No final do dia, Castiel pensou em esperar Chao e provavelmente Vence também, fora da escola.

Encostou-se a grade externa e cruzou os braços, ouvindo um pouco de música enquanto os esperava, até que, o momento chegou.

— Por que veio para essa escola, Vincent? – pôde ouvir a voz da ruiva à distância, resolveu prestar bastante atenção na conversa antes que o notassem.

— Por sua causa, querida, o que pensou que seria? – Vence, ou Vincent, disse no mesmo tom de voz de antes, insuportável. – Não pense que esqueci nosso contrato, docinho.

Castiel fechou a cara, ainda mais confuso. Contrato? Do que ele estava falando?

— Eu já estou de saco cheio de você! Por que não me deixa em paz de vez?! Acabe com essa porcaria de “contrato” e vai viver sua vida! – Chao parecia exaltada, e mais do que o normal quando ficava brava com alguma coisa. Aquilo parecia mais sério do que aparentava.

Vence riu com gosto, pegando na mão de Chao e a puxando para perto.

— Isso não é apenas uma comédia romântica em que o rapaz corre atrás da garota para declarar seu amor eterno, pequena Chao... – seu sorriso se abriu de modo perturbador. – Isso é uma história milenar sobre um jovem guerreiro indo atrás do ladrão que lhe roubou a dignidade... Mas no seu caso, você fez bem mais que isso não é mesmo? Não acha que está na hora de parar de fugir e me recompensar?

Chao ficou em silêncio, parecia derrotada com aquele argumento.

— Foi o que eu pensei... Agora, podemos ir?

Castiel congelou, não sabia o que fazer, pensando uma segunda vez no seu “plano infalível”, e principalmente agora, ouvindo a conversa dos dois, achou que não daria conta de resolver esse problema sozinho.

— Hm? Ora, é o brutamonte de antes... O que faz aqui por si só? – Vence o olhou com sua expressão arrogante e desafiadora de sempre, pegando na mão de Chao com delicadeza.

— Se me der licença, eu estou conversando com um amigo meu... – disse, com o telefone na mão, fazendo uma cara de irritado.

Chao não disse nenhuma palavra, olhando para o outro lado.

— Ah? Perdoe-nos então... Até amanhã, senhor boçal. – Vence riu de leve, passando por ele enquanto apertava a mão de Chao, que tremeu de leve enquanto andava.

Ao perceber, Castiel apertou o telefone com força, sabia com mais do que certeza que deveria fazer algo... Mas o que lhe faltava era “o que” e “como”.

— Castiel? – uma voz pôde ser ouvida do outro lado da linha, o ruivo quase se esqueceu de que ligou para alguém para disfarçar.

— Hey Lys... Foi mal por ligar do nada, mas, aproveitando... Eu estou com um problemão, e eu acho que preciso da sua ajuda...

— Hm? Um problemão? O que foi que você fez dessa vez?

— Nada! Não assuma que eu fiz alguma coisa de errado só porque eu estou com problemas... – Castiel suspirou – Enfim, posso colar na sua casa? É uma história meio complicada...

— ... Agora? – a pessoa demorou a responder, como se estivesse pensando – Meio súbito de você, mas parece consideravelmente apressado, então... Acho que tudo bem. 

— Ótimo. Vou ir para aí agora. – Ao desligar, guardou o celular no bolso, fazendo seu caminho para a casa de seu amigo.

...

— Então, se eu entendi direito... O namorado de uma amiga sua veio para a escola e ela começou a te ignorar por completo por causa dele? – O garoto de cabelos lisos e brancos pareceu pensativo – Isso não é só um problema de ciúmes da sua parte, Castiel?

O ruivo pôs a mão sobre o rosto, precisava ter muita paciência com o personagem que Lysandre era. Um pouco lento, mas ele sabia como resolver as coisas a maioria das vezes.

— Não é ciúmes. Eu não “gosto” dela, eu só... Eu sinto que ela está com problema com esse cara que “supostamente é o namorado dela”. 

— Supostamente... – Lysandre pôs a mão no queixo e ponderou por longos minutos – Se ele não fosse então por que ela não falaria nada contra isso?

— Eu... Eu não sei.

— Então, vamos à conclusão que eles são realmente um casal instável... Não seria opção dela escolher ficar com ele em vez de você?

— Tsk, eu já disse que eu não quero namorar com ela, caramba! – Castiel suspirou, um tanto irritado. – E mesmo que você tenha razão quanto a isso... Eu não acho que esse é o caso.

— Hm? E o que mais seria?

— Eu não sei toda a história ainda, mas se você vir comigo, acho que conseguimos descobrir onde está o peixe podre dessa história mais rápido.

— Peixe... – Lysandre viajou uma vez mais. – Eu preciso comprar mais peixe...

Castiel suspirou, balançando a cabeça. Lysandre podia ser uma pessoa difícil de vez em quando.

...

