Mirror of the soul escrita por Miss De Lua


Capítulo 8
8. Hogwarts da década de 40


Notas iniciais do capítulo

Ohh father, tell me
Do we get what we deserve?
We get what we deserve?

(...)

Cause they will run you down
Down to the dark
Yes and they will run you down
Down 'till you fall
And they will run you down
Down to your core
'Till you can't crawl no more

And way down we go
Way down we go ... ♪♪



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A viagem no tempo sempre foi algo bastante inexplicavelmente misterioso para Meredith, assim como as consequências. Tudo parecia inatingível, até ela fazer sua primeira viagem.
Os últimos dias pareciam recordações de uma época distante enquanto ela se sentava na mesa da Corvinal, logo depois de ser apresentada por Dumbledore à sua nova casa. Depois de olhares curiosos e de algumas apresentações feitas, — todas por parte de meia dúzia de alunos que se dignaram a falar com ela — a garota se sentia nostálgica ao se remexer desconfortável no banco que a tanto tempo ocupava. Então percebeu que tudo parecia o mesmo: a mesa comprida, o mesmo chão, o teto encantado, as mesmas casas. Tudo parecia exatamente intocável, menos as pessoas.
Os rostos à sua volta eram diferentes, assim como a postura de todos. Até o ar não parecia igual, então se lembrou de que estava na década de 40 e que de lá para sua época, havia mudado bastante. Começando pela forma como as garotas pareciam tão confortáveis em estarem completamente retas ao sentarem, com toda popa e educação que uma dama teria. Por um momento, Meredith se sentiu incomodada ao se dar conta de que teria que se esforçar se quisesse se passar por uma garota daquele tempo. Mas nunca que ela iria conseguir permanecer com tanta postura sem acabar com uma dor nas costas. Ela quase estremeceu, se imaginando ao falhar.
Discretamente, observou os alunos ao seu redor, vasculhando as quatro casas no salão. Primeiro seus olhos capturaram a figura de Charlus Potter, o mesmo estava rindo de alguma piada que o ruivo, Septimus, contava. Ao lado deles uma cabeleira ruiva se encontrava, e logo a garota percebeu que se tratava da sua futura professora e diretora: Minerva McGonagall.
Se sentindo nervosa ao imaginar ter que socializar com a futura diretora sem parecer estranha, — porque seria muito difícil encarar McGonagall e não se lembrar das inúmeras vezes que já conversara com sua versão mais velha. — Helinor continuou vasculhando o local. Foi então que seus olhos se concentraram em uma única pessoa no mar verde da mesa da sonserina. Tom Riddle encarava sua comida com uma expressão vazia, ignorando a conversa ao seu redor. Ele se destacava no centro da mesa, rodeado por garotos que deveriam ter sua idade. A memória dele aparatando em sua frente depois de lhe dizer que aquilo não poderia ser feito por motivos de medidas de segurança a atingiu. O que fez uma pequena fagulha de raiva se acender dentro de si, a fazendo estreitar os olhos. Aquele era um dos defeitos que a pertencia: Meredith sabia muito bem guardar rancor.
E pelo visto, concluiu quando os olhos do garoto saíram da comida e começaram a observar o salão, ela tinha para quem direcionar a mágoa.
Os olhos de Tom Riddle pararam nela, e logo ele estava sorrindo. Se sorrir pudesse ser definido como um esticar de lábios sem emoção, como ele fazia naquele momento. Meredith continuou o encarando, levantando as sobrancelhas em questionamento.
Durante a troca de olhares, a bruxa não notou a mão estendida em frente aos seus olhos, e só percebeu quando alguém pigarreou. Movendo seus olhos de Riddle, — e se sentindo frustrada por ser a primeira a desviar o olhar. — ela pôde encarar a mão estendida, e obviamente, sua dona.
A garota era dona de cabelos castanhos,  presos em um coque bem feito por uma fita azul, esta combinava com a gravata da Corvinal. Sua expressão não dizia " parabéns, você agora é uma de nós. Eba! ". Na verdade estava mais para " Você entrou para a Corvinal. Faça por merecer!".

