Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 24
Um Acidente


Notas iniciais do capítulo

ps: preparem o coração!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/741115/chapter/24

** Pensamentos de Bernice **

— O Noah?! - Diaval esbravejou - Mas como isso é possível? Ela o permitiu?! Foi tão inconsequente a ponto de deixar que ele visse o esconderijo?! 

— Não acredito que tenha sido assim - disse com firmeza na voz 

— Se não foi assim, como foi então?! - ele indagou 

— Isabel disse que ele a estava seguindo e acabou vendo quando ela abriu a passagem, tentou fazer com que ele fosse embora, mas o canalha disse que só não contaria nada se Isabel o trouxesse aqui dentro - expliquei - e foi o que ela fez 

— Isso não está certo... - Diaval disse consigo mesmo, coçando o queixo - Eu mesmo estava lá, vi todo o procedimento acontecer. Ele te reconheceu? Deu algum indício de que soubesse quem você é? 

— Não, eu que fiquei um pouco nervosa no início, mas quando ele começou a fazer perguntas idiotas e se alto intitular de "Príncipe Noah", percebi que de fato ele não fazia ideia de quem eu era ou de onde estava 

— Isso continua não fazendo o menor sentido, ele não deveria ter visto nada além da Isabel conversando com uma árvore - Diaval refletiu 

— Foi por isso que te chamei aqui, acredito que as defesas do esconderijo estejam fracas - disse 

— Não acredito que seja isso... 

— Será que alguém pode me explicar quem é esse tal de Noah? - Malévola indagou, chamando a atenção de todos

Mas apenas me sentei na cadeira novamente, deixando que Diaval se encarregasse de contar essa longa e infeliz história, já que me faz ferver de raiva só de pensar em como tudo aconteceu e, como as coisas não ficam muito legais quando eu me estresso,  achei mais prudente deixar que ele contasse tudo. 

Diaval olhou para Malévola de uma forma diferente, reconheci aquele olhar como o que eu e Amin trocamos, era amor, eu só não entendia por que ele não havia me contado ainda. Mas talvez fosse algo recente até para eles, o que é mais provável. Fico feliz que ele tenha encontrado alguém, já que ninguém antes nunca pareceu ser o tipo dele, estava quase acreditando que teríamos que procurar por pássaros. 

— Noah é filho da Branca de Neve, o mais jovem príncipe em sua linha de sucessão - Diaval começou a história se sentando em uma cadeira - ele nasceu aparentemente sem qualquer tipo de poder ou inclinação para magia 

— Um bastardo - Malévola o completou 

— Sim, até o dia que ele completou quinze anos. Como todo filho da realeza, o garoto teve uma festa deslumbrante, dessas que não terminam até o amanhecer, mas algo diferente aconteceu nesse dia, a magia finalmente apareceu e ele não podia estar mais perdido - Diaval explicou - Bernice o encontrou andando sozinho e então o trouxe para mim

— Magia por amadurecimento, existem vários livros que falam sobre isso - Malévola disse e me admirei com sua sabedoria nesse tipo de assunto 

— E eu procurei ajuda-lo da melhor forma possível, mas o garoto tava assustado, disse que tinha medo que os pais descobrissem 

Nesse momento Diaval olhou para mim, me passando as rédeas do assunto. Eu hesitei de inicio, mas depois não tive escolhas se não continuar a entediante história pra ele. Mesmo não fazendo a mínima ideia de quem sou, Noah ainda consegue ferrar comigo. 

— Nós demos abrigo a ele - completei - o ensinamos a controlar os poderes, fizemos dele um membro da OPAM e ele nos fez seus amigos, pelo menos era assim que acreditávamos ser 

— O fato é que... - Diaval tomou a palavra novamente - a magia não conseguiu muda-lo por completo e, com o tempo, ele acabou mostrando quem era de verdade. Noah é o mais novo e dificilmente chegará ao trono de seu reino um dia, nós conversávamos sobre isso, ele expunha seus sentimentos pra mim e... pra Nice 

Nesse momento Diaval olhou pra mim, como se estivesse me passando a palavra de novo, mas eu sabia exatamente o que ele queria e achei melhor falar logo de uma vez, afinal, fazia parte da história. 

