DeH; Os Brutos escrita por P B Souza


Capítulo 2
01; O Líder dos Brutos




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Sohrab puxou a lâmina do crânio de Kenno de uma só vez e Letrüssio ouviu o metal raspando o osso.

O corpo caiu no chão em seguida com a mão tremendo nos últimos espasmos enquanto a vida se esgotava.

— Uma bruxa aproveitaria o sangue para qualquer feitiço que fosse. Não somos bruxos, somos?

Sohrab manteve-se calado por um instante olhando o corpo, Letrüssio parado na janela  olhando para o jardim de sua propriedade.

— Não. — O Bruto respondeu por fim, sem entender porquê daquela pergunta.

— Então porque derramar sangue no meu tapete importado de Evelum? — Letrüssio suspirou. — Enfim, está feito. Mande alguém vir tirar o corpo daqui pela madrugada. Não quero que as crianças vejam, gostavam da criatura. Creio que estejamos acertados por hora.

— Sim.

— Então pode ir, Sohrab. — Letrüssio retornou para sua cadeira e sentou-se atrás da mesa, pegou a pena e o tinteiro, lançou um olhar para o corpo no chão enquanto o sangue manchava o tapete. — Chamarei quando for hora. Obrigado!

*****

Sohrab deixou a propriedade de Letrüssio montado em seu cavalo de pelos pretos. O animal relinchou todo o caminho enquanto Sohrab o esporava com suas botas metálicas de forma que sangue escorria pelas coxas do cavalo, mas ele não se importava, estava inquieto em cima do animal.

A propriedade da família Yvísimono ficava ao Sul de Porto Botero, um grande rancho com criação de palafréns dos mais belos. Era um casarão solitário no topo de um morro pouco elevado, de modo que mesmo já distante do casarão, Sohrab ainda podia vê-lo no horizonte. E tenho certeza que com uma luneta o velho pode me ver também. Pensava enquanto lançava um olhar de raiva para a propriedade dos Yvísimono, de Letrüssio em especial. Quantos Yvísimono ainda devem existir?

Saindo na estrada de terra era rápido até a cidade em si, mas Sohrab não ia para lá. Pelo contrário, desviou o percurso do norte para o leste pegando um caminho feito por cavalos no mato, claramente não era uma estrada, mas o caminho estava fortemente marcado pelo movimento constante. A cidade estava logo ao lado, já rareando em casas menores nas margens do Clemente, mas Sohrab se distanciava do rio também. A muralha de Porto Botero mesmo nem chegou a ser visível.

O caminho que seguiu o levava até um matagal com moitas de até um metro de altura, mas havia uma clareira no meio deste emaranhado de folhagens. E dali vinha música e fumaça cinza subia no céu. A trilha que seguira era o caminho de seus companheiros, talhado pelas idas e vindas à cidade que estavam ocupando já faziam várias partes-de-ciclo. Talvez fiquemos por aqui agora, se tudo der certo. Com Letrüssio, Sohrab queria algo além de um contrato. Se Majed não foi esperto o bastante para ver a oportunidade, eu serei. Nunca quis mal ao Líder e fundador da Companhia dos Brutos, na verdade adorava o homem, mas Majed trilhava o caminho da destruição.

A companhia dos Brutos ali em Porto Botero se encontrava bem fornecida. A cidade não os odiava nem os amava, os comércios não se negavam a vender para eles, haviam uma boa quantia de contratos e o dinheiro fluía pelas mãos dos mercenários como a água pelas pedras do Clemente. Nem mesmo o exército se incomodava com a presença da companhia. Era verdade que eram a única companhia estabelecida na cidade e isso diminuía a confusão, chamando menos atenção, mas o descaso com os Brutos era tanto agradável quanto estranho.

O acampamento era composto por um bocado de tendas erguidas com corredores largos entre elas para cavalos trotarem livremente junto de passantes, mas sem espaço para carruagens grandes. Sohrab foi até a tenda principal, pulando de seu cavalo na hora que o couro da porta estremeceu e de lá de dentro saiu Desaro.

— Sohrab retornou! — Fez grande pompa erguendo seu corno com cerveja, que caiu um pouco ao chão, sorridente. — Comeu muitas galinhas no porto?

— Ou seriam piranhas? — Sohrab retrucou amarrando o cavalo ao toco fincado no chão ao lado do cocho d’água. — Fizeram algo hoje? Algo de relevante além de lamber as bolas de Ahskym?

