Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 23
Compromisso


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora, eu estava focada nos estudo para o vestibular, mas agora fico feliz em compartilhar com vocês que fui aceita na universidade! A felicidade chaga a transbordar, haha. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/741115/chapter/23

 

** Pensamentos do Ben **

 

A olhei confuso, sem entender o que exatamente significavam suas palavras. O que ela quis dizer com “e quem protege eles”?

 

— Como assim? - perguntei, franzindo o cenho

— Você disse que vai me proteger, que não vai deixar que o conselho ou qualquer outra pessoa faça nada comigo - ela disse

— E isso é verdade, não deixarei que nada te aconteça - confirmei

— Mas e quem vai proteger eles Ben? Os adeptos de magia? - Mal fez a mesma pergunta estranha de novo e eu apenas franzi o cenho, tão confuso quanto antes

— Protege-los? - indaguei - São criminosos, Mal

— Então traga os guardas, pois eles terão que me levar também

 

E ela aumentou um pouco o tom nessa última frase. Por sua intonação eu pude perceber que ela falava sério e com o coração. Eu estava começando a entender o que ela queria dizer, mas não estava feliz com isso.

 

— Você quer ser presa? É isso que quer? - indaguei

— Eu não sei se você percebeu, mas eu sou uma adepta de magia, Ben 

— Não você não é! - também aumentei um pouco meu tom, indignado com o que ela falava - Você tem magia, mas não usa, isso faz de você uma pessoa normal, como qualquer outra

— Normal? - ela indagou - A magia tá dentro de mim Ben! Eu nasci de alguém banhado de todas as formas de magia que existem! O que acha que eu sou?! Tá dentro de mim Ben! Eu sinto correr nas minhas veias, faz parte de mim! - ela disse apontando para o próprio peito, os olhos marejados - A magia é o que faz meu coração bater Ben, tire ela de mim e eu vou morrer

 

Tomei alguns segundos para mim, tentando raciocinar. Durante todo esse tempo eu sabia que a Mal tem magia, mas acreditava na ideia ingênua de que ela deixaria de usar por mim, mas ela não pode, não pode porque faz parte dela. É quem ela é e... por quem eu me apaixonei.

 

Mas eu também sei que o uso de magia é errado e é algo ruim, meu pai tenta há tantos anos fazer com com que todos os reinos aprovem a rei que trata o uso de magia como crime, mas nunca conseguiu. A grande maioria já assinou, mas ainda temos grandes potências que jamais assinarão, pois seus governantes são adeptos de magia e mesmo assim, continuam sendo grandes potências, exemplos de educação e segurança. Será que a magia é assim tão perigosa? 

 

— Não... - disse para mim mesmo - mas a magia é uma coisa errada Mal, um crime 

— Não, não é Ben - ela disse segurando minha mão por cima da mesa, fazendo com que eu olhasse dentro de seus lindos olhos verdes - a magia só se torna ruim quando a usamos para o mau, assim como qualquer outra coisa que é boa e a estragamos usando-a para fazer coisas ruins 

— Mas a magia, amaldiçoo o meu pai... - eu disse - assim como várias outras pessoas

— Mas se não fosse pela magia você nunca teria nascido Ben! - Mal disse, balançando minha mão - a Bella nunca teria se apaixonado pelo Adam porque nunca teriam sequer se conhecido - ela fez uma pausa, enxugando o rosto - Nós só devemos recriminar aquilo é errado Ben, e a magia não é errada, pelo contrário, é uma das coisas mais maravilhosas que eu conheço. Mas como tudo na vida, deve ser usada com responsabilidade e, apenas o uso incorreto, deve ser tratado como um crime 

Mal soltou minha mão, fazendo uma espécie de concha com a mesma e a erguendo na altura do meu queixo, prendendo minha atenção. Do meio de sua palma, ela fez aparecer uma pequena chama verde, da qual surgiu uma linda borboleta lilás, que bateu as asas rapidamente, dando um pequeno vôo e pousando na ponta de um de seus dedos. 

Eu sorri com aquilo, não só pela borboleta, que era muita bonita, mas por como ela nasceu. Fui ensinado a minha vida inteira que a magia era uma coisa ruim, algo que merecia ser perseguido e reprimido. Mas como posso reprimir uma coisa que é capaz de dar vida a algo tão indefeso e magistrado como aquela pequena criatura? 

Mas meus pensamentos acabaram sendo interrompidos quando Mal fez surgir um tipo diferente de chama, mais verde e mais intensa, que consumiu a borboleta por completo, a queimando de dentro para fora, transformando-a em cinzas. 

