Me chamam de Corvo (Bulletproof) escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 12
Miga sua louca


Notas iniciais do capítulo

Os capítulos mais tensos têm os melhores nomes.



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Namjoon sentiu à distância que tinha algo errado. Ele me esperava de pé enquanto eu vinha pelo corredor segurando as lágrimas. Ele continuou olhando para mim tentando compreender o que tinha acontecido, mas eu não aguentava mais simplesmente encará-lo, então corri e o abracei o mais forte que eu pude. Imediatamente, soltei todas as minhas lágrimas de uma vez só. Coincidência ou não, a última vez que eu tinha chorado tanto como naquela vez também tinha sido por causa dela.

— O que houve? — perguntou Namjoon, preocupado enquanto correspondia meu abraço, enquanto tentava me consolar de alguma forma, mesmo sem saber o que estava acontecendo.

— Ela se foi — eu disse, embora mal conseguisse ter um pouco de dicção. — A Yumi foi embora pra sempre.

Namjoon me abraçou ainda mais forte.

— Aigoo, Jin Hyung…

O que havia ser dito? O que poderia me consolar?

Ela está com o Jungkook agora.

Eu abri meus olhos e, aos poucos, parei de chorar e soltei Namjoon. Novamente, ele soube identificar em minha expressão alguma coisa diferente, ao mesmo tempo em que eu tentava assimilar. Olhei para o lado, bem lá para o fundo da sala, onde estava a dona da voz.

— Hyung? — chamou Namjoon, sem entender o que estava acontecendo comigo.

Eu o soltei com cuidado e dei a volta nas fileiras de cadeiras que me separavam dela. Como a voz dela podia me alcançar? Parecia um sussurro, mas ela estava tão longe... Como ela poderia saber quem era Jungkook? Que eu tinha uma Ranger? Como podia saber que eu estava naquele apartamento? Como pôde avisar a Sehun a tempo de ele chegar antes mesmo das primeiras contrações? Como ela pôde fazer isso sem ao menos conhecê-lo? Por que ela estava ajudando de forma tão precisa pessoas que ela nem conhecia?

Obviamente, eu queria fazer muitas perguntas mas, ao me aproximar e ficar bem de frente para ela e encarando-a nos olhos, com o rosto ainda manchado pelas lágrimas já cessadas de um jeito que eu não sabia explicar, eu escolhi apenas uma pergunta, que fiz de forma firme, quase ameaçadora.

— Quem é você?

Ela desviou o olhar por um instante, e logo em seguida voltou toda a atenção para mim, me encarando com aqueles olhinhos tão familiares…

— Eu posso responder essa pergunta de muitas formas. Dizer meu nome não é uma delas, então eu vou responder de um jeito que você entenda. Eu sou amiga de Jung Hoseok, embora você o chamasse mais de J-Hope. Eu sou irmã de Kim Taehyung, embora você o chamasse mais de V. Meu nome é Kim Yonseo, e eu vim interceder por vocês… A pedido dos cinco. Talvez isso pareça estranho para você, mas não é no que deve focar. Devia focar em cuidar do presente que Jungkook e Yumi deixaram pra você.

— Hyung! — chamou Namjoon, lá do meio da sala, e sinalizou para o corredor. Sehun estava lá.

Eu dei uma última olhada para Yonseo antes de ir até lá com passinhos rápidos.

— Está pronto? — perguntou Sehun, assim que cheguei.

— Há um bom tempo — disse, secando meu rosto, embora estivesse tomado por nervosismo e ansiedade.

Sehun me levou pelos corredores até chegarmos a uma sala com grandes janelas de vidro onde vários berços de hospital estavam dispostos. Percebi logo que era o berçário das crianças que estavam sob cuidados especiais. Sehun estava prestes a me dizer quem era minha filha, mas eu a reconheci assim que bati o olho nela.

— A Sun…

— Ali!

Eu me grudei no vidro rapidamente. Nunca pensei que fosse querer praticar vandalismo no hospital. Eu queria quebrar aquele vidro e segurá-la o mais rápido possível.

— Aigoo… Ela é linda, Sehun…

Meu amigo doutor riu um pouco.

— Como a encontrou? Foi porque ela é a maior bebê daqui ou intuição de pai?

