Fire Goddess escrita por IsabellaMaria02, xmwah


Capítulo 2
We just need mercy


Notas iniciais do capítulo

Oii, gente! Depois de tanto tempo sem dar as caras aqui estou de volta com Fire Goddess e muitas outras fanfics e novidades que estão por vir! Espero que gostem do capítulo!

~ Isabella M.



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— Vinte e dois! –Um dos guardas do palácio gritou. A garota caiu no chão, o sangue se espalhou pelo chão da prisão.

Jorge Blanco segurou a arma mais firme próximo ao peito, até os nós de seus dedos ficarem brancos, tentando não demonstrar sua tensão ao presenciar a cena. Ou melhor, tentando não derramar as lágrimas que estavam quase escorrendo. Apertou os olhos e engoliu em seco mais uma vez. Às vezes ser um soldado leal ao Império não era a coisa mais heroica do mundo.

A garota, que aparentemente era apenas mais uma cozinheira e criada no castelo, era na verdade uma espiã rebelde que passava informações sigilosas do palácio para os Deuses do Fogo. Quatro soldados, inclusive Blanco, foram convocados para fazê-la “confessar a verdade em troca da liberdade ou da vida”. Ela fora levada à prisão do castelo – um grande eufemismo de masmorra, onde os condenados morriam sozinhos e sem nada – e agora estava sendo humilhada pelos guardas.

Blanco só estava ali para se certificar de que ela não fugisse, essa era sua missão. Apontar a arma para ela até tudo acabar. Bom, ele duvidava de que ela conseguisse ao menos se levantar. É meio impossível quando se levam vinte e duas chicotadas por todo o corpo.

— E então? Continua muda? –O guarda perguntou. – Se eu fosse você já teria dito toda a verdade.

A garota ergueu a cabeça. Uma gargalhada fria, irônica e sentida.

—  Nunca.

— Próximo! – O Príncipe se encostou ao confortável trono do Imperador. Ótimo, apenas duas horas. Somente duas horas...

Aquele era um de seus dias de treinamento mais difíceis, e ao mesmo tempo fáceis. Tudo o que ele deveria fazer era sentar-se, ouvir o que os súditos tinham a dizer, e achar uma solução para o problema que haviam exposto. O Príncipe deveria mostrar um pouco de misericórdia pelo povo. Era uma tarefa cansativa –cada súdito esperando por horas na enorme fila, à procura de uma vida melhor- mas Pepe deveria estar disposto a tudo, se quisesse mesmo ser o herdeiro.

A próxima pessoa da fila deu um passo à frente, com a cabeça baixa. A garota fez uma reverência e levantou o olhar cansado e triste.

Pepe se inclinou para frente, curioso para saber o que ela teria a dizer; sentiu um pouco de pena pela situação da garota: aquelas roupas velhas, sujas e esfarrapadas, o cabelo emaranhado. E a falta de força nítida em sua expressão.

— É uma honra e um prazer estar diante do herdeiro, Vossa Alteza. – A garota tentou dar o melhor sorriso que poderia dar.

O Príncipe hesitou. 

— O que a traz aqui, senhorita...?
— Stoessel. Martina Stoessel. –Ela respondeu. Respirou fundo e começou a dizer seu caso: - Em primeiro lugar, devo dizer que a família Stoessel é simpatizante com a influência dos Barroso desde que a União era apenas a solitária Espanha.

Pepe assentiu, mantendo a postura de príncipe o melhor que podia.

— Estou ouvindo.
— Vim de muito longe para falar com a Família Imperial, vim de Sevilla. O senhor já deve saber que a epidemia está se intensificando para o sul. – O Príncipe se manteve calado. Os olhos de garota se encheram de lágrimas. – Então... Em nome da família Stoessel, pedimos humildemente que a Família Imperial aceite nossa oferta em troca de toda a medicação necessária para que o Senhor Stoessel, dono de nosso pequeno negócio e pai de família, não venha a falecer.

Era o pedido, a necessidade, mais importante do mundo para Martina. Dava para ver em seu olhar o quanto aquilo significava para ela. Pepe fixou o olhar no chão enquanto pensava. Havia milhares de pessoas que tinham feito pedidos parecidos. E ele não sabia se o Imperador permitiria tanta “misericórdia”. Ainda havia muitas pessoas atrás da garota na fila. E cada vez que ouvia seus problemas, sabia que não conhecia absolutamente nada sobre o seu povo.

