My Heart is Yours escrita por LelahBallu


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey Hey!!!
Mês corrido, estou mais do que f***** nas provas e mais do que atrasada aqui. Dito isso vim apenas presentear minha queria amiga e beta Luna Lovegood que completou aninho antes de ontem. Já falei com você Luna, mas acho que esse tipo de coisa nunca é demais. Desejo a você toda a felicidade que você merece, e não é pouca, que você tenha sucesso em sua vida profissional, pessoal e embora não seja uma prioridade, na amorosa. Não é mesmo?!!Que você tenha leitores dedicados, que saiba agradecer por cada esforço que você faz, que eu sei que não é pouco, e que também saibam te cobrar na hora e na medida certa. Eu quero que você seja feliz, por que você é uma pessoa maravilhosa que merece coisas maravilhosas, e não apenas por que é seu aniversário. Eu não posso lhe dar muito como presente, então dou aquilo que está literalmente a minha mão. Espero que essa fic tenha alcançado suas expectativas, e a parte 2 (aka o capítulo de LFF) logo vem por aí também... Até a próxima e desejo a todos vocês uma boa leitura.



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FELICITY SMOAK

Passei pela sala enxugando meus cabelos com uma toalha e ignorando uma vez mais a presença constante e masculina de Oliver Queen sentado no sofá. Já havia se tornado uma pequena tradição nossa. Essa troca pequena de palavras e olhares raivosos. As palavras eram algo que ele trazia, os olhares raivosos eram todos meus. Nada mudava, nem sequer os pequenos detalhes que nos cercavam. Todas aquelas folhas soltas na mesinha de centro, seus tornozelos cruzados sobre elas enquanto sua concentração estava focada no bloco de desenho em sua mão, o lápis deslizando sobre este com velocidade impressionante. Se eu olhasse para o relógio neste exato momento, sabia que estávamos sendo tão pontuais como sempre fomos. Para ser sincera se havia alguma mudança nesse quadro geral, era o dia da semana apenas, hoje no caso estamos em sábado. Parte de mim achava engraçada essa sua pequena brincadeira insistente, a parte vencedora, no entanto é aquela que se irritava, pois por sua culpa, eu não ficava mais a vontade o suficiente para atravessar a pequena distância do banheiro até meu quarto apenas de toalha.  Como todas às vezes anteriores ele não levantou sua cabeça. Seus olhos não desviaram do papel, nenhum músculo em seu corpo demostrou que estava ciente da minha presença, mesmo enquanto eu passava em frente à mesinha, mas ainda assim sua voz se elevou pegando-me no meio do caminho.

— A ducha foi boa? – Suspirei o ignorando, tal como todas as outras vezes. Tal como um roteiro a ser seguido, as únicas coisas que mudavam geralmente eram as frases de Oliver que cada vez mais ficavam mais ousadas. – Um dia você vai responder “Sim Oliver, mas teria sido muito melhor com você lá.” – Meneei minha cabeça ainda indisposta a lhe dar algo de atenção. – Neste mesmo dia eu vou tirar minhas roupas tão rápido que a deixará tonta.

— Em seus sonhos Queen. – Murmurei por fim. Quebrando minha rotina de silêncio. Se ficou surpreso com isso, não demostrou.

— Coração, você não quer saber como são meus sonhos com você. – Respondeu. Sua voz se erguendo para me alcançar antes de eu fechar a porta do meu quarto. Eu não vi, mas tinha certeza que a última frase foi dita com seu usual sorriso de cretino.  Eu estava apenas terminando de secar meus cabelos quando duas batidas firmes soaram. Isso estava fora do nosso roteiro. Como Sara ainda não havia voltado de seu plantão e Thea ainda estava em uma aula extra, não havia dúvida de que quem batia em minha porta era Oliver, então minha pressa para atender ao seu chamado foi nula. Oliver me conhecia o suficiente para saber que minha demora era proposital, então ele não deu uma de impaciente, nenhum toque a mais, ele apenas ficou do outro lado esperando que eu fosse até ele.  Quando abri a porta ele estava encostado ao batente, sua expressão austera e parecendo tão... Lindo, que eu queria socar aquele rosto perfeito e depois beija-lo, para depois socar a mim mesma por ter cedido aquele rosto. Este era em resumo meus sentimentos por aquele homem. Eu amava odiá-lo e odiava ama-lo.

— O quê?- Perguntei amarrando meus cabelos em um rabo de cavalo alto. Seus olhos imediatamente desceram até meu pescoço exposto.

— Você se lembra do que eu estava falando ontem no jantar? – Perguntou voltando seus olhos para os meus.

— Não. – Murmurei rapidamente. – Eu geralmente tendo a bloquear tudo o que você me diz. – Em vez de ofendido, ou irritado, Oliver sorriu.

— Um dia, isso vai se voltar contra você. – Murmurou divertido.

— Você é cheio de “Um dia” comigo. – Retruquei.

— Por que planejo passar um conjunto infinito de “Um dia” com você. – Piscou.

— O que você quer Queen? – Perguntei resistindo a vontade de revirar os olhos.

— Pergunta perigosa, coração. – Murmurou todo sorrisos. Ele notou a ausência de uma resposta minha. O que significava que minha paciência estava chegando ao fim e que faltava muito pouco para eu fechar a porta na sua cara. – Ok. Voltando ao jantar. Eu perguntei a você e as meninas o que achavam de alugarmos mais um dos quartos. Sara concordou e Thea deu de ombros, você disse que ia pensar, então eu estou aqui para perguntar se você já pensou. – Não eu não tinha, na verdade eu não tinha levado a sério sua sugestão e não dado mais nenhum pensamento nessa direção. Ele pareceu notar isso em minha expressão por que suspirou irritado, o que me confundia. Oliver nunca se irritava comigo, o que era estranho, por que em contrapartida eu vivia irritada com ele. – Felicity, eu entendo você ignorar todas as cantadas e besteiras que eu mando para você, mas você poderia ao menos prestar atenção nas coisas sérias que eu falo?

Dessa vez fui eu a suspirar. Dei um passo para fora do quarto e fechei a porta atrás de mim, ele recuou me dando espaço.

—Acontece, coração. Que é difícil dizer quando você fala sério. – Murmurei sincera. – Eu pensei que você só estava querendo me irritar, ou que era algum tipo de brincadeira, não sei. Não precisamos desse dinheiro, precisamos?- Perguntei confusa. Eu pagava minha parte, assim como Sara, o restante ficava com Oliver e Thea.

