Moiras escrita por Lucca


Capítulo 7
Sozinho


Notas iniciais do capítulo

Já estava no hora de Kurt Weller ganhar mais espaço nessa história.
Sem Jane por perto, talvez haja espaço para uma velha amiga.



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Kurt detestava preencher toda aquela papelada burocrática após cada missão. Aqueles relatórios e fichas pareciam se multiplicar sobre sua mesa. Quantos mais ele preenchia, maior o número daqueles que ainda esperavam preenchimento.

Droga!

Ao longo dos últimos meses, sua maior luta foi manter Jane sob controle em seus pensamentos. Os relatórios amontoados sobre sua mesa pareciam montanhas quando o cheiro e o gosto de Jane tomavam conta de suas lembranças.

Pensar em Jane ou em Melissa traziam um conforto imenso ao seu coração, algo que ele nunca havia experimentado antes. Ele não era capaz de conter o sorriso que se formava no seu rosto nesses momentos.

Desde o início da semana ele percebeu mudanças em Jane. No início ela parecia ansiosa, depois alegre, até que a tristeza parecia um véu cobrindo seus olhos verdes poucas horas atrás. Ela pediu para ir pra casa mais cedo duas vezes seguidas. Isso não era normal. Ele sabia que algo estava errado, sentiu isso muito forte mais cedo, em campo. Foi muito nítida a sensação de que Jane estava ferida ali atrás dele. Isso o tomou de tal maneira que seus instintos o fizeram chamá-la e olhar para trás. Foi um deslize rápido, rapidamente ele retomou a posição, mas não foi suficiente para impedir que a bala pegasse de raspão no seu braço.

As horas e os relatórios se arrastaram por toda a tarde, mas chegaram ao fim. Casa e Jane, era só o que Kurt era capaz de pensar agora. Se ela estivesse descansando, ele faria o jantar para se certificar que sua alimentação estava correta, só depois a acordaria. Então, encontraria uma forma de abordar o assunto. Aff... como ele tinha dificuldade de falar com ela sobre assuntos delicados.

Ele entrou no apartamento e chamou seu nome baixinho, com medo de acordá-la. Nada. Foi para o quarto só para poder vê-la dormindo e tranquilizar um pouco seu coração. Só encontrou a cama vazia. O banheiro também sem ninguém. Sua respiração acelerou, puxou o celular para verificar se tinha alguma mensagem dela. Nada de novo. Chamou seu número e ouviu o toque do celular vindo da sala. Uma amargura imensa foi apertando seu peito mais e mais. Ele chamou seu nome: uma, duas, três vezes. A última foi quase um grito que só teve como resposta o silêncio.

O que aconteceu? Cadê você, Jane?

Então ele se voltou novamente para a cama a procura de qualquer pista e seus olhos encontraram a aliança sobre a mesa de cabeceira.

Não, Jane, não!

Kurt se sentou na lateral da cama, mas foi incapaz de tocar na aliança. E, em todo o tempo que se seguiu após a partida de Jane, ele nunca foi capaz de retirá-la dali, assim como ele também não foi capaz de retirar o anel de seu dedo. Não estaria acabado até que ele a encontrasse, até que ele soubesse o motivo de sua partida.

Ele não dormiu e chegou ao NYO antes do nascer do sol. Mobilizou todo tipo de informações que podia para tentar encontrá-la. Sem sucesso, aguardou a chegada dos amigos. Sua esperança era que Patterson pudesse ajudar, mas ele não tinha certeza se seria capaz de pedir isso a ela. Tudo indicava que Jane partiu por decisão própria e transformar isso num assunto do FBI parecia apenas desespero.

Com todos reunidos em sua sala, Kurt fez o melhor que podia para atualizá-los sobre a ausência de Jane. Ele nunca foi bom com palavras e foi um esforço sobrehumano relatar o acontecimentos mantendo seus sentimentos sob controle.

—Ô, cara, eu sinto muito. Parece tão incompreensível que ela tenha feito isso._lamentou Reade

—Kurt, nós somos o FBI e não podemos deixar de verificar todas as possibilidades para ter certeza sobre o que aconteceu._argumentou Tasha

— Já estou acessando os dados dos aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários.

—Eu já fiz isso, Patterson. Também já procurei por informações em Hospitais e  necrotérios... a noite toda.

—Eu tenho alguns truques na manga. Não custa nada tentar.

—Kurt, podemos procurar por pistas no seu apartamento?_questionou Tasha. Ele acenou positivamente com a cabeça.

O envolvimento do team trouxe um pouco de ânimo a Weller. No final da tarde, após esgotar as possibilidades de busca nos meios eletrônicos, Patterson lhe contou sobre sua conversa com Jane.

—Kurt, estou me sentindo tão mal por não ter te chamado para aquela conversa. Eu não devia ter contado pra ela sozinha.

—Patterson, obrigada por me contar o que aconteceu._ele esfregou sua nuca_ Agora eu sei que pode não ter sido simplesmente algo que eu disse ou fiz.

Patterson se aproximou e o envolveu num abraço.

