Dangerous Girl escrita por WeekendWarrior


Capítulo 12
Cruel World


Notas iniciais do capítulo

Quase no fim! :')



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Carmen não apareceu naquela noite, quase não preguei meus olhos em preocupação, havia adquirido um tipo de insônia graças a ausência da garota. Não sentir seu corpo curvilíneo ao meu lado era algo extremamente estranho e fechar os olhos para dormir tornava-se algo difícil.

Depois de uma noite mal dormida voltei à minha rotina, no período da tarde dei aulas e ao voltar para casa tinha esperança de encontrar Carmen por ali, pois a mesma agora tinha uma cópia de minha chave. Porém para minha total infelicidade, ela não se encontrava no local.

Tentei reprimir o sentimento de saudade e botei em prática o de preocupação.

Onde será que ela estaria? Será que está em casa? Deveria eu ir até lá? Bobagem! Nada disso.

Parti para tomar um banho, melhor esfriar a cabeça. Bom, não era a primeira vez que Carmen sumia desse jeito e para dizer a verdade, não faziam nem 24 horas de seu sumiço, talvez eu estivesse louco ou viciado.

Na verdade, agora percebi que ultimamente estávamos juntos demais, seria normal duma adolescente querer distância num ponto do relacionamento, quase todo ser humano reage desta maneira.

Saí do banho ainda com a pulga atrás da orelha. Eu podia estar soando estúpido, preocupado demais, dependente demais, contudo, foi Carmen quem me induziu a isso, fez-me ficar viciado nela, viciado em seu amor, apaixonar-me novamente, acordar sentimentos há muito adormecidos.

Deitei na cama já vestido, verificando o relógio e constatando que teria tempo até o turno noturno. Fechei os olhos por alguns segundos e o sono abateu-me de maneira forte, deixei-me cair nos braços de Morfeu, mas isso pareceu durar menos de um segundo pois o estrondo que a porta de entrada fez ao ser fechada ecoou pelo apartamento todo.

Num pulo levantei e encontrei uma Carmen pálida, com olheiras profundas.

— Carmen, o que houve? Preocupei-me.

Caminhou até minha pessoa e beijou-me rapidamente nos lábios.

— Preciso de um banho.

Ela não demonstrava nada, simplesmente nada. A face passiva, o andar decidido; era aquela a mesma Carmen que deixou-me da última vez?

A segui em direção ao banheiro.

— Por onde andou?

— Tenho casa, sabia? – rebateu despindo-se.

— Não parecia que tinha até alguns dias atrás.

Finalmente ela decidiu encarar-me os olhos e ali vi um olhar diferente; um vazio conjunto de vitória.

— Vou lhe poupar a mente; dormi na casa de uma amiga – proferiu já embaixo do chuveiro.

Encostei-me na parede branca ao lado do box.

— Não sabia que tinha amigas.

— E não tenho. Bett é mais que uma amiga, praticamente uma irmã mais velha, ajudou-me muito na época que eu perambulava pelas ruas como vendedora de entorpecentes.

Assenti fitando o azulejo branco.

— Hum, entendo. Só acho que seria bom você me avisar às vezes, sei lá… Fiquei preocupado. Me desculpe qualquer coisa.

— Quem deve desculpas sou eu, Jake – sua mão molhada tocou meu braço. Fitei-lhe as órbes verdes, o rosto corado pelo banho quente – Você tem me ajudado mais do que imagina. Não sei lhe explicar bem, mas com você ao meu lado, sinto que posso vencer tudo… Talvez eu já tenha vencido.

Dito isso sorriu e voltou para baixo da água. Fiquei um tanto embasbacado com tal confissão, Carmen ainda tinha o poder de me tirar o ar. Logo toquei-me de onde estava e como estava. Meu maior pecado nu em minha frente, tentando-me e nem mesmo percebendo.

— Me perdoa, Jake? – indagou docemente – Por ter sumido?

Virou-se em minha direção e sorriu de lado sem mostrar os dentes.

— Está tudo bem, Carmen.

— Junte-se a mim.