— Sim, precisamos. – Respondeu. – Thea não contribuí. – Não era uma reclamação, era um fato. - Então eu fico com a parte mais pesada. Ela está na faculdade ainda, e eu não quero que arranje um emprego de meio período e acabe mudando o foco dos estudos, por que eu conheço minha irmã, ela vai se acomodar e jogar tudo para o alto. – Eu não podia argumentar contra isso. – Esta é uma casa grande, o custo com manutenção é alto.

— Nós podemos ajustar tudo? – Sugeri. – Eu e Sara podemos aumentar um pouco o que lhe damos e...

— Eu não quero que vocês façam isso. – Negou prontamente. – Um novo morador aqui seria a resposta perfeita.

— Morador? – Estreitei os olhos. – Você já tem alguém em mente. – Acusei.

— Sim, eu tenho. – Concordou. – Eu não sou um idiota que aceitaria qualquer um morando com minhas garotas.

— Eu espero que você esteja se referindo a Thea e Sara apenas. – Cruzei os braços.

—Você sabe que não. – Retrucou sem se alterar.

— Quem é? – Optei por ignorar seus galanteios, como sempre faço. – O morador, e porque precisa ser homem? Eu me sentiria mais a vontade com uma garota, talvez uma amiga de Thea. Na verdade, eu prefiro que seja eu quem vai escolher, por que se for você vamos terminar com alguma loira estúpida de seu fã clube devasso ou com algum amigo idiota do tempo de fraternidade.

— Eu não tenho um fã clube devasso. – Murmurou atônito. – Eu tenho amigas, que não me fazem passar por esse longo período de espera que você nos faz passar.

— Nós?

— Sim, eu e você. – Murmurou se aproximando até que eu me encostei na parede e seu braço bloqueava qualquer intenção minha de se afastar. – Deixe de lado esse idiota que você chama de namorado e eu dou adeus a cada amiga minha. – Murmurou puxando levemente as mechas que vinham do meu rabo de cavalo, seus dedos descendo pelo meu pescoço, e fazendo com que meu corpo traidor reagisse a isto, encarei seus olhos que estavam subitamente perto demais e o analisei procurando algo ali.

Oliver nunca deixava de fazer algum tipo de aproximação comigo, sempre foi assim e eu nunca levei a sério, eu conheço Oliver desde meus sete anos, e ele tinha oito. Morávamos no mesmo bairro e eu tinha me mudado havia pouco tempo. A recepção de Oliver? O imbecil arrancou todas as flores do jardim da minha mãe as jogou no chão da minha porta, sabia que havia sido ele por que o vi correndo através da minha janela. Mesmo aos sete anos eu sabia que não era do tipo que fazia fofoca, mas aos setes anos eu também tinha a inocência de uma criança que não consegue esconder nada da mãe quando ela lhe pergunta olhando diretamente em seus olhos se você sabia algo do que tinha acontecido. Naquela mesma tarde minha mãe saiu me puxando pelo braço até a casa dos Queen, após breve minutos conversando com Moira Queen ela se trancou com Oliver em uma biblioteca, não sei o que minha mãe lhe disse naquele dia, mas Oliver saiu com cabeça baixa e parecendo muito envergonhado, quando me encarou eu tive minha primeira reação surpresa ao vê-lo sorrir brilhantemente e pedir desculpas. Ele jurou que a partir de agora ia pensar bem nos seus planos. Enquanto eu ainda encarava aquele sorriso fofo eu me perguntava de que plano falava. Quando ele levantou sua mão para me cumprimentar, eu me vi lhe dando um sorriso banguela. Eu me perguntei então se eu havia arranjado um novo amigo.

Isso não aconteceu.

Oliver Queen se tonou uma dor constante no meu traseiro.

Uma espinha irritante.

Uma unha encravada.

Uma verdadeira dor de dente.

Eu descobri que Oliver não morava com a mãe. Seus pais eram separados, e enquanto seu pai fez de tudo para ter a guarda de seu filho mais velho, ele pouco se lixou para sua filha mais nova. Oliver morava com o pai em outra cidade, e só visitava sua mãe nas férias e em alguns poucos feriados. Donna Smoak e Moira Queen rapidamente viraram melhores amigas, talvez provavelmente por ambas serem mães solteiras. E enquanto eu via constantemente a pequena Thea, o garoto de sorriso adorável não foi mais do que uma recordação. Quando eu o via nas férias ele estava cercado de seus amigos já conhecidos do bairro, e de alguma forma nos poucos momentos que ficávamos em frente um ao outro, Oliver conseguia fazer algo que me irritava, como esconder minha boneca favorita, puxar minhas tranças ou jogar água no meu vestido novo pouco antes de eu ir ao aniversário de uma coleguinha. Muito rapidamente eu aprendi a odiar Oliver Queen.

Tudo se tornou pior quando aos 15 anos Oliver se mudou para casa de sua mãe e passou a frequentar minha escola. No primeiro ano quase não tínhamos contato, a final por mais que eu estivesse avançada, ele ainda era um ano a minha frente, meu prédio ainda não era o mesmo dele. Mas então no ano seguinte eu via Oliver constantemente nos corredores, e enquanto pelo o que Thea me contava, seu irmão não havia tido interesse em participar de num esporte em seu primeiro ano em nossa escola, agora Oliver tinha tido o súbito interesse de entrar no futebol americano. Oliver rapidamente se tornou o capitão e astro da escola, estava sempre cercado de garotos que queriam ser como ele e por garotas que queriam estar com ele.

A atenção de Oliver? Estava em me irritar.

Ele me perseguia na biblioteca disposto a atrapalhar qualquer intenção minha em estudar. Ele me acompanhava na volta para casa, apenas para dizer tudo o que tinha em mim que o desagradava, me comparava com suas idiotas sem cérebros líderes de torcida. E espantava qualquer garoto que ousasse se aproximar de mim ao falar de todos aqueles defeitos que tanto o desagradavam.

Eu não sou idiota, eu me questionei por um tempo se ele não fazia isso por que ele tinha ciúmes e gostava de mim. Mas então o estúpido fazia algo como beijar minha melhor amiga, ou namorar Laurel Lance, que sempre me odiou e praticou todo tipo de bullying comigo. Então eu voltava a questão em que Oliver era apenas um idiota mesmo. Nos aturávamos por que nossas mães eram melhores amigas, e sua irmã rapidamente também se tornou uma grande amiga minha apesar da diferença de idade. Eu o via todos os dias na escola, e algumas vezes jantávamos juntos ou saíamos em algum programa inventado por nossas mães, de alguma forma eu parei de ver Oliver como apenas um idiota irritante, como alguém da família, e quando se trata de família sempre ficamos ao seu lado não importando quão idiota e irritante a pessoa seja. Nós permanecemos juntos.