Deu um tapa no ombro de Desaro e conduziu o amigo de volta para dentro da tenda sem se preocupar com o que ele ia fazer fora desta antes. Desaro também pareceu não se lembrar, e retornou.

— Hylog partiu faz tempo se esse tipo de coisa interessa. Diz que foi fazer ouro. De resto, estamos todos a mais tempo que deveríamos.

— Hylog confunde mijo com ouro porque ambos são amarelo, não dê atenção. — Sohrab olhou ao redor, então ao corno de Desaro. — Essa cerveja também é amarela. Ou seria mijo isso? Com certeza cheira como tal.

A tenda estava cheia de fumaça do fumo queimando, havia um porco assado em uma fogueira que era apenas brasa e as prostitutas do acampamento pareciam estar todas ali. Mais precisamente, todas estavam ali com Ahskym.

Sohrab pegou o jarro e encheu um corno de cerveja para si, desgostoso com o líquido. No acampamento não haviam servos além dos prisioneiros e nem mesmo estes os serviam. Eles nos odeiam, se colocarmos para cuidar de nossa comida, nos engasgaremos no veneno.

A tenda cheia era repleta de conversas, o fedor de suor misturado com o aroma das essências do fumo já era cheiro comum para um mercenário como Sohrab que estava naquela vida fazia nove ciclos. Já está na maldita hora de mudar o jogo. Pensava se um dia endireitaria a vida e tomaria juízo, ou se morreria antes.

Sentou-se em uma mesa ao lado de Roau, um dos companheiros.

— Quanto tempo até o dia acabar, não? — Grunhiu baixinho para Roau.

— Teve problemas na cidade?

— Meus problemas não são na cidade! Lá as putas ao menos me notam. Agora aqui? — Sohrab rosnou se apoiando na mesa, então virou o corno em um só gole. — Maldito Ahskym. Não conseguirá foder com três delas.

Enquanto tagarelavam trivialidades Desaro sentou-se do outro lado da mesa, de frente para Sohrab enquanto Roau estava ao seu lado esquerdo e na direita, há alguns metros, em outra mesa, estava Ahskym.

Quando Majed havia partido, deixando os Brutos em Porto Botero, ele apontou um novo líder até seu regresso. Eu servi ao seu maldito lado, garoto ingrato do cacete. Sohrab descobrirá que odiava Majed, pois assim como todo sujeito de sangue nobre, Majed não podia ser confiado! Ao partir, ele apontou Ahskym para liderar os Brutos. Odiava-o por isso, mas amava o desgraçado como um filho, se tal coisa fosse possível. Seu pai lhe odeia, por que não eu também?

Sendo honesto consigo mesmo, Sohrab pensou que Aspotiri fosse ficar para cuidar das coisas, mas Majed levou os melhores. Os melhores menos eu. Para sua sorte, Sohrab nunca fora descuidado, já havia percebido os sinais e começado a agir prezando o benefício da Companhia. Algo que você parece ter se esquecido completamente, Majed. Havia três possibilidades para o futuro, quando Majed retornasse elogiaria Sohrab, empalaria Sohrab ou Majed nunca retornaria. Para todos os três cenários ele se preparava. Não importa o que aconteça, Os Brutos continuarão fortes. Não queria perder mais uma família.

— Viva à Ahskym! — Alguém gritou mais para frente na tenda por qualquer besteira que Sohrab ignorou.

— VIVA! — Todos então ergueram seus cornos, cerveja voou para todos os cantos e a música continuou com o bardo aumentando sua voz.

Ahskym ergueu-se, deixando duas prostituas no banco aonde estava (aonde Majed se sentava) e uma terceira continuou agarrada ao seu ombro, beijando-lhe o braço com uma mão enfiada para dentro de suas calças. O colete estava aberto e seu peito nu a mostra transbordava com a pele brilhando a óleo.

— Escutem, escutem. Enquanto ainda estou sóbrio o bastante para falar. — Riu e todos o acompanharam na risada, pois todos estavam já bêbados em certo nível. Todos menos Ahskym. O sujeito é traiçoeiro feito uma víbora. Sohrab não confiava nele, e este era apenas o primeiro dos muitos problemas com o novo líder. — Hoje bebemos. E amanhã fodemos com essa cidade inteira! Agora que quem manda sou eu, eu digo o que quero. E eu quero ouro!

