O grande confronto escrita por Emily Hardwell


Capítulo 6
Socos na festa de novatos


Notas iniciais do capítulo

último capítulo que postarei se não tiver apoio, pois saibam que isso é extremamente importante



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O dia estava ensolarado e quente, dia do baile dos novatos. Mesmo depois de uma semana, ainda estou sem par, o que não é nenhuma novidade.

Era estranho receber os novatos no meio do segundo semestre, mas as inscriçãoes só terminaram ontem, ou seja, não poderá haver mais novatos, o que significa que não terá nenhuma outra festa para eles (nós).

Embora isso seja anormal, devo agradecer a essa anormalidade pois, sem ela, eu não estaria aqui.

Amanda me disse que _infelizmente _esse baile era de par. Nunca gostei desse tipo de festa pela minha má fama de nunca coseguir um companheiro. É claro que, aqui, só minha mãe conhece minha reputação.

A minha primeira aula era de história, e o professor pediu para fazermos a página 297 em dupla. E, como antes, fiz com Amanda.

Eu estava foleando o livro para achar a página e, por coincidência, era a penúltima. Quando achei a mesma, olhei a página seguinte (como sempre faço) e notei que o número não era 298, mas sim 369.

Eu não achei isso muito normal, por isto perguntei para Amanda, ela me respondeu que talvez seja só um erro de digitação, mas eu continuei com minhas dúvidas.

Durante o intervalo, fiquei sozinha na fila para comprar um salgadinho, pois Amanda estava sabe-se lá onde e, quanto a Gabriel, eu não havia o visto durante o dia inteiro.

De repente, Amanda veio correndo em minha direção com as mãos no nariz.

—Vou te contar uma coisa. Hoje, o Universo acordou e disse: “Ah, que dia lindo para ferrar a Amanda!”.

Comecei a rir e perguntei:

—O que aconteceu?

—Te digo o que aconteceu. O mundo está conspirando contra mim! Eu estava numa boa quando, do nada, brotou uma abelha gigante na minha frente e, como eu não me dou muito bem com abelhas, comecei a correr e, por isso, bati minha cara contra uma parede! Uma parede que também surgiu do nada! Essa escola me odeia, só pode. _Olhei para ela preocupada e perguntei:

—Você está bem?

—Sim. Só está doendo um pouco.

—Que bom. _Assim que falei isso, comecei a rir histéricamente _Ah, sua trouxa! Quem mandou ser tão tapada?!

Ela fez uma careta, mas eu continuei rindo até engasgar com minha coxinha, o que causou uma crise de tosse e, Amanda, com seu jeito delicado de ser começou a me encher de porradas nas costas.

Quando voltei ao normal, Amanda ficou rindo feito louca.

—E ainda fala de mim! Sua anta!_Ela comprou um hamburguer e fomos andando de volta para as salas.

 

Eu perguntei a ela qual era o nome da professora de matemática, e minha amiga respondeu que seu nome era Leilane.

Depois da segunda aula após o intervalo, Bruno chegou perto de mim enquanto eu pegava meu livro de inglês, que era a próxima aula e eu tinha esquecido de pegar, no armário. Um fato interessante que notei foi que, entre o número trezentos e sessenta e oito e o número trezentos e setenta, não havia nenhum armário, algo que deveria ter sendo que todos seguiam a ordem numérica, mas não em incomodei muito com isso.

—Oi, Clear. Está ocupada?

—Oi, Bruno. Pode falar, não estou fazendo nada importante _só estudando para a prova de álgebra de amanhã, que provavelmente irá acabar com minhas mínimas chances de entrar em uma faculdade realmente boa.

—Ótimo. Você quer ir comigo para o baile?

Parece que ouço o cora da igreja cantar “Aleluia, aleluia...”.

Mesmo que minha fama estivesse prestes a mudar, fiquei encarando-o boquiaberta, mas acho que falei “Hmmm...unguingápfkurshiutgfuier”. Entretanto, eu deveria ser sincera com ele antes que ele se arrependa de ter me convidado

—Tem certeza que quer ir comigo? Vou te dar um spoiler de como seria se eu fosse seu par: horrível! _Ele franziu as sobrancelhas e fez uma cara meio decepcionada.

—Isso seria um não?

—Não, isso seria uma chance de pensar pela segunda vez se realmente gostaria de me convidar.

—Eu já pensei e ainda quero você como meu par. Você é legal e tem uma personalidade interessante, então irei refazer a pergunta: você quer ir comigo para o baile?

Arregalei os olhos, com a boca aberta, indicando surpresa e, acredite, não tem como explicar o quão extasiada eu estava naquele momento.

—Claro! Seria um prazer ir ao baile com você! _Acho que isso soou um pouco fino demais.

Eu mal prestei atenção nas aulas, só conseguia pensar “Meu Deus, tenho um par!”.

Quando estávamos na sala de jogos, vi Maria Eduarda e, como sempre estava no jogo de pebolim vencendo a todos. Quando contei para Amanda o que havia acontecido, ela surtou um pouco, mas depois se acalmou.

 

Mais tarde, eu estava no meu chalé tomando banho enquanto Amanda, já estava no dormitório das irmãs Bolshortd para se arrumar, porque aquelas garotas realmente conseguem fazer milagres. Assim que saí do banho, já com minha calça jeans e minha blusa branca com a frase “Keep calm and just burn” escrita em vermelho (um pouco piromaníaca, eu sei), encontrei Isabela andando de um lado para o outro no meio do meu quarto e, quando me escutou saindo do banheiro, imediatamente, virou seu rosto para me encarar. Abriu a boca para falar algo, só que logo fechou-a.

