Começo por te dizer que isto não será uma daquelas cartas clichês, em que te agradeço pelas coisas que já me fizeste, ou digo-te o quanto te amo. Bem, de certa forma é uma carta de agradecimento, mas sabes que não sou boa a demonstrar os meus sentimentos. E sinceramente, não encontrava a inspiração necessária para escrever, então quase pensei em não fazê-lo. Mas preciso de te dizer algumas coisas que provavelmente nunca te direi pessoalmente, por causa da minha maldita vergonha.

Então vamos começar: Agradeço-te por teres-me dado á luz. Eu sei que muitas vezes te digo que odeio ter nascido, e de certa forma, muitas vezes sinto-me dessa maneira. Mas graças a ti, fui capaz de ver e fazer várias coisas que muita gente nunca conseguiu fazer ou nunca conseguirá.

Também te agradeço por me teres aturado quando eu era a pior filha possível, por me teres alimentado, tratado, e até acompanhado até ás consultas da psicóloga e de psicologia. Graças a ti, estou muito melhor na questão da saúde mental, e as vontades de suicídio desapareceram quase por completo.

Claro que houve alturas em que me magoaste, mas eu aposto que já cheguei a magoar-te de maneira muito pior. E lamento por isso. Sei que sempre quiseste o melhor para mim, e eu nunca fui capaz de te recompensar por tudo isso.

Sinceramente, estou até quase a chorar ao escrever isto. Por um lado, eu percebo que errei, mas por outro, eu sei que provavelmente chegarei a cometer os mesmos erros novamente, ou até erros piores.

Mas o que eu mais me arrependo, é ter-te tratado mal mesmo antes de seres hospitalizada. Não chorei quando me contaram a notícia, mas quase o fiz. Liguei-te todos os dias, pois tinha medo de te perder. Não porque tinha medo de já não ter ninguém para me fazer as coisas, mas sim porque podia perder a melhor figura maternal que eu podia pedir.

Muitas vezes eu desejei ter outra mãe. Tinha raiva de algumas das tuas atitudes. Mas sei bem que tu tinhas mais raiva das minhas.

Lamento ter escrito isto de última hora, mas não quero que penses que eu não me importo contigo.

Parece que vou ter que dizer o tal clichê de “Eu amo-te”, não é?

Mas não. Eu prefiro dizer “Obrigada mãe, por seres a melhor do mundo”.

392 palavras escritas com amor, de uma filha idiota que não é capaz de falar tudo isto pessoalmente.