Destinada escrita por Benihime


Capítulo 17
Capítulo XV




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— Valeu pela ajuda, Cabeção. — Sorri, provocando-o — Eu não sabia que você podia lutar daquele jeito. Você melhorou muito.

— Você também não foi nada mau, morena. — Ares rebateu, rindo. — Te devo uma.

— Sem essa. Estamos quites.

Ele ergueu uma das mãos para um cumprimento e bati minha mão na dele com vontade, ainda animada pela luta.

Meu sorriso logo se dissipou quando lembrei que tínhamos assuntos a discutir. Ou melhor, um assunto em especial.

— Então ... — Ares obviamente estava sem jeito, talvez tanto quanto eu. — Ainda está com raiva de mim?

— Nem tanto. — Respondi, sorrindo. — Acho que agora consigo ficar perto de você sem querer te estrangular.

— Que pena. — Ele obviamente estava me provocando. — Você fica mais bonita quando está irritada.

Olhei para ele, surpresa com o comentário. Ares deu um passo à frente e apoiou as mãos em meus ombros. Uma de suas mãos deslizou pela minha bochecha, o polegar parando no canto de meus lábios.

— Ares, isso não vai acabar bem.

— Apenas pare de resistir, Lids. — Ele disse gentilmente. — Sei que é isso que você quer. Posso ver nos seus olhos, não importa o quanto tente negar.

Não consegui responder. Ares se aproveitou de meu silêncio e me beijou. Sentir seus lábios nos meus foi o que me deu forças para finalmente reagir.

Espalmei minhas mãos em seu peito, empurrando. Não apliquei muita força, e também sabia que não precisava. Confiava em Ares, apesar de tudo. Eu sabia que ele nunca me faria mal.

— Eu ... Eu preciso de mais tempo, Ares. Não consigo.

Parte de mim gostara demais do modo como nossos corpos se moveram juntos, como ele me protegera durante a luta mesmo sabendo que eu era capaz de cuidar de mim mesma ... A outra parte apenas se lembrava de Damaso, de como as aparências enganam, do quanto aquilo tudo doeu.

Eu não aguentaria se acontecesse de novo, especialmente com Ares. Ele significava muito mais do que Damaso jamais significara. Era meu irmão, meu melhor amigo ... Não, se algo desse errado entre nós eu não iria aguentar.

— Tudo bem. — O Deus da Guerra disse simplesmente. — Eu espero.

— Não podemos simplesmente ser amigos?

— Talvez — Seus olhos brilharam de malícia — Se acha que consegue me aturar.

— Acho que posso tentar.

Trocamos um sorriso, e mais uma vez o brilho naqueles olhos verdes me fez perder a noção de onde estava.

Nyx

— Fácil demais. — Sussurrei comigo mesma ao entrar na sala que Zeus julgava tão bem protegida.

A Espada do Destino brilhava à luz das tochas. Não pude evitar uma risada ao pegá-la e desaparecer dali. Antes de terminar ainda havia mais uma missão a ser cumprida, e eu gostaria especialmente de realizá-la.

Ares

Alguma coisa mudara. Lydia deixava isso claro com seus olhos, naquela expressão mais branda que não estava lá antes.

Ela pareceu querer dizer alguma coisa, mas se calou e, antes que eu pudesse pensar em algo para dizer, Hermes apareceu.

— Hermes! — Lydia exclamou, alarmada. — Meus deuses! O que aconteceu?

— A espada ... — Hermes obviamente ainda estava abalado — Foi roubada.

— A Espada do Destino? Mas como? Pensei que fosse impossível.

— Todos pensamos. — Ele respondeu — Ninguém sabe o que aconteceu. Zeus convocou uma reunião do Conselho. Agora.

— Vamos logo. — Ela disse, olhando para mim. — Quero entender essa história direito.

Não chamei sua atenção para o fato mas notei que, enquanto caminhava, sua mão não soltou a minha nem por um momento.

Lydia

Minutos depois

O clima estava cada vez mais tenso. O roubo da Espada do Destino, um dos itens mais bem protegidos do Olimpo, deixara todos alarmados. A pior parte era ninguém ter ideia de quem fosse o ladrão. Esse fato levou a discussões e não demorou muito para a suspeita de traição recair. Um acusava o outro, num bate boca interminável.