—Oi, Clear. _Falou finalmente depois de muito tempo. _Eu gostaria de te perguntar uma coisa _sentei na minha cama e gesticulei para que ela pudesse perguntar. _Ótimo, porque eu queria saber... o que você e o Gabriel tem? _E logo tratou de acrescentar. _Não que isso seja do meu interesse, claro e, se não se sentir confortável, não precisa responder.

Vendo o desespero em seu rosto e com as perguntas que ela estava fazendo, não pude deixar de gargalhar. É sério que ela estava me perguntando isso? E, além do mais, é sério que ela estava preocupada com isso? Será que ela já se viu no espelho?

—Querida, não tem nenhuma chance de Gabriel e eu ficarmos juntos nesse mundo, então pode ficar tranquila. _Ao ouvir isso, observei seu rosto se suavizar. _ Mas, agora você atiçou minha curiosidade. Por que achou que eu e Gabriel tínhamos alguma coisa?

Quando questionei, vi a cor deixar seu rosto e ele ficar ainda mais pálido, coisa que eu não sabia que era possível.

—Vocês estão sempre juntos e o jeito como ele te olha, quer dizer, o jeito como vocês dois se olham e a maneira como conversam... amigos não fazem isso. _Continuei encarando ela, tentando adivinhar o porque de ela pensar isso tudo e, no final, minha conclusão foi rir. Cara, ela é bem criativa.

—Olha, posso te assegurar que somos apenas amigos. _Ela suspirou e me olhou de uma maneira envergonhada de novo, me agradeceu e foi embora. Eu adoro ela, mas tem certas horas que ela parece merecer estar aqui.

Faltava uma hora para o baile e a área dos dormitórios femininos estava uma completa catrastrofe. Garotas entrando em outros dormitórios procurando por maquiagens, acessórios, sapatos, etc. Por exemplo, no dormitório que eu estava se encontrava Isabela, Isabelle (que são as donas do chalé), Christiane e Amanda _sem contar nas inumeras garotas que procuravam ajuda de Isabela por ser uma maquiadora incrível. Mas todas ajudavam de sua maneira: Amanda possuía belos acessórios, Isabelle dava perfeitas dicas de roupas (e emprestava alguns de seus lindos vestidos) e, Christiane, ajudava com sapatos.

Não troquei de roupa, afinal, não gosto de vestidos e, já que minha mãe não está aqui, quem vai me obrigar a ir com a tal vestimenta? Afinal, minha calça jeans e minha blusa piromaníaca eram um belo conjunto.

Enquanto todas se arrumavam, fiquei sentada, escorada na cabeceira da cama de isabela desenhando bonecos de palitinhos, isso porque eu sou uma bosta desenhando e não sei fazer nada além dos velhos e bons bonecos de palitinhos.

—Por que você ainda não esta pronta? _ Ouvi Amanda dizer e, quando levantei meus olhos para vê-la, percebi que ela toda diferente, pois ela estava usando um vestido lilás que caia nos pés, seu cabelo estava penteado e preso em coque. _Você não disse que o Bruno tinha te convidado?

—Sim, mas de jeito nenhum eu vou botar um vestido, porque vai ser aquela ridícula competição e comparação do tipo “Meu vestido é melhor que o seu”. Por favor, isso é um saco. E outra, essa sou eu de verdade, sem vestido.

—Qual é, Clear! Não é bem assim. _Chegou Isabela e se infiltrou no assunto, mas logo voltou a sua tarefa.

Amanda riu e disse:

—Penso exatamente desse jeito, mas você não gosta de chamar muita atenção, né?

—E quem gosta? _Perguntei voltando a desenhar meus bonequinhos de palitinhos.

—Patrícia.

Dei uma risadinha baixa continuei com meus rabiscos.

—Por favor, Amanda, não seja uma escrava do conformismo e se junte a mim em um baile sem regras!

—Olha, eu sei que eu sou maravilhosa de qualquer jeito...

—E modesta também. _Eu falei interrompendo-a, mas acho que ela não me ouviu.

—...mas com esse vestido, eu fico uma deusa!, e eu não tenho culpa disso. _Dei uma risadinha, sem levantar os olhos, desse comentário. _Me escuta, se você ir assim, vai chamar mais atenção do que se fosse com um vestido e, acredite, eu sei como é ser “a estranha” e, eu sinceramente não me importo, mas algumas pessoas não sabem como lidar com isso. _Ela disse se sentando na beirada da minha cama.

—Pessoas como...? _Perguntei desenhando uma menininha com cabelos de fiapos gritando.

Um rápido fleche de cores passou em seus olhos e finalmente disse com feições sérias:

—Pesssoas com problemas de descontrole da raiva. _Aquilo me fez sentar corretamente no mesmo instante.

—Isso é invasão de privacidade! _Disse levantando.

—Ah e, Isabelle, preciso de um vestido para Clear. _Gritou Amanda e, assim que escutou isso, Isabelle terminou o laço que estava fazendo no vestido de uma de suas amigas e chegou até nós.

—Com todo o prazer, afinal, você não pode ir com essa roupa.

—Poder eu posso, mas...

—Cala a boquinha, eu te proíbo de falar outra coisa. Não irei desperdiçar meu discurso encorajador para você simplesmente ir de calça jeans. Agora, Isabelle, você tem algum vestido vermelho, acho que ficaria perfeito na Clear e, ah propósito, qual é o seu número de vestimenta? _Amanda perguntou.