— Senhorita Helinor, presumo. — a garota piscou, estendendo a mão formalmente para ela. — Seja bem vinda em nossa casa. Sempre é bom termos pessoas que saibam usar o cérebro, não é?

A novata assentiu, perdida. Contudo, apertou a mão da outra, imaginando que se a formalidade se transformasse em pessoa, seria naquela jovem.

— Claro. Você... digo, a senhorita é?

— Edwina Turpin, monitora-chefe. — ela soltou ambas as mãos, ajeitando a postura e piscando como as garotas populares dos filmes do futuro. — Se precisar de alguma coisa saiba que estarei aqui. Após o jantar, lhe mostrarei seu dormitório e amanhã, creio eu, a senhorita receberá seus horários.

Meredith só conseguiu piscar antes que Edwina acenasse com a cabeça e partisse, indo se sentar perto do grupo do sétimo ano.
Incrível. — a bruxa se lamentava enquanto provava a comida maravilhosa do catselo. — Como o senso de responsabilidade aqui fala mais alto.
Voltando os olhos para a mesa da sonserina, conferiu se Riddle ainda encarava. Algo parecido com irritação a atingiu quando se deu conta de que o garoto já não estava na mesa. Afinal, deveria ter se retirado para descansar, já que as aulas começariam no dia seguinte.
Resmungando sozinha, Meredith continuou comendo, sempre prestando atenção caso Edwina se retirasse. Não que tivesse esquecido o caminho para a torre da Corvinal, mas precisava ser fingir de pobre novata se conhecimento. Praticamente uma sonsa.
Quando enfim a monitora se levantou e fez sinal para que a jovem a seguisse, ela fez. Lançou uma última olhada para Dumbledore sentado à mesa dos professores, que logo assentiu em reconhecimento a ela. Passando pela mesa da Grifinória, Charlus Potter a observou, sorrindo.
Ele levantou a mão e acenou, logo depois cutucando um Septimus entalado com comida na boca. Este repetiu o ato do amigo, tentando não se engasgar. A jovem Minerva a encarou surpresa, mas enfim sorriu. Meredith retornou a atenção, acenando para os três antes de passar pelas portas do salão principal.

— Não fique se misturando!

— Como é? — ambas corvinas se encararam, com a última perplexa com as palavras da primeira.

Edwina balançou os ombros como se não importasse, logo levantando o nariz e apontando para o emblema da águia em seu uniforme.

— As coisas aqui são assim. Seus amigos são sua casa e isso é o bastante. Tudo é uma competição, além disso, não existiria o troféu das casas no final das aulas se isso não fosse verdade. — Turpin continuou seguindo em frente, indo para a torre da Corvinal. — Acredite em mim, Hogwarts é ótima. Mas não é um lar de santos e freiras, pelo contrário. Algumas pessoas podem ser o próprio diabo.

Meredith havia se perguntado inicialmente se a Hogwarts de 1943 seria tão diferente da Hogwarts do seu tempo. Agora ela sabia, era muito pior do que imaginara.

— E quem são essas pessoas?

Edwina a encarou, os olhos sérios e firmes quando respondeu:

— Você vai ter que descobrir.

                                  