Na semana seguinte, Castiel pôde observar que Chao havia mudado completamente. Não era mais a delinquente e destemida garota que havia se mostrado aquela pessoa fascinante de antes, agora ela era submissa, quieta, tímida. Como se fosse uma garota genérica de 15 anos com vergonha do público.

Ela vivia seguindo o tal do Vence toda hora, como se fosse o pobre cãozinho dele que ele ganhou de aniversário e que é maltratado.

O pior disso tudo é que eles sempre estavam juntos, então nem Castiel, nem Lysandre conseguiam ficar sozinhos com a ruivinha para saber mais da situação entre ela e seu suposto namorado dos sonhos.

Até que, Lysandre teve a mais brilhante ideia do século.

— Já sei. Por que você não a segue no vestiário quando for educação física? Vai ser só vocês dois... Eu acho.

Castiel pensou sobre isso um pouco, parecia estúpido, mas ao mesmo tempo, poderia ser a única chance de ficar sozinho com ela.

— É meio arriscado, mas eu topo. – ele sorriu. – A aula de educação física é daqui a pouco, eu já vou para a quadra... Veja quando ela sair da sala de aula e não se esqueça de me avisar.

— Combinado. – Lysandre sorriu de leve, sentando em um banco perto da entrada.

...

Algum tempo depois, Lysandre viu Chao se direcionando para a quadra, mas surpreendentemente, Vence não estava com ela. Parecia que o plano seria mais fácil do que planejado.

O rapaz de cabelos brancos tirou o celular do bolso e começou a escrever uma mensagem para seu amigo Castiel.

“A garota está indo para a quadra. Sozinha. Aproveite sua chance, mas tome cuidado. Não sei onde Vence está. Lol.”

Castiel olhou a mensagem e fez uma cara fechada. Lysandre realmente deveria aprender quando e como usar expressões da internet.

— Bem... Vamos trabalhar. – O garoto ruivo sorriu de canto, indo para o vestiário e assumindo uma posição discreta, para que ela não percebesse de primeira que havia alguém ali.

Não se passaram mais que alguns minutos quando ele pôde ouvir passos, e claro, uma fragrância que já lhe era familiar.

Chao pôs sua mochila no chão, do lado de um dos bancos que haviam no vestiário, pegou sua roupa da bolsa e estava pronta para se trocar quando percebeu que alguém estava atrás de si.

Quando se virou, se assustou ao ver que era Castiel, pulando de susto e quase caindo para trás.

— O que você-

Antes que pudesse terminar, Castiel a pegou pelos pulsos suavemente e a olhou direto em seus olhos.

— Eu não sei o que há com você e por que diabos está me ignorando desde que seu “namorado” chegou aqui, mas precisamos conversar. – O garoto ruivo não queria que ela fugisse daquela vez, mas infelizmente, não sabia como realmente expressar sua preocupação de maneira menos violenta.

Chao resistiu no começo, mas depois de uns momentos desistiu e olhou para o lado, suspirando.

— ... Olha Cas... Eu sinto muito, ok? Eu sei que pareço ser a pessoa mais hipócrita do mundo agora, principalmente naquele dia que falei que... Eu queria confiar em você, e que você disse o mesmo... – A voz da garota parecia triste, Castiel nunca a ouviu falar daquele jeito. Isso partia seu coração. – Mas... Coisas aconteceram e eu não esperava por essa virada de eventos...

Castiel jurou que por um breve segundo, viu lágrimas formarem nos olhos da ruiva. E não eram lágrimas de raiva como já havia visto.

— ... Você não sabe de muitas coisas sobre mim... E tem coisas bem ruins... E Vence é uma delas. Eu- ... – Chao levantou o rosto, agora o garoto podia claramente ver as lágrimas que estavam enchendo os olhos dela. – Eu não sei o que fazer...

— ... – Ele permaneceu em silêncio por um momento, soltando os pulsos de Chao. – Coisas ruins? Bem, então somos dois...

— Cas você não entende...!

— Eu quero entender! – O garoto elevou a voz, fazendo que a ruiva se calasse por um momento. – Não percebe o que está acontecendo Chao? Se você tem problemas... Eu quero saber, e eu quero te ajudar... Você é que nem eu, lembra?

Quase que subconscientemente, Castiel pegou nas mãos de Chao e as apertou de leve.

— ... Eu quero te conhecer melhor, não importa o que aconteça. Agora, quem é Vence?

— Ah, mas que rude da sua parte... Se quer tanto saber sobre mim, devia ter perguntado, Castiel.

Uma voz irritantemente familiar fez com que os dois se virassem com rapidez. Obviamente era Vence, que estava encostado na porta do vestiário, sorrindo do mesmo jeito arrogante que sempre sorri, de braços cruzados.

Aquilo foi desagradavelmente inesperado.

Enquanto isso, no bolso de Castiel, seu celular guardava uma mensagem que seria importante se fosse vista antes.

“Cas, eu vi Vence, ele estava falando com Nathaniel sobre algo, parecia importante, mas enfim, ele está indo para a quadra agora! cuidado! Σ(゜ロ゜;)”