Isabelle alternou seus olhos entre Amanda e eu e finalmente disse:

—Trinta e seis, por que?

—Ótimo, é exatamente o número da Clear. Ah e, de preferência, um que seja curto.

Isabelle balançou a cabeça e alegou:

—Acho que tenho algo que ficará perfeito nela. _E se retirou, a caminho de seu armário.

Olhei para Amanda e comecei a falar:

—Primeiro, nunca mais me mande calar a boca a não ser queira virar cinzas e, segundo, como você sabe o meu número sendo que eu não estava pensando nele?

—Eu mexi no seu armário para ver qual número você vestia para o Gabriel comprar o maiô. _Ela disse com a maior cordialidade.

—Que bom que você tocou no assunto, afinal, queria falar com você mesmo sobre isso.

Assim que terminei de falar, Isabelle voltou um vestido vermelho maravilhoso, justo até a cintura e rodado até o pé.

—Agora não, Clear. Você tem que se arrumar. _Eu ri um pouquinho e fui pegar meu vestido, mas, quando o analisei, notei que seria impossível eu ir com ele para o baile, pois ele mostrava bastante as pernas e, consequentemente, mostraria o enorme corte na minha perna direita.

—Amanda, _abaixei o tom de voz para que só ela pudesse me escutar _não posso usar esse vestido.

—É claro que pode! Você quase nunca mostra suas pernas e esse vestido poderia enlouquecer qualquer um. _Revirei os olhos e a puxei para um canto sem outras meninas.

—Você não está entendendo, eu realmente não posso usar isso. Olha só. _Assim que disse isso, levantei a calça em minha perna direita e mostrei minha marca vermelha na pele, parecida com um raio. Quando olhou para aquilo, seus olhos se arregalaram e variavam entre minha perna e meu rosto. Aquela cena me cansou e voltei a olhar para as outras meninas do chalé e percebi que Isabela me olhava e ainda mexeu seus lábios, formando a frase “Sem dó” ou “Tem pó” e depois sorrindo para mim. Quando Amanda finalmente voltou ao normal, se virou para isabele e perguntou:

—Por acaso você tem um vestido vermelho e longo?

—Por que? Ela não gostou desse? _Isabele perguntou a Amanda com uma feição decepcionada.

—Não é isso. É porque ela não sabe andar de salto, poir isso seria mais conveniênte usar um vestido longo. _Isabele balançou a cabeça, concordando com o ponto de vista de Amanda.

—Acho que tenho um desse tipo.

 

Coloquei o vestido comprido e vermelho que ela havia trago para mim, mas claro que coloquei um short por baixo, fiz um rabo de cavalo alto, mas quando tentei calçar um salto-alto que Christiane havia me emprestado, vi que era impossivel andar com aquilo e tratei logo de colocar um tênis confortavel. Afinal, não iria aparecer mesmo, então decidi me arriscar. Isabela, por sua vez, estava louca para me maquiar, porém neguei e o máximo que permiti foi um leve batom (entretanto, acho que a Bela não sabe a definição de leve, pois o que ela passou em meus lábios fora de um tom marcante de vermelho). Quando finalmente estava me apresentando para elas, Amanda deu um sorriso para mim e disse:

—Está perfeito. _Mas ela não perdeu mais tempo comigo, pois virou-se para Christiane quase que imediatamente. _Cris, pode me devolver meu cantil?

Olhei para Amanda surpresa por vários motivos. Ela bebia? Como ela havia conseguido aquilo? Ela iria levar para a festa?

—Como você conseguiu isso? _Ela me olhou com um sorriso malicioso e deu um gole em seu objeto.

—Dá para conseguir tudo daqui de dentro se você tiver os contatos certos. Você quer? _Neguei com a cabeça, até porque, qual seria o sentido de beber se eu não gosto?

—Mas isso não é meio ilegal!? _Amanda olhou para mim, riu e disse:

—Pode ser, mas minha vida já é toda errada mesmo. E, se você não gosta de bebidas, não prove do ponche porque terá uma surpresinha, só beba o refri. _Dei uma risada e fui me ocupar com outra coisa.

Não sei como, mas quando se trata de festas, aquelas meninas se transformam totalmente. Isabele completamente incrível com seu vestido brilhante, prata em cima e, conforme descia, os brilhos diminuiam e mostrava o tecido preto por baixo, sua irmã, com um vestido azul turquesa (pelo menos foi essa a cor que ela havia me dito), me lembrava o mar, com a barra esvoaçando-se como ondas e, Christiane estava igualmente bela, usando um vestido verde inesquecível.

 

Quando já estávamos no ginásio, eu vi Maria Eduarda com um vestido preto de ceda muito bonito com um garoto que, infelizmente, não deu para ver seu rosto, pois ele estava de costas para mim, mas tinha cabelos negros e era branco, entretanto, foi só isso que consegui ver, porquê até a cor de seu paleto estava sendo coberta por outra pessoa que estava a sua frente. Quando ela me viu, seus olhos fumegaram de tanta raiva. Dei um sorrisinho só para provocá-la mais.

Patrícia estava com seu par e namorado Henry. Ele tinha uma barba rala, cabelo cor de areia e seus olhos eram verdes escuro. Ele tinha o porte de lutador de “vale-tudo”. Ela estava com um vestido rosa com babados e ele com um terno amarrotado. Parecia que ela estava falando com ele, provavelmente de si mesma ou do tanto que seu vestido era bonito.

