Destinada escrita por Benihime


Capítulo 16
Capítulo XIV




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/740354/chapter/16

— E ... Tem essa mulher. Ela está na beira do campo de batalha e tem uma espada nas mãos, mas não luta. Sei que ela não quer lutar, posso sentir isso, e então ... Então eu vejo os olhos dela. Nunca vi aquele tom de verde antes e ... — Vi a expressão sombria de meu pai e interrompi a narrativa de meu sonho. — É pior do que imaginava, certo? Ruim o bastante para lhe causar esse olhar de preocupação.

— Sim, bem pior. — Zeus assentiu quase que para si mesmo. — A mulher de sua visão só pode ser Gaia. A descrição que você fez é exata demais para qualquer outra possibilidade.

— Quanto tempo acha que temos?

— Não sei ao certo. Vim aqui para descobrir.

— Mas o Lago da Ilusão não mostra apenas seus desejos mais íntimos?

— Esse é o segredo, minha filha. É preciso desejar ver o futuro.

Mordi meu lábio inferior nervosamente, ainda sem acreditar naquela revelação bombástica. Momentos depois a superfície do lago ondulou e pude ver um campo de batalha. Nele, duas mulheres pareciam conversar. Uma delas era eu. A outra só podia ser Gaia, pois era idêntica à mulher misteriosa de meu sonho.

— Há uma chance. — Declarei, me animando. — Mesmo que seja só um desejo meu.

— Cuidado, i kóri mou, Gaia vai tentar conquistar sua confiança, fazer com que pense que ela é uma espécie de heroína incompreendida.

— Deixe-a tentar. — Bufei ironicamente. — Sei muito bem o monstro que aquela mulher realmente é.

— Não a subestime. — Zeus advertiu. — Ela é mais astuta do que você imagina, uma mestra das palavras. Vai atacá-la em seu ponto mais vulnerável, ganhar sua confiança e depois destruí-la.

— Confie em mim, pai. Se ela chegar perto o bastante para tentar, arrancarei seu coração com minhas próprias mãos.

— Assim espero, Lydia. Realmente espero.

Zeus

Depois que minha filha saiu, olhei novamente para o Lago da Ilusão. Nas águas, vi duas mulheres à margem do campo de batalha. Uma delas certamente era minha filha, e acabei por reconhecer Gaia após alguns segundos.

Era quase a mesma imagem que Lydia vira, mas, desta vez, ao invés de discutirem, as duas estavam lado a lado, lutando juntas.

Lydia

Duas semanas depois

A caverna estava escura, exatamente como em meus sonhos. Eu guiava Zeus, Poseidon, Hades, Ares, Ártemis e Hera pelo labirinto, já que era a única que realmente conhecia aqueles corredores. Andava por ali quase todas as noites em meus sonhos.

Chegamos enfim a uma bifurcação, a parte obscura do caminho, onde meu sonho sempre terminava, como se não pudesse me guiar além dali.

— A partir daqui o sonho acaba. — Anunciei — Não sei o restante do caminho.

Uma coruja enorme e cinza parou à minha frente, piou, entrou pelo túnel da direita e voltou para perto de mim, piando como se nos apressasse. Eu sorri, compreendendo o sinal.

Seguimos a coruja e chegamos a uma espécie de galeria, de onde tínhamos uma visão desimpedida do que acontecia abaixo de nós. Era a mesma sala de meus sonhos, com o ataúde dourado, mas agora ele estava totalmente aberto, revelando a mulher adormecida em seu interior.

Tarde demais. Declarei. Já começou. 

Não! Ainda podemos fazer alguma coisa. A raiva de Ártemis era tão intensa que chegava a ser contagiante. Eu só preciso de uma flecha bem lançada e então você segue o plano.

Ártemis, não! Só vai piorar tudo!

