Aquela locadora da Rua Cranbourn escrita por Trauma


Capítulo 1
Marasmo.




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Meus pais decidiram que eu precisava – e urgentemente – de um emprego. Eles não iriam mais bancar minhas drogas, saídas e fodas. Então lá estava eu, com meus três melhores amigos, trabalhando naquela maldita locadora. Não que tivesse muito do que reclamar: estava na companhia de caras que eu gostava, descolava uma grana legal com o emprego e podia levar emprestado qualquer filme de lá, desde que devolvesse no dia seguinte. Era, sem dúvidas, o emprego dos sonhos de qualquer cara de 17 anos.

Os pornôs ficavam lá no fundo, e era comum ver algum cara que estudava conosco indo até lá, completamente sem jeito, para alugar algum. Ponderávamos a idade mental dos infelizes e com quantos anos perderiam a virgindade. Ainda mais aqueles que achavam que enganavam alguém quando pegavam outros dois ou três filmes completamente aleatórios pra fazer um sanduíche do pornô. Estes eram hilários. Enquanto observávamos Nelson, um dos nossos alvos favoritos – e dos mais assíduos clientes da sessão adulta, que não deveria ser frequentada por ele –, a sineta da porta soou, e uma garota entrou por ela.

Jesus. Como era bonita. Com os cabelos ruivos com aqueles dois dedinhos de cabelo preto, mostrando que aquela cor não era dela, e os olhos muito claros. A pele incrivelmente branca e sardenta, que me fez pensar em como seria legal marca-la. E aqueles lábios... por Deus, que lábios.

Tom me cutucou forte e eu pude entender que, provavelmente, estava babando em cima da moça, que me encarou assustada.

— Er... Cê tem a Bruxa de Blair? – perguntou sem jeito, me encarando ainda assustada.

— É uma merda – soltei. Franco como o diabo, este sou eu – Quero dizer, existem outros filmes muito melhores de terror, se você quiser.

Encarou-me como se eu fosse o pior dos esquizofrênicos. Sem me responder, saiu a procura da fita que queria, e Danny foi atrás dela para ajuda-la. Bufei, tamborilando os dedos sobre a mesa. Harry, que se sentou ao meu lado após voltar da sessão adulta, gargalhava gostosamente de algo que provavelmente estava acontecendo lá dentro, mas não me interessava. Eu só conseguia olhar praquele pescoço descoberto e pro sorriso lindo que mirava meu amigo.

— Que ele tem? – indagou Harry, confuso, fitando Thomas.

— Tá assim com cara de pastel desde que a garota entrou na locadora.

— Gostosa.

— Eu sei – respondi, visivelmente puto – Faça o favor de não olhá-la dessa forma.

— Oh, não gostou que olhei sua garota como um pedaço de carne, Douguinho? Saiba que Danny está ali passando a mão nela.

Ao voltar o olhar para a garota e Daniel, ele estava com o braço sobre seu ombro e os dois riam gostosamente. Ele percebeu que eu o encarava, então a acompanhou – sem tirar aquela mão suja de seu ombro – até o caixa, e ela jogou duas fitas sobre o balcão.

— Veremos se é ou não uma merda – caçoou, atrevida – E eu vou levar esse também. Sexto Sentido.

— Esse outro é ótimo. Bruxa de Blair... Merda.

— Veremos – repetiu.

— Pode entregar na quinta até as 19h.

— Entrego hoje mesmo, assim que acabar.

Sorriu, dando uma piscadela e saindo da locadora. Suspirei profundamente, batendo a cabeça no balcão. Ao ouvir a sineta soando dois segundos depois, ergui o olhar.

— Aquele garoto está há muito tempo na sessão adulta. Eu iria lá conferir a integridade das embalagens.

Piscou novamente e saiu. Por Deus, que garota era aquela?

De fato, fomos lá tirar Nelson da sessão adulta e fazê-lo pagar pelo que estava fazendo lá dentro. E de preferência, fazê-lo em sua casa. Passamos a tarde rindo do ocorrido e assistindo desenhos, já que não havia absolutamente mais nada a ser feito se não havia clientes. Faltando 5 minutos para fecharmos, a sineta tocou novamente.

— Voltei – cantarolou a garota, animadamente – Devo concordar que esse filme...

— É uma merda! – completei, fazendo-a rir – Eu avisei. E esse, o que achou?

Fez uma careta, que me fez imaginar que ela não havia adorado o filme. Sorri pra ela, que sorriu de volta. Aquele foi o maior contato que tivemos desde que ela entrou na locadora pela manhã. Ia tirando o dinheiro do bolso, quando segurei sua mão.

— Você não passou nem um dia com esses filmes, não poderia fazê-la pagar.

— Mas eu...

— Relaxa.

Pisquei e ela mordeu o lábio de maneira deliciosamente charmosa. Estendeu-me a mão.

— Eu sou Amanda.

— Dougie – e apertei sua mãozinha – Você... mora por aqui?

— Aham. Eu me mudei pra cá faz menos de uma semana, não conheço ninguém.

— A escola segunda, ela vai ser uma merda.

A garota assentiu, debruçando-se sobre o balcão. Quando estava próxima o bastante pra me fazer suar frio, apontou pra um dos chocolates que ficavam atrás da gente.

— Eu quero um Twix.

Ri e entreguei a ela, que sorriu de volta. Amanda ia saindo da loja, quando Harry gritou “Ei!”, fazendo-a voltar.

— A gente vai assistir uns filmes na mansão do Poynter hoje. Cê parece sozinha e entediada. Quer ir?

— Quem diabos é Poynter? – perguntou, arqueando a sobrancelha – Eu nem sei quem são vocês! Podem ser estupradores.

— Não somos – ralhou Tom – Meu nome é Tom Fletcher. O cara visivelmente interessado em você é Dougie Poynter. O bonitão que falou que ‘cê parece uma pessoa sozinha, Harry Judd. E esse bobalhão que te ajudou com as fitas, o doce Danny Jones.

Pude vê-la corar. Menino imbecil, o menino Fletcher.


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