Amanda me falou que o nome de seu par é Carlos, ela também me argumentou que ele estava no terceiro ano e, quando ela foi na direção dele, vi que era um sujeito auto e magro, seus olhos eram castanhos e seu cabelo era meio cinza com um corte padrão militar.

Fui até Bruno, que estava conversando com um de seus amigos. Ele estava com um terno preto, seu cabelo castanho escuro estava brilhando e seus olhos cor de mel estavam realçados.

—Oi.

Bruno se virou, me viu e sorriu.

—Oi, Clear.

Ele segurou meus ombros cobertos e me levou para o centro.

Até o diretor estava com par, era a minha professora, Carla. Leilane também tinha par, era um zelador que vi entrar no armário depois que conheci Amanda. Ele parecia com Carlos, que era o par de Amanda, mas o cabelo era castanho escuro grisalho e ele era maior, também aparentava ter 30 anos.

—Já vou avisando que não sei dançar muito bem.

Disse ao Bruno.

—Não se preocupe, somo dois. Puxa, Clear. Você está acesa!

Dei uma risadinha nervosa. Eu mandaria ele calar a boca se fossemos mais íntimos.

Ele não dançava mal, mas meu tio dançava melhor, e fora com que eu apredi a dançar _ele era um ótimo professor, mas eu era uma péssima aluna.

—Você realmente quer dançar agora? _Perguntei um pouco entediada, até porque, aquela música é um tédio.

—Para falar a verdade, não. O que você quer fazer? _Ele me perguntou.

—Sei lá. Que tal irmos para a mesa de comida? _Perguntei com um sorriso só de pensar em comer.

—Beleza. Vamos para lá então. _Assim que ele disse isso, saímos da pista de dança e vomos atacar a comida (o que me deixou extremamente contente).

Quando chegamos lá, vi todos aqueles salgadinhos maravilhosos _que eram mais de cinco e, alguns eu nem conhecia (e olha que eu sou uma períta em salgadinhos) _, então eu peguei dois de cada e comecei a come-los, o que não demorou muito, mas, logo em seguida, peguei um cachorro-quente. Enquanto eu comia, Bruno me observava.

—Para onde toda essa comida vai? _Ele me perguntou curioso. Eu engoli o pedaço de cachorro-quente que estava mastigando e respondi:

—Sinceramente, não faço a mínima ideia. Eu não engordo por que o meu biotipo é de uma pessoa magra e, minha mãe é magra e, pelas fotos, vi que meu pai também era magro. Ou seja, pela genética da minha família, o normal seria eu nascer magra mesmo. _Quando percebi o que eu estava falando, abaixei minha cabeça até minha mão livre e comece a sacudi-la _ Olha o que eu estou falando. Meu Deus! Esse é meu primeiro baile com acompanhante e eu me comporto feito uma porca, porque um boi seria educado demais para ser comparado a mim! Agora sei porque ninguém me convida.

—Você até que está se saindo bem. _Bruno disse para que eu me sentisse bem. Eu levantei minha cabeça e o respondi:

—Nossa, estou me saindo muito bem mesmo, afinal, você ainda não correu e, fala sério, olha que assunto interessante que eu estava falando com você! _Disse sendo um poço de sarcasmo.

—Mas fui eu que te perguntei isso. _Ele disse isso só para me acalmar.

—É, mas eu não podia ter feito o que qualquer garota normal faria e mudar de assunto? Mas NÃO, como eu não sou uma garota normal, eu faço o oposto. _Depois de dar uma de louca, volto a me acalmar e respiro fundo, com minha mão livre no diafragma para segurar minha respiração. _Me desculpa, é que me deu um surto psicótico _Eu dei uma risadinha da minha própria piada (adoro falar “surto psicótico”). _Minha mãe falou que em festas como essa eu tenho que me comportar feito uma dama, mas, fala sério, é um saco! Nada cotra damas, na verdade eu bem queria ser uma dama, mas a única coisa que eu odeio nisso é que tem que usar salto, vestido longo e maquiagem. Eu já ando feito uma pata, nem sei andar direito e querem que eu ande de salto e, como se isso fosse difícil o bastante, ainda tenho que usar vestido longo, para espatifar de uma vez minha cara no chão.

Quando terminei meu discurso, ele deu uma risadinha e disse:

—Então porque você não veio com uma roupa normal? Por mim, estaria de boa.

Quando ele disse isso, fiquei encarando-o como se dissesse “você está zoando com a minha cara?”.

—Você está brincando comigo? Eu iria vir com uma roupa normal, mas minha amiga falou que eu poderia chamar mais atenção com roupa normal do que com vestido e, eu não gosto de chamar atenção.

—Lamento te informar, gatinha... _Ele começou a falar, mas eu o cortei no meio da frase.

—Por favor, não me chame de gatinha. _Pedi contendo um pouca da minha “loucura interior”.

—Desculpa. Então, lamento te informar, hum... Clear, mas você não precisa de vestido ou não para chamar atenção. O que eu quero dizer é que você já chama atenção naturalmente.

Espera aí, como é que é? Então ele estava dizendo que, de qualquer modo, eu chamo atenção? Qual é, vida?!

—Tá, mas, por que?

—Você tem chamativos cabelos ruivos, lindos olhos azuis, é bonita, _Cada vez que ele falava algo, franzia mais meu cenho. Cara, é sério mesmo que ele está falando aquilo? _ tem uma personalidade incrível e, você não como a maioria das outras garotas, que são mimadas e que só falam coisas de meninas, ou seja, nós te enxergamos mais como um mano no corpo de uma menina bonita.