— Por que fez isso? - perguntei confuso e um pouco assustado 

— Pra lhe mostrar que qualquer um que tenha o dom da magia, pode escolher entre o bem o mal 

— E ainda acha que não devemos proibir algo tão poderoso assim? - indaguei 

— Acho - ela disse - por que qualquer um Ben, não só os adeptos de magia, qualquer um tem que fazer essa escolha e arcar com as consequências. Então por favor, não puna aqueles que escolheram o bem 

Respirei fundo e passei as mãos pelo rosto, apoiando os cotovelos na mesa, minha cabeça fervendo com vários pensamentos ao mesmo tempo. Eu entendia o que ela estava dizendo, o que estava tentando explicar. Mas, ao mesmo tempo, essa explicação entra em conflito com tudo o que já me ensinaram na vida. 

— Não é tão simples, Mal - eu disse

— Eu acho que... é melhor eu esperar lá fora - Evie disse, levantando-se da cadeira 

— Não, por favor fique - a fiz sentar novamente - era isso o que queria nos contar, Evie? Naquele dia no castelo?

— Se eu soubesse de uma organização como essa, garanto que você seria o primeiro a saber, Ben 

— Então o que era? O que queria nos contar? - Mal perguntou 

Evie suspirou, entrelaçando os dedos, tentando decidir se aquele era o momento certo ou não. 

— Eu... aceitei o trabalho de conselheira por que lhe admiro muito e o respeito, Ben. Mas a verdade é que ninguém além de você me quer nesse posto - ela suspirou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha - os outros conselheiros falam coisas nas minhas costas, cochicham e param de conversar na hora que eu chego, mas eu enfrento isso todos os dias de cabeça erguida, porque lembro por quem eu estou fazendo isso, por você, pela Mal e por Auradon 

— E eu a agradeço muito por isso Evie - disse 

— Em uma dessas conversas, acabei escutando algo preocupante 

— O que? - Mal perguntou, ansiosa 

— Foi logo depois do Julgamento - Evie explicou - Philip e Scarlett estavam indignados por Malévola ter vencido e tramavam uma vingança 

— Que tipo de vingança? - perguntei, incrédulo 

— Eles planejam denunciar a Mal, por uso de magia 

— O que? Como eles ousam denunciar minha noiva e futura rainha? - indaguei em um tom um pouco mais alto 

— Essa é a questão Ben, eles não querem a Mal como rainha e farão de tudo para que o casamento não aconteça, nem que pra isso... tenham que mentir para o povo 

— Espera, acha que essa acusação é mentira? Acha que talvez esses adeptos nem existam? - Mal perguntou 

— Acredito que Scarlett e Phillip fariam qualquer coisa para conseguir vingança e, de quebra, tirar você do posto de futura rainha 

— Mas isso seria mais do que uma mentira, seria um crime contra a coroa, pois já considero Mal minha esposa - disse com firmeza 

— Mas ela ainda não é - Evie recrutou - e se não tomarmos cuidado, pode nunca vir a ser 

Respirei fundo, mais um problema entrava para a interminável lista. Será que eu nunca vou ter paz? Nunca vou poder viver em plena felicidade com a Mal, meus amigos e meu povo? 

— O que faremos agora, Ben? - Evie perguntou, indiretamente colocando uma grande responsabilidade em minhas mãos 

— Agora iremos averiguar se o que Scarlett disse é de fato verdade - disse por fim 

** Pensamentos do Capitão **

 Meus pés já estavam doendo de tanto andar de um lado para outro daquele galpão velho, precisava de notícias e precisava logo, não tinha mais nervos para tanta espera. O Carlos, que é literalmente nossa marionete, estava sentado em um banco contemplando o vazio. Me pergunto por quanto tempo o feitiço vai continuar tendo ação sobre ele. Mas, por enquanto, ele vai continuar sendo útil para exercer as tarefas que eu não posso, por não poder sair desse lugar estúpido. 

Quando finalmente aquele estupido ponteiro andou, sai do galpão sem olhar para trás, afinal, não é como se ele fosse sair pra dar uma volta. Caminhei a passos largos até a costa, a única parte boa dessas conversas é que eu saio um pouco e acabo tomando um ar, me abaixei e toquei a água depressa, estava ansioso demais para cerimonias. 

A maré se acalmou e as ondas diminuíram quase que instantaneamente, logo a água começou a envolver meus dedos e depois minha mão inteira. A princípio pensei que não tivesse dado certo, pois não ouvi uma palavra sequer em minha mente, mas depois de alguns segundos ela logo se pronunciou. 