Era a segunda vez que Meredith acordava no meio da noite, suada e ofegante. Deitada na cama, em seu dormitório, tentava não fazer barulho para não acordar as outras meninas. Suas companheiras de quarto. Duas garotas que fora apresentada no começo da noite, mas que naquele instante não estava com cabeça para pensar em ambas.
Era assustador poder jurar que sentia o cheiro da fumaça no dormitório, a envolvendo, trazendo para si as piores lembranças.
Piores porque não conseguia se convencer de que pudesse existir algo tão horrendo quanto o que sonhara novamente. O dia em que perdera o controle e sem querer, deixara o cachorro do vizinho queimar.
Aconteceu depois que o vizinho — um garoto violento. — zombara dela por não sair para brincar com as outras crianças. Logo depois, uma pedra a atingiu bem na testa, abrindo um corte. Meredith se lembrava de gritar, sentindo algo borbulhar dentro de si, mesmo ainda criança, a raiva se manifestara e o resultado foi um incêndio perto do balanço na árvore. O pobre animal estava por perto quando as chamas ficavam maiores, o consumindo por inteiro.
Como se a lembrança não fosse ruim o bastante, no sonho, tudo se repetia, mas com uma diferença: no fim, seus pais não corriam para acalma-la. Eram eles que queimavam no lugar do cachorro, gritando desesperados enquanto sua versão criança sorria sadicamente, com uma mulher atrás de si, rindo.
Morgana.
  Se jogando de volta nos cobertores, Meredith decidiu que não poderia cruzar os braços e esperar por Dumbledore, ou melhor, por nenhum dos dois. Enquanto a carta de Aberforth não chegava com a confirmação de um encontro com Batilda, a bruxa iria focar em outro ponto importante: a viagem no tempo!
Se tudo desse certo, Batilda a ajudaria a desvendar o passado de Morgana, ou boa parte dele. Então, o mistério do vira-tempo continuava. E como toda boa detetive trouxa, precisava começar a ligar os pontos e achar a primeira pista. Foi então que se lembrou.
Saul Croaker estava no caderno de Dumbledore. Croaker havia se dedicado à pesquisas no futuro, mas o que a garantia que aquele cérebro brilhante não fosse uma herança?
Deveria ser comum naquela época os pais manterem os filhos nas tradições familiares. E pelo o que lera no caderno-guia, haveria anos que Saul realizaria as pesquisas, algo tão grandioso que não era possível ter nascido de uma hora para outra. Família sempre seria a força de uns e o fracasso de outros. Felizmente, no caso de Saul Croaker, sua família poderia ser a salvação de Meredith.
Um pouco mais calma e controlada, a bruxinha respirou fundo ao fechar os olhos. Poderia pensar em como faria para rastrear os antepassados do homem quando acordasse e claro, enfrentar o que houvesse naquela manhã.

Enfrentar definitivamente era a palavra apropriada. Meredith descobriu isso quando fora acordada por risadinhas no dormitório, que logo cessaram quando a garota abriu as cortinas violentamente. E lá estavam suas companheiras: Dominique Mills e Harper Davis, as definições do que garotas da década de 40 deveriam ser.
A primeira parecia simpática, mas muito curiosa. A segunda poderia ser classificada como nariz em pé, e se Meredith não tivesse conhecido Edwina na noite anterior, com certeza o título de sabe-tudo-ignorante seria dela. Porém, a bruxa relevava e tentava ser discreta. O máximo que conseguia, já que as risadinhas anasaladas estavam a frustrando.
Após esse episódio inconveniente, — com a Helinor ter quase grunhido ao se levantar da cama e dar bom dia. — ela seguiu para o salão comunal, encontrando a Turpin com seus livros enfiados debaixo do braço, parecendo mais uma general do que uma estudante. Merlin!

— Bom dia, senhorita Helinor.

— Pode me chamar de Meredith, Edwina. — a bruxa parou em sua frente, ajeitando as vestes tortas.

Edwina lançou-lhe um olhar julgador, levantando a cabeça, dizendo:

— Espero que tenha dormido bem, senhorita Helinor.

A senhorita Helinor revirou os olhos, não querendo discutir. Em vez disso, encarou o salão comunal, percebendo os olhos da maioria em si. Então se perguntou se as olheiras estavam tão evidentes.

— Por que todo mundo está me olhando?

— Ora, você é a pupila de Aberforth Dumbledore. — a outra respondeu, frisando o nome do seu tio. — Além do mais, as notícias correm rápido aqui em Hogwarts. Acostume-se.

E saiu, sinalizando para que Meredith a acompanhasse. A mesma suspirou frustrada, desejando poder mostrar seus poderes sem varinha. Quero ve-la se achar melhor depois disso.
Mas então parou para refletir e se perguntou se a atitude de Edwina era normal ou se agia assim com todos os novatos. Uma tática para intimidação de monitores- chefes? Ela não sabia, mas não tinha esquecido do alerta sinistro que a bruxa havia lhe dado.
Você vai ter que descobrir.

— Nossos horários serão entregues pelo diretor de nossa casa, professor Flitwick durante nosso café da manhã.