Quando ele falou as últimas caracteristicas minhas, eu fiquei um pouco mas alíviada.

—Só um instante. Você acabou de falar que eu sou bonita? _Perguntei, afinal, eu nunca tinha recebido um elogio assim. O máximo que já tinha escutado de um garoto fora quando Mark Shuker disse que minhas pernas eram tão finas quanto as da Mary O'lowere, que era uma das garotas mais bonitas do sexto ano. Ele, imediatamente, ficou vermelho.

—Eu escutei um menino falando isso. Palavras dele, não minhas.

Dei mais uma mordida no meu cachorro-quente quando começou a tocar Sweet Child o mine, do Gun's and Roses (que eu simplesmente amo). Eu também fiquei paralisada.

—Eu, simplesmente, amo, essa, música! _Eu disse. Ele arregalou os olhos e disse:

—Sério mesmo? Eu também! _Ele exaltou.

—Mas quem não gosta dessa músia?

—Pessoas. _Ele disse com naturalmente.

—Não vamos ficar aqui enquanto toca essa música, OK? Vamos voltar e arrebentar! _Eu gritei mais alto que a música apontando para a pista de dança. Ele riu e concordou.

Nós dois ficávamos cantando e pulando (tecnicamente, ele era o “Axl Rose” e, eu, era “Slash” e eu fazia seu solo com uma guitarra imaginária).

—Não fazia ideia que você gosta de rock. _Ele gritou enquanto nós pulávamos.

—E outra coisa que você não sabe ao meu respeito é que eu faço crochê com minha avó por parte de mãe. _Disse rindo e, ele também riu.

Estavamos todos dançando quando começou a chuviscar, mas continuamos a dançar por que achamos que iria parar, mas não parou. Então, a chuva caiu sobre nós, pois não havia teto nesse ginásio.

Enquanto nos molhavamos, uma multidão enlouquecida ia para a quadra de volei coberta.

Eu poderia ficar na chuva sem problemas pois, a) eu não uso maquiagem e b) adoro chuva, mas não queria ser a estranha que fica na chuva sozinha, pois é assim que se chama muita atenção.

Nessa correria, quase todos perderam seus pares, incluindo eu.

Pelo menos, a música ainda estava tocando.

Eu estava com meu pescoço esticado para procurar o Bruno quando uma mão gelada encostou nas minha costas.

Tomei um leve espanto e me virei, vendo que o dono da mão gelada era Gabriel.

—Te assustei. _Ela falou sorrindo e, eu, retribui o sorriso. Ele estava com um terno branco muito bonito e uma gravata preta, mas havia algo contrastante em seu visual, que seria uma marca roxa recente perto do olho direito. Parece que ele deu uma de Clear e se meteu em uma briga. Ótimo! Parece que estou começando a influênciar meus amigos.

—Onde conseguiu essa proeza? _Questionei, colocando meus dedos de uma maneira nada sutil em seu ferimento. Assim que o encostei, ele recuou, tirando minha mão de perto do seu rosto com sua própria.

—Me meti em uma briga com uma pessoa.

—Sério? _Perguntei irônicamente. _Mas é claro, seu tapado. Não tem como você ter batido a cara na parede sem querer. _Porém, eu sou uma exceção a essa regra, pois eu já bati minha cara na parede sem querer várias vezes enquanto andava. _Eu quero saber que foi que te fez isso e o motivo.

—Quem fez não te interessa e, o motivo... você quer mesmo saber? _Aleguei com a cabeça. _Mas você vai me achar um idiota se eu te contar.

—Eu já te acho um idiota mesmo sem saber. _Ele me fitou e deu uma pequena risada, depois suspirou e me contou.

—Foi por causa de uma garota. _Olhei para ele séria, entortei a boca e só fiquei parada.

—É sério isso? Quer dizer, você ganhou um olho roxo só por causa de uma garota? E, ah propósito, percebe-se que perdeu a luta, afinal, não estou vendo nenhuma menina do seu lado. _Ele me olhou da cabeça aos pés e arqueou um sobrancelha.

—Poxa, eu podia jurar que você era uma menina. _Infelizmente, devo admitir que isso me fez rir, mas ainda pude chamá-lo de idiota.

—Você sabe exatamente o que eu quis dizer. _Ele balançou a cabeça positivamente.

—Mas você está errada. _Ele falou levantando a mão e mostrando-me o nós dos dedos vermelhos. _Eu ganhei a luta, pois o garoto veio sozinho também.

Isso não me pareceu uma real vitória, mas, se ele considera assim...

—Ainda não entendo, afinal, porque se envolver em uma briga por causa de uma garota enquanto as outras fazem fila apenas para terem uma dança com você?!

—Acontece que ela não seria uma das garotas dessa fila porque me acha um idiota.

—E ela está certa, afinal, foi um ato de extrema idiotice arranjar briga por causa de uma menina para, no final, ainda ficar sem par.

—Pare de me lembrar disso, por favor. Agora, fala rápido, quem é seu par?

—Bruno. _Falei sem pensar. Ele riu e olhou por cima da minha cabeça.

—Bruno? _Ele voltou seu olhar para mim e continuou. _Você convidou o Bruno?

—Não, mas qual é a graça?

—Nada.

—Pelo menos ele não está sozinho.

—Já sabia que você iria usar isso para tudo, entretanto fique sabendo eu também decidi não vir com ninguém para não privar todas as gorotas de dançar um pouquinho comigo. Por exemplo, você deveria me agradecer por eu estar gastando meu precioso tempo com você. _Espera, ele realmente estava falando isso? _Mas... o Bruno?