Nossa que pontual, devo me preocupar?— Uma disse ironicamente, sua voz soando dentro da minha cabeça 

Esse foi o horário marcado, não foi? — indaguei - Onde ele tá? Quero saber se ele tá bem 

É claro que ele está bem, por qual motivo não estaria? 

Suspirei, estava cansado de suas brincadeiras. 

Você sabe muito bem que a condição para que eu viesse até aqui foi a de que ele estaria seguro — pensei 

E ele está seguro! - ela gritou— Eu mantenho contato todos os dias, ok? Te prometo que o Dylan está ótimo 

É o que eu espero, Uma 

E e eu espero que você se lembre do porque de estarmos fazendo isso— ela disse - para dar uma vida melhor não só para o Dylan, mas para todos aqueles que amamos 

Claro que eu lembro, mas acho que você esqueceu de incluir a sua tão amada vingança

A nossa vingança— Uma me interrompeu - lembre-se que ela te trocou pelo Ben

A nossa história já tinha acabado antes disso, antes de ela vir para Auradon 

Pode até ser, mas na Ilha você continua sendo conhecido como o cara que foi descartado pela filha da Malévola 

Ameacei tirar a mão do mar, já estava farto de tantas provocações, mas a água me segurou e, de alguma forma, eu não conseguia sequer mover meu braço. Era como se a própria Uma estivesse ali me segurando para que eu não desse as costas para ela. 

Nosso plano não pode falhar, você entendeu?— ela disse com uma voz firme - Eu quero a cabeça da Mal em uma bandeja

Eu também— menti 

Não esqueça de mandar nosso empregado conseguir os materiais, esse feitiço tem que estar pronto amanhã 

Pode deixar— respondi secamente, finalmente conseguindo tirar o braço da água e o enxugando em minha roupa, enquanto andava de volta para o enorme galpão abandonado 

** Pensamentos de Bernice **

Claro querida, estarei logo aí, não se preocupe. Beijos— Diaval disse, encerrando a chamada logo em seguida 

 

Respirei fundo, tirando o celular do ouvido e o jogando de leve sobre a mesa do meu escritório. Eu sabia que ser líder de uma das sedes da OPAM não seria fácil, mas a vontade de proteger pessoas que assim como eu e o meu irmão, necessitam da magia para viver, era maior. 

Eu sempre tive esse instinto dentro de mim, uma força para lutar contra as injustiças. Acho que isso vem em parte do meu avô, ele é uma pessoa incrível, é determinado e nunca se rende diante de algo que, ele acredita, não estar certo. 

Meu pai costuma dizer que eu sou "marrenta", como minha mãe e forte e corajosa como meu avô, mas quando eu pergunto com o que eu me pareço dele, simplesmente responde: "você não desiste nunca, fico muito feliz que tenha herdado isso de mim", e ele sempre consegue arrancar um sorriso meu com essa frase. 

 

Meus pais escolheram deixar o Olimpo para poderem viver, na terra, o seu amor. O que é muito bonito e romântico, mas esse ato não apaga a genética, não apaga de quem meu pai é filho e de quem eu e o Arthur somos netos. Zeus é literalmente o rei dos deuses, e ele também é meu avô.

Minha mãe e meu pai descobriram meus poderes quando eu ainda era bem pequena, começou com coisas simples como dar um choque na mão da minha mãe ou fazer os fios de cabelo do meu pai ficarem arrepiados. Mas quanto mais eu crescia, mais fortes e incontroláveis os poderes ficavam, o que só aumentava ainda mais a necessidade de me esconder, visando que em Auradon, naquela época, estava sendo aprovada uma lei que proibia qualquer tipo de magia. 

E como explicar para todos aqueles sedentos de ódio que eu havia nascido daquela maneira? Que não era uma coisa ruim e sim algo maravilhoso? Eu acabei tendo que aprender a viver como se não tivesse poderes, tive que aprender a esconde-los. O que acabou até funcionando no começo, mas tudo desmoronou quando o Arthur nasceu. 

Ele é normal como qualquer outra pessoa, não possui uma gota de magia, não foi algo que foi passado para ele. Mas o olhavam com julgamento, acreditando que ele seria igual a mim e eu simplesmente não conseguia suportar aquilo, não conseguia suportar vê-lo sendo excluido pelos alunos da escola ou pelas crianças do bairro, pelo simples fato de ser meu irmão. 

Arthur é mais novo e eu tenho a responsabilidade de cuidar dele, de protege-lo. E foi com esse pensamento que acabei descobrindo a OPAM, tudo nessa organização me chamava e me deixava animada, tudo nela era muito certo pra mim. Eu acabei conhecendo Diaval e ele passou a ajudar minha família, a me ajudar. 