— Nós namoramos por um tempo e... - disse por fim - nos amamos, profundamente. Mas o Noah tava irritado por que os pais não reconheciam os esforços dele, dizia que a Branca de neve e o Encantado só tinham olhos pra filha mais velha e que o deixavam esquecido no canto

— E isso era é verdade? - Malévola indagou 

— Eu nunca soube, não é como se tivéssemos um relacionamento comum - expliquei - eu não podia chegar e me assumir pra família dele, eles me reconheceriam e... uma adepta de magia em um reino que odeia a magia mais do que a capital? Nada bom

Malévola apenas escutou minha explicação e ela tinha uma compaixão no olhar, quase como se soubesse a sensação de ser odiada por aquilo que, no fundo, é o que você é. 

— Noah me disse que ia fugir, disse que não aguentava mais viver escondendo os poderes, que me amava e que iria lutar para que, um dia, não tivéssemos mais que nos esconder - continuei 

— Mas acabamos descobrindo que ele mentia - Diaval tomou a voz. Ele sabe como essa história mexe comigo - na verdade o Noah planejava expor seus poderes 

— Mas isso não seria uma coisa boa? - Malévola perguntou, confusa - Não daria aos pais dele a oportunidade de rever a aceitação da lei no reino? Pelo próprio filho?

— Sim - Diaval confirmou - se fosse só isso o que ele quisesse. Noah queria mais, ele queria forçar as pessoas a aceitar a magia, usando a própria como arma de fogo

— Ele queria se tornar uma espécie de imperador - tomei a palavra - e depois levar todos nós para viver no seu reino, onde ele jurava que faria o povo ter respeito por nós 

— Mas não era respeito o que ele conseguiria - Diaval me cortou - ele só conseguiria receio e revolta, conseguiria fazer com que essas pessoas tivessem ainda mais medo da magia. Eu não podia permitir, sou o chefe da organização e, como fundador, sempre fiz com que cada membro da OPAM seguisse o caminho certo, que fossem aceitos por serem boas pessoas e não porque usaram da magia para impor respeito. Meu propósito é que lutemos aqui em baixo, para que um dia, não tenhamos que lutar lá em cima 

Abaixei a cabeça e encarei a mesa cinza, lembrando a mim mesma o porque de termos feito o que fizemos, do propósito que ordenou minhas decisões por tantos anos. Mas ainda é difícil pra mim, porque sempre que lembro dele, fico me perguntando se realmente fiz a escolha certa, tomando uma decisão por ele, usando o meu principio de vida. 

— Nós tentamos conversar com ele - Diaval continuou - mas Noah já estava decidido, não iria voltar atrás e queria levar outros com ele, nem Bernice ele escutava. Então eu tive que tomar uma decisão, pelo bem de todos os membros da OPAM, daqui e dos outros reinos

— O que você fez? - Malévola indagou 

Diaval hesitou no inicio, fazendo uma longa pausa dramática, mas ele já tinha começado e agora teria que terminar. Então eu apenas sentei na cadeira novamente e contemplei a vista da janela, um enorme galpão com mesas, cadeiras, prateleiras, livros e objetos esquecidos pelos alunos. Aquele parte da história, me magoava demais. Amin, que até agora escutava tudo em silêncio, veio até mim e colocou a mão em meu ombro, mas não tirou a atenção da conversa, ao contrário de mim, que já havia me desligado. 

— Eu tomei todo o tempo que tive para pensar, também foi difícil para mim. Eu não quis demonstrar superioridade como alguns pensaram na época - Diaval falou, me fazendo olhar para ele brevemente, antes de voltar a atenção para a janela de novo - a decisão que tomei foi uma das mais difíceis da minha vida, mas fim por um bem maior, fiz por todas as pessoas que ele prejudicaria com essa ideia absurda 

— O que você fez? - Malévola repetiu a pergunta, ansiosa 

— Eu conversei com algumas fadas que apoiam a OPAM, li todos os livros que pude e... por fim, convenci a mim mesmo que estava fazendo a coisa certa - Diaval disse um um pesado suspiro - nós o levamos para um local segura e lá fizemos o procedimento de exoneração, eu participei de tudo e me certifiquei de que tudo saísse da forma mais segura possível 

— Tirou os poderes dele?! - Malévola perguntou, pasma com que acabara de ouvir 

— Não só os poderes, eu e as fadas fizemos um feitiço para que ele esquecesse de tudo o que viveu conosco - Diaval finalmente soltou a bomba completa e seu semblante não era dos melhores - esquecesse da magia, da OPAM, de mim e... de Bernice 

Nesse momento senti uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto, a qual limpei na mesma hora. Eu odeio melancolia e odeio chorar, odeio tanto que fiz uma promessa a mim mesma, nunca mais choraria por um motivo banal. Ainda bem que não quebrei minha promessa. 