—Olha, pelo menos ele teve coragem e me convidou, ele não foi um covarde como você, que não convidou nem a garota com quem queria vir!

Disse furiosa, até, por que, quem é ele para julgar Bruno? Ele simplesmente revirou os olhos e soltou um suspiro frustrado.

—Equanto estava tentando resolver isso, _ele gesticulou sua mão em direção ao seu olho _ela já tinha sido convidada. É nisso que dá ficar fora o dia inteiro!

Então ele realmente estava me falando que não tinha convidado a garota com quem queria vir porque estava “ocupado” demais arrumando briga?

—Você é um babaca!

—Sabia que você não entenderia. _No momento, fiquei sem palavras. Ele levantou seus olhos novamente e falou _Achei seu par. _Ele pegou minha mão e me levou até Bruno.

Quando cheguei lá, ele me viu e sorriu, mas depois viu a mão de gabriel segurando a minha _contra minha vontade _e desfez o sorriso.

—Posso roubar ela um pouco? _Gabriel perguntou para Bruno, que fanziu as sobrancelhas.

—Sim, sim. Claro! Pode levar meu par, mas só por uma dança.

Enquanto ele me puxava _ainda segurando minha mão contra minha vontade _para a multidão, lancei um olhar para o Bruno como se dissesse “Tenha dó de mim, eu não quero dançar com ele.”, mas não recebi nada em troca.

A música que nós dançamos era boa, mas não se dançava ela do jeito que se dançava valsa, e foi desse jeito que bailamos, o que nos transformou no grupo estranho no meio de uma escola para pessoas problemáticas também.

—Você dança muito bem! _Eu falei impressionada com seu “gingado”.

—Obrigado. E você dança muito mal! _Ele falou impressionado com minha falta de “gingado”.

—Eu só elogiei para ser educada.

—Sei...

Ele enfatizou sendo sarcástico.

—Então... com quem você queria vir? _Perguntei o que já estava me incomodando há um tempo, embora desconfie que se trate de Isabela por conta da conversa estranha que tivemos mais cedo.

—Só te conto se você me contar com quem você queria vir.

—Eu não queria vir com ninguém.

—Sério?

Afirmei monótona.

—Tá, mas só quando você contar uma pessoa que queria ir ou queira ir para algum baile, eu te conto.

Ele disse sorrindo. Estava louca para reponder “Isso é muito injusto”, mas, quando abri minha boca, tocou uma música legal, não sei muito bem o seu nome, mas ela é linda e, lenta também _uma combinação rara para mim. Quando começou a tocar, seu sorriso se desfez:

—Me concede esta dança?

Ele me perguntou.

—Acho melhor voltar para Bruno, afinal ele disse disse que só era uma dança.

Ele esticou seu braço, eu, hesitante, dei a mão a ele e dançamos. Enquanto rodapiávamos, olhava ao redor do ginásio percebi uma coisa: Gabriel era o único homem de branco.

—Eu posso... fazer uma pergunta? _Eu questionei.

—Já fez. _Ele respondeu rindo.

—Ok, mas qual é o nome dessa música? _Perguntei impaciente.

—É… alguma que eu não conheço.

Eu balancei a cabeça negativamente e dando um riso curto.

—Ah e, outra pergunta, por que você não quer que eu participe dos jogos?

Ele ficou sério.

—No meu primeiro ano aqui, eu conheci uma garota...

—Por que sempre é uma garota? _falei com uma pequena risadinha.

—Fique quietinha e me deixe terminar a história. _Ele falou com o mesmo tom neutro de antes, o que me deixou um pouco irritada. _O nome dela era Lilá, ela estava no terceiro ano do ensino médio e, eu, no sexto do fundamental. Ela era meu exemplo! Ela se inscreveu nos jogos de inverno e... morreu. Ela também era coordenadora de atividades. Não quero que você tenha o mesmo fim dela.

—Então, você...

—Sim! Sou coordenador de atividades por ela.

Havia um quê de melancolia camuflada.

Eu o abracei e fiquei dando tapinhas em suas costas para reconforta-lo. Não sei consolar pessoas.

—Sabe, você me lembra um pouco ela. _Ele segurou meu rosto e me deu um beijo na bochecha. _Ela também não me escutou.

Ele se afastou devagar. Voltei a ficar com Bruno e continuei dançando com ele.

O baile já tinha acabado já passava de três horas da manhã, mas, mesmo assim, não saímos do ginásio. Pessoas iam de um lado para o outro, conversando entre si e, fui até o encontro da Amanda, que deu um sorrisinho quando me viu e, seus olhos rapidamente mudaram de cor, já sabia que ela leu meu pensamento.

—Vocês formam um belo casal.

Deduziu Amanda.

—Há há. Que piadinha mais engraçada.

Respondi de um modo sarcástico, mesmo não sabendo exatamente de quem ela estava falando, mas se for de Bruno, digo que ele não gosta de mim e eu não gosto dele, somos APENAS amigos.

Eu passei a noite escutando a conversa das gêmeas Bolshortd, Isabela e Isabele.

Elas que ganharam as ”princesas-do-inverno” no baile e, felizmente a coroação foi depois da chuva, contudo, por mais que estejam molhadas e com os cabelos úmidos e bagunçados, continuavam mais bonitas que a maioria das meninas nessa festa. E, devo admitir, as duas realmente mereciam aquele título de princesas.