Ela não me ouviu e atirou uma flecha, fazendo parte do teto do lado oposto ao que estávamos desabar. Os Gegenes, também conhecidos como Filhos da Terra, que já tinham sacrificado um garoto e estavam prestes a fazer o mesmo com a garota, responderam com uma saraivada de pedras afiadas como navalhas. Hades as desviou com o escudo de energia negra. O gigante, Encédalo, soltou um rugido gutural, uma estranha mistura de dor e prazer.

— Deuses do Olimpo, apareçam!

Sua voz era tão cheia de poder que até eu quis obedecer. Foi preciso fazer um esforço consciente apenas para que meu corpo ficasse imóvel.

Ele tem a Persuasão. Uma voz feminina profunda e desconhecida soou em minha mente. Mantenha em mente algo que seja mais forte do que o poder dele, um motivo para lutar. Concentre-se nisso com toda a força que puder.

Repeti o conselho em voz alta para Ares, que assentiu. Senti sua mão encontrar a minha e entrelacei nossos dedos. Normalmente eu o afastaria mas, ali, era bom saber que ele estava ao meu lado. Sua força me mantinha firme.

Observei minha família andar diretamente para o gigante que os destruiria. Ártemis foi a primeira a alcançá-lo. Ele preparou a lança e ela apenas continuou ali, parada, como se estivesse em transe.

Eu estava em um impasse. Se explodisse a caverna, mataria Gaia, mas iria ferir minha família. Se não o fizesse, eles seriam mortos e Gaia despertaria. Foi nesse momento que o plano me ocorreu.

— Você sabe que não posso. — Atena responde quando insisto mais uma vez para que ela nos acompanhe. — Zeus ordenou que eu ficasse fora dessa.

— Precisamos de você lá, Atena. — Insisto. — É a melhor estrategista que conheço. Sem você, duvido que tenhamos chance na batalha.

— Confie em si mesma, Lydia — Ela sorri. — Quando a hora chegar, vai saber exatamente como agir.

A ideia que me ocorreu foi tão simples que tive vontade de me bater por não ter pensado nisso de imediato: se fosse eu à frente de Encédalo, poderia enganá-lo e por fim usar minha espada para acabar com ele. É claro, só funcionaria se eu usasse seu defeito contra ele. E eu sabia qual era o defeito daquele monstrengo.

— Ajude os outros — Sussurrei para Ares — Eu vou cuidar daquele feioso.

— Boa sorte, morena.

Dirigi-lhe um breve sorriso de agradecimento por suas palavras antes de me concentrar novamente no plano recém concebido.

— Encédalo! — Chamei, escondida nas sombras, fazendo minha voz soar como a de Atena.

— Deusa da Sabedoria. — Ele exclamou ironicamente, com um prazer sombrio. — Então, nos enfrentamos de novo.

Saí das sombras, usando meu poder para ficar com a aparência de minha irmã. Não era um feitiço muito exato, apenas uma ilusão que desfaria a qualquer exame mais minucioso, porém serviria a meus propósitos naquele momento.

— Eu o desafio. — Anunciei. — Se me vencer, eu mesma sacrificarei a garota e despertarei Gaia. Caso contrário você irá para o Tártaro e cuidarei para que não saia jamais.

— Desafio aceito.

Encédalo empunhou novamente sua lança. Quando arremeteu contra mim, pulei por cima da ponta da arma. O cabo era grande o bastante para que eu me equilibrasse e usei isso a meu favor, usando a força de Encédalo para me lançar diretamente em seu pescoço.

Ele começou a corcovear como um cavalo e o ridículo da situação teria me feito rir se o perigo não fosse tão iminente. Gaia poderia matar todos nós a qualquer segundo. Se ainda estávamos ali, era porque ela queria isso, o que me fez questionar o que fazia por um segundo precioso, tempo suficiente para ser derrubada do pescoço do gigante.

Não pode vencê-lo desse jeito. Uma voz feminina advertiu. Leve-o para o alto. É a única forma.