Todos bateram os cornos nas mesas e gritaram concordando com Ahskym enquanto Sohrab apenas ouvia, sentado, lançando um olhar frio para o homem que se sentava no lugar de Majed.

O discurso inflamado de Ahskym dava voltas, mas não chegava a nenhum ponto. Quando finalmente encerrou, todos tornaram a aplaudir e urrar e bater os cornos e então voltaram a beber e conversar noite adentro, mas o plano era ouro, como não existia. Vai caçar encrenca com a guarda da cidade, e tudo se tornará mais difícil.

— Não gosta dele, não é mesmo? — Desaro perguntou enquanto alisava os próprios cabelos para trás das orelhas.

— Eu estou nesta Companhia desde seu começo, garoto. — Sohrab cruzou os braços olhando ao redor. — Discursos inflamados não fazem a porra de um líder. Ele falou e falou, mas não disse nada.

Sohrab se lembrou do caminho que andaram até ali. No começo Majed era estúpido assim, tinha colocado tudo a perder quando chegaram no Entroncamento do Canino aonde nascia o Rio Javargh bem ao Leste dali. Eramos mais novos e ele estava com o fogo da conquista. O resultado havia sido a quase morte de todos. O próprio Majed se ferira naquela batalha desnecessária e fora assim que sua família descobrira seu paradeiro de forma tão rápida. Somos mercenários, não soldados. Se quisermos conquistar, o jogo é outro. Não dá para invadirmos cidades com sessenta homens. Porém, Sohrab sabia, sessenta homens podiam derrubar um monarca. Já havia visto acontecer.

— Alguns poderiam pensar que você tem inveja.

— Alguns pensam, não tenho dúvida. — Disse no mesmo momento que Desaro pontuou. — Mas não me importo com o que pensam ou não. Verá ainda hoje que muitos são os que pensam diferente. Os que pensam certo!

Então mais uma dose de silêncio. Desaro era novo e estava com os Brutos há pouco mais de um ciclo, sua primeira companhia, não que mercenários vivessem o bastante para participar de várias. Sohrab mesmo estava em sua terceira companhia, tendo desertado da primeira após dormir com a esposa de seu capitão, algo que se arrependia, mas era, na época, tão inconsequente quanto qualquer jovem com um pau duro e muito rum na cabeça depois de um combate até a morte. A outra companhia fora diferente, tentou ser esperto demais para o próprio azar e acabou sobressaindo frente ao líder ao apontar a estupidez de um plano ineficiente e o líder em nada gostou de ser desmoralizado, expulsou-o. Mais tarde chegou aos seus ouvidos a notícia que a companhia estava extinta, todos executados na execução do plano que ele havia indicado ser falho. Com isso virou errante por menos de um ciclo até chegar na Vila do Lago aonde pretendia aquietar, sentia que seus dias haviam passado e escolheu um lugar calmo, um lugar para morrer. A vista do lago é linda, eu poderia ser cremado ali, estaria em paz.

E fora ali que conhecera um jovem que lhe fervia as ideias mais nostálgicas. Majed era filho de um dos governantes do vilarejo, um rebelde sem causa. E eu lhe dei uma causa. Sohrab virou o resto do conteúdo de seu corno.

Pensou que Majed seria diferente no começo, mas quanto mais conhecia o homem, mais via nele os mesmos defeitos que via em todos os outros. Defeitos que nos trouxeram até aqui. Desta vez, porém, Sohrab decidirá não esperar pelos defeitos levarem os Brutos ao seu fim, mas sim usar das falhas de seu líder para conduzir a Companhia a novos caminhos. E ali estavam eles agora. É o novo caminho hoje! Pretendia esperar, mas a situação o impelia a agir.

Ahskym então se levantou pegando uma das prostitutas pelo braço. Arrastou-a para fora da tenda e ela foi aos risos, os seios de fora da seda fina que enrolava sua cintura e pernas. Usava colares e pulseiras douradas. As outras, ao não serem escolhidas, foram se engraçar para outros mercenários. Caçamos ouro com espadas, vocês com os peitos. Pensou enquanto se colocava de pé e estralava o pescoço.

— Roau, pode ir. — Disse para o companheiro que anuiu enquanto brincava com uma pulseira de madeira que encontrara na mesa. — E você, Desaro, pensa de que forma?

