Me chamam de Corvo (Bulletproof) escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 13
O lado frágil


Notas iniciais do capítulo

Cenas fortes nos esperam...



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— Como estão as coisas?

— Bem normais — respondeu Hoseok a Yumi. — Quer dizer, não aconteceu nada demais. A única coisa a ressaltar é o maravilhoso comportamento de Chung Ho desde que Jin Hyung deu um chega-pra-lá nele.

— E desde que matamos Abraxas — lembrou Taehyung. — Foi um pouco mais difícil sem Jin Hyung, mas deu.

— Foi ainda mais legal poder contar com o próprio Abel — confessou Sunghee. Yoongi olhou torto para ele. — Acho que ele foi essencial.

— Você também foi — disse Yoongi. — Foi uma grande batalha.

— Continua, Hoseok Hyung — pediu Jungkook.

— Não sei se tem mais alguma novidade… Jin Hyung e Namjoon-ssi estão mais próximos. Eles não lembram ainda a questão da festa, mas está acontecendo.

— E os daqui? — perguntou Abel. — Continuam isolados?

— Sim — respondeu Sunghee. — Eles não se sentem à vontade com as versões mais atualizadas de vocês. E essa dimensão é um pouco desconfortável mesmo. Eles gostam de ficar na parte oeste, onde ainda prevalece a dimensão anterior a esta.

— Essa casa virou uma zona depois do restart — comentou Jimin. — Como se não bastassem os dois reinos, agora temos dimensões infinitas. Já passamos pela terceira, e o pior é que ainda restam quatro vivos, sem previsão de retorno a Omelas. Ou seja, não sabemos por quanto tempo a segunda e a terceira dimensão serão simultâneas. Tem como prever isso, hyung?

— A Mi vai chegar aos 19, como sempre. Quanto à nova família Kim, a Eva nos deu um tempo bem extenso com garantia de vida.

— Quão extenso? — perguntou Géssyca.

— Mínimo de uma década, mas provavelmente mais.

— Isso torna as coisas mais fáceis pra mim.

— Claro — disse Yoongi. — Você é mais evoluída, Sun Noona. Estar aqui enquanto os três se isolam já prova isso. Com dez anos de permanência assegurada, você fica mais livre para tomar decisões.

— Eu sei porque você tá falando isso — disse Abel.

— Ah é? — perguntou Yoongi, cheio de ironia. Abel riu.

— Até parece que você não sabe que essa menina é apaixonada por você.

— Vocês que dizem que a minha Sunghee ainda é um bebê!

— Pelo menos você ainda tem a sua Sunghee — disse a própria. — O meu Yoongi não existe mais.

— Ele ainda tá aqui — lembrou Yoongi. — É cumulativo, não é? — Ele se dirigiu a Jimin.

— É sim. Não é à toa que você lembra das dimensões anteriores.

Yoongi se voltou para Sunghee deixando transparecer um pouco de alívio.

— Mas preciso lembrar que…

— Eu já sei — murmurou Yoongi entre os dentes. — Relações amorosas interdimensionais não são seguras. Não se preocupem, eu me contento com a companhia da noona.



Eu fiquei olhando para Sunghee durante o tempo que me foi permitido. Os dias se passaram lentamente, até que aconteceu um momento que eu não imaginava presenciar.

— É melhor irmos andando — disse Sehun. Estávamos os três de pé na sala de espera da maternidade. — Ainda temos que passar na casa de vocês para tomarem um banho e colocarem alguma roupa adequada.

— Não tô sabendo de nenhuma saída — eu disse, confuso. — Precisamos ir a algum lugar?

— O enterro da Yu. É hoje, esqueceu?

— Eu não tô com cabeça pra isso, Sehun. Sem condições.

Eu quase não percebi a expressão de Sehun mudar lentamente, como sempre. Ele ainda estava calmo, mas parecia um pouco impaciente.

— Sem condições? Ok. Você está sem condições, né… Beleza. Você está há três dias nesta maternidade fazendo um monte de nada. Fica sentado, olha a Sunghee, senta de novo, come o que estão te trazendo por pena. Uau, é realmente cansativo. Eu tenho o maior respeito por você, Jin Hyung, mas isso é uma falta de consideração total, TOTAL comigo. Eu quase bati o carro umas três vezes tentando chegar na casa de vocês quando a Yonseo me disse que a Sun ia nascer. Eu estava nervoso e dirigi rápido, então foi assim. Eu cheguei na maior pressa e a porta estava trancada, mas eu ouvi ela gritando lá dentro. Eu usei a trava do carro pra arrombar a porta e entrei. Ela estava gritando caída no chão do corredor e eu peguei ela no colo. Yonseo pegou a bolsa da Sun. Nós colocamos ela no carro e viemos. Eu entrei de acompanhante. Todos os gritos dela me arranharam e eu ainda tenho as cicatrizes, porque não posso esquecer. Ela me pediu para entregar o pendrive e eu disse que ela mesma poderia entregar. Eu tinha esperança, mas ela sabia que estava indo. Eu ajudei como eu pude, mesmo sendo só um acompanhante. Eu fiquei com ela até o último segundo. Eu vi a Sun nascer em meio a sangue, suor e lágrimas. Eu vi… — Sehun hesitou, como se a lembrança fosse forte demais, e era. — Eu vi a Yumi morrer em meio a sangue, suor e lágrimas. Eu vi a Yumi morrer, Jin Hyung. Eu assisti à última tentativa, ao último suspiro. E você não tem condições.