Segurei-me em uma das correntes que pendiam do teto da caverna. Ele tentou me pegar, mas eu pulava de uma para a outra, mais rápido do que sua mão enorme.

Eu poderia ter ficado assim por horas, mas sabia que, uma hora ou outra, ele acabaria me pegando, então, ao invés de evitar sua mão fugindo para outra corrente, subi o mais alto que pude, além de seu alcance. Aquela caverna tinha uns bons dez metros a mais do que ele.

— O que foi, seu feioso? — Provoquei. — Tem medo de vir aqui me pegar?

Encédalo agarrou uma das correntes e começou a subir. Quando ele estava quase me atingindo, usei meu controle sobre os metais para fazer com que as correntes se enrolassem à sua volta, erguendo-o alto o bastante para que a terra não pudesse ajudá-lo.

Ao sacar minha adaga ela se alongou, transformando-se em uma lança afiadíssima. Sorri e acertei o coração do gigante, perfurando-o. Dessa vez, a terra não pôde curá-lo, e com um último grito lancinante, ele sumiu. Não morto, é claro, apenas neutralizado por algum tempo. Quanto, eu não tinha como saber.

Desci suavemente até o chão, assumindo minha forma verdadeira. Os Filhos da Terra me atacaram lançando fragmentos afiadíssimos de rocha. Ares postou-se à minha frente, protegendo-me com seu escudo.

— Obrigada.

— Disponha, majestade.

Ainda sorrindo com sua resposta, toquei o pingente que Hefesto me dera. Assim que o fiz, a pequena fênix de prata se transformou em uma espada e assumi posição de combate, minhas costas coladas às de Ares. Num instinto incontrolável, eu sabia que devíamos lutar lado a lado. Sabia que era daquela forma que as coisas deviam ser.

Os outros deuses se juntaram a nós e combatemos juntos, mas mesmo assim perdíamos a luta. Ali, naquela caverna, os poderes de Gaia suplantavam os de qualquer um de nós.

— Ártemis, use uma flecha explosiva. — Ouvi Ares dizer. — Lydia, prepare-se para atacar quando eu der o sinal. Vamos abrir uma brecha na formação deles.

Compreendi seu plano e sorri. Ares sabia mesmo estar à altura quando a situação exigia.

— Espere. — Interferi — Pai, Poseidon, Ares, usem seus poderes. Causem desordem nas linhas internas.

— Derrubem as pedras. — Ares completou, entendendo de imediato meu raciocínio. — Saímos daqui e deixamos Gaia soterrada. Isso deve segurá-la por mais algumas centenas de anos.

Zeus empunhou seu raio mestre. Poseidon usou seu domínio sobre a água para manipular a água existente nas rochas, fazendo com que parte da caverna cedesse. Hades criou um escudo de energia escura ao nosso redor, de modo que os fragmentos de rocha que caíssem não ferissem ninguém. Ares deu o sinal e arremetemos contra os Nascidos da Terra.

— Lydia, para a direita!

Obedeci a tempo e Ares arremessou sua espada em um Gegene que tentara me atacar pelas costas. Sorri para ele em agradecimento. Meu sorriso logo sumiu ao ver um Gegene erguer a espada, visando atacar meu irmão.

— Abaixe, Ares.

Ele obedeceu e, num só movimento, arranquei sua espada do peito do Gegene caído e a girei no ar, decapitando o Nascido da Terra que o atacara. Ares me segurou pela cintura, derrubando-me bem a tempo, evitando por milésimos de segundo a lança que passou zunindo acima de nós.

— Obrigada. — Consegui ofegar.

— Disponha, maninha.

Ele pulou de pé e me ajudou a levantar. Voltamos à luta. Parecia haver uma comunicação silenciosa entre nós, como se pudéssemos ler a mente um do outro, nossos movimentos e estratégias se complementando sem esforço.

Os Gegenes logo foram derrotados e Hades nos tirou de lá. Zeus usou seu raio para derrubar a caverna.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destinada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.