Senti que outra lágrima estava vindo e não podia deixar que aquilo acontecesse, não ali, na frente de uma das pessoas mais poderosas de todo o universo. Então apenas me levantei, empurrando a cadeira para trás com força, em uma falha tentativa de minimizar a raiva, e saí do escritório. 

Caminhei o mais rápido que pude para o jardim, um dos poucos lugares que conseguem me fazer relaxar quase que instantaneamente, como... mágica. 

** Pensamentos da Mal ** 

— Ok - Evie disse, soando desproporcionalmente positiva - temos três resultados positivos e um dizendo... "parabéns é um menino!"

— Não, isso não pode tá acontecendo... não pode ser verdade - disse mais para mim do que para ela 

Olhei para o meu próprio reflexo no espelho, tudo parecia certo, tudo parecia estar no seu lugar mas... tudo não estava. Não é como se eu não quisesse, mas tinha que ser agora? Esperava que isso fosse acontecer só daqui alguns anos, não hoje. 

Enquanto me afundava em pensamentos e questionamentos, levantei parcialmente minha blusa e coloquei uma mão em minha barriga. Estava maior? Tinha alguma diferença ali? A verdade é que eu não sabia, mas os testes diziam claramente que sim, inclusive um deles dizia ser um menino. 

Um menino... como eu iria contar para o Ben? Ia chegar e dizer: "Hey, o jogo ontem foi super legal, né? A propósito, eu tô grávida!". Não dá, simplesmente não dá. Nada disso soa como o que eu planejei pra minha vida. Ficar grávida aos vinte um anos?! Antes mesmo de me casar?! 

— Não... - sussurrei para mim mesma, colocando a outra mão sobre minha barriga - não... 

— Mal - Evie segurou meu pulso, me fazendo tirar a mão do... bem, do meu filho - eu sei que isso não é nada como o que você planejou, ok? Mas aconteceu e é uma coisa tão maravilhosa 

— Mas e o Ben, Evie? 

— Ele vai adorar, desde que o conheço que ele sempre diz coisas do tipo: "quando eu tiver um filho...". E ainda mais sendo um menino? Ele vai explodir de felicidade, Mal

— Mas... agora? Em um momento como esses? Há apenas algumas semanas do casamento? - indaguei - Nós brigamos hoje de manhã, uma briga feia 

— E quando é que vocês não brigam? 

— Exatamente, nossa relação é a mais conturbada que eu já vi, como vamos cuidar de uma criança? De um bebê? - perguntei, caminhando de volta para o quarto e me sentando na cama 

Evie me acompanhou e também saiu do banheiro, ela se sentou ao meu lado na cama e segurou minha mão, me fazendo olhar para ela. Seu olhar era pura e transbordava compaixão, dizendo que estaria comigo sempre. 

— Vocês podem até brigarem bastante, mas  sabe qual é o lado bom? - ela perguntou - Vocês sempre fazem as pazes. E é por isso que eu sei, Mal, que você e o Ben... serão os melhores pais que essa criança poderia ter e acredite, estou sendo cem por cento sincera quando digo isso

Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Agora eu entendia por que estava tão sentimental esses últimos dias, chorando por qualquer coisa, na verdade os meus hormônios que estavam todos bagunçados, como uma TPM eterna. 

— Obrigada Evie - eu agradeci, apertando levemente sua mão - por ser essa pessoa incrível, que tá sempre comigo e... que foi a primeira a saber que eu estou grávida - eu disse com um sorriso 

— É - ela respondeu com outro sorriso e mais lágrimas. Evie não precisa de hormônios para ser emocional e eu a adoro assim, do jeitinho que é - então, quando vai contar pra ele? 

Respirei fundo com aquele pergunta, procurando a resposta dentro do redemoinho de pensamentos, mas a verdade, é que nem eu sabia. 

** Pensamentos de Malévola **

Bernice saiu da sala apressada, toda aquela história realmente a afeta e eu entendo bem, sei como é isso. Amin, aparentemente o atual namorado, pediu licença e saiu atrás dela logo em seguida. Diaval suspirou, passando a mão no rosto. 

— Essa menina... ela é importante pra você - eu disse, analisando toda aquela situação 

— É... - ele respondeu - a conheci quando ainda era bem pequena, os pais dela tem muita confiança em mim 

— E acha que escolheu certo? - indaguei - Tirando os poderes do garoto? 

Diaval demorou alguns segundos para para responder. 

— Se hesita é porque não tem certeza 

— Eu tenho, é que... na época achei que estivesse fazendo o certo, mas agora? Não tenho mais tanta certeza 

— O feitiço pode ter se revertido sozinho - falei 

— O que? 