No nosso grupinho, estavam Cris, Amanda, Isabela e isabelle (sem contar das várias outras garotas que estavam lá por causa das gêmeas) e estavamos conversando sobre coisas fúteis, mas boas de se debater. Depois de um tempo socializando com outras garotas, Christiane chegou perto de mim e disse em meu ouvido:

—Não olhe agora, mas o Juan está vindo para cá. _Revirei os olhos pela maneira como ela havia dito, mas, do mesmo jeito, olhei.

Ele realmente estava andando em nossa direção, até que em um momento, ele olhou para mim e acenou e, para não ser mal educada, balancei minha mão no ar também.

O que aconteceu depois foi tão rápido que nem entendi direito, apenas um borrão, nem tive tempo para alertar Juan que Gabriel estava atrás dele. Mas não foi minha culpa, afinal, em um momênto, ele estava vindo para cá e, no outra, Gabriel estava o virando pelo ombro e acertando-lhe um soco de direita no queixo.

Minha cara nesse instânte deve estar muito engraçada, até por que, quem, nessa galáxia inteira, adivinharia aquela cena? Espera... bem, talvez Amanda.

Foi um choque para todos no ginásio, todos ficaram paralisados vendo o acontecimento, mas não Juan. Ele até que reagiu rapidamente, como se fosse algo completamente previsível receber um soco de Gabriel, e levou sua mão esquerda em direção ao seu olho já machucado e, também, o encaixe do punho cerrado de Juan no hematoma do meu amigo foi perfeito, como se tivesse acabado de ser feito (exceto pelo tempo necessário para o ferimento obter essa coloração).

Eles queriam continuar com a briga, pois os dois já estavam partindo um para cima do outro com punhos fechados, mas eu logo me meti e corri até eles, pois, senão, iriam acabar se machucando de verdade. Parei entre os dois, com as duas mãos levantadas para cada um, simbolizando que era para eles pararem e que não continuassem com a briga enquanto estava no meio e, como sou teimosa, não iria sair até que conseguisse o que queria.

—Opa! Parem com isso agora! Por acaso vocês são crianças do maternal? Não se pode sair arranjando briga com qualquer um só porque temos vontade e, se quiserem acordar amanhã, acho melhor não dar continuídade a isso. _Eu sei que isso pareceu muita idiotice, afinal, como uma garota magricela e pequena (pelo menos sou maior que Amanda, já que ela é quase uma anã) poderia acabar com dois caras como Gabriel e Juan? Bom, a resposta é relativamente simples, afinal, não se pode subestimar ninguém nessa escola, até porque, (quase) todos possuem um motivo para estar aqui e, digamos que ser uma garota que tem esquizofrênia, ataque de raiva e é uma potencial piromaníaca me ajuda a ser bem ameaçadora.

Eles mal me olhavam enquanto falava, mas antes de irem embora, Gabriel me olhou com culpa e um sentimento meio misturado, como se fosse um pouco de raiva ou desapontamento (ou talvez fossem ambos), já Juan me olhava com admiração, como se eu fosse algo extremamente raro e especial. Se ele continuasse assim, eu seria capaz de corar, mas, graças a Deus, ele se distanciou.

Quer saber, acho que foram acontecimentos demais para uma noite só, então por quê tenho a impressão de que ainda aconteceria muitas coisas pela frente?

 

Indo para meu chalé, vi um casal se beijando encostado em uma parede de um dos dormitórios femininos. Não sou enxerida, mas quando vi que o garoto usava um terno branco... parei no mesmo lugar. Me aproximei depois de me recuperar, sem me preocupar em ser discreta e vi o tecido azul celeste envolvendo o corpo perfeito da garota. Agora percebi o porque da isabela me perguntar aquelas coisas estranhas mais cedo.

No mesmo segundo, fiquei com um sentimnto estranho que me fazia querer chamar minha amiga de traidora, de acusá-la de estar fazendo algo errado, mas ela não estava. Estava tudo bem, por mais que eu esteja sentindo vontade de vomitar. Lembrei da vez nos estábulos, quando ele estava... com Maria Eduarda e desse mesmo sentimento, de que algo estava sendo roubado de mim, talvez minha inocência, e da ânsia subindo pela garganta, entretanto, naquela vez, eu tinha o direito de me sentir assim, pois não é muito agradável ver seu melhor amigo se agarrando com sua inimiga, porém, agora, Isabela era uma garota descênte, boa, inteligente, altruísta e que já sofreu bastante nessa vida miserável, então porque eu estaria assim? Deve ter sido a comida, pois, como bem sabemos, não sei manerar quando o assunto é alimento.

Devo confessar, aquela cena foi estranha e, além do mais, não consegui tirá-la da minha cabeça, porém, o mais estranho foi que, quando me olhei no espelho ao chegar ao meu chalé, me vi fazendo cara feia.

Quando todos já estavam dormindo, eu ficava pensando no meu pesadelo e, infelizmente, naquilo que havia presenciado. Devo admitir que estava lembrando daquilo por mais tempo que deveria. Estava com medo de dormir, mas acabei cedendo ao cansaço.

 

Senti como se tivesse apenas piscado os olhos, ou talvez tenha sido isso mesmo o que aconteceu, não sei, pois o costumeiro pesadelo não me pertubou e, também, olhei para a janela do meu lado, que estava apenas com o vidro e a cortina, notei que o céu ainda estava escuro.