— Precisa de ajuda? — Atena sussurrou, postando-se ao meu lado. — Eles não vão parar nunca, se não interferirmos.

— Tudo bem, Atena. — Respondi. — Pode deixar essa comigo.

Respirei fundo para conter minha irritação e avancei até estar no centro da câmara do Conselho. Nenhum dos deuses prestou atenção, mas eu já esperava por isso. Ares, parado a um canto da sala, assentiu como se me instasse a prosseguir.

Eu duvido, seus olhos pareciam dizer. Ergui uma sobrancelha para ele, que riu discretamente. Seu desafio silencioso me deu um quê de decisão que estava faltando antes.

— Já chega! — Minha voz foi alta e firme, ouvida por todos. Aos poucos as discussões pararam e os olimpianos olharam para mim. — Que vergonha! Como deuses, é assim que agimos diante de uma crise? Brigas e acusações? Se for, não me surpreende mais que a espada tenha sido roubada.

Todos pareceram envergonhados por minhas palavras, menos Zeus. Ele parecia, isso sim, muito irritado por minha ousadia em interferir.

— Lydia, quem roubou a espada com  certeza teve ajuda. Ajuda interna. — Meu pai me lembrou severamente. — Há um traidor entre nós. Está realmente sugerindo que deixemos isso passar?

Ares

Num gesto inconsciente, Lydia reuniu o cabelo em um rabo de cavalo, torceu e o jogou por cima do ombro. Eu sabia que isso era algo que ela fazia quando estava pensando no que dizer. Também sabia que seria um ataque sutil, feito para derrubar qualquer argumento do adversário. Zeus nem perceberia o que o atingiu.

— É claro que não, pai. Eu só não acho que discutir seja a solução. O senhor não percebe? Seja lá quem tenha roubado a espada, está usando isso para nos dividir. — Sua voz adquirira um fervor, um tom de honestidade que a fazia irresistível. — E, como o senhor mesmo uma vez me disse, nossa força é maior quando estamos juntos. Se caímos no primeiro golpe, então como podemos ter esperança de vencer essa guerra?

Lydia correu seus enormes olhos azul-esverdeados pela sala, enrubescendo ao notar que nossa família agora prestava atenção nela.

Não pude deixar de admirá-la. Sua sinceridade, a evidente emoção de seu discurso, conseguiram fazer com que todos a ouvissem muito mais do que ouviam o autoritarismo descabido de Zeus.

Lydia

Meus olhos recaíram em Ares, que me olhava com satisfação. Quando ele percebeu que eu o olhava, fez um sinal de aprovação com a cabeça. Discreto, porém fervoroso.

— Lydia tem razão. — Atena se manifestou. — Discutir não é a resposta. Só vai afastar nossa atenção do que realmente importa.

Depois disso os ânimos rapidamente serenaram e a reunião prosseguiu. Eu podia sentir que, apesar de contido, o clima ali ainda era tenso, como um elástico esticado demais. Se houvesse muita pressão ...

À noite

Nyx

Penetrei silenciosamente no quarto e olhei em volta. A não ser pela silhueta sob as cobertas, totalmente vazio. Sorri comigo mesma e me aproximei da cama.

Havia um abajur aceso, o que me permitia ver claramente o rosto de Lydia. Ela adormecera com um livro nas mãos e sua expressão, mesmo durante o sono, era tensa.

Culpa minha, pensei maliciosamente.

Peguei o pequeno frasco com o líquido transparente e, com cuidado para que ela não acordasse, fiz com que Lydia abrisse a boca. Não foi difícil fazer com que bebesse o veneno.

— Não se preocupe, garota, isso só vai deixá-la fraca. — Sussurrei — Eu não poderia matá-la sem ter a chance de me divertir um pouco com você.

Ela gemeu de dor e rolou na cama, certamente sentindo o veneno começar a fazer efeito. Não pude deixar de sorrir. Aquilo iria destruí-la de dentro para fora, acabar com ela de verdade.

— O jogo começou, Lydia.

Lydia

Acordei devido a uma dor de cabeça lancinante. Ao abrir os olhos, o teto girou. Eu mal conseguia respirar, tamanho era o peso em meu peito. Tentei me levantar e caí deitada novamente, tonta e fraca.

