Deitei na cama.

Estava exausto, o sono pesava em mim, me empurrando contra o colchão. Morar sozinho era desgastante; tinha suas vantagens, é claro, mas não era um mar de rosas. Meu único desejo era fechar os olhos e dormir até o mês seguinte. Esse era um dos lados bons: não ter ninguém para me acordar numa manhã de um domingo perfeito para dormir até o meio dia.

Já quase adormecia quando ouvi um barulho vindo da cozinha. Tentei me convencer de que era só o sono me pregando peças, mas não consegui relaxar. Havia algo errado, eu tinha uma insistente sensação ruim.

Outro barulho; desta vez, mais perto. Era a porta do meu quarto se abrindo. Eu prendi a respiração, sentia o medo e a adrenalina correndo em minhas veias. Não sabia o que fazer, não tinha para onde correr. Quando a porta se abriu mais, eu pude ver alguém parado ali. O ser não olhava pra mim.

Minha cabeça trabalhava rapidamente, tentando encontrar formas de sair ileso daquela situação, mas não consegui impedir o desespero de tomar conta de mim. Minha respiração se tornou ruidosa, e então, ele se virou pra mim.

Todos os meus músculos se tensionaram. Ele andava na minha direção lentamente. Eu não conseguia enxergar, mesmo com a curta distância que havia entre nós. A escuridão não me permitia ver o seu rosto. Eu tentava pensar em algo, mas era impossível. Meu cérebro parecia não funcionar direito, paralisado pelo medo. Ele se aproximava cada vez mais, e quando chegou suficientemente perto, fiz a única coisa que me ocorreu naquele instante.

Eu soquei seu rosto.

E corri.

Desesperado, atravessei rapidamente o corredor e me escondi na despensa. Não conseguia raciocinar. Meu coração parecia ser capaz de rasgar o meu peito com a força e velocidade em que batia. Sentei no chão e prestei atenção em minha respiração, inspirando e expirando controladamente, tentando fazer com que voltasse ao normal. Precisava estar calmo para decidir o que fazer.

Tudo continuou silencioso. Não sei por quanto tempo fiquei ali dentro antes de finalmente reunir coragem suficiente para sair. Pareceram dias.

Tentei controlar cada movimento, evitando ao máximo fazer qualquer barulho. Meus olhos procuravam nervosamente qualquer sinal de movimento. Estava verificando os cômodos da casa antes de checar o quarto, quando passei pela cozinha e esbarrei em um copo que caiu dentro da pia. Meu corpo inteiro ficou tenso e eu congelei, esperando por longos minutos que o ser aparecesse, mas nada aconteceu. Me convenci de que havia alucinado, então decidi ir me deitar.

Abri a porta do quarto devagar, ainda olhando o corredor por segurança. Ouvi um barulho vindo de dentro do quarto. Imediatamente me virei na direção do ruído e vi; ele estava deitado na minha cama.

Me aproximei com cautela até que ficássemos próximos. Talvez estivesse dormindo, então tentei não acordá-lo. De repente, ele se mexeu e socou o meu rosto, correndo velozmente para fora do quarto. Ainda meio tonto, fui atrás. O vi entrando na despensa e pensei que, se eu o deixasse ali, ele iria embora.

Voltei para o quarto e me deitei na cama. Já quase adormecia quando ouvi um barulho vindo da cozinha.