Meredith assentiu distraída, quando já desciam as escadas para o salão principal. As escadas começaram a se mover quando alguns alunos da Grifinória apareceram, entre eles, o trio que a jovem havia conhecido: Minerva McGonagall, Septimus Weasley e Charlus Potter.
Sua futura diretora e o ruivo vinham rindo quando o último garoto capturou os olhos de Meredith. Ele sorriu, acenando avidamente.
Imediatamente, a bruxa sorriu, acenando de volta. Edwina percebeu que a jovem parara na metade do caminho e se virou, visualizando o empecilho.

— Francamente! — comentou ao notar o garoto descer as escadas para chegar até ambas.

A Turpin já ia dando meia volta quando Meredith segurou seu braço, a puxando para seu lado. A mesma a fuzilou com os olhos, se soltando do aperto.

— Olha o que temos aqui... — o moreno sorriu, pegando a mão da garota e depositando um suave beijo.
— A dama mais interessante de todo castelo.

— Você ouviu as fofocas, não é?

Charlus riu, corando. Meredith apenas sorriu, balançando a cabeça divertida. Olhando por cima do ombro do jovem, ela viu os outros dois, vindo na mesma direção que o amigo.

— Potter. — Edwina se manifestou, acenando com a cabeça brevemente.

Charlus a encarou divertido, se adiantando para repetir o ato que fizera com Meredith. Contudo, o resultado não foi o mesmo.
Edwina o observou indiferente, rígida. Ele voltou a posição normal, não parecendo envergonhado. A bruxa novata apenas encarou ambos, sentindo a tensão no ar.

— Como vai você, Edwina? — Charlus tentou quebrar o silêncio, pondo as mãos nos bolsos da calça. — Espero que tenha tido boas férias.

A garota ficou mais rígida do que nunca, elevando o queixo, antes de responder:

— Foram normais.

Naquela altura, Minerva e Septimus já se aproximavam, conversando entre si e olhando discretamente para o trio. Mas Meredith sabia que certamente o assunto era ela.

— Ah... que bom. — o garoto sorriu, lançando um olhar nervoso para a morena. — E o seu pai? Como estão as pesquisas?

Foi aí que o rosto de Edwina Turpin se fechou completamente. Seus olhos se estreitaram, sua boca formou uma linha fina e sua mandíbula permaneceu cerrada.
Helinor começou a ficar curiosa.

— Pesquisas? Não sabia que o seu pai estava fazendo uma.

Charlus riu, apoiando seu braço no ombro de Meredith, divertido. A mesma revirou os olhos, não entendendo a expressão da outra garota.

— Não é nada demais. — respondeu friamente.

Meredith ergueu as sobrancelhas. Charlus insistiu:

— É claro que é! O pai dela trabalha para o Ministério.

— Não é bem assim.

Septimus e Minerva pararam ao lado de Charlus, encarando a novata.

— Olá, Meredith.

— Não precisa ficar envergonhada, Edwina. O senhor Croaker é bem... criativo.

Edwina o observou, irritada. Meredith quase tombou em cima de Charlus. Croaker?

— Pensei que seu sobrenome fosse Turpin. — constatou, chocada.

Septimus abriu a boca para falar, mas Minerva foi mais rápida:

— E é. Edwina Turpin Croaker.

Meredith observou a garota como se fosse a primeira vez que a via. Charlus observava Meredith, que por vez era encarada por Minerva pacientemente, que tinha toda a atenção de Edwina, — esta parecendo irritada pela intromissão. — que por fim era a pessoa em que Septimus depositava sua atenção, confuso.

— Alguém pode explicar o que está acontecendo? — quis saber o ruivo.

Edwina respirou fundo, murmurando um até depois para Meredith, se retirando logo em seguida.  O quarteto observou a figura da jovem entrar no salão principal. Helinor ainda estava perto de Charlus, que naquele instante, amparava a menina.
A própria o encarou, tentando se manter calma.

— Quer saber, — sorriu com todo seu charme para o Potter — acho que vamos nos dar muito bem.


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Notas finais do capítulo

Apenas uma única coisa a dizer: Edwina Turpin pode ser a faísca que acenderá o fogo, queimado tudo e todos!