O vale escrita por LightFowl


Capítulo 3
Capitulo 2




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Era o dia seguinte, aparentemente eu adormeci na cama que havia sentado, acordo e olho para um teto que não é familiar para mim e começo a lembrar dos acontecimentos do dia anterior.

— Hoje começa o treinamento... – Eu falo e logo em seguida noto uma roupa com um papel em cima, a roupa estava em cima de uma mesa que estava logo ao lado da cama.

Eu não tinha visto o quarto muito bem ontem, por causa da claridade que a janela não continha, mas agora, estando de dia, eu consigo ver um armário embutido na parede e uma porta aberta para o que parece ser um banheiro. O quarto não tinha muitos móveis, a cama que eu estava era perto da parede e logo do lado estava a mesa com roupas para eu me trocar, mais ao centro do quarto havia uma mesinha de centro com almofadas para se sentar perto dela, em um dos cantos havia uma mesa de canto com três cadernos, alguns lápis, duas borrachas e um apontador, imagino que seja um canto para estudo.

Eu me levanto e começo a trocar de roupa sem nenhuma interrupção, após a troca de roupa olho o papel que estava em cima das mesmas, nele havia escrito algumas coisas, a primeira era para vestir as roupas que estava vestindo, o que eu já havia feito, a segunda era pra ir para o saguão principal e esperar Charles que iria me buscar para meu treinamento. Também estava escrito que Charles havia sido apontado como responsável por mim no Centro do Vale dos Espíritos. Embaixo havia o caminho que eu deveria seguir, que não era necessário, ainda lembrava no caminho de ontem, minha memória sempre foi boa com caminhos e informações triviais, mas mesmo assim eu levei o papel, pois poderia precisar dele como identificação.

Volto as mesmas curvas e desço a escada que leva ao saguão principal do Centro e me posiciono perto de uma parede, se passam alguns minutos e avisto Charles indo em minha direção. Ele estava sem seu chapéu de ontem e as roupas eram as mesmas que as minhas: uma camisa polo branca com um símbolo violeta, parece uma serpente, mas não sei bem dizer o que é, uma calça preta com um cinto de couro preto e uma botina marrom com solas pretas.

— Bem, agora que você foi aceito no Centro, eu deveria me apresentar direito. Meu nome é Charles Fox, esse é o Centro de Missões da cidade Vale dos espíritos, também chamado de Centro de Missões da Serpente da Chama Violeta. – Ele diz ao se aproximar – Bem, está pronto para começar seu treinamento?

— Estou – minha resposta foi curta, desde a minha morte eu não tenho tido muita vontade de sorrir, nem de agradar os outros. Acho que isso é valido devido a ter morrido há três dias, ainda não me acostumei com a ideia de me separar daqueles que eu sempre estive junto tanto quanto pensava. Como será que meu irmão está agora?

— Se anime, seu treinamento começa hoje. – ele fala e chega um pouco perto, apoiando seu braço no meu ombro e fala um pouco baixo, para que ninguém mais ouça. – Você está meio deprimido porque morreu faz pouco tempo, eu entendo, mas não pode deixar isso afetar sua nova vida. – Eu abro um pouco os olhos surpreso com o que ele disse, “nova vida” eu repito em meus pensamentos. – Essa é a chance de fazer tudo aquilo que você sempre quis fazer, não se arrepender de erros passados e começar do zero, é isso que esse mundo quer dizer para aqueles que vivem nele.

Eu me pego sorrindo um pouco com essas palavras e o dia termina de clarear com isso. E é assim que meu dia de treinamento começa.

— Entendi, começar do zero. – eu suspiro – É um bom significado. – essa resposta foi como se um peso tivesse sido retirado de dentro de mim e me fez olhar para frente com mais esperança.

— Bem, como responsável por você, eu devo te treinar na arte de manipulação de energia. Vou explicar o que é energia conforme andamos. – Com isso dito, Charles começa a andar e eu o sigo. – Energia existe em tudo. – falando isso Charles pede licença e pega uma caneta, parece que ele é uma pessoa bem importante devido ao respeito que as pessoas têm por ele – Aqui, olhe isso e me diga o que você vê?

— Uma caneta, mas acho que não é isso que você quer que eu responda, né?

— Não, é uma caneta mesmo, fora isso não há nada de errado com a sua resposta, mas olhe agora – ele diz e começa a se concentrar apenas na caneta, quando bolinhas de luz começam a sair dela, formando uma caneta de luz. Em seguida, Charles pegou a caneta feita de luz e começou a escrever no ar com ela e letras de luz começaram a formar uma palavra. “Isso é energia” – entendeu? Energia é tudo aquilo que vive dentro de tudo aquilo que existe. – Foi quando chegamos em frente a uma sala com uma placa escrita: “Ginásio de Treinamento” logo em cima. Acabei me distraindo e não vendo o caminho, ou melhor, me concentrando apenas na caneta e sua cópia de energia. – Você vai aprender a manipular essa energia aqui, no ginásio. – Neste momento meu mentor abriu a porta e pude ver várias pessoas controlando diferentes formas de energia. Isso me deixou surpreso com o quão amplo o potencial de energia era.