— Eu já li sobre isso antes - expliquei - quando a magia é retirada de alguém contra a sua vontade, ela pode voltar 

— Mas eu tirei a memória, ele não lembra da OPAM ou de qualquer outra coisa desse esconderijo 

— E por acaso ele precisou de vocês para quem os poderes aparecessem pela primeira vez? - indaguei 

Diaval ficou pensativo, possivelmente passando e repassando a proposta na cabeça, checando para ver se havia sido aceita. 

— Você acha que possa ter sido isso? - ele perguntou 

— Acho - respondi - eu acho sim 

— Então agora ele ficará por si só - Diaval disse - pelo que Bernice disse, ele não tem consciência dos poderes ainda e, se por acaso vir a ter, não virá para essa organização novamente 

— Mas ainda assim ele viu tudo aqui, como garantirá que ele não vai contar pra ninguém? - perguntei 

— Para contar ele precisará de provas - Diaval disse com um meio sorriso - e garanto que, se depender de mim, ele não terá nenhuma 

Diaval levantou da cadeira onde estava sentado e estendeu a mão em minha direção, eu estranhei aquele ato repentino, mas ele logo tratou de se explicar. 

— Vou tornar o escudo de proteção do esconderijo ainda mais forte e sorrateiro - ele disse, ainda com a mão estendida - você me daria a honra de participar? 

Fiquei o olhando por algum segundos, mais um jogo psicológico do que outra coisa, pois no momento que ele falou eu já havia aceitado. É claro que eu não vou conseguir fazer muita coisa sem o meu cajado, mas um pouco de magia vai me fazer bem. 

— A honra é toda minha - disse por fim, aceitando sua mão

** Pensamentos de Bernice **

Assim que passei das cadeiras espalhadas pela grama desde a última reunião e atravessei as cortinas de *Lianas, esperava ver a pequena construção de pedras, pouco maior que um quarto de hotel, e dentro dela nada além da fonte de anjos, mas o que encontrei foi uma explosão de flores de todas as cores, cobrindo tudo por todo lugar, e diferentes tipos de arbustos. 

*Planta que se enrola em qualquer tipo de suporte 

— Droga! Mas que merda o Umi fez com esse lugar?! - gritei - Só pode ter sido ele e a Onawa! 

Peguei uma pequena pedra no chão e joguei contra a água da fonte, que nem sequer pulou, apenas afundou de uma vez. Bufei, passando a mão por meus cabelos, e sentei em um pequeno banco sem encosto. 

Suspirei e apoiei os cotovelos nos joelhos, enterrando o rosto em minhas mãos. Por que o meu coração dói só de ouvir falar o nome dele? Achei que depois de tanto tempo eu teria superado, mas não. Acho que, no fundo, eu nunca vou superar. 

Sofrer por amor deve tá na genética, antes de conhecer meu pai, minha mãe amou tanto um homem que foi capaz de vender dia própria alma para o meu tio-avô, Hades, para salvar a vida dele. E o que aconteceu? O cara a trocou pelo primeiro par de pernas bonitas que viu pela frente, deixando minha mãe pra trás, prisioneira do poderoso Deus dos mortos. 

Mas ela acabou conhecendo o meu pai e tudo se resolveu, o semi-deus mais lindo de todo o mundo mostrou pra ela o amor verdadeiro, desistiu de uma vida glamorosa no Monte Olimpo só para viver ao seu lado, se casaram e depois de alguns anos tiveram uma linda filha. Mas, ao contrário da minha mãe, eu não tive a mesma sorte. 

Eu conheci o Noah quando tinha dezessete anos e, apesar de eu ter acreditado que seria um ponto negativo, a diferença de idade nunca nos atrapalhou, pelo contrário, parecíamos termos sido feitos um para o outro, uma ligação forte nos mania unidos, algo que ia além da magia. 

No começo, achei que fosse ser um completo idiota, mimado pelos pais, mas acabei me surpreendo, porque o Noah se revelou uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci. Ele adorava conversar comigo, passava horas falando de como nunca se sentiu ele mesmo com a família, que sempre acreditou que aquele não era o lugar dele, mas que tudo mudou a OPAM e... bem, quando me conheceu. 

Nossa relação tava meio que predestinada, ia acontecer de um jeito ou de outro, já que eu era quem tinha ficado encarregada de adaptar ele na organização. Não que um homem e uma mulher não possam ser amigos ou que não possam ficar no mesmo ambiente sem ter algum tipo de atração, mas é que se não fosse pela OPAM, dificilmente nós teríamos sequer nos conhecido. 