Que mal havia em tomar outro banho, não? Logo eu já me livrava das peças de roupa e me juntava a ela embaixo do chuveiro.

— Estou pensando em me mudar pra cá – falou passando seus braços ao redor de meu pescoço – O quê acha?

Acariciei-lhe as costas.

— O quanto mais você ficar perto de mim, melhor.

A garota sorriu e beijou-me colando seu corpo ao meu, porém ela rompeu o beijo calmo que trocávamos para fitar-me nos olhos. Carmen sempre gostou dessas trocas intensas de olhares, fazia questão de perscrutar toda minha face em busca de um resquício de fuga, mas com o tempo fui entrando e aprendendo sobre seu jogo. Ela adorava dar uma de “perseguidora” mas no final, era apenas a vítima disfarçada de vilão. Levou tempo, porém desvendei alguns dos segredos da menina e um deles era que, na verdade, ela era tão frágil quanto uma pétala de rosa.

— Estamos juntos de verdade agora? – indagou.

— Juntos pra valer – sorri ao responder.

Ela retribuiu o sorriso e me abraçou forte. E no meio de todo aquele carinho, pude amá-la novamente, amá-la sem culpa e sem remorso. Mesmo que fosse errado diante dos olhos da Lei, em meu íntimo, eu sabia que não era errado (não mais).

Juras não eram necessárias enquanto a fazia minha para a eternidade de nossas vidas, eu viveria em paz daqui em diante pois a teria até meus últimos dias, se assim Carmen também desejasse.

— Eu te amo tanto, Jake – sussurrou excitada enquanto eu a suspendia entre meu corpo e a parede – Você não tem noção.

— Você é meu tudo, Carmen. Nunca pensei que diria isso, mas te quero para a vida toda.

Sorriu e colou-se mais a mim, pedindo de maneira muda para que a amasse.

— Você já me tem.

 

 

A sala de estar estava escura, todo o recinto em sua natural penumbra, apenas a luz que vinha da rua como precária iluminação. Ambas janelas abertas, cortinas esvoaçantes, tarde da noite, Carmen estava ali, fitando o nada que se encontrava no pavimento.

— O que tanto olha aí? – perguntei sentado no sofá.

— Tudo e nada. Estou admirando esse nada enquanto penso em tudo.

— Quer compartilhar?

Ela se virou e encostou-se na beirada da janela.

— Você quer saber desde quando? O mais recente ou desde o fatídico ínicio?

Franzi o cenho intrigado.

— É tão longo assim?

— É a história de uma vida toda.

— Apenas se você quiser, Carmen, não estou lhe forçando a nada.

A garota despregou-se da janela e caminhou em minha direção.

— E quero, Jake. Eu quero contar, estou pronta.

— Tem certeza?

Ela assentiu sentando-se ao meu lado. Ficou ali alguns segundos, fitando o nada, talvez colocando seus pensamentos em ordem antes de verbalizar a coisa toda. Eu me preparava para finalmente ouvir o que vinha de Carmen.

— Eu tinha oito anos quando minha mãe casou-se de novo, logo após a morte de meu pai. O corpo de meu querido pai não havia nem esfriado direito e a vadia já se esfregava em outro – proferiu a última frase com raiva – Mal sabia ela que colocava o próprio demônio sob nosso teto.

“Sim, é isso mesmo que você está pensando, Jake. Fui abusada, estuprada por meu padrasto. A primeira vez que ocorreu eu tinha doze anos, pode até parecer um curto período de lá pra cá, porém eu já vinha sendo aliciada e na minha mente eu não tinha mais salvação depois do que ele fez comigo, sentia-me suja, impura, sozinha. Não tinha para quem contar; por medo e vergonha.”

“Sofri ameaças, muitas sem sentido, mas na minha mente, ele era capaz de tudo. Não tive alternativa a não ser fugir daquela casa, ficar na rua, praticamente morar na rua. Era o único lugar seguro pra mim, pois toda vez que pisava naquela casa, ele estava lá, a minha espera.”