— Eu vou aprender a fazer tudo isso? – Pergunto meio pasmo ao ver duas pessoas se atacando com punhos e esferas de energia.

— “Tudo isso”? Você vai aprender isso e muito mais. – Charles disse seguido de um riso.

Nos sentamos em uma mesa fora da área de batalha e meu treinamento começou.

— Como eu disse previamente, energia é tudo aquilo que existe dentro de tudo aquilo que existe, mas tem uma exceção para essa regra, que é a própria energia, não se pode tirar mais energia do que aquilo que a gera, e – Charles faz uma pequena pausa – quando a energia fica muito tempo fora de seu recipiente, este para de existir. – Ao falar isso, a caneta que ele estava segurando, a que não era feita de energia, desintegra – e, aquela que é feita de energia, se torna real. – Dito isso, a caneta de energia começa a ganhar cor e matéria, vinda da caneta que antes havia desintegrado – mas, essa regra só se aplica a coisas sem vida, por exemplo, a caneta que estou segurando ou um pedaço de metal, estamos entendidos até agora John?

— Sim, estamos ... senhor Charles – Charles faz uma cara feia ao ouvir o que falei e diz:

— Por favor, sem “senhor”, eu já sei que sou velho e não preciso de formalidades me lembrando disso, pode me chamar de Charles, disse, suspirando.

— Certo Charles. – eu digo com um pequeno sorriso em meu rosto.

— Continuando a explicação de antes, você viu aquelas pessoas se atacando com socos e esferas de energia. A pessoa que usava socos, não usava a energia de seus punhos e sim a energia de seus socos, para ser mais exato, estava negando a resistência do ar e usando a energia da inércia para propulsionar um punho feito de energia. A pessoa das esferas está usando uma técnica diferente, está concentrando a energia do ar em suas mãos e formando a esfera, ela usa a energia do ar condensada por trás das esferas para lançá-las, pode se dizer que é o ponto fraco da técnica da inércia, o mesmo pode ser dito da técnica das esferas sobre a técnica da inércia, por isso – ele aponta para o ponto de colisão das duas técnicas – elas se anulam.

— Mas eu ainda não entendi como eu vou conseguir fazer isso tudo. – Eu falo sem saber o que vem pela frente em meu treinamento.

— Você não precisa se preocupar com isso por enquanto, – Charles responde e continua a sua explicação – agora você só tem que sentir a energia. Tudo tem uma ordem, e – Charles pega um livro, um caderno pequeno, uma caneta e me entrega. – a ordem começa por aqui, leia esse livro e anote suas observações e dúvidas no caderno.

Tendo dito isso, Charles pega um livro de uma das estantes do Centro de Treinamento, que se encontravam fora da quadra de treino, e senta para ler.

Eu observo o meu livro, capa dura e provavelmente menos de 100 páginas, e começo a ler. “Energia, várias forças a utilizam, mas poucos sabem de onde ela vem. Está dentro de todos os corpos que existem, sejam eles etéreos ou físicos. A energia nos mantem em nossas formas, um ser sem energia não existe, pois, uma vez que ele exista, um tipo de energia o acompanha, seja a energia da vida ou a energia da morte, todas têm a mesma origem, que é de seus corpos físicos ou etéreos. A energia pode ser usada de diversas maneiras, mas para isso é primeiro necessário sentir a mudança em seu fluxo. Para aprender isso vamos entrar um pouco mais a fundo nos fundamentais da energia, sendo esses:

1- Energia existe em todos os corpos, físicos ou etéreos, ela sempre está em algum lugar, basta procurá-la.

2- Se uma Energia de um corpo sem vida é tirada por muito tempo de seu recipiente, o corpo perde sua matéria e a energia retirada ganha a matéria perdida.

3- Aquilo que é influenciado por energia, digamos, uma caneta de energia escrevendo no ar, o que foi escrito será apagado se não for mantido com certa quantidade de energia pelo tempo que estiver no ar.

4- Energia é necessária para a existência dos seres dos mundos, pois, sem energia, nada existiria.

Para aprender a sentir a energia, dentro da duração de dez respirações, você deve: primeiro se focar na força em que o ar entra e sai de seu corpo, segundo sentir o batimento de seu coração e terceiro tentar expandir seus sentidos além de seu corpo.”

Essa foi a primeira página do livro, o resto está em uma linguagem que eu não conheço, parecem apenas rabiscos para falar a verdade, até a primeira página fazia pouco sentido para mim, mas decidi tentar mesmo assim.