— Meu pai é dono de uma pequena empresa familiar, produzimos algumas roupas e sapatos para os mais necessitados, e fornecemos alimentos orgânicos para lanchonetes e restaurantes da cidade.
— Uma fazenda?
— Isso. –Ela juntou as mãos e mordeu os lábios. – Sem o meu pai tomando conta de lá... Não temos nada. Sem ele não 
somos nada. Não estamos preparados para perdê-lo. Alteza, eu sei que parece um pedido ingênuo, mas tudo o eu quero é que meu pai fique bem. E farei tudo o que estiver ao meu alcance para que isso seja possível. Não temos muito para oferecer, mas se a Família Imperial mantiver a lealdade com a família Stoessel, prometemos ceder tudo de nossa colheita para o Império. Eu me ofereço para ajudar nos favores do castelo, terá minha total lealdade e esforço nos aposentos imperiais, eu posso trabalhar no que quiserem, o quanto quiserem, só preciso estar ciente de que o Imperador e o Príncipe fizeram todo o possível para manter meu pai vivo. É tudo o que temos para oferecer; não é muito, mas é muito importante para nós. Importante para mim. Só pedimos um pouco... De compaixão.

Pepe se comoveu com as palavras dela. Ninguém nunca havia se entregado à família imperial somente para o bem-estar da família daquele jeito; pelo menos não perante o Príncipe.

Ele se sentiu envergonhado por ter tudo em suas mãos, e ver que milhares de pessoas que se encontravam sob seu domínio não tinham... Nada. Ou quase nada.

O herdeiro olhou para um dos guardas, que se mantinha parado, em alerta. Pepe voltou os olhos para a garota. Senhorita Stoessel estava cabisbaixa, provavelmente para que o Príncipe não visse suas lágrimas escorrendo pelo rosto. – Ele se levantou do trono e desceu a pequena escadaria, em direção da garota. Segurou suas mãos.

— Olhe para mim. – O Príncipe pediu, com uma expressão suave no rosto. Quando a garota ergueu a cabeça, tudo o que ele viu foram olhos castanho-escuros, tristes, porém com um pouco de esperança. Ele mal podia imaginar tudo que ela já havia passado. – Martina Stoessel, certo?

Ela fez que sim com a cabeça.

— Bom, senhorita Martina Stoessel... –Pepe tentou manter a expressão mais doce e suave que poderia fazer. – Eu, Pepe Barroso II, o Príncipe e Herdeiro da União, aceito suas condições de lealdade para o Império. Farei todo o possível para o bem estar de seu pai. Você morará no castelo, e trabalhará na cozinha e nos estábulos. –Antes que ela comemorasse, ele voltou com sua expressão séria. - Mas com uma condição.
— Qualquer coisa, Alteza.
— Aceitarei a oferta desde que se mantenha forte. Caso seja tarde demais para o seu pai, a família Stoessel não terá mais a necessidade de tanto trabalho apenas para recompensar a Família Imperial. Você se mudará para o castelo hoje mesmo. E seu pai virá para a quarentena esta noite. E espero que saiba que não será algo fácil, em nenhum dos sentidos. Para nenhum dos lados. Eu mesmo me certificarei de que a senhorita e seu pais sejam bem-tratados aqui.

Ela deu o maior sorriso que poderia dar.

— Muito obrigada, Vossa Alteza! Darei tudo de mim para que o trabalho seja feito com perfeição! Seremos gratos eternamente!

Pepe pediu para um dos guardas levá-la ao seu novo quarto. Voltou para o trono e o próximo da fila desse um passo à frente.

Por alguma razão, ele sentiu-se feliz consigo mesmo depois de ajudar aquela garota.

A Princesa tocou no ombro dele.

— Ele vai ficar bem, Pepe. Eu tenho certeza.

O Imperador não estava nada bem. Os médicos estavam aconselhando a Família Imperial se preparar para o pior. Desde o ataque dos rebeldes, Pepe I não estava nem em condições de levantar da cama.