Ele acabou vendo potencial em mim e, quando eu fiz dezoito anos, Diaval me deixou a frente da sede da Auradon Prep, onde a maioria dos adeptos são adolescentes, alunos da própria escola. Ele disse que seria excelente pois eu estaria rodeada de pessoas da minha idade, que não tinha pessoa melhor para o cargo do que eu. 

E eu acreditava veemente que ele estava certo, mas quanto mais o tempo passa, mais difícil esse cargo se torna e mais longe fica a certeza que eu tinha no início. Agora não acredito muito que ele tenha feito a decisão certa me colocando na liderança, afinal, em menos de dois anos no cargo, eu já consegui fazer com que um não adepto de magia descobrisse o esconderijo, o que nunca aconteceu antes, em nenhuma das sedes da OPAM. 

Agora o futuro da organização está em perigo e a culpa é minha, pois mesmo o ameaçando de morte - e eu cumpro minhas promessas -, nada me garante que Noah não vá contar para ninguém sobre o que viu, ainda mais ele sendo o idiota que é. E as autoridades vindo até aqui e prendendo todos, definitivamente não é algo que irei permitir. Afinal, já que o cargo é meu, vou exerce-lo custe o que custar, protegendo todos os membros com unhas e dentes. 

Eu estava tão imersa em meus pensamentos, tão focada naquela conversa comigo mesma, que nem sequer percebi que Amin já me chamava pela terceira vez. Eu balancei a cabeça de leve e pisquei os olhos, expulsando tudo aquilo da minha mente. 

— Tá tudo bem? - ele perguntou com um olhar apreensivo, colocando a mão em meu ombro

— Tá, claro - eu disse - só tava pensando em alguns coisas. O que foi? 

— Diaval chegou, tá lá fora 

— Isso é ótimo, preciso que ele me ajude com... - eu falava em quanto caminhava para a porta 

— Bernice - Amin me chamou, me interrompendo e fazendo com que eu parasse com a mão na maçaneta e me virasse para olha-lo - ele... não venho sozinho 

— Como assim? - indaguei, com a testa franzida 

— Ele trouxe a Malévola com ele 

— O que?

** Pensamentos da Mal ** 

Evie me fez sentar nos degraus de uma pequena escada que dividia dois níveis do enorme jardim do castelo. Ela ajeitou meu cabelo e passou alguma coisa no meu rosto com um pincel macio, o que presumi ser blush, depois ela correu um pouco para longe, posicionou uma câmera em minha direção e começou a tirar várias fotos. Eu apenas a olhei de cara fechada, demonstrando que não estava nada de acordo com aquilo. 

— Vamos lá, Mal - ela disse - se esforce, por favor 

— Eu só não entendo porque estamos fazendo isso, Evie - relutei - quer dizer, eu não deveria estar com o Ben? Investigando essa possível organização? 

— O que ele te disse? Antes de sair? - ela perguntou, interrompendo as fotos 

— Disse que depois conversaríamos melhor sobre tudo, que estava muito ocupado e que iria tentar falar com a Fada Madrinha, pois talvez ela soubesse como ajudar - contei

— Tá vendo? Ele não vai investigar isso agora, provavelmente só de tarde ou a noite. Não se preocupe, tenho certeza de que ele vai te levar - Evie disse me passando um pouco de conforto - agora um sorriso, sim? 

Continuei sem sorrir. 

— Continua sendo um momento inapropriado pra isso Evie - continuei relutando - o Carlos continua desaparecido, sabia? Nem sequer sabemos onde ele possa estar ou com quem

Ela baixou a camera novamente, um olhar triste em seu rosto. 

— É verdade, quando penso nele me dói o coração, por não saber onde está ou como está, afinal, o Carlos é como um irmão pra mim 

— Pra mim também - concordei 

— Mal, se você for presa não poderemos ajudar ele e nem mais ninguém - Evie insistiu - então por favor, um sorriso sim? 

— Como sabe que isso vai acalmar o povo? - indaguei 

— Você será a futura rainha deles e saber um pouco sobre a sua vida só faz com que gostem ainda mais de você 

— Isso é aterrorizante, é o que é 

— Aterrorizante ou não, é o que temos que fazer agora -Evie disse - então, pela última vez, sorria

Evie é muito convincente e quando ela quer alguma coisa, sempre acaba conseguindo. Então não tive escolha se não sorrir para a câmera e para as milhares de fotos que ela tirava. Amanhã mesmo, tudo aquilo estaria estampando capas de revistas em todas as bancas de Auradon, o que, por algum motivo, vai aumentar minha popularidade com o povo. 