Não vou mentir, me fazer de santa e dizer que ele foi meu primeiro namorado, já estive com outros garotos antes dele, mas Noah foi o primeiro com que eu tive algo sério de verdade, foi o primeiro que, de alguma forma, me entendia por completo e, me aceitava como eu era.

Me abaixei um pouco e arranquei uma pequena flor do chão, o que me fez lembrar da primeira vez que levei Noah aquele lugar, na época bem diferente, com pouquíssimos arbustos e não essa verdadeira floresta mágica que Umi e Onawa certamente fizeram. 

Naquele dia, mesmo estando tão maravilhado com todas as coisas que via, ainda assim conseguia tirar o foco e prender minha atenção. E pouco a pouco ele conseguiu fazer com que eu me apaixonasse, conseguiu roubar meu coração de uma forma, que nenhum outro havia conseguido antes. 

Noah era único pra mim, estar perto dele era estar perto de uma fonte que jorra alegria e pureza,  o problema foi que tanta pureza acabou o desvirtuando do caminho bom e o levando para um caminho... sem volta. Ele tinha um amor muito grande pela OPAM, tanto amor que acabou o cegando, o tornando capaz de qualquer coisa para que nós não tivéssemos que nos esconder mais. 

O único erro do Noah foi não me ouvir, justamente quando eu mais precisava que ele ouvisse. Esse erro acabou fazendo com que eu perdesse uma das coisas mais preciosas que eu já tive na vida... ele. 

Estava tão afundada em pensamentos que acabei não percebendo que tinha companhia, Amin estava encostado na abertura que servia de porta, me olhava com ternura nos olhos e, quando percebeu que eu também o olhava, me presenteou com um lindo sorriso. Depois ele veio, a passos lentos, se sentar ao meu lado. 

— Não precisa se explicar - ele disse me empatando justo quando eu ia fazer exatamente isso - você ainda gosta do Noah, eu entendo 

— Não gosto dele - o interrompi - pelo menos não do jeito que gosto de você - disse passando a mão por seu cabelo - apenas não concordo muito com o que fizeram com ele 

— Sei que não tenho magia e, que se não fosse por você, não veria nada além de terra e uma árvore velha, mas em minha mais humilde opinião, eu também não acho certo o que fizeram, mesmo o Noah sendo o maior idiota lá na escola 

— Ás vez eu me esqueço que você ainda tá na escola, sabia? - comentei, escorando a cabeça em seu ombro 

— Pelo menos já é o último ano 

— Acho que eu tenho fetiche por homens mais novos - disse passando as unha por seu peito, o deixando todo vermelho 

Acabei rindo da situação, Amin também riu, mas de nervoso. Como disse antes, não posso mentir, então não posso dizer que amo Amin, mas uma coisa eu posso dizer: ele é muito, muito importante pra mim. 

— Vamos lá pra fora? - ele perguntou e eu franzi a testa - Malévola e Diaval vão restaurar o escudo e, não jogando praga, mas sim sendo precavido, se sair alguma coisa ruim, não vai ser bom se estivermos aqui em baixo, né? 

Ri com aquilo e fiz positivo com a cabeça, concordando. Amin levantou e estendeu a mão em minha direção, a qual segurei e juntos saímos do esconderijo. Não posso negar que acabei meio que me oferecendo pra ajudar na restauração, não é sempre que se tem a oportunidade de mostrar seus poderes para alguém como Malévola. 

** Pensamentos do Ben **

 

— Mas Benjamin, se isso for verdade, é um crime muito grave - Fada Madrinha disse com a mão no peito - não só um crime contra a coroa, mas como também contra todo o reino 

— E é por ter conhecimento da gravidade da situação que peço sua ajuda na busca - disse ajeitando meu paletó 

Fada Madrinha, ainda com a mão no peito, me olhou de relance, depois levantou da cadeira e caminhou até uma janela próxima, olhando os alunos se divertirem lá em baixo, no campus. 

— Eu não sei Ben - ela disse por fim - eu fiz uma promessa diante de todo reino, uma promessa de jamais usar magia novamente - ela fez uma pausa - o povo acreditou em mim e o Conselho me deu a oportunidade de ser diretora dessa escola, não sei se quero colocar tudo isso a perder 

— Mas não estou pedindo para que use a magia - me expliquei - jamais pediria uma coisa assim. O que estou lhe pedindo é que vá na conosco na busca, nada mais plausível visando que o local supostamente se encontra no subsolo da escola em que a senhora é diretora

— É, esse é o certo a ser feito - ela disse, concordando comigo 

— E enquanto está lá, pode nos alertar caso... sinta algo diferente - arrisquei - sentir é diferente de usar a magia, não é? 