— Você não entende... –Ele olhou nos olhos de sua noiva. - E se não? Se for o fim? O fim de tudo? Não quero ficar no poder, não nestas condições. Não farei nem a metade do que meu pai fez... Não sou digno do trono. Eu mal sou digno do seu amor, Martina. Tudo... Tudo está errado. Não sou digno de nada, agora.
— Ei, - Ela sorriu. – eu me lembro do dia em que te conheci pessoalmente. E, acredite, desde aquele dia eu soube que você seria um príncipe, imperador, rei, marido e pai mais digno do Império. Eu só fui sortuda o suficiente para conhecer o verdadeiro Pepe que tinha por trás do título de Príncipe. Mas eu sempre acreditei em você. E agora mais do que nunca, você também precisa acreditar em si mesmo.
— Eu já não sei mais como fazer isto. –Ele baixou a cabeça. – Como eu me mantenho forte, agora? Tudo está indo aos caos! O sistema de monarquia está... Simplesmente indo de mal a pior; minha casa, o meu mundo, minha família... Tudo está se perdendo aos poucos! Eu não consigo mais fazer isto. Não consigo.
— Então você vai desistir? –Martina, a Princesa, indagou; com sua paciência eterna e invejável. – Vai desistir do trono, de sua família... Até de mim? Porque isso é tudo o que não precisamos agora. Já o vi lidar com problemas bem maiores do que um incêndio no castelo.

Pepe ergueu a cabeça.

— Foi um ataque de pessoas que não estão satisfeitas, nem comigo, nem com meu pai. Não foi um acidente. Eu sou vaiado cada vez que saio do castelo. E sabem-se lá quantas pessoas do Império são contra os Barroso no poder!
— Está exagerando.
— Eu adoraria dizer que sim, estou; mas nós sabemos que é mentira.

Antes de a Princesa responder, um dos médicos interrompeu a conversa, saindo do quarto do Imperador e caminhando até o Príncipe. Pepe e Martina se levantaram rapidamente.

— Com licença. Alteza, tenho más notícias: seu pai tem poucos meses de vida; o Imperador passará por cirurgias imediatamente; faremos todo o possível para que ele se sinta melhor, no entanto, sentimos muito... O Imperador deseja vê-lo.

— Por que acreditaríamos em você? – Candelaria perguntou. – Como nos encontrou? Sabe que temos armas de fogo aqui... Não sabe?

A garota jogou a cabeça para trás e gargalhou.

— É, sim, eu sei disso. Eu as forneci.

No mesmo instante Candelaria hesitou.

— Quem a mandou aqui, garota? - A rebelde perguntou. Virou para trás e viu Diego largado na cadeira de qualquer jeito. Ele não se importava com quem entrava ou não em contato com os Deuses Do Fogo tanto quanto Candelaria. – Mostre-me seu braço.
— Ah, isso é sério? – A garota fez uma careta, mas levantou a manga, deixando uma tatuagem de ondas à mostra. O símbolo oficial do armamento para os Deuses do Fogo. – Eu tenho a marca. Membro número cinco do armamento. Ninguém me mandou aqui. Vim por vontade própria, na verdade. Eu acredito na causa tanto quanto você. Sei mais dos Deuses do Fogo do que qualquer um aqui dentro. Só quero queimar algumas coisas... Alguém. Armamento por um novo membro. Não parece uma troca justa para você?
— De onde você é?
— Não percebeu pelo sotaque? Venho de uma família de Nova Baires, não que isso realmente deva importar. – A garota se inclinou. – Meu pai deu a vida dele pela causa, e eu só quero ter a chance de fazer o mesmo. Toda a minha família lutou pela União como vocês. Só queremos oficializar a coisa. Deixe-me mostrar que sou boa, caso contrário façam o que quiserem. Não tenho nada a perder.
— Isso soou bem dramático, gata. – Diego cruzou os pés um em cima do outro, enquanto dava uma risada discreta.

A garota esperou Candelaria dizer algo. No mesmo instante a ruiva suspirou e retirou os braços da mesa em que estava apoiada.

— Tudo bem. Eu, Candelaria, braço direito dos Deuses do Fogo, a nomeio membro oficial da causa. Código-chave: FG1538NIUE. Seja bem-vinda, Mercedes Lambre.

Uma faixa de luz se refletia na pele de Stephie. Aquela prisão era fria, o chão era gelado, principalmente quando se estava nua e machucada. Mas tudo bem, ela pensava, tudo pela causa. Vai valer a pena. A mulher se encolheu à procura de uma posição em que não ficasse com tanto frio. Lágrimas de dor escorreram em seu rosto.

Aconteceu quando ela estava em um ataque em Sevilla. Viajou horas da Cidade de Madrid para chegar até lá. Os rebeldes estavam atacando. Fogo para todo lado, como ela estava acostumada. Foi quando um dos guardas do Príncipe a golpeou. Sua visão ficou turva e tudo ficou preto. No dia seguinte, ela estava na masmorra do Castelo Imperial. – Estava vestida ainda. Mas os interrogatórios começaram, e consequentemente a humilhação também. Em seguida, as chibatadas começaram, a comida foi parando de ser fornecida e suas roupas foram sendo rasgadas até não sobrar mais nada que ela pudesse usar. Não que importasse. Ela morreria de qualquer maneira.

