei que ele iria te machucar quando bateu na grade...

Mas Chao não respondeu. Ela apenas encarou o vazio por alguns momentos, perdida em pensamento, tentando descobrir o que de fato aquela conversa significou para Vence e o que deveria ter acontecido com ela.

— Eu vou para casa.


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Notas finais do capítulo

owo ora, ora, ora~



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