James parecia estar chorando há horas, aliás, não só parecia, ele realmente estava chorando há horas. Ela não sabia mais o que fazer para acalmar o menino, estava quase se jogando no chão e chorando ela mesma.

Todas as tentativas de fazê-lo parar de chorar foram falhas. Queria poder ler a mente dele para saber o que se passava naquela cabecinha para fazê-lo parar com a choradeira, mas no caso, nem a legilimência a ajudaria. O que aquele menino queria?

Depois de ter passado o dia todo no ministério cheia de trabalho, queria poder chegar em casa e descansar, mas o bebê não estava muito a fim de colaborar com ela... Muito menos Ronald, o que estava deixando-a muito mais irritada.

Os dois saíam do ministério praticamente no mesmo horário, mas era ela que buscava James na ONG de Harry, que atualmente ficava sob o comando de Molly, Jorge e ela própria com sua ajuda nas papeladas. Rony ia pra casa de Harry e Gina em Godric’s Hollow, ou melhor, casa dela e dele atualmente.

Quando Hermione chegava em casa, Rony já estava jogado no sofá de cabelos molhados após o banho como sempre. Ela dava banho em James e tentava fazê-lo dormir para que pudesse ir cumprir com seus afazeres de casa, mas quase nunca conseguia, então Rony ficava com ele apenas o tempo em que ela tomava banho. O resto da noite se passava com Hermione preparando o jantar e James no cadeirão brincando enquanto a observava.

Ela se irritava pelo fato de Rony não fazer o mínimo esforço para ajudá-la. Ela que trocava as fraldas, alimentava e coloca James pra dormir. O ruivo só ficava no sofá assistindo TV, alegando que estava descansando. Como se eu também não estivesse exausta! Pensava. Mas não reclamava, não cobraria nada daquele legume insensível, ele que devia se tocar e fazer um pouco pelo menino, ele não era responsabilidade só dela, mas isso tinha que partir da consciência dele.

James chorou, chorou e chorou a noite toda. Hermione o pegou no colo e o balançou, lhe deu remédio para cólica, lhe deu de comer, checou as fraldas, lhe deu um banho, trocou sua roupa e usou o termômetro para ver se estava com febre e nada. Aparentemente ele estava bem, mas só na aparência, tinha algo o incomodando e ela não conseguia descobrir o que era. Muito menos fazê-lo parar de chorar.

Já eram quase duas da manhã e ela estava balançando James no quarto dele, tentou cantar alguma canção de ninar, mas a cantoria também não a ajudou. Estava desesperada, cogitando a ideia de sair de casa e levá-lo a um hospital trouxa próximo para o examinarem quando Rony entrou no quarto do menino completamente irado.

— MAS ESSE GAROTO NÃO VAI PARAR DE CHORAR NÃO? — ele gritou irritado e automaticamente James passou a gritar mais alto.

— Pare de gritos! Assim você o assusta. Depois não venha reclamar que ele está chorando!

— Ele não está chorando por isso! Está gritando há horas!

— Ah, e você percebeu que ele está gritando há horas? Pois não parece, pra mim você nem lembra que existe mais alguém nessa casa além de você!

— Porque não devia existir!

— Como assim não devia existir?

— Porque eu não deveria estar nessa casa! Muito menos você!

— Não devíamos? Como assim não devíamos? — agora os dois gritavam um com o outro, fazendo com que James chorasse ainda mais.

— Não devíamos, Hermione! Que merda é essa que estamos vivendo?

— Merda, Ronald? Merda?

— Isso mesmo. Merda. Estou vivendo nessa casa com você e com James! Duas pessoas com as quais não tenho ligação nenhuma, vivendo essa mentira.

— Por Merlin, não acredito que estou ouvindo uma merda dessas!

— Uma merda dessas? Essa é a realidade sobre esse teatrinho aqui! Não quero brincar de mamãezinha e papaizinho com você, Hermione. Muito menos com um filho de verdade!

— Brincar? Brincar? Você realmente está me dizendo que isso aqui é uma brincadeira? Eu realmente não estou acreditando nisso...

— Pois trate de acreditar porque eu quero...

— Quer o quê?

— Quero entregar a guarda de James!

— Você ficou maluco? Bebeu ou algo do tipo?

— Não, estou muito sóbrio e sei bem do que estou falando!