Eles gostam de saber sobre a minha vida e a do Ben, gostam de coisas bem bizarras como a marca da nossa escova de dentes ou com que frequência eu ando pelos jardins do castelo. Ben disse que é o povo quem sustenta a família real com os impostos, por isso o mínimo que podemos fazer é retribuir com esse tipo de coisa. 

Fotos em capas de revistas, entrevistas em canais de televisão, propagandas e repórteres na minha cola o tempo todo, são só algumas das coisas que terei que argumentar para ser rainha. Mas pelo menos eu terei Ben ao meu lado, o que acaba equilibrando tudo, como uma enorme balança da minha vida. 

— Ótimo, essas ficaram lindas - Evie disse empolgada, me tirando dos pensamentos - Agora pega uma flor dessa e aproxima do seu rosto. Ai você olha pra ela, ok? Vai ficar bem legal 

Fiz o que ela pediu, peguei uma flor branca do arbusto, a arranquei e aproximei do rosto. Mas,  antes que Evie pudesse tirar sequer uma foto, o aroma forte e marcante da rosa entrou pelo nariz e invadiu os meus pulmões, me causando uma sensação estranha e fazendo meu estômago embrulhar na mesma hora. 

— Ah não... - resmunguei, colocando uma mão no estômago e outra na boca - de novo não

— De novo não, o que? - Evie perguntou sem muita atenção, enquanto olhava as fotos tiradas na câmera 

Estávamos praticamente no meio daquela enorme extensão de grama, árvores, arbustos e plantas, praticamente impossível chegar até a entrada e em seguida ao banheiro e eu sabia, que seja lá o que fosse, não iria esperar. 

Então apenas levantei dos degraus correndo e fui até o arbusto mais próximo, vomitando todo o café da manhã nele. Tenho certeza que aquela pobre planta não sobreviverá depois daquilo. 

Evie me olhou preocupada e finalmente soltou a câmera, ela veio até mim e passou a mão nas minhas costas, tentando me ajudar. 

— Você tá bem, Mal? - ela perguntou enquanto me ajudava a sentar nos degraus novamente - Tá doente? 

— Não tô doente - eu disse sentando e passando a mão na testa, me sentia levemente fraca - foi algo que comi no café da manhã, eu acho. Já estou bem 

— Algo que comeu? - Evie indagou, sentando-se ao meu lado e me olhando com preocupação - Eu te conheço Mal, nenhuma comida na terra é capaz de te fazer mau 

— Talvez estivesse estregada - tentei 

— Estragada? Acho que os cozinheiros reais não seriam capazes disso, afinal, eles não querem serem mortos por tentativa de envenenamento ou coisa do tipo 

— Envenenamento? - indaguei - Você tá exagerando Evie, sério, eu já tô bem melhor 

— Mas eu estou achando que você está um pouco pálida, parece fraca - ela disse, me fazendo olhar para ela -  acho melhor você me contar logo o que tá acontecendo, porque eu não vou parar de te encher até saber o que é 

Olhei para frente e bufei, como uma criança de três anos emburrada. A verdade é que nem eu sabia direito o que estava acontecendo, tinha minhas suspeitas, é claro, mas nenhum fato concreto. Eu sabia que não estava doente, afinal, eu raramente adoecia na Ilha, de alguma forma a magia me protegia, então dificilmente ficaria doente aqui em Auradon. Mas podia ser, eu já fiquei resfriada antes. 

Mas também tinha que encarar o fato de que os sintomas de um resfriado, não eram nada parecidos com o que eu estava sentindo. Eu nunca comi tanto como nos últimos dias, acho que toda a comida que eu coloquei dentro de mim nessa última semana é maior do que o que comi a minha vida inteira na Ilha. 

E logo depois que como - ou até antes mesmo disso - me sinto super cheia e enjoada, e na maioria das vezes eu vou logo em seguida vomitar tudo no banheiro mais próximo. Eu até tento esconder do Ben, mas ele já me viu uma vez e ficou super preocupado. O que não queria era que minha hipótese estivesse certa, pelo menos não agora, não neste momento. 

— Quais as chances de ser só um resfriado? - perguntei com a testa franzida, por medo da resposta que viria 

— Quase nulas - Evie disse, claramente já havia se tocado de minhas suspeitas - existe uma coisa chamada camisinha, sabia? 

— Eu sei disso! - me defendi - E nós usamos, todas ás vezes 

Evie me olhou com a sobrancelha erguida, não acreditando no que eu falava. 