Eu fecho os meus olhos e inspiro, tento sentir ao máximo minha respiração, sinto o ar entrando em meus pulmões e saindo. Repito esse ciclo duas vezes, até que consigo fazer sem muito esforço. Com isso, começo a sentir o batimento do meu coração que parece bater de forma diferente aqui no mundo dos mortos, um batimento forte, sinto algo sendo jorrado por meu corpo e sigo todo esse caminho. Percebo que em volta de mim tem esse “algo” e tento expandir meus sentidos para fora de meu corpo. Até então se passaram seis respirações. Como dito no livro, expando meus sentidos e começo a ver que tudo tem esse “algo” e percebo que esse “algo” é a energia. Começo a ver de olhos fechados tudo à minha volta, as pessoas lutando, percebo como aquele punho e esferas brilham, noto que Charles tem uma energia muito leve e carinhosa, deve ser por isso que soube que ele não queria mal para mim, e finalmente, bate o tempo de dez respirações. Sinto uma força me sugando de volta para meu corpo e, ao voltar, meus olhos abrem. Consigo ver e sentir a energia de tudo no salão de treinamento, olho para Charles e ele continua a ler seu livro, sem virar para me ver, mas sei dizer que ele sempre esteve me olhando, me olhando com sua percepção de energia. Viro para o livro com a intenção de fecha-lo, mas as palavras que não conseguia ler antes, agora brilham com energia e sinto que se eu usar minha energia, conseguirei ler o que antes não conseguia, assim, me volto novamente ao livro.

O livro, que agora brilha, ainda está em uma linguagem que não entendo, mas o brilho me faz perceber que tem algo a mais nesse livro, tento manipular a energia do livro, mas nada acontece, bem, era de se esperar, ainda não fui ensinado a manipular, apenas a senti-la. Olho para Charles e vejo, que ao ler o livro, um pouco de energia se concentra em seus olhos. Tento fazer o mesmo e, com dificuldade, consigo concentrar minha energia em meus olhos. Olho para a segunda página do livro e começo a receber informação do que devo fazer para manipular a energia, a informação é tanta, que começo a ver o mundo em minha volta girar, minha cabeça começa a doer e boto minha mão nela para ver se consigo diminuir a dor de alguma forma. Após alguns minutos a dor cessa e o que vejo para de girar, percebo que o livro automaticamente foi para a última página, parece que absorvi o conhecimento todo do livro, não sei se foi algum erro meu, ou se era feito para ser assim.

O livro é retirado de minha frente, quando vejo, foi Charles que o fez e diz:

— É normal isso acontecer na primeira vez que lê um livro desses, por isso que sempre é bom ter seu mentor ao lado. – Ele diz isso e aponta para si mesmo. – Como seu mentor, é meu trabalho não te dar nada que você não aguentaria, por isso nós mentores começamos com o livro mais básico, normalmente com algumas páginas escritas na língua dos vivos e o restante em uma linguagem espiritual. Agora, coloque tudo que veio à sua cabeça em ordem no caderno. – Charles diz. Penso que mesmo que ele tivesse me explicado como seria a leitura do livro, eu não teria entendido, assim, começo a escrever:

“01/03/2007

Para manipular a energia, primeiro é necessário conseguir sentir a energia daquilo que quer manipular para, desta forma, usar a sua energia para mudar a energia do alvo. Digamos que iremos transformar um pedaço de ferro em uma espada de energia, é necessário primeiro, imaginar a forma que você quer que a energia fique, pegar a energia do metal desejado e usar a sua energia como molde para a energia alvo. Após algum tempo, parte ou o metal inteiro irá tomar a forma da espada. O mesmo vale para qualquer outra forma de manipulação de energia, se usa a sua energia como molde para criar a forma de energia desejada, por isso os potenciais de energia são ilimitados, desde que você consiga manter a forma desejada e tenha uma imagem clara o suficiente.”

Eu fiz uma explicação resumida de como entendi a manipulação da energia de seres não vivos. A manipulação de energia de seres vivos, ainda não entendi muito bem, portanto pretendo perguntar a Charles.

— Charles – Eu o chamo – Estou com dúvida em relação a manipulação da energia de seres vivos.

— Pode falar – Ele diz fechando o livro e o botando em cima da mesa.

— O que acontece se a energia de um ser vivo fica muito tempo longe dele?

— Isso tinha explicado no livro, se eu não me engano era: “A energia de um ser vivo, ao ficar muito tempo longe dele, para de ter um dono e o ser que teve essa energia tomada absorve a energia do local e a toma como própria.”.

— Mas, e se absorvermos energia o suficiente que ele não consiga recuperar tudo?

— Ah, essa pergunta! Se um ser vivo tem sua energia absorvida mais que 40%, tudo que for absorvido depois retorna para seu dono, então não é possível absorver mais que 40% da energia de um ser vivo.

— Mas é possível encher o ser vivo com energia para que ele não absorva a energia do ambiente?

— Não, é impossível encher algo com energia que não seja a energia do mesmo. Só seria possível encher o ser que teve a energia tomada, com a própria energia tomada, mas isso, só se não tiver nenhuma modificação na energia.

— Entendi.

Conversando isso com Charles termino de fazer minhas anotações e fecho o caderno pequeno.


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