— Senhorita, acorde. – Um dos oficiais disse, de repente. A mulher se assustou. Mesmo não sabendo que horas eram, sabia que àquela hora não deveria ser incomodada.
— O que você quer? – Perguntou na tentativa de não parecer tão vulnerável. – Já disse que não darei informações de nada. – Ela se encolheu mais, esperando não tremer.

Ela foi surpreendida pelo barulho da cela se abrindo. Ela se encolheu: embora não gostasse de saber, sabia que estava com medo e assustada. O guarda entrou no local e a cobriu com um lençol grosso. Stephie ficou surpresa com o gesto, foi um gesto gentil, mas desconfiou.
Sob a luz, os olhos do guarda ficaram verde azulados. Seus cabelos castanhos brilharam intensamente. Entregou um papel dobrado para ela.

— Acredito que isso faça mais sentido para você do que para mim.

A mulher pegou o papel, as mãos trêmulas, e leu. Seus olhos de arregalaram imediatamente.

— Quem entregou isto a você?
— Eu não faço a menor ideia. Mas você sabe o que isso significa. Não sabe? -Ele caminhou para mais perto dela.

A mulher virou o rosto de dobrou o papel.

— “Código-chave: FG1537NIUE”. - Recitou. – Fire Goddess, membro mil quinhentos e trinta e sete do Novo Império da União Espanhola. Os Deuses do Fogo te convocaram. Provavelmente viram em você algo especial. -Ela olhou para o guarda e deu um sorriso debochado. – Talvez seja sua cara de pena para mim quando levei aquelas chicotadas. Diga-me, o que você pior: acha a causa algo tão cruel ou... O que fizeram comigo e muitos outros?

O guarda engoliu em seco. Talvez ela estivesse certa.

— Leve-me até seu líder.
— Impossível. – Ela riu. – Caso não tenha percebido, estou presa “por ordem do imperador”.
— Como se chama?

Stephie fechou os olhos com força.

— Informação sigilosa. Mas se quer saber, meu codinome é Muro. Sabe como é.... Ninguém passa por mim. Ou você tentar. Mas vai cair muitas vezes.

O guarda sorriu. Um sorriso reconfortante e sincero. Stephie ficou surpresa mais uma vez. Se aquele guarda realmente pareceu útil para a causa, ela teria de descobrir o motivo. Sob a luz, ele não parecia tão mal assim, afinal.

— Sou Jorge Blanco. – Ele tentou passar confiança a ela. - Eu não sei exatamente o por quê me convocaram. Mas eu sei que é algo que eu tenho de fazer. Então, façamos um trato: leve-me até seu líder e estará livre. Pode voltar a... Colocar fogo em qualquer vilarejo que tiver vontade! -Ele riu. – Prometo fingir que nunca a conheci. Poderá se passar por apenas mais uma rebelde morta que passou por esta prisão.

Ela torceu o nariz, porém não podia negar que queria sair dali. Queria voltar para os rebeldes, sua nova família, onde ela não precisava mentir ou omitir nada.

— Por que eu faria isso? – Stephie perguntou. – Por que você faria isso? Como sei que não é apenas uma armadilha para conseguir informações, guarda?

Ele deu de ombros.

— Acho que eles não dariam esse papel para qualquer um, dariam? Vamos, você precisa passar pelo caminho até a saída sem que a reconheçam. Uma criada pode te dar roupas novas e limpas. Posso arranjar alguma coisa para você comer, mas... Tem de decidir se vai me ajudar.
— O que acontece se eu recusar? -Indagou ela. – Posso te entregar para o Príncipe? Ou outros guardas?
— Bom, se fizer isso vai perder sua única chance de fugir. É você quem decide. – Repetiu, dando de ombros.

Ela suspirou. Não pensou muito para responder:

— Tudo bem. Eu ia tentar fugir de qualquer jeito.

Jorge, o guarda, ficou satisfeito com a resposta. Se levantou e voltou à pose de oficial. Pigarreando, colocou as mãos para trás e disse:

— Esteja pronto amanhã à noite. Agora durma. Vai ser uma longa trajetória até a saída, senhorita. 


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? O que acham que vai acontecer? Só quero dizer que AMO Pepe e Tini nessa história! Espero que tenham gostado do capítulo! Deixem suas opiniões nos comentários e até o próximo!



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