— A maioria das vezes, tá? - admiti - Mas ainda isso não pode acontecer, não agora com todos esses problemas, eu ainda nem casei! Isso não tá pode e não tá acontecendo, tem que haver outra explicação... - comecei a falar mais comigo mesma do que com Evie 

— Mal - ela disse chamado minha atenção e me fazendo olhar pra ela - pra esse tipo de coisa, só basta uma vez querida 

— E o que eu vou fazer Evie? - perguntei

— Bem, primeiramente eu acho que devemos confirmar a suspeita, não? Eu posso comprar o teste pra você, afinal, não queremos nenhuma outra matéria de capa além das fotos de você curtindo o jardim, né? - ela disse sorrindo, tentando me animar um pouco 

— Mas e se der positivo? - perguntei, nervosa 

— Ai a gente vê o que faz 

Fiz positivo com a cabeça, concordando com seu conselho de focar no presente e no agora, afinal, de nada adiantava ficar me martirizando por algo que talvez nem seja verdade. 

** Pensamentos de Malévola **

Quando abri os olhos, me deparei com uma luz forte, o que me fez fecha-los novamente por mais alguns segundos. Quando os abri, minha visão continuava um pouco turva, mas bem melhor do que antes, eu já conseguia distinguir algumas coisas. 

Estávamos no meio de uma grande extensão de grama verde, alguns arbustos - de diferentes tamanhos - nos rodeavam e uma enorme árvore estava bem a nossa frente, ela era bem antiga e parecia exalar alguma coisa, e com certeza não era cheiro de natureza. Era... magia, e uma bem poderosa. 

— Acho melhor pararmos um pouco com esses teletransportes - eu disse, piscando os olhos mais algumas vezes - onde estamos? 

— Em alguma parte nos fundos da Auradon Prep 

— O que?! 

— Não se preocupe, os alunos não vêm aqui, pelo menos não nenhum que tenhamos que temer 

— Como assim? - perguntei confusa 

— Lembra quando você me mandou embora? - Diaval perguntou, se aproximando a passos lentos - Quando disse que eu não tinha mais nada o que fazer na sua vida? Que eu não era mais útil? 

— Diaval, sobre isso... 

— Não, tá tudo bem - ele me interrompeu - sei que você deve ter tido os seus motivos 

— E como tive - disse 

— O fato é que, durante todo o tempo que vivi aqui em Auradon, eu construi a minha própria história, conheci pessoas novas que me mostraram que a vida podia ser mais do que ficar esperando por algo que eu nunca iria ter 

Dei um passo em sua direção, aproximando nossos corpos e segurando sua mão, trazendo para perto de mim. 

— Mas agora você tem - disse com firmeza

— É, eu acho que sim - Diaval sorriu - o fato é que, essas pessoas estavam precisando de ajuda e eu estava disposto a fazer qualquer coisa para mantêm-los em segurança 

— Você e o seu espirito de protetor, como sempre 

— E foi esse espirito que me deu forças para fazer o que eu fiz - Diaval disse - Há muito anos atrás, quando eu cheguei em Auradon, uma lei anti-magia estava em discussão, a proposta era de que todos os reinos assinassem, mas isso não aconteceu, grandes potências como Agrabah e Arandelle se recusaram, algumas fizeram modificações e outras, como a capital, aprovaram a lei 

— Fico imaginando que mente mau amada inventou isso - brinquei 

— As mentes, na realidade. Doze, pra ser exato - o olhei confusa - escolhidos a dedo por membros de famílias reais de todos os reinos e, não podiam ter errado mais feio. O trabalho era bem simples, aconselhar o rei ou rainha vigente da capital, em sua decisões. Mas pior do que darmos poder a alguém, é darmos esse mesmo poder só que uma limitação, faz com que a pessoa utilize de todas as formas para alcançar esse o poder ilimitado, em sua maior força

— Onde está querendo chegar? - indaguei 

— Chegar no fato de que o Conselho é capaz de qualquer coisa para continuar mantendo seus interesses em primeiro plano, capazes até mesmo de controlar a vida dos reis e rainhas, força-los a, indiretamente, fazerem coisas que em sã consciência jamais fariam. Como assinar uma lei contra a magia em um reino onde uma parte significativa da população necessita da magia para viver. Por que acha que eles não gostam da Mal? Por que a Mal é exatamente o oposto de tudo aquilo que forma a mente dessas pessoas, ela é como uma agulha jogava dentro de uma caixa de balões 

— Ela vai provocar uma verdadeira explosão - concluí 

— E quando isso acontecer todas as verdades virão á tona - Diaval disse - por isso eles são capazes de fazerem qualquer para manter essa caixa bem fechada 

— Acredita que possam fazer algo contra ela? Acredita que ela esteja em perigo? 