Então, se alguém mexesse comigo, teria que lidar com Oliver, e o inverso também era real.

Oliver acabou com Laurel por que ela foi longe demais ao aprontar comigo em um baile idiota de inverno. Oliver levou uma suspensão por ter agredido um colega, por que o idiota abriu a boca para falar de meus seios. Eu arranhei o carro do Sr. Dark quando ele reprovou Oliver no último ano por falta. Oliver nunca faltou a nenhuma aula de Sr. Dark, eu sabia disso por que eu estava em calculo avançado, era a única matéria que pagávamos juntos. A verdade era que o estúpido do Oliver inventou de quebrar o coração justamente da filha do Sr. Dark, que além de professor de Calculo avançado, era também o diretor da escola. Por culpa disso Oliver teve que repetir seu último ano, e virou oficialmente meu parceiro em todas as classes, nos formamos juntos.

Fomos para a mesma faculdade e foi assim que acabamos morando juntos na casa de seu falecido pai. Por insistência de nossas mães é claro, que alegaram que as despesas seriam bem menores e que ficariam mais tranquilas sabendo que teríamos um ao outro para proteger.  Como era uma casa ridiculamente grande, precisávamos de mais uma ajuda extra, então colocamos o aviso de um quarto para alugar, e no dia seguinte Sara Lance apareceu em busca de moradia. Eu receei, era a ex-cunhada de Oliver, irmã da tão odiosa Laurel, mas ciente de que era isso que me deixava hesitante ela foi rápida em esclarecer que não comprava as brigas da irmã. Decidida a dar uma chance a ela aceitei e não me arrependi. Pois Sara Lance se tornou uma das minhas pessoas favoritas pessoas no mundo. Foi assim que nós três iniciamos essa jornada de seis longos anos.  Embora na teoria já devêssemos estar morando cada qual em sua casa e ter sucesso em nossas carreiras, não foi bem assim, eu terminei meu curso com honra e entrei em um trabalho de imediato, mas ainda não recebia o salário dos meus sonhos. Sara se matava fazendo plantão extra como enfermeira no hospital que trabalhava, mas tinha dívidas para pagar e Oliver que tinha se formado no ano passado não parava em um maldito emprego. Aqueles papéis que seus tornozelos se apoiavam? Seu currículo.

Oliver atualmente estava entre um bico e outro.

Com todos os anos de convivência, mesmo aqueles em que não morávamos juntos, eu conhecia bem Oliver Queen. Eu estava acostumada com suas indiretas, seus galanteios, e ser chamada de coração desde meus 16 anos. Eu não podia e nem ia negar a atração, e que provavelmente se eu cedesse já estaríamos rasgando algum pacote de camisinha com tempo recorde. Eu conhecia Oliver Queen, melhor do que a mim mesma, conhecia sua cota de charme diário, e que era muito cedo para ele já estar gastando tanto assim.

— Você já aceitou a pessoa. – Murmurei lendo seus olhos. – Você sabe também que eu não vou gostar de quem é. – Deduzi. - Quem diabos você chamou para morar conosco? – Espalmei minha mão em seu peito e o empurrei afastando-me de mim. – Oliver Queen... – Murmurei seu nome em tom ameaçador, não gostava dessa hesitação em me responder.

— Tommy... – Murmurou fazendo com que eu o encarasse incrédula. – Merlyn. – Concluiu já ciente de que ia ouvir e muito.

— Não.  – Respondi girando-me para a porta e a abrindo, eu teria tentando fechar em sua cara, mas Oliver estava bem atrás de mim e eu sabia que seria inútil. Oliver era enorme, e desde aqueles malditos anos em que ele virou o capitão do time, ele deixou de ser o garoto franzino. Definitivamente ele ganharia de mim nessa briga e bloquearia a porta muito facilmente. – Nem mesmo tente Oliver. – Murmurei parando no centro do meu quarto e girando para encara-lo, muito calmamente ele se encostou contra a porta agora fechada e me encarou com interesse.

— Por quê? – Perguntou, sua voz estranhamente suave. – Tommy realmente é um amigo idiota da fraternidade, mas tirando isso, o que a impede de tê-lo aqui?

— Ele é o ex-namorado de Sara. – Falei cruzando meus braços na defensiva. – Eu pessoalmente não quero que nossa casa vire um campo minado.

— Isso não tem nada a ver com o fato de que você achou que estava apaixonada por ele no seu primeiro ano na faculdade? – Perguntou intrigado. O encarei atônita. Eu não sabia que Oliver tinha conhecimento de meus sentimentos por Tommy naquela época, e sendo Oliver como é, não achava que ele teria se calado sobre isso por tanto tempo. Mas em vez de falar isso eu apenas me concentrei em abordar uma parte fundamental do que ele disse.

— Achei? – Perguntei contrariada com o fato de que Oliver julgava conhecer tão bem meus sentimentos, melhor do que a mim mesma.  – Eu não achei. Eu estava. – Murmurei embora não tivesse tanta certeza sobre isso.

— Você não estava apaixonada por Tommy, Felicity, você queria estar. – Negou completamente.

— E você é um expert em meus sentimentos. – Murmurei irônica.  Isso fez com que ele se movesse, saísse de sua postura tranquila e me alcançasse, eu queria recuar. Ter um pouco do meu espaço pessoal, mas este era Oliver, eu nunca recuaria, jamais daria qualquer sinal de que sua aproximação realmente me abalava. Já estive próxima dessa forma dele inúmeras vezes: No colegial quando ele me pediu uma dança naquele mesmo baile desastroso, eu recusei pois tinha certeza que não era mais do que um gesto de pena. No nosso último dia de aula, quando ele me fez subir a caixa d’agua da escola e olhar uma última vez para tudo aquilo que estávamos deixando para trás, quando voltei a encara-lo e percebi que pela primeira vez, tomada pela euforia, eu pensei em ser aquela que quebraria a promessa de nunca deixar me aproximar demais daquele sorriso irresistível e tocar aqueles lábios com os meus. Dividir a casa fez com que todo o tipo de situação constrangedora acontecesse, e bastante aproximação física também, nem sempre Oliver invadia diretamente meu espaço, mas teve um monte de toalhas enroladas na cintura, olhares de esguelhas e tensão sexual. As vezes apenas o fato de estar na mesma sala que ele me deixava inquieta.

