Destinada escrita por Benihime


Capítulo 18
Capítulo XVI




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Lydia

Mais uma vez me vi à margem do campo de treino, esperando por Ares. Por sorte, o assunto presente era bem mais fácil do que o anterior.

Ele acenou ao me ver, abrindo um sorriso largo. Combinado com a jaqueta de couro e aquela cara de moleque, o fazia parecer um legítimo bad boy. Não pude evitar sorrir de volta ao retribuir o aceno.

Me sentei de pernas cruzadas na grama e fiquei observando a luta, admirando os movimentos dele. Ares era ... Agradável de se observar, para dizer o mínimo. E veio até mim assim que o treino terminou.

— E aí, morena — Cumprimentou — Fiquei surpreso quando disse que queria me encontrar. Algo errado?

— Não exatamente — Respondi — Mas preciso mesmo falar com você.

— Sou todo ouvidos.

— Aqui não. Venha comigo.

Não esperei resposta, quase imediatamente enrolando meus dedos ao redor de seu pulso. Ares veio comigo sem protestar.

Minutos depois

Ares

Assim que entrei em seu quarto, Lydia trancou a porta. Precisei me esforçar muito para controlar minha imaginação, ou sabia bem o que aconteceria.

— Ahn, Lydia …

— Não pense besteiras, seu idiota — Ela avisou como se lesse minha mente. — Só estamos aqui porque o que vou contar é segredo.

— Não pensei em nada.

Ela me olhou por sobre o ombro com um sorriso zombeteiro. Eu adorava aquele sorriso, que a fazia parecer uma menina novamente.

— E eu não conheço você. — A morena zombou. — Seu pervertido.

Sentei na beirada de sua cama, e imediatamente percebi que fora um erro. O cheiro de jasmim de seu perfume estava em todo lugar. Aquilo ia me deixar louco se eu me demorasse muito.

— Achei! — Lydia exclamou — Que ótimo! Pensei que alguém já tinha me descoberto.

— Não andou se envolvendo em nenhuma encrenca, não é, Lids?

Ela se virou novamente para mim, seu rosto sério como eu jamais vira.

— Você nem imagina. — Declarou — E estou falando sério, ninguém pode saber sobre isso.

— Se é tão importante, por que está me contando?

— Porque, no momento, você é o único em quem tenho certeza que posso confiar.

Apesar do quase rosnado em sua voz, suas palavras me encheram de orgulho. Ela sentou-se ao meu lado e abriu o pergaminho entre nós.

— Mas ... Está em branco!

— Esse é o problema. — Ela explicou, seu tom de voz claramente acrescentando uma repreensão no final da frase. — Este não é o Pergaminho da Vitória. É falso. O verdadeiro deve estar escondido em algum lugar.

— E precisa da minha ajuda para encontrá-lo? — Arrisquei.

— Não. — Foi a resposta — Eu precisava de alguém a quem contar tudo o que descobri. Alguém que, se algo acontecer comigo, vai continuar o que comecei. Preciso do meu irmão agora.

Não vou mentir, fiquei desapontado. Eu meio que tinha esperanças de impressioná-la enquanto a ajudava.

— Está bem. — Cedi. — Me conte tudo.

— É Zeus. — Ela declarou, sua certeza inabalável na voz e na expressão. — Só ele sabia como entrar na sala das relíquias, lembro que me disse isso pessoalmente quando me levou lá. E nosso pai é o único cujas ações jamais são questionadas como deveriam.

— Nem ele teria esse sangue frio. — Protestei. — Tramar algo assim bem na frente de todos ... Zeus não é tão ambicioso.

— Nunca subestime a ambição de um homem, Ares. — A morena respondeu. — Nem mesmo deuses são imunes a ela.

— Cuidamos dele depois. — Declarei. — Algo me diz que, primeiro, temos que encontrar o verdadeiro Pergaminho.

— Sim, você tem toda razão. Mas não sabemos nem por onde começar.

— Eu apostaria no cetro de Zeus. — Conjecturei. — Se fosse ele, jamais me separaria de um objeto tão precioso.

— É uma boa aposta. Mas tão impossível quanto nada.