Fada Madrinha deu um sorriso de lado, acanhado, e fez positivo com a cabeça, afirmando que iria sim ás buscas, o que de imediato já acalmou o meu coração, pelo menos um dos problemas já estava resolvido, agora só faltavam os milhares de outros. 

— Essa denúncia que você disse, quem a fez? - ela perguntou 

— Segundo a conselheira Scarlett foi algo anônimo e, mesmo eu tendo poder para descobrir quem foi, prefiro deixar tudo como está - respondi

— Você não acredita, não é Ben? - ela perguntou, ganhando minha atenção -  Acha que isso é mentira? 

— Tenho minhas suspeitas - respondi - um local escondido no subsolo da Auradon Prep? Onde adeptos de magia vão se encontrar? Posso até estar enganado, mas me parecesse uma grande mentira 

— E a Mal? 

— O que tem ela? - indaguei 

— Ela também concorda com a busca? 

Tomei um tempo para responder essa. Voltei a nossa briga de hoje de manhã e relembrei cada palavra da Mal, tudo que ela disse sobre a magia fazer ela ser quem é e acabei, inevitavelmente, me fazendo a seguinte pergunta: Será que eu quero que ela seja diferente? 

Balancei a cabeça de leve, expulsando os pensamentos que tentavam me fazer mudar de decisão. Eu tinha que fazer o que é o melhor pro povo. 

— Não há muito com o que concordar - disse por fim - uma acusação formal foi feita e merece ser analisada

— Tem certeza? - ela insistiu - Não quer me contar mais nada? 

Fiz outra pausa, parando novamente para pensar em todo o conteúdo da nossa briga mais cedo. 

— Fada Madrinha, se mudarmos nosso pensamentos por causa de alguém que amamos muito, estaremos sendo corretos? 

— Bem... se essa pessoa estiver tentando mudar sua forma de pensar para uma outra forma mais apropriada, correta e certa, não vejo problema algum, é até bom pois demonstra que sabemos ouvir novas ideias - ela disse - mas se essa pessoa em questão, estiver tentando mudar sua cabeça apenas para que concorde com ela e, de alguma forma, ela ganhe alguma coisa, então não, não seria prudente 

— Obrigado Fada Madrinha - disse com um sorriso torto - a senhora sempre tem os melhores conselhos 

— Mas tome muito cuidado Ben - ela disse, chamando minha atenção novamente - tome cuidado para não confundir aqueles que querem o seu bem, com aqueles que querem o seu mal 

Refleti mais uma vez, pensando em como aquelas duas palavras tem um peso enorme sobre a minha vida, de diferentes maneira, mas sempre ali, presentes. 

** Pensamentos da Mal **

Eu já havia procurado em cada cantinho daquele enorme castelo, em baixo de cada tapete e vaso, atrás de quadros e dentro da maioria dos quartos, como era possível que simplesmente não houvesse um telefone fixo? Para um lugar onde até os pratos tem pratos, fiquei bem desapontada. 

Foi quando fechei a porta de mais um quarto, frustada com minha busca, que acabei vendo Lumière caminhando pelo mesmo corredor onde eu estava. Então corri até ele, pois ele seria minha salvação naquele momento. 

— Lumière! - gritei, chamando sua atenção 

— Posso ajudar senhorita, Mal? - ele perguntou com o sorrisinho de idoso mais fofo que você pode imaginar 

— É que eu fiz essa viagem pra GoldLand algum tempo atrás e acabei perdendo meu celular por lá - expliquei - será que não teria nenhum telefone fixo aqui pelo castelo?

— Tem um na cozinha principal e outro na biblioteca leste - ele respondeu coçando o queixo - mas que eu lembre sua viagem já foi há um bom tempo, tá desde então sem um celular? 

— Pois é - concordei com um suspiro - a minha vida anda tão corrida que eu nem sequer me lembrei de comprar outro, não tínhamos essas coisas na ilha, sabe? Se quiséssemos falar com alguém, tínhamos que ir até lá 

— Sei como é. Afinal, sou bem velho e já vivi muitas épocas. Você que está certa em não ser apegada ao eletrônicos, esses aparelhos acabaram destruindo a vida social dos jovens de hoje em dia 

Apenas sorri e balancei a cabeça positivamente, concordando com o que ele falava, mas a verdade é que eu estava muito ansiosa para ligar para o Ben e conversar com ele. Então me despedi formalmente e saí em disparada até a biblioteca leste, parando apenas quando algum mordomo ou empregada apareciam, e voltando a correr logo em seguida. 