— Mas você é um idiota mesmo! Idiota e miserável.

— Eu sou um idiota porque não quero assumir um filho que não é meu? Entendeu? Não é meu! Não é! Muito menos seu! Estamos perdendo tempo e dinheiro aqui. Não me lembro de ter desejado ter um filho como você, fingir que casamos e viver juntos. Muito menos de ter autorizado Harry e Gina a escolherem isso por nós!

— Escolherem por nós? Nós é que escolhemos isso, Ronald!

— Então eles por um acaso comentaram sobre isso com você então?

— Comentar? Comentar? Além de tudo é burro? Idiota e burro!

— Pare de me ofender dessa maneira, pois...

— Ronald, nós somos os padrinhos dele! Pa-dri-nhos! Caso não saiba, esta palavrinha aí é uma derivação de pais, sabia? O que significa que na ausência deles, nós é que devemos cumprir esse papel sabia? Nós assumimos esse compromisso quando aceitamos sermos os padrinhos dele! E isso só te faz mais idiota, porque faz as coisas sem pensar. Sempre fez!

“Você sabe de quem este menino aqui é filho? Filho dos Potter. Potter. É este o sobrenome que ele carrega sem dúvida alguma o mais famoso do mundo bruxo! Gina era uma jogadora famosa de um time de Quadribol, tem milhares e milhares de fãs e o Harry... Este já era famoso desde quando nem sabia o significado da palavra fama!

“Os pais dele eram o casal mais famoso do mundo bruxo, todo mundo sabe disso. Os dois já fizeram muito pelo nosso mundo, tanto Harry quanto Gina! Então eu tenho a certeza absoluta de que muita gente daria tudo para honrar o nome deles, mas entre milhares de pessoas você sabe quem ele escolheram? Nós dois. Eu e você. Sabe o que isso significa? Tem noção disso?

“Harry e Gina são sem dúvida algumas duas das melhores pessoas que já conheci na minha vida. Mas eles se foram! Meu melhor amigo e minha melhor amiga se foram! Seu melhor amigo e sua única irmã estão mortos e confiaram a mim e a você a tarefa de darmos um futuro digno ao bem mais precioso que eles tiveram na vida deles! Você já parou pra pensar nisso? Pensou antes de vir aqui me infernizar com uma bobagem dessas? Acho que não.

“Em todos os momentos que eu precisei os dois estavam lá por mim, isso é o mínimo que posso fazer por eles e faço com muito amor e carinho porque é isso que James precisa! Ele é um órfão, Rony. De pai e mãe! Eu e você sabemos mais do que qualquer outra pessoa o quanto Harry sofreu por isso e James agora está na mesma que ele. É isso que você quer pra ele? Vê-lo sofrendo como vimos Harry sofrer?

“Mas quer saber de uma coisa, Ronald? Dane-se você! Dane-se! Se não é capaz de assumir uma responsabilidade dessas, isso é problema seu. Harry e Gina eram como irmãos pra mim e eu vou honrar e proteger esse garoto com a minha vida se for necessário e de mim ele receberá todo o amor e carinho do mundo. Mas se você não se sente capaz de fazer isso também, cai fora antes que seja tarde. Tudo que James não precisa é se apegar a mais um pai e perdê-lo de novo!”

Então Hermione que já se debruçava em lágrimas saiu do quarto carregando James que ainda chorava em seu colo, deixando para trás um Rony atônito e com olhos marejados.

Ela estava irritada. Definitivamente irritada! O cansaço parecia ter se instalado para sempre no corpo dela, o choro de James só aumentava seu estresse e ela soltara tudo que estava entalado em sua garganta em cima de Rony. Se fosse possível, voltaria lá e continuaria brigando com ele, mas suas lágrimas não a permitiam fazê-lo. Ela perderia a discussão se voltasse porque começaria a chorar, e ele, mesmo com os olhos marejados como estavam não choraria. Era frio e insensível e não derrubara uma lágrima sequer desde a morte dos amigos.

Hermione foi para seu quarto e enrolou James num cobertor, sentou-se em sua cama e voltou a cantar para ele tentando fazer o choro dos dois pararem. Com o passar do tempo, os dois finalmente se acalmaram e James dormiu, ali mesmo, nos braços de sua nova mãe.