— Pensaremos em algo.

— Eventualmente — Ela concordou, numa voz desanimada.

Lydia suspirou e deitou a cabeça em meu ombro. Seu gesto me surpreendeu por um momento, mas logo passei um braço por sua cintura.

— Está repensando, princesa? — Provoquei.

Lydia me lançou um daqueles seus olhares irritados, mas estava sorrindo. Apenas um leve curvar dos lábios, mas um sorriso mesmo assim.

— Não comece. — Foi sua resposta — Só estou cansada, e você é um bom travesseiro. Então cale a boca e fique parado, brutamontes.

— Ouch! Assim você me magoa!

— Otário.

Ela riu baixo no silêncio do quarto e ficamos um longo tempo ali, sem dizer mais nada.

À noite

Lydia

A pequena reunião marcada às pressas fora mais cansativa do que eu esperava. Ares, Atena, Afrodite, Hefesto, Ártemis e eu não conseguimos chegar a um consenso, com acusações e discussões marcando a noite. Quando finalmente demos aquele debate por encerrado, eu estava pronta para ficar sozinha por algum tempo. 

Escapei sem ser vista para uma sala lateral, nada mais do que um cômodo vazio com paredes de pedra. À primeira vista, a pequena sala de pedra parecia estar deserta mas eu podia sentir uma presença ali, como se alguém me chamasse.

Uma mulher saiu das sombras. Na fraca luz que entrava pelas janelas eu só conseguia ver que ela era esguia e delicada, com um porte elegante.

— Lydia — Sua voz era doce e ela disse meu nome com familiaridade — Eu sabia que você acabaria me encontrando.

Recuei, surpresa tanto com seu tom de familiaridade quanto pelo fato de ela saber meu nome.

— Quem é você?!

— Você já sabe.

De repente, uma luz suave encheu a sala, iluminando-a o bastante para que eu a visse. Longos cabelos castanho-claros, olhos verde-musgo emoldurados por cílios longos, rosto anguloso e elegante ... Eu reconheci aquele rosto, o mesmo que eu havia visto no Lago da Ilusão pouco menos de um mês antes.

Dei um passo para trás, recuando involuntariamente. Ela estendeu uma das mãos, como se para me deter, mas deixou-a cair ao lado do corpo novamente, na certa sentindo que seria uma má ideia.

— Por favor, fique. —.Disse simplesmente — Vim alertá-la.

— Seja lá o que for, não quero ouvir.

Com um gesto leve ela afastou uma mecha cor de terra dos olhos, prendendo-a atrás da orelha. Só então notei que suas mãos tremiam. Gaia percebeu meu olhar e seus lábios se curvaram em um sorriso tristonho.

— Sim. — Ela confirmou em resposta à pergunta não feita. — Tive uma visão.

Seu dom de prever o futuro era lenda entre os olimpianos, assim como o era sua astúcia. Nenhum dos dois de forma muito elogiosa.

Mais rápido do que eu achava ser possível, girei e estendi a mão para abrir a porta. Ela segurou meu pulso.

— Solte-me. — Ordenei. — Não quero ter nada a ver com você ou suas visões. Ambas são sinônimo de encrenca.

Ela me soltou como se tivesse levado um tapa, mas seus olhos se fixaram nos meus. Uma sucessão de imagens me atingiu. Quando acabou, eu estava tonta e ofegante. Reparei que seus dedos ainda envolviam meu pulso, prontos para me firmar se eu caísse. Me afastei rapidamente, mas não consegui sair da sala.

— Acredita em mim agora?

— Sim. — Minha voz era fraca. — Isso vai ... ?

— Talvez. — Ao olhar em seus olhos novamente, vi algo que não esperava: compreensão. — Ainda é possível evitar. O futuro não é definitivo, você sabe.

— Como posso impedir?

— Ainda não sei. A visão não foi clara. Mas, assim que eu descobrir, prometo que será a primeira a saber.

E, mesmo com todos os motivos para isso não acontecer, acreditei nela. Minha intuição me dizia que Gaia estava falando a verdade.