Eu tive minha cota de relacionamentos, Oliver também era um paquerador inato, e mais de uma vez o vi entrar em seu quarto com alguma garota de corpo incrível e cabeça vazia, cada uma daquelas vezes eu sabia que era melhor assim. Oliver faz parte da minha vida desde que erámos crianças, ele tinha posse sobre mim, eu era a garotinha que ele perseguia com um sapo, era adolescente que teve que usar aparelho e óculos ao mesmo tempo e que ele escondia os óculos, ele ria de mim quando eu caia em minhas desastrosas frases ambíguas e ameaçava com o olhar qualquer um que fizesse o mesmo. Era a garota que ele beijou em meu aniversário na frente de todos apenas para provocar meu namorado, seu colega de fraternidade. Em sua visão eu era dele, a mulher que ele sempre teve, mas nunca possuiu. Para qualquer um que perguntasse, era difícil explicar minha relação com Oliver. Morávamos juntos, crescemos juntos, mas não estávamos juntos. Ele não era meu marido, ele não era meu namorado e em alguns dias eu não o apontaria sequer como meu amigo, mas de alguma forma, ele era algo meu. Um beijo foi a única coisa que tivemos, abraços, alguns, de comemoração e consolo. Quando seu pai morreu o encontrei em um bar, uma identidade falsa o permitiu encher a cara, o levei para casa, minha casa. Por que eu não queria que sua mãe o visse daquela forma, Oliver dormiu em meu quarto por que eu não queria que minha mãe soubesse de nada também, quando o ajudei a se deitar em um amontoado de lençóis no chão e tirei sua camisa que fedia a álcool, seu olhar perdido bateu em mim, as lágrimas que negava a derramar fez com que meu coração se encolhesse, naquela noite o abracei querendo absorver sua dor, naquela noite ignorei todas as razões pela qual eu deveria achar Oliver apenas um idiota irritante.  E então quando anos mais tarde minha mãe morreu, foi ele que me levou para beber apesar de eu dizer que estava bem, ele se trancou comigo em seu banheiro, e me fez entrar em sua banheira com ele, sentados em lados opostos dividimos uma garrafa de tequila, Sara batia na porta do outro lado tentando me consolar, mas foi para Oliver que eu fui quando finalmente me permiti chorar. Sara mal conhecia minha mãe, Oliver como eu a amava.

Tentando me concentrar no presente, foquei-me no rosto próximo ao meu. No desejo que podia ser lido em seus olhos.

— Eu conheço bem seus sentimentos, coração. – Murmurou tão seriamente, que pela primeira vez não vi aquele apelido como algo para me provocar. - Mesmo aqueles que você gosta de esconder tão bem. Tommy era divertido, tinha o carisma de um garotinho, e um rosto e corpo que agrada a maioria das garotas, você queria se apaixonar por Tommy, por que com tudo isso, ele também é uma boa pessoa, seria fácil demais apenas se apaixonar pelo rapaz de sorriso fácil do que deixar que seus sentimentos por mim sejam explorados, por que você mora comigo, você não quer as coisas estranhas se der errado, você não quer me perder se tudo der errado, por que para o bem e para o mal, odiando, amando e provocando, sempre tivemos um ao outro. Eu te conheço bem para saber de tudo isso. Você não estava apaixonada por Tommy. E dificilmente você está apaixonada por esse namoradinho estúpido. Você está apaixonada por mim, sou eu quem você ama. – Pisquei surpresa diante sua convicção. Oliver já havia me mandado todo tipo de indireta, todo tipo de provocação, mas nunca tinha falado tão abertamente sobre meus sentimentos, e pelo o que parecia, sobre os seus. - E a única razão pela qual não faço nada sobre isso agora, é por que sou aquele que sempre vai esperar por você.  – Respirei fundo quando senti sua mão alcançar meu rosto e seu polegar deslizar vagarosamente por meu rosto. - Você sabe por que a chamo de coração?

Franzi o cenho enquanto tentava buscar em minha mente uma explicação para isso. Algo coerente. Eu nunca me perguntei sobre isso, sempre julguei ser parte de uma provocação. Garotos todo o tempo procuram apelidos para chamar as garotas. Princesa era o mais usual, fazia com que garotas suspirassem por pensar ser algo perto de especial para eles. Quando na maioria das vezes era apenas uma estratégia para não trocar os nomes. Então quando dei conta que não poderia lhe dar uma resposta apenas meneei a cabeça em negativa, Oliver sorriu.

— Você é a parte mais importante de mim. – Murmurou por fim. – Eu não posso te controlar, não tenho nenhum real poder sobre você, o contrário é a verdade. Eu não posso ficar sem você e ser o mesmo. – Concluiu. Sua mão caiu deixando-me saudosa de seu toque. Eu não sabia como responder aquilo, eu não tinha o que dizer.   Após alguns segundos em silêncio Oliver tomou um passo para trás, se endireitando, como se não tivesse falado para mim, palavras que qualquer garota amaria escutar. – Tommy fica. Não se preocupe com constrangimentos, Sara sabe que é Tommy e disse que está tudo bem, e eu já o alertei que a única forma dele morar conosco é mantendo suas mãos longe de você. Como eu disse, nenhum idiota vai mexer com minha garota. – Piscou antes de me dar as costas e ir para a porta. Com minha mente ainda sobrecarregada com o que disse chamei seu nome, impedindo-o de ir embora. Ele se virou me encarando com curiosidade e talvez um pouco de esperança.

— Você sabe, um coração pode ser substituído por outro. – Murmurei por fim.

— Eu sei. – Assentiu. – Eu tentei, mas cada parte de mim rejeitou.  – Murmurou deixando-me ainda mais surpresa e inquieta, tomando meu silêncio como um sinal, ele finalmente saiu. Deixando-me plantada no meio do meu quarto, com meu próprio coração batendo em descompasso.

E foi assim que Oliver Queen pela primeira vez em muitos anos, me deixou completamente sem palavras.

Maldito Queen.