Não tenho a mínima ideia do que poderia ter me acordado, porém logo comecei a formar milhares de teorias em minha mente: um dos vários remédios que eu tomava era para insônia crônica, então, talvez, ele pode não estar fazendo efeito; talvez eu esteja tendo uma paralisia do sono _mas essa ideia não me agradou muito, pois, da última vez que aconteceu, tive um ataque de epilepsia (que foi quando eu descobri que tinha); talvez eu esteja tendo um dos meus sonhos realistas, que são tão idênticos a realidade que quase não sei identificar quando me ocorre algum... e assim fui formando possibilidades até ver o que realmente me fez acordar.

Tudo estava do mesmo jeito de sempre, no entanto, havia algo na cadeira do lado da mesa de estudos de Amanda que não era familiar.

Pode ter sido os olhos extremamente azuis que se destacavam no rosto irreconhecível por causa da falta de luz ou a silhueta que estava mais negra que a escuridão ao seu redor que acusaram que alguém tinha invadido meu quarto e, imadiatamente, meu cansaço foi substituído pelo medo e, quase que no mesmo instânte, me sentei sentei corretamente em minha cama, com os olhos já arregalados.

Ao ver minha reação, a pessoa/sombra se inclinou para frente, entregando sua idêntidade.

—Desculpa, eu não queria te assustar. _Ele falou com uma voz rouca, se levantou e começou a andar em minha direção.

—Gabriel, você tem noção do quão psicopata você está parecendo? _Enquanto ele continuava a avançar e a luz da lua que penetrava pela janela do lado do meu leito ia iluminado-o, consegui observar que ele ainda estava com o terno branco, mesmo que desabotoado, com a blusa para fora da calça (sendo que alguns botões da blusa também estavam abertos), com a gravata frouxa, pendendo ao pescoço e com a barra da calça suja de lama e amarrotada, porém, infelizmente, ele continuava com o mesmo charme de quando estava no baile. Ao escutar o que eu falara, sua boca formou um sorrisinho no canto da mesma. _E, ah propósito, o que diabos você está fazendo no meu quarto a essa hora?

—Eu tenho que me desculpar com você por ter brigado com Juan. _Ele explicou e sentou-se na beirada na beirada da minha cama.

—Primeiro, por que você tem que pedir desculpas para mim se em quem você bateu foi ele?, e, segundo, você não poderia esperar até amanhã para isso?

A luz, para meu desagrado, não iluminava seu rosto direito, por isso, pelo menos ao meu ver, sua feição estava indecifrável.

—Não, eu não poderia me desculpar amanhã, até porque, eu não suportaria ficar brigado contigo mais nenhum segundo, nem se eu quisesse. _Ele fez uma expressão como se estivesse esperando algo, me encarando como se estivesse em uma espécie de transe. A pausa foi tão longa que quase me fez pensar que ele tinha terminado a frase, mas ele ainda não tinha respondido a minha outra pergunta, então fiz um sinal com a cabeça pedindo para que continuasse. Meu amigo ficou um pouco desapontado, surpreso e talvez até com um pouco de raiva, ou poderia ser só a falta de luz causando essa impressão. Assim que ele abriu a boca, pude sentir o cheiro forte de bebida alcólica que emanava dele. _E, quanto a outra resposta, eu vim te pedir desculpas porque sei que você gosta dele. _Seria impressão minha ou sua voz tinha vacilado no final? Espera, até ele estava se metendo em minha vida pessoal? Não sei se perceberam, mas simplesmente odeio quando fazem isso.

—O quê? Gabriel, quem te contou um absurdo desses? E você ainda acreditou? _Sinceramente, meu amigo é o nerd mais burro que eu já conheci, afinal, como ele poderia ter caído em uma mentira como essa? No mesmo instânte, fiquei com muita vontade de gargalhar.

Pela sua reação, pude perceber espanto e... talvez, alívio.

—Você... ele... não?! _Ele gaguejou, porém com um sorriso no rosto.

—Escute-me, você está bêbado e cansado, então vá para sua cama, durma bem e, quando se recuperar, você me pede desculpas por ter invadido meu quarto e não por ter batido em alguém, porque eu não preciso ter satisfação dos seus atos. Mas, por favor, não se desculpe no meio da madrugade e, agora, se me der licença, eu não fico comprando remédios para insônia simplesmente para você me deixar acordada a essa hora. E outra, se você se meter em minha vida pessoal de novo, você não estará mais vivo para se desculpar, nem no meio da madrugada, nem em qualquer hora do dia. _Também não sou obrigada a ser educada quando estiver com sono.

Nem esperei para ver ele saindo do meu quarto, pois queria dormir logo, mas não sei se isso era uma boa coisa. Logo percebi que não era uma coisa legal, pois eu estava perdida num lugar parecido um labirinto, como Amanda disse. Eu estava correndo para todos os caminhos mas sempre acabava chegando num mesmo lugar, o lugar do meu antigo pesadelo.

Ela se aproximava bem devagar:

—Você me conhece, mas não consegue enxergar.

Mas ao contrário do meu antigo pesadelo, eu estava armada com uma espada, podia me mexer e falar:

—Dessa vez vou mudar meu pesadelo.

Eu levantei minha espada em sua direção, e ela em manobra de defesa, também levantou a sua, o que deu uma pequena faísca.

Ela me pareceu um pouco surpresa, pois deu um pulinho para trás.

Quando nossas espadas se chocaram pela segunda vez, voou faísca para todos os lados, pois também senti pressão na espada dela. Ela já havia se recuperado do susto.

—Sério que você quer fazer isto?

Quando ela me questionou isso, acordei.

—Você ainda não sabe?

Perguntou Amanda. E, em resposta, eu balancei a cabeça negativamente.

 


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