— Sim e não, ela é esperta, sabe se defender 

— Ainda não entendi aonde você quer chegar com tudo isso, eu achei que fosse me contar sobre essa menina... - cassei o nome em minha mente - Bernice. Achei que fosse me levar até ela 

— E é exatamente isso o que vou fazer, mas antes precisava que soubesse disso - Diaval disse com um gesto nas mãos - agora posso lhe mostrar o que está aqui em baixo 

Diaval afastou-se de mim e caminhou em direção á enorme árvore que nos observava deles o início de nossa conversa. Eu sabia que aquilo era mais que uma simples árvore comum, sabia que tinha mais do que uma simples grama. Ele sorriu para mim e estralou os dedos no ar. 

De repente, as raízes da árvore começaram a se erguer, rasgando a grama e saindo do chão, espalhando terra por todo lado. Das raízes surgiu uma espécie de casa, uma pequena construção. Eu sabia o que era quilo, se tratava de um esconderijo, feito e pensado nos mínimos detalhes para manter qualquer bastardo do lado de fora, uma pessoa não adepta de magia não conseguiria sequer ver o estávamos vendo ali. 

— Aguardou o momento que eu ia sair para fingir essa entrada triunfal? - uma menina, de cabelos ruivos como fogo, disse enquanto saia da pequena construção acompanhada de um garoto de pele negra. Eles pareciam ter a mesma idade - Você não muda mesmo, né?

— Um "que saudade que senti de você" já me faria bem feliz sabe? - Diaval indagou com uma voz esquisita, como uma criança de cinco anos fazendo birra 

A menina de cabelos ruivos sorriu e correu na direção dele, o abraçando. Ela deveria ser só um pouco mais jovem que a Mal, talvez estudasse naquela escola. Não tinha certeza, mas tinha belos palpites de que aquela seria Bernice, com quem Diaval falava ao telefone mais cedo. 

— Eu realmente senti saudade - ela disse o soltando 

— E como anda tudo por aqui? - Diaval perguntou - Oi Amin! - ele acenou para o outro garoto, que apenas retribui com um sorriso envergonhado - Você falou com muita pressa no telefone, acabei não entendo nada. O que foi? 

A menina lançou um olhar discreto para mim, ela parecia um pouco intimidada com minha presença, mas se mantinha firme e transparecia confiança, superioridade. 

— Acho melhor irmos conversar lá dentro, aqui fora não costuma ser mais tão seguro quanto antes - ela disse voltando o olhar para ele 

— Ah, essa é Malévola - Diaval disse dando um passo em minha direção - Malévola, essa é Bernice, a coordenadora desse esconderijo 

— É uma honra conhece-la - Bernice disse com uma posição séria 

— Honra? - indaguei, achando estranho que alguém naquele lugar tivesse esse tipo de sentimento por mim

— Eu nunca gostei de GoldLand e muito menos de seus governantes - ela disse com um sorriso discreto nos lábios - não se preocupe, está segura aqui 

Diaval, Bernice e o timido Amin, me convidaram para entrar no esconderijo. Lá dentro o local era maior do que aparentava do lado de fora, mas eu já esperava por isso, já vi esconderijos como esse antes. O local era bem grande e estava vazio, Bernice nos levou até uma sala que deduzi ser seu escritório. 

— O que aconteceu Nice? - Diaval perguntou - Você tá me deixando preocupado 

Bernice não respondeu, ela apenas sentou na cadeira e abriu uma gaveta de sua mesa, mexendo lá dentro e tirando um arquivo. O colocou em cima da mesa e indicou com o dedo para que Diaval pegasse. 

— Isabel Ryder? - Diaval disse lendo os papéis - Ela é nova? 

— É - Bernice finalmente disse alguma coisa - mas já está causando um monte de problemas, começando com a inscrição, que ela nem sequer fez porque não sabia da OPAM 

— E como ela veio parar aqui? - ele perguntou 

— Agui, ele acabou ficando amigo dela e quando descobriu que ela tinha magia, achou que fosse uma boa ideia trazê-la aqui - ela explicou - disse que os veteranos não estavam sendo muito legais com ela por conta dos poderes

— Mas não foi pra isso que criei essa sede? Pra ajudar os alunos adeptos de magia? - Diaval indagou 

— É, só que essa mesma menina acabou trazendo pra cá um não adepto de magia 

— O que?! 