OLIVER QUEEN

Sentei-me no sofá vestindo minha calça de moletom e uma camisa velha, cruzei meus tornozelos sobre a mesinha de centro, ignorando como sempre a pilha de currículos que eu teria que distribuir em breve e acabei as espalhando fazendo com que algumas até mesmo caíssem no chão. Peguei meu bloco de desenho e passei com toda a paciência que morar com um bêbado fracassado havia me dado, a desenhar.  Eu não sou do tipo que desenha telas, paisagens ou até mesmo rostos, não era assim. Eu desenhava heróis de quadrinhos, para ser sincero eu era muito bom nisso, mesmo não tendo sido isso em que me formei, algumas vezes eu até vendia alguns desenhos e chegava a ser contratado para fazer a arte de algumas propagandas, era algo que eu fazia por diversão e que em vez em quando ajudava a pagar as contas, mas eu havia me formado em marketing e não em desenho gráfico, então se eu quisesse seguir meu plano de ter um emprego de sucesso e poder sustentar minha família, eu tinha que começar a distribuir novamente meu currículo e parar de ter problemas em meu trabalho por enfrentar meus chefes.

Eu gostava de planos. Eu fazia um monte deles, e em sua maioria davam errado, mas esse em particular não era algo que eu podia fracassar.

— Ollie, precisamos conversar. – Tommy murmurou parando em minha frente e fazendo sombra sobre meu atual desenho. Ia ser a capa de um livro infantil e eu não queria perder essa grana extra que estava por vir.

— Mais tarde. – Murmurei sem me abalar. Senti mais que ouvi seu suspiro em resposta. Eu geralmente amava os sábados, mas com Tommy não fazendo absolutamente nada no sábado, o dia estava ficando irritante.

— Mais tarde não. – Negou se sentando ao meu lado.  – Quando me mudei para cá, você prometeu que Sara não seria um problema, mas desde que eu cheguei, a mulher já causou todo tipo de problema para mim.

— Isso é entre vocês dois. – Falei erguendo meu rosto. – Vocês são adultos, vocês prometeram que morar juntos, mesmo já tendo namorado um ao outro não ia causar nenhum transtorno para os outros moradores. E sou eu quem tem que estar bancando a mãe de vocês. Estou cansado de separar os malditos rabos de vocês de uma briga, vocês quebraram a maldita promessa que me fizeram e nesse meio tempo me fez quebrar uma promessa que eu fiz para Felicity, então: Não é meu problema, se virem, se peguem, se matem, não me importa. Só me avisem se eu tiver que arranjar algum novo morador. Agora sai daqui por que eu preciso terminar esse desenho e já está quase na hora. – Conclui voltando minha atenção para o papel.

— Quase na hora? – Murmurou confuso. – Ahh essa hora. – Murmurou encostando-se feliz no sofá. Não o respondi, permaneci com minha atenção no esboço que eu fazia enquanto sentia o familiar cheiro de lavanda encher minhas narinas. Como costume eu não disse nada até que ela havia passado pelo sofá.

— Ainda sem querer que eu me junte? – Perguntei já na espera de receber seu usual silêncio.

— Não começa Queen. – Murmurou para meu agrado. Ela estava aos poucos deixando de lado o silêncio de resposta e falando mais durante nossa breve troca de palavras após seu banho.

—Você sabe, logo logo você estará gemendo um “Não pare.” – Murmurei erguendo meus olhos e encontrando os seus, geralmente não fazíamos esse contato.  Geralmente eu evitava, e tinha certeza que ela também. Nem o riso engasgado de Tommy ao meu lado pode desviar minha atenção dos seus. Havia uma chama ali, e eu podia afirmar que faltava muito pouco para ela ceder. Eu sabia que assim como eu, ela estava sedenta por isso. Mas a chama se apagou e seu olhar se desviou, então baixei meus olhos para o desenho, como se eu não tivesse dito nada, e ela entrou em seu quarto após um rápido e corajoso murmuro.

—Um dia. – Segurei um sorriso diante isso. Faltava pouco, eu sabia.

— Você precisa me explicar isso. – Tommy falou após observar nossa pequena cena. – Por que vocês fazem isso todos os dias. E por que você parece um cachorrinho aguardando um osso ser jogado por Felicity? Eu juro, as vezes a mulher parece te odiar e você apenas sorri como se cada ofensa que ela lhe diz fosse na verdade uma declaração de amor. E sempre foi assim, desde o tempo de faculdade.  Oliver. – Chamou-me percebendo que eu ainda tinha minha atenção focada no desenho.  – Você pode me dar um minuto de atenção, porra?

— Eu estou lhe escutando Tommy. – Murmurei soltando meu bloco. – Eu fui criado por um bêbado e um exercito de babás, meu passatempo era me trancar no armário de comida e desenhar enquanto meu pai fodia uma empregada qualquer nessa mesma sala, eu consigo ouvir as coisas mesmo quando estou desenhando, ok?

— Ahh. – Murmurou surpreso. - Sempre achei que você tinha algum grau de autismo. – Confessou.

— Idiota. – Retruquei.

— Por que não no seu quarto? – Perguntou com curiosidade.

— Era o primeiro lugar que ele ia me procurar depois. – Murmurei sem me alterar. – Bêbados são conversadores e violentos, então se eu não escutasse toda a merda que ele ia soltar, desde suas brigas no trabalho a alguma vadia que gastou todo seu dinheiro, eu recebia algum castigo. Geralmente eram empurrões, mas eu não confio em bêbados. E eu gosto muito de comida.  – Encarei Tommy que me encarava com pena, eu odiava esse tipo de olhar, era por isso que eu não falava nada disso para Felicity, odiava a ideia dela me encarando assim. – Quero deixar claro que não chamo as mulheres de vadias, esse era um termo que ele usava. – Concluí voltando minha atenção para o desenho.

— Você não vai me contar sobre o Felicity?

— O que tem ela? – Perguntei concentrando-me na expressão que queria dar ao super herói.

— O que há entre vocês dois?

— Nada. – Murmurei simplesmente.

— Nada? – Repetiu. – Você ameaçou quebrar meu braço se eu apenas sorrisse para ela.

— Sim. – Assenti.

— E isso por quê?

— Por que eu a amo. – Murmurei fazendo um jogo de sombras ao rosto. Talvez eu devesse fazer a máscara roxa. Ficaria legal, o uniforme deveria ter tons de preto e alguns poucos detalhes de roxo. Escutei seu chiado surpreso. O encarei confuso. – O quê?

— Você simplesmente disse que a ama, sem nenhuma hesitação. – Murmurou atônito. – Nenhum homem fala tão abertamente sobre seus sentimentos. Tem certeza que você não tem nenhum problema?