— Quanto a quê? — Desaro perguntou após prender os cabelos em um rabo-de-cavalo. Roau já saia da tenda pela abertura da frente enquanto Ahskym pela de trás junto a prostituta.

— Quanto a toda esta merda. Acha que iremos para algum lugar?

— Contando que me paguem…

— Sim, pagar. Tem uma filha, certo?

— Duas, a segunda nasce logo na próxima parte-de-ciclo, é outra menina, tenho certeza!

— Não quer um homem? — Sohrab apontou para fora da tenda e os dois começaram a andar lentamente.

— Guerreiros sofrem demais, não acha? Quero que minha cria tenha paz, por isso estou nesse inferno… sem desrespeito, senhor.

— Eu entendo suas palavras. — Pararam na porta da tenda. — E seus motivos são bons, mas olhe esse acampamento e pense se suas filhas receberão ouro ou esterco.

— Sohrab… começo a pensar…

— Que eu odeio a Companhia e esperei por Majed sumir para desertar. Não… Não é isso rapaz! — Sohrab puxou sua fina adaga. Desaro recuou um passo em precaução, olhando com atenção para o mercenário mais velho. — Eu amo demais essa porra de companhia para deixar Ahskym acabar com ela! — Disse apontando o metal para Desaro.

Sohrab começou a contornar a tenda Desaro foi atrás e o puxou pelo ombro.

— O que vai fazer, Sohrab? Pense bem…

— Garoto, somos muitos. E muito diferentes uns dos outros. — Então Sohrab pegou no cinto de Desaro e puxou. — Não está com sua espada. Pensa de que forma?

— O quê…

— Pegue sua espada, garoto, já. E da forma que pensar, brandirá o aço! Se quiser ouro se lembre que com muitos, menos se tem. E muitos nada produzem. — Empurrou Desaro pelo peito. — Pilhar uma cidade é bom, mas melhor é recolher seus frutos toda quinzena. — Empurrou Desaro mais uma vez. — Espada, garoto. Já!

E então Desaro se virou e retornou para a tenda de onde a música vinha,

Sohrab olhou para o acampamento por um segundo.

A canção abafada do lado de fora não fazia jus ao clima era uma música animada, mas com um ar triste. Sohrab estava carregado de angustia e a música era alegre demais, ele que devia ouvir melancolia sem ser. Quando virou na esquina da tenda encontrou, na carroça de prisioneiros, um homem ajoelhado olhando pela fresta da tenda que ao vê-lo recuou, se sentando e enfiando a cabeça entre as pernas peludas e encardidas. Sohrab olhou então pela tenda, e viu a prostituta rebolando para um mercenário enquanto este a acariciava.

— É uma bela visão. Pena que lhe cortaram o pau. — Virou-se ao prisioneiro. — O que faria se eu lhe soltasse agora?

— Se… Se… senhor…

— Responda a maldita pergunta.

— Nada, senhor. Não fugiria. Juro que não…

— Bom, porque conheço um homem muito rico que precisa de alguém como você! Se interessar.

— Bondade do senhor…

— Não, nada de bondade. Necessidade. Vendi para este mesmo homem um como você, mas ele escutava demais, então matei ele hoje, agora pouco, mas este homem precisa de outro igual. Não escuta demais, escuta?

— Não, senhor.

— Nem fala, pelo que vejo. — Retorquiu ao prisioneiro. Então enfiou as mãos nos bolsos e revirou-os até encontrar um molho de chaves. Abiu a portinhola da jaula e deixou-a destrancada. — Confiarei em ti! Deixarei aberta a porta e veremos amanhã o que escolheu; fugir feito um rato só para que possamos lhe pegar e esfolar vivo, ou esperar pela aurora quando lhe venderei a um bom comerciante que lhe dará cama e comida quente todo dia. Decida!

Com isso, Sohrab deixou o prisioneiro também, queria ver como o homem pensava. Continuou seu caminho até a tenda que pertencera a Aspotiri. A de Majed havia sido desmontada e acompanhava o próprio homem. Ali, naquela tenda, ele podia ouvir os gemidos e os gritos da prostituta misturado aos gemidos de Ahskym. Vez ou outra um tapa estralava contra a coxa da mulher.