— E não é qualquer um, ela trouxe o Noah 

Não entendia o que aquele nome significava, não fazia ideia de quem era, mas parecia ter um tremendo peso para eles, pois Diaval ficou visivelmente alterado. 

** Pensamentos de Audrey **

Meu celular vibrou no criado-mudo, me estiquei até alcança-lo, era uma mensagem. 

"Preciso te encontrar agora, estou a muito tempo se te ver. Por favor, venha logo"

Sorri quando vi quem havia me mandado, Harry estava ansioso para viver, não tinha como aquilo ser melhor. Eu só tinha um problema, como sair de casa. 

— O que tanto faz nesse celular? Achei que estivéssemos conversando - minha mão disse se sentando na cama, perto de mim 

— Exatamente! Estávamos conversando, diz que já terminamos, sim? Por favor... - fiz um biquinho 

— Ah já vi tudo, tá me trocando pelos seus amigos não é? Tudo be, eu sempre fico de lado mesmo - ela disse com uma voz falsa de tristeza - Sinto falta de quando você era pequenina e queria usar os meus patos, mas pelo visto esse tempo já passou...

— Não é isso mãe! - recrutei - Eu adoro quando nós conversamos assim, mas é que... surgiu esse compromisso agora e... eu não posso perder. Depois continuamos, sim? 

— E esse compromisso por acaso tem haver com um garoto? - ela perguntou com a sobrancelha erguida 

— Mas não tem como eu te esconder nada mesmo, né? 

— Acertei? Ai que bom! Me conta sobre ele

— Depois? Prometo! Afinal, não é bom deixa-lo esperando muito tempo, né? - disse me levantando e andando em direção a porta do banheiro 

— Audrey - Aurora me interrompeu, me fazendo parar no meio do caminho para olhar para ela - Eu te amo

— Eu também te amo mãe - respondi com um sorriso - muito! 

Ela riu e eu também. 

— Tá bom então, vou te deixar se arrumar para o seu compromisso 

Agradeci e voltei para o banheiro. 

CERCA DE UMA HORA DEPOIS 

Estacionei o carro no mesmo local de sempre, próximo ao arbusto esquisito, o desliguei e caminhei em direção ao depósito velho e caindo aos pedaços, já me preparando psicologicamente para o que eu sabia que encontraria lá dentro. 

Empurrei a porta cheia de lodo com a ponta dos dedos e entrei com cuidado para não escorregar e cair de cara no chão. Não pude evitar de sorri quando vi que nem Chad e nem aquele Carlos estavam lá, finalmente seriamos só eu e o Harry á sós. Claro, faltava só eu encontra-lo, mas isso não era problema, afinal, ele sempre fica nos fundos. 

Caminhei até o final do galpão e vi uma espécie de sinueta na pouca luz que entrava por uma fresta entre as telhas. Era ele. 

— Harry? - o chamei 

O Capitão saiu do escuro também a passos lentos, mantendo o olhar sempre mim. Eu joguei o cabelo para trás dos ombros, deixando o meu poderoso decote á mostra. Eu sabia exatamente o que queria e iria conseguir, ele era meu agora. 

— Eu vi sua mensagem e pensei: devo deixar o que estou fazendo agora, que era algo muito importante, para ir falar com ele? Quer dizer, ele não já deixou bem claro que entre nós... 

Harry, que antes abadava á passos lentos, começou a caminhar rapidamente em minha direção, saindo do escuro e vindo para o meu campo de visão. Ele tinha uma espécie de pedaço de pano em uma das mãos e seu olhar não era nada bom, parecia mais que eles estava sentindo dor. 

— Tá tudo bem com você? - perguntei 

— Me desculpa - ele disse em um tom baixo, quase inaudível 

Mas antes que eu pudesse perguntar o por que de ele estar me pedindo desculpas, Harry segurou meu ombro com força e com a outra mão impulsionou o pedaço de pano contra meu rosto. Eu bati nele e tentei me desvencilhar, mas ele mais forte e impulsionava aquele pano contra o meu nariz e minha boca, fazendo com que eu não conseguisse respirar nada além do que o aquele cheiro forte de remédio. 

Minhas pernas começaram a ficar fracas e, por mais que eu tentasse mante-las  firmes no chão, era maior do que eu. Minha visão começou a ficar turva e eu perdi todas as forças e simplesmente me deixei ir de encontro ao chão, mas Harry me segurou, apoiando minha cintura  e minha cabeça. Até que tudo se fechou em uma escuridão sem fim e eu já não conseguia enxergar ou perceber mais nada. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam de favoritar a história e comentar. Espero que tenham gostado. Beijos e até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Two Worlds - Dois Mundos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.