— Se eu já estou ciente do que sinto por ela, por que perder tempo negando?- Perguntei genuinamente confuso. – É perda de tempo. Não vai mudar o que sinto. – Tommy me encarou atônito. Suspirei sabendo que ele como maioria das pessoas, precisaria de mais do que apenas “Por que eu a amo.” Ele ia querer a história toda. – Você quer realmente saber como tudo começou?  - Questionei olhando brevemente para o corredor que dava para o quarto de Felicity. Ele assentiu. – Ok. Você sabe como algumas vezes temos certeza que de algo, que iremos defender essa certeza até o fim de nossas vidas, que vamos lutar por essa certeza? Você sempre teve certeza que seria um advogado, certo?

— Não diria sempre. – Deu de ombros. – Mas desde o meu colegial. Sim, cursar direito era minha certeza. Eu lutei por isso.

— Exato . - Concordei. – Aos meus oito anos, eu descobri minha certeza, eu sabia que queria me casar com Felicity Smoak.

— Woah. – Exclamou. – Muito cedo não acha?  - Sorri diante sua expressão.

— Foi o que minha mãe me disse, e um pouco mais tarde, a mãe dela. – Assenti.

— Você precisa me contar isso direito. – Reafirmou.

—Ok. - Concordei. – Eu estava no fim das minhas férias... – Comecei já me perdendo em meus pensamentos.

Eu amava as férias com minha mãe, eu não entendia por que eu não podia passar todo o ano com ela e Thea, meu pai quase não ficava em casa de qualquer jeito. Eu sempre ficava com a babá da vez. Eu amava a chegada das férias e odiava com todo o fervor o fim das mesmas. Eu estava brincando com meu novo jogo de montar, todas as peças espalhadas pela a sala quando a vi pela primeira vez. O vento afastou a cortina e revelou a pequena garotinha loira esparramada no chão, sua bicicleta rosa jogada ao seu lado, sua mãe correu para descansar sobre seus joelhos e mãos ao seu lado. Eu não conseguia enxergar muito bem, mas a menina parecia triste e machucada. Minha mãe que estava sentada lendo uma revista de culinária notou que eu havia me aproximado da janela. Curiosa por minha inércia se aproximou. Ela acariciou meus cabelos e perguntou o que havia acontecido. Eu estava me lembrando da missa que havíamos ido ontem a tarde, meu pai odiava Deus, o culpava por todos os seus erros, então eu só ia a Igreja quando estava com minha mãe. Minha mãe amava Deus e agradecia ele por tudo, até mesmo seus erros. Eu ficava confuso sobre se devia ou não odiar Deus, mas eu gostava de ir a missa, gostava de ver outras pessoas, e gostava do velho Padre. Gostei mais ainda do que ele disse na missa de ontem. Ele disse que o marido devia honrar sua esposa, prover e acima de tudo protege-la. Eu ainda não sabia o que ele queria dizer com prover, mas entendia a parte de proteger, sabia também que meu pai havia falhado com todas as coisas que o padre havia dito, mesmo com a tal parte de prover. Minha mãe parecia mais feliz agora do que quando estava com meu pai. Quando estava com ele, minha mãe estava sempre chorando, mesmo quando me dizia que não estava. Se meu pai a fazia chorar, ele não devia estar a protegendo. Quando o padre disse aquilo, eu sabia que não queria ser como meu pai. E quando eu vi aquela garotinha chorar, eu sabia que queria protegê-la. Então quando minha mãe perguntou mais uma vez o que tinha chamando minha atenção, eu levantei meu braço e apontei para a garota que agora era levantada e abraçada pela mãe. Sem perceber a seriedade do que eu dizia, eu perguntei a minha mãe se eu poderia me casar com ela.

— O quê? – Tommy me interrompeu de queixo caído. – Oliver quando eu tinha oito anos eu perguntava a minha mãe se eu podia comer mais um biscoito.

— Eu também. – Sorri.

— Você não está entendendo o que eu estou dizendo, seu idiota. – Reclamou.

— Eu estou. – Resmunguei. – Se uma criança perguntar se pode casar com outra, é claro que eu vou dizer que não, eu sei disso, mas quando eu perguntei a minha mãe eu era apenas uma criança, eu não sabia. – Concluí.

— E o que ela disse? – Perguntou curioso.

— Ela acariciou meu cabelo e perguntou de onde eu havia tirado isso. – Continuei. Eu rapidamente a expliquei sobre o sermão do padre Nicholas. Eu disse também que queria proteger a garota que nem mais estava em nossa frente. Ela se ajoelhou e disse que era muito nobre da minha parte, mas que eu era muito novo para casar, quando eu perguntei se ela achava que um dia eu poderia. Ela sorriu e assentiu, disse que dali a alguns anos eu poderia perguntar a Felicity se ela desejava se casar comigo, mas então até lá eu precisava conquistar seu coração. Quando ela disse isso eu me lembrei de todos os filmes melosos que assistíamos quando eu estava com ela, do tipo que garotas gostam. Então notei que todas as garotas parecem gostar de flores, eu não tinha nenhuma flor comigo, a casa da minha mãe não tinha jardim, mas então eu notei dias depois que a garotinha em questão morava em uma casa com um jardim florido, depois de debater muito comigo se deveria ou não dar flores que ela já possuía, eu resolvi arriscar, afinal as flores estavam apenas lá, e não em suas mãos. Eu arranquei todas as flores do jardim da sua mãe. Parei em frente a porta da sua casa e estava prestes a bater, mas pedir a coragem, tremendo eu joguei as flores na varanda de sua casa e corri até a minha. Minutos mais tarde uma mãe furiosa bateu na porta da minha casa. Do alto das escadas eu vi Felicity se encolher enquanto a loira mais velha afirmava que sua filha havia visto o pequeno diabinho correr depois de arrancar todas suas flores. Não demorou muito para eu perceber que eu era o pequeno diabinho e que Felicity, como havia chamado sua mãe, havia me entregado. Minha mãe parecia muito envergonhada e reconhecendo Felicity do outro dia, entendeu o que havia acontecido. Ela chamou Donna Smoak no canto e esclareceu. Não parecendo muito certa do que fazer, a mãe de Felicity pediu para falar comigo sozinha.

— E o que aconteceu? – Tommy perguntou parecendo muito interessado em minha narrativa. Segurei um sorriso divertido.

— Ela me perguntou por que eu havia arrancado suas flores. – Falei.

— E você? – Perguntou cada vez mais intrigado.