Quando finalmente cheguei, tive a certeza absoluta de que estava no lugar errado, aquela definitivamente não era a biblioteca leste. Mas, ao contrário de sair e perguntar para alguém onde era, eu acabei entrando e fechando a porta, pois aquele lugar era de longe um dos mais aconchegantes - para mim - daquele castelo. 

Se tratava de uma biblioteca, mas não arrumada metodicamente e com cheiro de incenso com as outras, essa era diferente. Os livros nas prateleiras não estavam organizados por altura ou por ordem alfabética, pareciam organizados por um gosto pessoal, por suas histórias.

Alguns deles estavam espalhados em cima de mesas e outros ainda, até em cima de cadeiras, como se estivessem apenas esperando serem lidos pela milésima vez. O local também tinha muitos abajures e algumas xícara de café vazias aqui e ali, alguns quadros e poltronas quentinhas. 

Foi quando me lembrei do que o Ben me contou uma vez: "desde pequeno eu nunca tive muita oportunidade de sair de casa e fazer amigos, as obrigações reais eram mais importantes. Então, um dos maiores prazeres que eu tenho, é ler", e se eu fosse um príncipe e amasse livros, também iria querer uma biblioteca particular. 

Então era por isso que o local não era metodicamente arrumado, como o resto do castelo, ou caoticamente bagunçado, como o meu quarto, porque aquilo era do Ben, tudo ali foi feito especialmente para ele, tudo ali era cem por cento Benjamin. 

Depois de admirar o local, acabei encontrando um telefone fico perto de um dos abajures, corri até lá e disquei o número dele, que o único que eu sei decorado.  A ligação chamou e chamou, mas ele não atendeu, o que era muito estranho já que ele sempre atende o celular. Então tentei novamente. 

E mais uma vez o Ben não me atendeu, então tentei uma terceira vez e, quando eu já estava começando a ficar preocupada, finalmente eu fui atendida. 

— Ben? 

— Não é o Ben, Mal - uma voz feminina disse - é a Jane. É que ele saiu com a minha mãe para as buscas e acabou esquecendo o celular 

— Ele foi sem mim? - sussurrei, mais pra mim do que pra qualquer outra pessoa 

— Como? - Jane perguntou 

— Nada é que... - pensei rápido - você não deveria ter ido também? Quer dizer, não deveria estar lá? 

— Deveria, mas... preferi ficar e ajudar nas buscas do Carlos, ele ainda está desaparecido e cada dia temos menos pistas sobre onde ele possa estar 

Senti na voz dela uma profunda tristeza e aquilo também me deixou triste, Carlos é como um irmão mais novo pra mim, sempre aprontado e sendo o melhor amigo que alguém poderia ter, eu só não entendo que motivo ele teria para ir embora assim, deixando todos que o amam para trás. 

— Vai ficar tudo bem, tá Jane? - a consolei - Logo, logo a gente vai ver o Carlos correndo com o Dude 

— É - ela respondeu em um suspiro - aposto que sim 

Me despedi de Jane e encerrei a ligação. Tudo bem que a nossa briga mais cedo tinha sido feia, mas isso não justifica ele ir fazer as buscas sem mim! Sai da biblioteca e bati a porta com força, peguei as chaves da minha moto e saí do castelo. 

E foi só quando saí que percebi que o sol já havia se posto e a noite começado, subi na minha moto e pilotei até a Auradon Prep. 

CERCA DE UMA HORA DEPOIS 

Cheguei na escola e tudo estava estranhamente quieto, a maioria das luzes dos quartos estavam ligadas, dava para ver do lado de fora, mas o horário de recolher ainda estava parcialmente longe. Onde estavam todos? 

Acabei chegando a conclusão de que talvez a Fada Madrinha tenha dado a ordem para que os alunos fossem para o seus quartos mais cedo, para que nada atrapalhasse as buscas no subsolo. Desliguei e moto e apoiei o capacete na mesma, depois entrei na escola. 

Lá dentro não foi muito diferente do que vi do lado de fora, tudo muito quieto e silêncio, trazendo uma aparência meio macabra aos corredores. Até que eu acabei encontrando Jane, que bebia solitária um pouco d'água em um dos bebedores, fui até ela. 