— Eu conheço todas as roupas dessa menina, Sehun. Principalmente essa…

— Foi presente do Namjoon, não foi? Estava na bolsa que ela separou para trazer. E também… — Sehun mexeu no bolso. — Também tinha isso. — Eu olhei. Era um pendrive. — Ela pediu para eu entregar a vocês.

Eu peguei o objeto da mão de Sehun como se o estivesse roubando e o encarei intensamente, como se pudesse adivinhar o que havia ali dentro. Não fazia ideia do que poderia ser, mas decidi guardar e voltar minha atenção para a minha bebê, pois sabia que não teria todo o tempo do mundo. Eu percebi Sehun andando como se estivesse indo embora, mas eu estava meio hipnotizado. Só olhei quando ele chamou.

— Jin Hyung.

Sehun estava parado com a mão na maçaneta do berçário. Eu demorei para entender.

— O que foi?

— Vem cá!

Olhei para os lados, como se houvesse alguma possibilidade de Sehun estar falando com outra pessoa. Me aproximei dele com cautela, como se fosse algo proibido.

— Promete que não vai fazer escândalo.

— A gente vai entrar?

Você vai entrar.

— Aigoo…

— Mas tem que se comportar.

— Eu vou — eu disse, empolgado.

— Tá. Ande devagar, não faça barulho e… depois que higienizar suas mãos pode colocar a mão na abertura, com cuidado.

— Sério?

— Vai logo — sussurrou ele, abrindo a porta.

Eu higienizei as mãos e entrei com cuidado e andei pelo berçário como se o chão fosse de areia movediça. Me coloquei do lado dela e observei seus olhinhos fechados. Ela era absolutamente encantadora.

— Oi, minha princesa — sussurrei, completamente emocionado. — Minha princesa-corvo.

Ainda como se fosse proibido, coloquei minha mão na abertura e segurei a mãozinha dela. Tive que cobrir a boca com a outra mão, ou ia gritar de tanta fofura.

De repente, eu voltei a chorar. Havia esperado muito para conhecê-la, e finalmente estava ali, finalmente eu podia tocá-la, admirá-la.

Depois de alguns segundos, Sehun me chamou de novo.



Namjoon sentiu à distância que tinha algo certo. Ele me esperava de pé enquanto eu vinha pelo corredor segurando as lágrimas com as mãos no rosto, ainda sem acreditar.

— Ela é muito linda, Nam! Simplesmente uma princesa!

— Uma princesa-corvo.

— Eu quero tanto pegar ela no colo… Eu quero segurá-la, e protegê-la. Eu quero cuidar dela.

— Você vai! Nós vamos cuidar dela juntos.



Sehun apareceu um pouco mais tarde para explicar que o hospital tinha contatado os Choi e que eles fariam os ritos fúnebres. A informação me aliviou,não só por não termos dinheiro, mas também porque eu estava abalado demais para me envolver com uma questão do tipo. Ele disse que ia sair para “agir as coisas”, o que eu não entendi muito bem, e pediu para ligarmos se precisássemos de alguma coisa. Eu pedi para ele trazer comida, porque já estava quase anoitecendo e não tínhamos almoçado.

Começou a esfriar logo. Por algum motivo, não tinham colocado um casaco no meu figurino de gravação. Namjoon estava olhando em volta como se procurasse alguma coisa. Finalmente, perguntou.

— Aquela menina é a irmã do V?

Franzi o cenho.

— É — respondi, sem perguntar o motivo, porque sabia que Namjoon era bem próximo de Taehyung e provavelmente conhecia um pouco de sua família. Se bem que a relação não era boa, pelo que eu tinha ouvido.

— Sabia. Sabia que conhecia aquela voz.

Fiquei tentado a perguntar o que aquilo significava, mas deixei Namjoon à vontade. Uma lembrança envolvendo a irmã do Taehyung não parecia muito agradável.

Sehun voltou mais tarde com três jantinhas e uma argolinha com duas chaves iguais, que estendeu para nós.

— O que é isso? — perguntou Namjoon, sem entender. Sehun bufou, impaciente.

— Eu arrombei a porta, lembra? Mandei um chaveiro trocar a fechadura, essas são as novas chaves.