— Mesmo assustando eu puxei meu fôlego, enchi meu peito e murmurei em alto e bom som: “Senhora, eu quero me casar com sua filha.” – Sorri diante a lembrança. Eu amei a forma como ela reagiu, ela não apertou minhas bochechas, não disse “Que coisa fofa” nem nada do tipo, voltando atrás eu percebo que esse era seu desejo, mas ela continuou séria, ela percebeu que para uma criança eu estava sendo estranhamente sério, e respeitou isso. Ela me chamou de Sr. Queen e eu fiquei tão orgulhoso disso que parecia que meu peito ia explodir, apenas meu pai era chamado de Sr. Queen, eu sempre fui o garotinho, sempre foi “venha aqui criança.” E eu era uma criança, mas crianças nunca estão contentes em ser apenas crianças, nós calçamos os sapatos dos nossos pais, vestimos suas roupas, por que desejamos ser como eles, então quando ela me chamou de Sr. Queen, eu me senti mais próximo do meu pai e sabia que eu estava sendo levado a sério.

Ela disse “Sr. Queen, eu vejo que você fala a sério. Eu posso ver também, apesar de ter arrancado minhas flores, e de nos conhecermos a apenas alguns minutos, que você tem um bom coração. Mas eu não posso permitir que você se case com minha filha, não agora.”  Eu fiquei arrasado com sua negativa, percebendo isso ela sorriu e alisou meus cabelos, e então continuou. “Se você me prometer algo, eu juro que você tem minha benção para se casar com minha filha.” Ansioso assenti concordando. “Prometa-me que vai esperar por Felicity, vai demorar alguns anos, mas vocês ficarão juntos, apenas espere até que ela esteja pronta.” Eu concordei prontamente. Tempo para mim naquela época não era um grande desafio. Ela sorriu feliz, mas me pediu algo mais, pediu que eu continuasse bom, por que Felicity merecia alguém bom e por fim exigiu que eu pedisse desculpas pelas flores, que apesar de ser um gesto bonito, isso havia arrasado com ela e com Felicity, o jardim foi o motivo pelo qual Felicity aceitou se mudar. Então eu precisava pedir desculpas. Saber que havia deixado Felicity triste me deixou profundamente envergonhado. Por isso quando saí segurando a mão de sua mãe, por um momento eu mantive minha cabeça baixa, reunindo coragem. Quando a encarei não pude evitar sorrir, afinal eu havia conseguido o apoio de sua mãe, então pedi desculpas e prometi que mudaria meus planos de agora em diante.

— Planos?- Tommy perguntou confuso.

— Para conquista-la. – Respondi simplesmente. – Sempre me baseei em filmes, o que acabou sendo um desastre atrás do outro. Tentava lhe dar presentes, mas Felicity odiava sapos, um dia ela veio me mostrar seu bonito vestido, eu estava brincando com a mangueira enquanto aguava o jardim, e sabe aqueles filmes em que as pessoas jogam água um nos outros e terminam rindo? – Perguntei a Tommy que assentiu, a percepção do que vinha a seguir trazendo riso ao seus olhos.  – Felicity saiu bufando, dizendo que me odiava. Quando finalmente perceberam que meu pai era um escroto que não podia ser responsável por um menor eu fui morar com minha mãe. A essa altura eu já sabia que uma aproximação abrupta com Felicity não daria certo. Mantive-me na minha, na esperança que ela se acostumasse comigo, como seu vizinho e filho da melhor amiga da sua mãe.

— E então?

— Não gostei. – Dei de ombros. – Felicity mal me notava, então lembrei que nos filmes o capitão do time sempre ganhava a garota, e que ser popular parecia atrair a atenção delas. Quanto mais garotas te encarando, maior o ciúme. Eu me tornei o astro da escola, mas Felicity me odiava, eu acompanhava todos os dias e ela faltava correr para colocar distância entre a gente. Tive a ideia infeliz de me aproximar de Helena, sua melhor amiga, para saber o que ela achava de mim. Helena entendeu tudo errado e me beijou. Felicity viu e não disse, nem fez nada. Eu a elogiava e ela se recolhia como se na verdade eu a tivesse ofendido. Todo e cada plano meu dava errado, e então parei de tentar fazer dar certo. Laurel a irmã de Sara parecia ter interesse genuíno em mim, tentei me apaixonar por ela, mesmo sabendo que ela odiava Felicity, achei que ficando com ela eu podia proteger Felicity e esquecê-la ao mesmo tempo. Tudo deu errado, então tive que terminar com Laurel.

— Você não ficou triste com isso. – Deduziu.

— Ela mexeu com uma das poucas pessoas que deveria. – Dei de ombros. – Quando reprovei de ano eu me aproximei mais de Felicity, mas nunca foi para frente, não como eu queria. Um dia, cansado demais de nossa situação, eu a beijei, eu pensei que isso mudaria tudo, sabe? Como nos malditos filmes. Era seu aniversário, ela estava namorando o idiota do Cooper. Você não estava na cidade nesse dia. Fomos ao karaokê , ela estava linda, e se divertindo. Sara já havia bebido demais e ela também, as duas estavam cantando alguma música idiota e eu não conseguia parar de encara-la. Eu também já havia bebido demais, então pareceu o momento perfeito, dedos estalaram em minha cabeça e tudo o que eu pensei foi “É agora”. Eu subi no maldito palco a surpreendi a inclinando na frente de todo mundo, colegas de curso... Seu namorado... Eu a beijei.  Ignorando tudo e todos, e por alguns momentos, eu posso afirmar que ela também, durante aquele beijo ela foi minha. Então Cooper fez uma cena, nós brigamos e Felicity ficou enfurecida comigo. Desde então ficamos nisso, ela namora outros caras, eu tenho minhas transas casuais, mas ainda assim pertenço a ela. Eu estou preso a ela, e ainda que ela não possa admitir, ela a mim. Eu estou aqui, esperando por ela, e só ela pode me dizer quando estará pronta.

— Então essa troca de olhares sempre no mesmo horário...

— Nosso pequeno ritual. – Brinco. – Eu amo Felicity, um amor puro e inocente. Isso não quer dizer que a parte pervertida em mim não aprecie quando ela sai do banho. Ela sempre vai a academia no mesmo horário, e por algum motivo ela prefere tomar o banho aqui, em vez de lá mesmo. Quando eu percebi sua rotina eu passei inventar desculpas para vê-la sair do banheiro.

— Oliver, ela se troca dentro do banheiro. - Lembrou-me.

— Minha culpa. – Sorri lembrando-me. – Ela não fazia isso, mas após perceber que eu ficava a encarando descaradamente enquanto passava de toalha. Ela passou a se trocar lá dentro.

— Se ela não passa mais de toalha, por que você continua aqui, ansioso por vê-la passar? – Perguntou cada vez mais intrigado.