Nos dias seguintes, ele reorganizou sua rotina: buscou novas possibilidades de encontrar o paradeiro de Jane todas as manhãs antes do expediente, afogou-se na papelada durante o horário de trabalho, teceu inúmeras teorias procurando entender sua partida na companhia das garrafas de whisky todas as noites.

As investigações não foram capazes de esclarecer coisa alguma.O tempo não trouxe consolo, apenas fez a saudade e a dor da ausência de Jane aumentar. Allie tornou as visitas mais frequentes aproveitando cada uma delas para tentar convencê-lo a seguir em frente.

Muitas vezes ele sentiu vontade de pedir demissão e seguir pistas que, apesar de superficiais, indicavam a possibilidade dela estar no Tibete. Chegou a traçar um roteiro de busca, passou dias e dias levantando fotos e analisando o Street View. Mas deixar o FBI significava deixar Bethany inteiramente por conta de Allie e Connor, o que ele não achava correto. A distância do Colorado já o impedia de estar presente na maior parte dos momentos significativos de sua filha. Não poder colaborar com as despesas com escola e plano de saúde era injustificável. Bethany era apenas um bebê e precisava de seu pai. Jane era adulta, capaz de sobreviver em situações adversas e tinha escolhido partir. Tudo isso fortalecia a insensatez da ideia.

Envolvido em seu ciclo de sobrevivência pessoal, Weller não percebeu que a nova realidade estava fazendo uma nova vítima: o team. Jane fez mais falta do que poderiam imaginar. O tangram parecia impossível de ser remontado sem aquela peça. Cada um se isolou em projetos pessoais e, aos poucos, a equipe se desfez. Reade foi para Quantico, Tasha aceitou trabalhar para a CIA e Patterson criou sua própria empresa com um sócio misterioso. Todos sempre mandavam e solicitavam atualizações. Muitas vezes, nas entrelinhas dos contatos, abriam-se discretas possibilidades sobre o paradeiro de Jane ou sobre suas tatoos.

Meses depois, Weller foi surpreendido por uma visita em seu apartamento.

—Nas. _ ele tentou esboçar um sorriso ao atender a porta

—Boa noite, Kurt. Posso entrar?_ ele apenas se afastou dando passagem.

O apartamento estava em ordem, mas sua solidão era visível nos detalhes. Isso não passaria despercebido nem por alguém desatento e certamente foi captado singularmente por Nas.

— Eu só queria saber como você está...

—Bem...eu estou bem. Muita coisa mudou, mas... você aceita uma bebida.

—Claro! Você tem aquele nosso whisky preferido?

—Sempre._ e se dirigiu para a cozinha_ E você, como está?_disse servindo o whisky.

A conversa continuou de forma casual enquanto eles tomaram duas ou três doses sentados no balcão da cozinha. Foi então que Nas decidiu que já era tempo de aprofundar o assunto:

—Sabe, não posso dizer que o processo de Weitz tem tornado meus dias agradáveis.

Kurt ficou nitidamente desconfortável com a menção ao processo e se serviu de mais uma dose: _Nas, eu sinto muito. Tenho estado tão envolvido com o ... trabalho... que acabei me afastando dessa questão... Está tudo sob controle?

—É, eu desci na escala de comando e perdi uma parte considerável de meu salário...mas eu não me importo, fiz o que era certo. _ e põe a mão sobre o joelho de Kurt e o encara_ Fiz por você, Kurt.

As palavras caíram sobre ele com todo o peso de culpa que ela havia desejado. Weller tentou verbalizar qualquer frase, mas não conseguiu.

—A Sandstorm precisava ser parada e nós conseguimos, não é mesmo?

—Nas, eu...

—E agora nós estamos aqui, no seu apartamento. Eu tenho ótimas lembranças desse lugar._ ela se aproxima e coloca a mão sobre seu peito_ Kurt, sei que tem sido difícil, mas você não está sozinho._ele apenas desvia discretamente seu rosto para fugir do olhar_ Eu estou aqui com você.

Ele cobre a mão dela que estava sobre seu peito com a dele: Nas, o whisky, a possibilidade de ter uma noite de sexo e diminuir a solidão...Mas Jane estava ali: na cama, no sofá, no chuveiro, no balcão da cozinha...no seu coração. Tudo envolta e dentro dele pertencia a ela.

—Nas... eu não posso, não ainda.

Ela sorri com desdém _Vamos lá, Kurt, somos adultos, você não pode passar o resto da vida esperando por ela. E você sabe que ela é impossível e incontrolável. Foi bom enquanto durou. Foi escolha dela partir. Não deixe a Sandstorm continuar controlando sua vida. Você merece mais que uma ex-terrorista sem memórias, Kurt.

Kurt afasta imediatamente a mão de Nas e se afasta:

—Ex-terrorista? É só isso que ela é pra você? Mas pra mim ela é Jane Weller, minha esposa e se eu tiver que passar os próximos 25 anos esperando por ela, eu vou esperar! Jane merece por tudo que nós vivemos nos últimos meses. Jane é Remi e é também Alice, é impulsiva, teimosa, mas tenho certeza que ela tem uma justificativa pra tudo isso e não vai estar acabado pra mim enquanto eu não souber o qual é.

—Kurt, por favor, seja sensato.

—É melhor você ir, Nas. Nossa conversa já terminou.


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