Empurrou o couro da entrada e olhou para a cena. A prostituta jogada em cima da mesa de planejamento, pernas abertas e erguidas, Ahskym entre as pernas, calças arriadas e costas arqueadas. Braços esticados segurava a mulher pela cintura e ela gritando, visivelmente fingindo algo que não sentia completamente. Até erguer a cabeça e ver Sohrab ali. Gritou, desta vez de pavor. Ahskym olhou para trás com pressa, nu e ereto, ergueu suas calças e segurando-a com uma mão, com a outra se apoiou na mesa.

— Ora, que susto do cacete. — Disse para Sohrab. — Se quiser uma, encontre na tenda. Está aqui é minha para foder!

Disse dando um tapa na coxa da mulher que soltou risinhos enquanto cruzava as pernas se sentando na mesa e apoiando uma mão no ombro de Ahskym.

— Vim foder com outra coisa, Ahskym. — Com a adaga na mão, Sohrab parecia pouco amigável. Seu tom de voz fora o bastante para fazer Ahskym perceber.

— Saia já daqui. Eu sou o líder desta Companhia agora.

— Ninguém lhe quer como líder…

— Me aplaudiram…

— Mendigos aplaudirão o carrasco — Disse enquanto se aproximava. — Desde que este sacuda um saco de moedas! Mas eu sei que seu saco está cheio de pedras e não de ouro. E você fique ai! — Sohrab disse apontando a faca para a prostitua que deslizava para a borda da mesa tentando sair despercebida, então ele começou a andar em direção a Ahskym. — Quando Majed nos deixou, sabia que isso aconteceria. Eu previ que não seria eu sua escolha, então já tomei minhas precauções.

— Traição…

— Mantive sempre os interesses da Companhia acima dos meus, diferente de Majed. Diferente do que tu farias. A verdade é que talvez até seja um bom líder, mas não podemos arriscar essa dúvida, podemos? Pilhar o porto? Tem noção do tamanho do exército dos Velted?

Então chegou frente a frente, encostou a ponta da faca no peito de Ahskym que nada fez para revidar o tempo todo. Um mercenário de verdade já teria corrido pela espada quando me viu com a adaga. Não podemos arriscar você!

— Você bebeu demais…

— Não o bastante pelo visto. — Subiu a adaga ao pescoço do líder dos Brutos, lá fora uma gritaria generalizada teve início. Cochichou. — Não tenho nada contra ti, saiba disso. São apenas negócios, um contrato em específico que beneficia a Companhia como um todo, ouro, você disse que queria ouro. Sua morte trará riqueza para todos…

Então Ahskym reagiu.

Recuou com os pés rápidos e tentou driblar Sohrab que o agarrou pela calça, já que estava com o peito nu. As calças se arriaram novamente ao escapar das mãos de Sohrab e desceram aos joelhos de Ahskym que, no ímpeto de fuga, esticou a perna, mas atrapalhou-se com a calça arriada e ruiu ao chão. A pancada fez a prostituta dar um pulinho, e em seguida Sohrab caiu em cima de Ahskym, puxou pelos cabelos sua cabeça para cima e com a faca degolou-o esguichando sangue no tapete que cobria o chão. Este não veio de Evelum! Pensou vendo o vermelho enquanto ouvia um grito abafado da prostitua.

Se levantou olhando para ela enquanto os pés de Ahskym ainda tremiam nos espasmos da morte.

— Tão bela. — Ahskym disse quando Roau entrou na tenda, espada na mão. Ao olhar para trás, Sohrab viu-o sujo de sangue. — Desaro? — Perguntou.

— Luta por ti. — Roau afirmou. — E ela?

— É uma puta. — Disse pegando no queixo da mulher e deixando a marca vermelha de seus dedos ensanguentados. Ela fez uma expressão mista entre terror e nojo. — Se quiser, tome-a para si. Se não, deixe-a partir… não poderia me importar menos!

Com isso pegou a espada da mão de Desaro e saiu da tenda ouvindo os gritos ao ar da noite.

Mercenários trabalhavam com contratos. E Letrüssio Yvísimono oferecera um contrato bom demais para se negar, mas havia uma condição. Sohrab odiava matar dos seus, mas ouro era ouro, e Letrüssio oferecia muito ouro. Podemos pilhar uma vez, ou coletar para sempre. É um sacrifício agora, mas um investimento a longo prazo. É pelo bem dos Brutos. Majed veria isso quando voltasse, tinha que ver. Mas em seu amago Sohrab desejava secretamente que Majed jamais voltasse. No fundo pensava; eu mereço isto, é minha vez!


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