Namjoon pegou o molho e observou seus detalhes, enquanto eu só pensava na comida: era sopa de macarrão com legumes. Sehun sentou ao nosso lado para comer também. Enquanto isso, falou sobre os ritos.

— Já começaram. Eu dei uma passada lá, mas não fiquei por causa das coisas pra resolver. Daqui eu vou pra lá de novo. Vocês vão quando?

— Eu não sei — disse. — Por enquanto eu só quero ficar perto da minha filha.

— Falando nisso, eu tô pra perguntar… — murmurou Namjoon. — A gente tá comendo, ok. E a Sun? Ela devia estar sendo amamentada e tals…

— Ela está — disse Sehun, como se fosse óbvio. — Desde quando hospital deixa bebê com fome? Nós temos um banco de leite. Não é muito bem abastecido, mas funciona. Eu já estou abrindo o requerimento para ela receber em casa quando sair daqui.

— Você é o top mesmo, hein, Sehun…

Nosso médico riu de nervoso com o comentário do Nam.

— Eu sou um médico normal como todos deveriam ser.

Logo pensei no meu tio. Muito mais experiente que o Sehun, e com tantas más intenções. Me lembrei do que ele disse no dia em que acordei… Até hoje não acredito que ouvi aquilo de forma tão aberta.

Sehun foi para o velório um tempo depois. Eu e Namjoon ficamos ali. Estava ficando bastante frio e eu comecei a ficar irritado com a ausência de um casaco, mas procurei não me importar com isso, pela Sun.

Conforme a noite caía, eu começava a cair também. Ficava distraído e quando via estava caindo para a frente. Depois de cair umas três vezes, Namjoon se pronunciou.

— Oh, hyung… Deite no meu ombro.

— Não precisa… — eu disse, sem graça.

— Tá caindo de sono, precisa sim.

Namjoon abriu a mochila que estava entre seus pés e tirou o casaco xadrez que compunha seu figurino do MV. Então, ele me ofereceu.

— Não tá com frio?

— Um pouco, mas minha blusa já ajuda. Você tá sem nada.

A blusa de Namjoon tinha mangas compridas, e a minha era uma T-Shirt. Eu não estava mesmo em condições de ficar naquele frio, então aceitei. Me cobri com o casaco e deitei no ombro dele. Eu me impressionava com o cuidado dele comigo todos os dias.



Eu acordei sem sentir frio. Estava aquecido por um cobertor de microfibra que me era até familiar. Abri os olhos devagar. Ainda estava na sala de espera da maternidade, ainda apoiado no ombro de Namjoon. O cobertor com estampa de flores de cerejeira nos cobria. Ele percebeu quando eu acordei.

— Oi, hyung. Está com fome? Tem comida.

— Que comida?

— É bibimbap.

— Foi meu tio que trouxe?

— Como você sabe?

— Meu cobertor. E o cheiro da comida da minha eomma.

— Ah, sim… É, ele não quis te acordar. Pediu pra você ligar caso precise de alguma coisa a mais.

— Ele foi rude com você?

— Foi super gente boa, na verdade. Disse que ficou sabendo que eu tava aqui e trouxe comida pra mim.

— Meu tio trouxe comida pra você? Então deve estar envenenada…

— Credo, hyung. Vamos aproveitar minhas últimas horas então, porque eu já comi.

— Só pode ter pirado.

— Você acha mesmo que ele correria o risco de te matar?

— Não sei. Ultimamente tô esperando tudo do meu tio.

— Não faça isso. Ele se preocupa com você.

— Só porque trouxe essas coisas? E se for um pretexto pra matar a gente sem deixar pistas?

— Claro que não, Jin Hyung. Você é tipo um filho pra ele.

— Não parece.

— Tá que ele fez umas doideiras, mas… Sei lá, é complicado. Ele achava que estava te ajudando de alguma forma. E você… Você deixou claro que não é bem assim.

— Eu disse que você é importante. Então talvez ele agora te veja dessa forma. Bom, de qualquer modo… Eu vou comer o bibimbap. E se estiver envenenado a gente se vê do outro lado.


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Notas finais do capítulo

Esse povo suicida... Não falo nada.



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