Sehun não queria me magoar, e eu sabia disso. Aquele momento não foi intencionado para fazer eu me sentir culpado. Foi um desabafo de alguém que tinha sido muito forte, mas cuja energia estava no fim. Oh Sehun não tinha nenhuma obrigação de fazer o que estava fazendo, mas permanecia firme mesmo que aquilo o machucasse.

Mais uma vez, eu não sabia responder com palavras, apenas com atitudes. Muitas coisas se traduziram quando abracei Sehun com toda a minha sinceridade. Aquele abraço disse que eu sentia muito por tudo aquilo. Pediu desculpas por eu ter ignorado a realidade dele, por não ter reconhecido seus imensos favores e por não notar que aquele médico surreal era um ser humano. Aquele abraço transmitiu a virtude da reciprocidade do sofrimento, que se completou na inevitável união dos que sofrem. Tal união se fez presente na forma de uma janela que se abria em meio ao entendimento de que todos têm seu lado frágil, de que todos precisam, em algum momento, revelar suas fraquezas para que possam suportá-la. Pela abertura da janela, caíram as lágrimas de Sehun, não um médico, não um universitário, não um presidente de atlética. Um humano. Um menino. Não é necessária maturidade para lidar com a dor que vem da perda.



Andar pelo terraço foi mais fácil sem estar com uma cadeira de rodas, mas ver as lápides ainda era doloroso. Conseguia imaginar meus meninos ali, cada um de pé atrás da própria lápide, e tudo parecia bem, mesmo que eu soubesse que não estava. Passei um longo tempo encarando-os até ouvir o som atrás de mim.

Como da outra vez, Yumi apareceu de repente atrás de mim. Eu não consegui vê-la, mas ela estava com dificuldades para andar. Quatro rapazes a vinham trazendo, e Sehun era um deles. O segundo era um primo, que eu sabia que era bem próximo dela. Os outros dois eu não conhecia, tal qual muitos dos que vinham acompanhando.

Eu não me lembro de muita coisa do enterro. Não estava muito bem das ideias. Não me sentia bem com aquelas pessoas que eu não conhecia, ou que conhecia de vista e tinha uma péssima relação. Felizmente, ninguém se importou com a minha presença, nem para bem nem para mal. Eu ainda estava um pouco surpreso por terem conseguido convencer a família a enterrá-la junto com os meninos, mas não liguei muito na hora. Quando tudo acabou, começaram a ir ao túmulo dizer coisas a ela e jogar os lírios. Nesse meio tempo, nos chamaram. Nós três fomos juntos para dar força uns aos outros. Sehun foi o primeiro.

— Annyeong, suprema coach. Eu sei que você foi muito forte para nos trazer a nossa Sun, mas eu queria muito que o destino tivesse sido mais generoso. Eu queria que ele tivesse te dado mais força para ficar com a gente. Está sendo muito difícil ficar sem você. Eu não sei se vou me acostumar com isso. Não sei como ficam as coisas daqui em diante, mas você deixou sua marca em nós. Nunca vamos esquecer de tudo o que vivemos graças a você.

Não sei se o Sehun não queria admitir — acredito que tenha sido esse o problema — mas ele tinha, visivelmente, um carinho especial pela Yumi. Talvez a simples certeza de que nada mudaria o ocorrido fosse o suficiente para filtrar suas palavras.

Chegou a vez de Namjoon. Eu não sei bem o que estava esperando, mas não tinha nada a ver com o que ele disse.

— Eu tenho muitas coisas a dizer, então preciso começar pedindo perdão por não ter dito isso antes. Você sabe muito bem que eu te tratei mal muitas vezes, mas isso era tudo fingimento. Eu tentava fingir pra mim mesmo que te odiava, mas na verdade eu aprendi a te admirar. Você apostou todas as suas fichas no futuro maluco que planejamos, e sua saída inesperada foi a única coisa que deu errado. Eu não queria seu mal de forma alguma, espero que não tenha parecido isso, mas… Sei lá. Geralmente eu sou bom com as palavras, mas… Você faz esse tipo de coisa. Você me desestabiliza. Eu nunca soube ao certo o que pensar sobre você. Hoje eu só consigo pensar que queria que você estivesse viva. É difícil imaginar esse futuro maluco sem você. Até a próxima, Yu.

Namjoon colocou o lírio e cedeu espaço para mim. Eu ainda estava um pouco chocado com a fala dele, mas fui para o meu lugar e fiquei pensando.

— A parte mais difícil de estar aqui é que eu me apaixonei pela mãe que você seria. É horrível pensar isso. É horrível pensar que a maternidade tirou você de mim. Eu não sei se fico triste por você ter partido ou feliz pela Sun ter chegado. Eu passei muito tempo pensando que teria as duas, e de repente nada do que planejamos faz sentido. Fizemos muitas coisas juntos, e elas se perderam sem você. Eu não sei, Yu. Eu estava duvidando que tivesse fôlego para  continuar. Eu ainda duvido que possa ver a vida com a mesma magia que via antes, mas uma coisa eu prometo a você. Eu prometo que vou cuidar da nossa Sunghee. Da melhor forma que eu puder. Eu pensava que o destino havia sido cruel, mas eu vejo que ele foi muito gentil. Você está onde deve estar. Está com o Jungkook, e é assim que tem que ser. Obrigado por tudo, Yumi.


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Notas finais do capítulo

Não vou aguentar. Também estou curiosa pelo pendrive.
(É que eu releio tudo antes de postar, agora eu quero ler mais, então deve ter outro capítulo daqui a pouco).
P.S.: Nem disse aqui, mas faz um tempo que terminei a fic ♥ O epílogo tem três capítulos!



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