— Jane? - chamei sua atenção, a fazendo olhar para mim com os olhos esbugalhados e se engasgar com água que bebia - Desculpa, não quis te assustar - disse dando tapinhas eleves em suas costas 

Depois da crise de tosses e de ficar toda vermelha, Jane finalmente se acalmou e riu de nervoso, o que, inevitavelmente, me fez rir também. 

— Desculpa - repeti 

— Tudo bem, Majestade. Eu que sou muito assustada 

Eu poderia até discordar e dizer que, na verdade, a culpa tinha sido minha por chegar do nada em um corredor deserto, mas no momento eu estava com muita pressa para ver o Ben, então apenas fui direto ao ponto. 

— Você sabe dizer em que parte o Ben foi fazer a busca com a sua mãe? - perguntei 

— Sei sim, é só você seguir esse corredor, descer as escadas de emergência até encontrar uma porta que dá acesso ao campus sul, você dá a volta nas lixeiras e vai encontrar uma passagem de pedra, não tem erro 

— Obrigada! - agradeci 

Em seguida já comecei a fazer o caminho que ela me disse, mas antes que eu desse o segundo passo, Jane me chamou, interrompendo meus passos. 

— Mal? - me virei e a olhei - Só queria avisar que o Ben não tá só com a minha mãe, ele foi com a conselheira Scarlett e o conselheiro Philip também estão com ele, além de alguns guardas 

Aquilo fez meu coração apertar e eu não sei muito bem o porque, talvez pelo fato de que, se existisse realmente um esconderijo como esses, aqueles adeptos de magia seriam todos presos ou coisa pior. Então apenas fiz positivo com a cabeça e corri o mais rápido que pude. 

De fato não foi muito difícil encontrar a passagem e, considerando a quantidade de placas escrito: "PROIBIDO" eu havia cruzado para chegar ali, já poderia ser presa. 

Mas o local era muito escuro, eu não conseguia ver praticamente nada, não tinha como eu entrar ali dentro sem ver ao menos onde estava pisando. Então fiz uma pequena concha em uma das mãos e disse: 

"A escuridão consumiu 

E o caminho oprimiu 

Que haja luz em minha mão

Para que eu tenha a visão"

Em segundos, minha mão começou a brilhar, quase como se tivesse o próprio sol dentro dela. A luz permitiu que eu enxergasse o caminho e eu fui entrando naquela espécie de caverna, a passos lentos e cuidados, pois muitas rochas ali não eram nada amigáveis e certamente manteriam alguém grudado por anos. 

 

Andei por praticamente cinco minutos e não encontrei nada além de rochas, areia e bastante poeira. O que de mais interessante que encontrei foram algumas placas antigas, tão antigas que algumas eu não consegui sequer ler o que tinha escrito. 

Algumas diziam coisas como: "Campus leste" ou "Salão principal", então acabei presumindo que elas indicassem exatamente o que estava acima de nossas cabeças, o que era incrível. Mas minha leitura foi interrompida por um grito vindo do fundo daquele lugar.

Meu coração apertou e eu direcionei a luz para frente, mas não vi nada. Logo em seguida eu escutei outro grito e o chão começou a tremer, algumas pedrinhas presas ao teto se soltaram e começaram a cair, levantando poeira. Foi quando percebi que aquele lugar estava prestes a desabar e... Ben ainda estava ali dentro. 

Aumentei a intensidade da luz em minha mão e comecei a correr o mais rápido que minhas pernas me permitiam, a adrenalina pulsando em minhas veias. Aos poucos comecei a ver uma fraca luz ao fundo, provavelmente proveniente das lanternas que eles trouxeram. 

A luz começou a ficar mais forte e vir em minha direção, o que indicava que eles estavam correndo e correndo de alguma coisa horrível. Meu coração acelerou e minha respiração ficou pesada, eu então corri ainda mais rápido, deixando a adrenalina me guiar. 

Quando finalmente cheguei aonde eles estavam, só tive olhos para o Ben, que se encontra no meio de um amontoado de guardas, que tentavam inutilmente protege-lo. Meu coração apertou mais ainda ao ver o que se seguia, ao ver que... eu não poderia salva-lo

BEN!  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam de ver as imagens inseridas no capítulo, elas são muito importantes para a compreensão da história!
E então? O que acharam? Aquele suspense que eu adoro no final! Haha
O que será que vai acontecer com o Ben?
Não esqueçam de comentar e favoritar a história, assim vcs não perdem nunca um cap. Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Two Worlds - Dois Mundos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.