Um riso baixo se fez ouvir e meus olhos seguiram o som até sua fonte, uma sombra parada perto da porta, longe da luz de meu abajur.

— Quem é você? — Minha voz estava mais grave, um tanto grogue — O que quer aqui?

— Sou aquela que vai acabar com você, Lydia.

Meus dedos procuraram e encontraram a adaga sob meu travesseiro. A sombra riu novamente, como se soubesse exatamente o que eu pretendia fazer.

 — É inútil, princesa. — Avisou — Jamais conseguirá lutar contra mim.

Segurei a adaga com mais força e consegui me levantar. Senti algo escorregadio, escamoso, em minha mão, e ao olhar vi uma cobra pronta para dar o bote. Gritei de susto e abri a mão. Ouvi somente o retinir do metal quando minha adaga caiu e, ao olhar para o canto do quarto novamente, não havia nada ali.

— Merda! — Exclamei, pegando a adaga novamente.

Me deitei e tentei voltar a dormir, mas os pesadelos não me deixaram ter uma noite tranquila.

Na manhã seguinte

A primeira coisa que percebi logo ao acordar foi que estava claro demais. Meu corpo ainda doía da noite passada, assim como minha cabeça. Eu me lembrava dos gritos de raiva de Zeus, da atmosfera de preocupação por terem conseguido roubar algo tão bem guardado ...  

O roubo da Espada do Destino fora um duro golpe no moral dos Olimpianos. Eu passara quase a noite inteira tentando acalmar os ânimos.

Confusa, abri os olhos e vi que as cortinas estavam abertas. Um raio de sol incidia exatamente sobre mim, o que era estranho. Eu tinha certeza de ter fechado as cortinas antes de me deitar. Mas eu estava tão cansada que seria um erro facilmente cometido.

Caramba, Lydia, você tem sono pesado. Atena riu.

Num segundo eu estava sentada. Atena estava ali, à minha frente, com um sorrisinho travesso nos lábios.

— Atena? — Minha voz ainda estava rouca de sono. — O que aconteceu? 

Nervosa, ela colocou um de seus cachos loiros para trás da orelha. Percebi que as notícias eram piores do que eu pensava.

— Edellyn não morreu. — Minha irmã informou, direta como sempre. — Ela está viva e procurando as Runas. Acredito que também seja a ladra da Espada.

Edellyn era uma feiticeira que fora minha aliada e me traíra, acabando por me atrair para uma armadilha da qual só escapei porque Ares me ajudou.

— Vou matar essa vadia.

— É perigoso demais.

— Isso é pessoal, Atena. — Rosnei — Com ou sem ajuda, irei atrás de Edellyn.

Atena não disse nada, simplesmente me encarou por alguns segundos antes de balançar a cabeça num gesto de reprovação.

— Você faz ideia ... — Ela disse por fim. — Do quanto fica parecida com Zeus quando fala assim? Posso entender por que ele a escolheu como sucessora.

— Ah, por favor, não comece! — Protestei. — Você sabe que não quero, nem nunca quis, ser rainha. Esse tipo de responsabilidade não é para mim.

— Talvez você pense que não. — Minha irmã respondeu. — Mas lembre-se de que o poder normalmente pertence àqueles que nunca o quiseram. Sei que você será uma governante incrível.

— Por favor, irmã. Não quero falar sobre isso.

— Como queira. — A loira aquiesceu gentilmente. — Agora me diga o motivo dessa preocupação em seus olhos. Não pode ser só por causa de Edellyn.

— E não é. — Admiti.

Contei a Atena sobre a noite anterior, sobre minha adaga se transformando em uma cobra. Ela apenas riu, incrédula.

— Uma cobra, Lydia? — Minha irmã repetiu. — Tem certeza de que não foi um sonho?

— Atena, eu estava acordada. Juro a você. Só pode ter sido magia.

— Duvido. Além de você e Hécate, existem poucos feiticeiros poderosos por aí. Certamente nenhum que seria tolo o bastante para enfrentar um deus.

A pior parte é que ela tinha razão. Não havia explicação nenhuma para o que acontecera, exceto o fato de que tivesse sido um sonho. No entanto, eu tinha certeza absoluta de que estava acordada.


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