“Agora você se pergunta de minha mãe. É uma alcoólatra estúpida. Sinto ódio e pena dela, sei que está condenada ao inferno pelo que fez comigo e se eu aguentei tudo aquilo, foi apenas pelo meu irmão Jeremy; uma alma inocente que merece ser poupada deste inferno que fui criada.”

“Um dia pretendo voltar para levar Jeremy embora, tirá-lo de lá, trazê-lo comigo. Não importa quando e como, eu tirarei meu irmão daquele inferno na terra, ele não merece aquilo, aquela vida. Mesmo que James não o abuse, como fez comigo, aquela família o destruirá e ele não pode tornar-se como o pai, eu não permitirei.”

“Guardei esta dor para mim, porque é a minha maior vergonha. Na minha mente, ninguém gostaria estar na companhia de uma pessoa que sofreu abusos e ainda corre o risco de sofrer. Sou suja, impura, imunda… Eu sou a escória, sou o que sobrou de mim, sou aquilo que James não conseguiu tirar… O resto da minha alma…”

Eu estava extremamente chocado, petrificado, um frio se apossava de meu corpo. Queria fazer algo, tocá-la, acalentá-la, mas tinha medo que a mesma me repelisse, pois Carmen chorava como um dia nunca antes vi, os soluços eram incontroláveis.

No primeiro instante senti o choque, depois comecei a sentir um ódio descomunal, algo que tomava conta de meu peito e apertava minha garganta. E pela primeira vez em minha vida, senti vontade de matar alguém, matar James, o maldito padrasto de Carmen.

Minha língua estava travada ao mesmo tempo que um milhão de coisas se passavam em minha mente, queria dizer as palavras certas, porém elas não existiam.

— Carmen…

— E-eu c-consegui... – proferiu entre soluços – pela primeira v-vez enfrentá-lo. Na noite passada, fui até lá para me despedir de Jeremy e o encontrei. E-ele tentou contra mim, mas eu consegui… consegui enfrentá-lo.

Meneei minha cabeça só agora percebendo as lágrimas em meus olhos. Sentia-me juntamente destruído, um tanto culpado pelo meu egoísmo, pois agora tudo fazia sentido. Carmen nada mais que pedia por ajuda, implorava por amparo, por amor.

Como fui tão cego? Tão idiota? Queria poder fazer alguma coisa, minha alma doía juntamente da dela e só de pensar em todo desespero que ela passou, corroía-me a respiração.

— Eu estou aqui agora e pra sempre, nada lhe fará mal, nunca mais.

Pela primeira vez ela me fitou, as lágrimas ainda escorrendo.

— Não sente nojo de mim?

— Nojo? Pelo amor de Deus, Carmen, eu sinto um amor incondicional por você.

— Mas eu passei por isso, sou impura, fui usurpada.

Estiquei a mão até seu rosto tocando-lhe o queixo.

— Você é a alma mais pura que já conheci. É tola ao pensar que eu a repudiaria por isso, pois não é culpa sua, nada disso foi.

No ímpeto ela me abraçou fortemente agarrando meu pescoço.

— Eu tinha vergonha de te contar, porque é algo horrível.

— Devo admitir que a vontade de matá-lo é enorme, é o que mais quero nesse instante, matar o homem que a usou de tal maneira.

A menina levantou os olhos inchados para fitar-me.

— Não faça nada disso, por favor, apenas leve-me para longe, para longe de tudo, longe daqui, dessas pessoas, só eu e você – acariciou meu rosto – Por favor, Jake. Só voltaremos para buscar Jeremy quando a idade o permitir escolher com quem ficar, por favor!

E fitando aqueles belos olhos verdes, setenciei meu futuro ao lado de Carmen. Eu a levaria para onde ela pedisse, para onde o amor de minha vida desejasse.

— Você quem ordena, meu anjo.

— Vou te amar pra sempre, Jake.

Segurei-lhe o rosto com ambas as mãos e beijei-a mostrando todo meu amor, porém mesmo assim era pouco, bom, pelo menos teríamos uma vida toda.

— Você é o meu respirar, Carmen, a minha vida, o meu amor.


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