Rony entrou em casa e fechou a porta com cuidado para não fazer muito barulho. Caminhou diretamente até as escadas, mas deparou-se com uma cena engraçada ao passar pela sala de estar. Estava tudo escuro, a única luz vinha da televisão que estava ligada. Hermione dormia sentada no sofá com os pés apoiados sob a mesinha de centro. Caminhou até ela e passou a chacoalhá-la levemente para que acordasse.

— Hermione... Hermione...

— O que foi? — ela acordou assustada ao dar de cara com ruivo.

— Estava me esperando?

— Não, eu estava assistindo TV.

— Ah estava mesmo, eu vi. Vai dormir na cama, vai. É mais confortável!

— Que horas são?

— Já é mais de meia-noite.

— Nossa... Eu devo ter pegado no sono aqui na sala... — ela disse esfregando os olhos como se fosse a primeira a constatar aquilo, Rony riu da genialidade dela. — Mas e aí, como foi seu encontro?

— Bom, eu diria. — sentou-se um pouco afastado dela.

— Foi ou não foi? 

— Foi... Foi bom.

— Que bom pra vocês. Onde foram? 

— Num restaurante que o Jorge me indicou. Fomos comer comida japonesa, ou seja, nunca mais darei ouvidos a ele! 

— Por quê? — perguntou rindo levemente.

— Comer peixe cru, Hermione? Peixe cru! Eca, eca, eca! Mil vezes eca! O que os trouxas pensaram quando inventaram de comer peixe cru?

— Por que não foi em outro lugar então? 

— Porque ela gostou daquela nojeira.

— Então você não comeu nada?

— Eu comi sim. Tinha um macarrão com um molho preto que até que era gostosinho.

— Yakisoba?

— Deve ser isso. Tinha um nome esquisito! Só não era tão esquisito quanto comer peixe cru! 

— Na próxima vez peça a minha ajuda pra escolher um restaurante então. — deu de ombros.

— Me lembrarei disso. Que nojo! Nunca mais quero comer aquilo! Tenho certeza que o Jorge me sabotou.

— Deviam ter ido num lugar bruxo, então.

— Os restaurantes trouxas são mais calmos, Mione. Se eu quisesse uma loucura no encontro eu teria marcado um jantar no ministério!

— É, nisso você tem razão. Comarc também me levou num restaurante trouxa. — ela comentou voltando a aconchegar-se no sofá.

— Como estão as coisas entre vocês dois? — ele tirou os sapatos e aconchegou-se no sofá também.

— Vão indo bem. Comarc é um amor de pessoa. O que foi? — perguntou ao ouvir o riso debochado de Rony.

— Nada...

— Você não gosta dele mesmo, né? — irritou-se.

— Não, e ele também não gosta de mim. Isso não é novidade pra ninguém! 

— Quanta infantilidade de vocês dois.

— Duvido que fica tentando fazer com que ele goste de mim também.

— Eu já tentei, mas ele é tão imbecil quanto você.

— E por que está com ele então? 

— Vamos parar de falar da inimizade de vocês dois.

— Ótimo! Mas onde é que ele leva você?

— Ele não me leva só pra comer. A gente sai, passeia, vamos fazer outras coisas além de comer!

— E o que pode ser melhor que comer?

— Muitas coisas! Comarc descobriu o cinema trouxa agora, adora ir lá...

— Merlin me livre dessas trouxices!

— Ah, Ronald. Você é realmente insuportável, né? 

— É o meu charme.

— A garota com quem saiu hoje deve ter muita paciência então.

— Deve ter mesmo. — deu de ombros.

— Como ela se chama mesmo? 

— Rachel. 

— E como ela é?

— Legal.

— Legal como? — ela perguntou e Rony suspirou.

— Legal, ela é bem divertida e risonha. E também é muita bonita.

— Como ela é? 

— Bonita. Loira, alta...

— Marcaram de se encontrar novamente?

— Sim, marcamos.

— Você a levou em casa?

— Levei.

— E ela trabalha no ministério mesmo?

— Não. Eu a conheci no beco diagonal, na loja de logros. Ela estava lá com o sobrinho dela...

— Fico feliz por vocês.

— Obrigado. — ele riu levemente.

— Não comeu nem um biscoitinho da sorte?

— Não. — respondeu prontamente.

— Que pena. Adoro as mensagens que ficam dentro deles... Acho que vou me deitar, estou cansada. — dissera se levantando.

— James deu muito trabalho hoje? 

— Comeu e dormiu. Também estava cansadinho, me disseram que ele brincou bastante hoje quando fui buscá-lo lá na ONG.

— Não precisa ir deitar agora, amanhã é sábado. Ou melhor, hoje.

— Eu sei. Mas estou cansada mesmo, é melhor ir me deitar e dormir na cama. Como você mesmo disso é mais confortável! Boa noite, Ron. — ela inclinou-se para depositar um beijo na bochecha do ruivo e subiu para o seu quarto.

Assim que ela subiu Rony afundou no sofá. Seu encontro tinha sido uma merda! 

Ele passou praticamente a noite inteira se lamentando com a garota que aquela altura devia estar o odiando, mesmo que tenha parecido bem simpática e compreensiva durante seu momento de desabafo.

Rony levara Rachel para sair justamente para tentar esquecer outra pessoa que atualmente vivia vagando por entre seus pensamentos: Hermione. 

A convivência vinha fazendo com que ele ficasse cada vez mais interessado nela. Adorava dividir as tarefas com ela, contar como fora seu dia, ir pra cozinha junto dela entre muitas outras coisas. 

Ela era uma garota excepcional. Inteligente e organizada sempre fora aos olhos dele, e o terceiro adjetivo ele só notara no quarto ano dele em Hogwarts: linda. Hermione era linda demais! Não era como as outras garotas, como Rachel: alta, de corpo esbelto, cabelos lisos e olhos azuis. Ela era pequena, magrela, seus cabelos há muito ela os mantinha curtos e domados, mas ainda cacheados, e seus olhos eram de um tom claro castanho penetrante. Ela era linda de uma forma tão natural que ele tinha vergonha de parecer um completo pateta diante dela, pois só sabia ficar admirando-a quando estavam juntos.

E a beleza externa de menina que ela tinha era apenas um simples artefato quando se tratava de mulher que ela era por dentro. Vê-la cuidar não somente de James, mas da casa, de suas obrigações no ministério e com a ONG e até mesmo dele o fascinavam. Ela podia fazer tantas coisas ao mesmo tempo que ele podia até cogitar a ideia dela ter guardado um vira-tempo pra si mesma depois de todos eles terem sido destruídos após o fim da segunda guerra. Mas ela era brilhante assim mesmo, ele sabia que ela podia fazer tudo aquilo e muito mais!

E por falar em segunda guerra ele já tinha se sentido assim em relação a ela outra vez, exatamente naquela época horrível. Que apesar de inúmeras tragédias e tristezas trazia consigo uma boa lembrança a ele: o beijo que ela lhe dera. Mas dessa vez não poderia esperar que ela simplesmente lhe beijasse de novo, teria que fazer alguma coisa. Mas tinha medo de não ser correspondido, afinal, ela vinha saindo com Comarc já há um tempo.

Respirou fundo e mais uma vez afundo-se no sofá. Colocou sua mão no bolso de sua calça e de lá tirou um pequeno pedaço de papel, nele estava escrito uma pequena frase que ele resolvera ocultar dela ao dizer que não comera nenhum biscoito da sorte: Amizade e Amor são coisas que se unem num piscar de olhos. O amor está sempre mais próximo do que você imagina.