Horas se passaram depois daquele encontro, e mesmo assim eu ainda não sabia o que pensar sobre aquilo. Sentada sozinha na beira do penhasco, eu encarava o mar abaixo de mim, iluminado pelo luar, tentando organizar meus pensamentos.

Minha cabeça doía pelo enigma proposto. Gaia era inimiga jurada de minha família, eu não podia acreditar nela. Mas ... Mas seu olhar, aqueles olhos francos e preocupados fixos nos meus ... O tom levemente magoado em sua voz quando a acusei, o modo como segurara meu pulso, me apoiando ... Tudo nela gritava a mais pura sinceridade, lembrando-me de algo que Zeus dissera certa vez.

— Seu dom é raro, minha filha. Seja sábia ao usá-lo.

— Dom? Pai, eu não tenho nenhum dom em especial.

— Você vê a verdade escondida sob as palavras, não importa quão bem concebida seja a mentira.

— E isso é bom ou ruim?

— Boa pergunta. — Papai declarou com um sorriso maroto. — Com certeza é perigoso. Controle as palavras, veja através delas, e será indizivelmente poderosa. É o tipo de poder que qualquer um mataria para possuir.

Passei os dedos por entre meus cabelos, perguntando-me. Nunca houvera nenhuma prova de que Zeus estava certo, mas ele dissera com tanta certeza ... Talvez …

— Lydia.

Ergui os olhos para ver uma mulher à minha frente. Ela era alta, mas um manto carmim envolvia seu corpo, escondendo-o. Seu rosto estava oculto por um capuz, permitindo que eu visse apenas seus lábios e seus cabelos negros.

Pulei de pé, minha adaga em mãos. Os lábios escarlate se curvaram em um sorriso zombeteiro.

— Acalme-se, princesa. — Ela disse. — Não quero lutar.

— O que você quer, então?

— Avisar. — Foi a resposta. — Não entre na guerra, ou as consequências serão terríveis.

— Sem chance. — Rebati — Se minha família lutar, estarei com eles.

— Eles morrerão! — A mulher de vermelho declarou calmamente. — Este é o fim da era dos deuses, Lydia. O fim. Não restará pedra sobre pedra.

— Não acredito em você. — Respondi. — Podemos vencer.

— Não podem. Nunca puderam. Tudo o que seu pai fez foi mentir e se aliar aos inimigos. Ele está apenas postergando sua destruição.

— Mentira. Ele não desceria tão baixo.

— Você não sabe de nada, princesa. — A mulher declarou com um ar sombrio em sua voz. — Procure e encontrará.

Procure e encontrará ... Aquelas palavras reverberaram em minha mente como mil vozes até se tornarem um eco insuportável, fazendo minha cabeça doer.

— Não! — Gritei — Isso é mentira!

Como se meu grito subitamente me acordasse de um sonho, vi-me novamente sozinha à beira do penhasco. Não havia ninguém ali além de mim.

Atena

Abri a porta antes que Lydia pudesse bater. Depois que ela entrou, passei a chave, assegurando nossa privacidade.

Minha irmã então me contou tudo sobre seu encontro com Gaia. Em algum momento de sua narrativa, acabamos sentadas em minha cama, de frente uma para a outra. Lydia se calou e cruzou as mãos sobre o colo.

— E foi isso. — Ela concluiu. — Agora, estou morrendo de medo de que se torne realidade.

— Espere um segundo. Realmente acredita nela?

— Eu já disse, Atena: quando ela me mostrou a visão, foi impossível duvidar. É verdade e pronto. Tenho certeza disso.

— Está bem. — Cedi. — Acredito em você.

— Precisamos agir. — Ela declarou. — E quanto antes, melhor.

— Vou avisar Ártemis e você cuida do resto. Nos encontramos antes do amanhecer.

— É, mas ... Para onde vamos?

— Precisaremos procurar. Eu farei isso, depois conto o que descobri.

Eu conhecia aquela expressão em seus olhos. Significava problemas na certa.

— Lydia, não vá fazer nenhuma loucura.

— Relaxe, irmã. — A morena disse maliciosamente. — Eu só estava pensando que é hora de cobrar alguns velhos favores.


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