— Eu gosto do cheiro de seu shampoo. – Confessei. – Me traz conforto. Quando meu pai morreu, eu fui o único a lamentar, ele era um idiota bêbado, Thea quase não teve contato com ele. Mas ele ainda era meu pai, Felicity foi a única que realmente me trouxe conforto. Ela me levou para sua casa, mesmo eu estando bêbado como um gambá. E ela me abraçou, por um longo tempo eu fiquei cercado pelo cheiro do seu shampoo. E por um longo tempo a dor passou.

— Qual é o plano atual então? – Tommy perguntou após um tempo. – Eu posso entender que você realmente ama essa garota, o que você vai fazer sobre isso?

— Eu estou seguindo o plano original. – Falei. – Eu estou esperando, até ela estar pronta.

—Isso é um tiro no pé. – Tommy murmurou meneando a cabeça. – A mãe dela podia ter pedido outra coisa.

— Eu confio em Donna Smoak. – Sorri a saudade me invadindo. Donna foi como uma segunda mãe para mim.  –Ela conhecia bem a filha, no final disso tudo ela vai estar certa.

— A mim parece que você está a espera de migalhas. – Deu de ombros. – Isso faz de você um idiota.

— Eu sou um idiota. – Assenti. – Não mais do que você, que fica aceitando merda de sua ex-namorada.

— Você tem que controlar aquela mulher. – Murmurou subitamente indignado. – Todas as minhas cuecas estão rosa Oliver. Rosa!! Eu não tenho dúvida de que foi ela.

— Não foi Sara. – A voz de Felicity se fez presente. – Fui eu.

— O quê?!! – Perguntamos juntos igualmente chocados. Eu não pensei que Felicity teria realmente problema com Tommy aqui, eu estava tão certo que os sentimentos que ela julgava ter por ele eram na verdade falsos, que eu não me vi ameaçado. Agora eu estava mais do que ameaçado, eu estava pronto para expulsar Tommy de casa.

— O que diabos eu te fiz? – Tommy perguntou ainda surpreso.

— Relaxe Tommy até agora eu não sabia que as cuecas eram suas. – Falou encarando-me com os braços cruzados.

— O que está acontecendo aqui? – Tommy perguntou olhando de um para o outro.

— Tommy nos deixe a sós. – Murmurei sem encara-lo. – Por favor.

— Oh oh, mamãe e papai vão brigar. – Tommy murmurou se levantando.

— Outra dessas e suas cuecas vão se tornar tão fodidamente pink. – Felicity ameaçou. Tommy apenas riu.

— Eu não tinha ideia que me mudar para aqui ia ser tão divertido. – Falou antes de realmente nos deixar a sós. Esperei ter certeza de que ele não estaria por perto, para finalmente dar minha total atenção para Felicity.

— O que aconteceu?- Perguntei analisando seu rosto. – Você não é de pregar peças, e não estamos mais na faculdade. Por que você queria fazer isso comigo?

— Por quê? – Perguntou incrédula. – Por quê? – Repetiu. – Duas semanas atrás você praticamente me disse que me amava e...

— Eu disse que a amava. – A corrigi.

— E... – Continuou me ignorando. – No dia seguinte você estava com aquela loira que parecia ter saído de algum filme pornô. Que tipo de amor é esse Oliver Queen? – A encarei incrédulo.

— Você tem um namorado. – A lembrei. – Vai me dizer que você e o detetivezinho apenas andam de mãos dadas? – Perguntei odiando apenas a ideia deles dois juntos. – É o tipo de amor que eu tive por anos e que nem por isso eu vivi em celibato esperando o momento em que você finalmente ia pensar “Ok, ele está ali, está na hora de tirar o sofrimento do pobre coitado.”

— Isso não é justo, eu não tinha ideia de que você me amava, seu idiota. – Retrucou. – Você nunca me disse isso, você apenas esperava que subentende-se cada coisa que você tão claramente disse para Tommy agora?

— Você estava escutando atrás da porta?

— Esse não é o ponto. – Retrucou. – E se você quer mesmo saber, eu terminei com ele. No dia seguinte.

— Terminou? – Perguntei entre surpresa e felicidade.

— Terminei e pelo o que eu vi 20 minutos depois eu não deveria ter me dado o trabalho. – Murmurou dando-me as costas. Oh merda, ela não ia fazer isso. Me levantei me apressando em segui-la e ela tentou a todo custo fechar a porta do seu quarto e me impedir de entrar, foi uma batalha perdida. Ela emitiu um som frustrado antes de voltar a me dar as costas. Tal como a última vez em que estive em seu quarto me encostei a sua porta, não queria dar a chance que ela apenas fugisse. Precisávamos conversar. – Saia. - Exigiu voltando a me encarar.

— Você passou duas semanas irritada comigo e não disse nada. – Murmurei. – Duas semanas com ciúmes e não deixou escapar absolutamente nada. Você terminou com aquele patético rascunho de namorado e não me disse nada. – Completei. – Você sabia como eu me sentia com relação a você, e eu só sei como se sente, agora. Por que você errou as malditas cuecas?

— Se o problema é isso, tudo o que você fazer é me entregar as malditas cuecas. – Murmurou indiferente. – Alguma preferência por cor?

— Felicity...

— O que você queria que eu fizesse Oliver? Adivinhasse tudo isso? – Perguntou cansada. – Você nunca ficou sozinho. Eu nunca pensei que você realmente tivesse sentimentos por mim, não assim. E quando você me disse sobre, você não mudou em nada sua postura. O que eu tive de certeza naquele dia, se esvaiu no dia seguinte. Seu pau ia cair se você esperasse eu digerir o que você tinha dito? – Perguntou irônica. – Você veio com toda aquela história de que eu sou seu coração, e em seguida deu as costas, não falamos sobre isso. Do meu ponto do vista, você fez como todas as outras vezes, jogou um pouco do seu charme e mim e caiu fora, uma provocação. Que se eu embarcasse junto teríamos algum tempo de sexo bom.  Eu não tenho uma bola de cristal, eu não tenho com interpretar certamente cada gesto seu, se você não me deixa claro.

— Eu deixei claro.

— E trouxe um membro do seu fã clube devasso para casa. – Reclamou. – Eu levei tudo muito a sério, até que você chegou com ela aqui, então pensei que mais uma vez você estava brincando comigo, seu idiota. Você pisou feio.

— Cada vez que eu falei com você, eu estava falando sério. – Murmurei me aproximando. – Cada insinuação, cada frase boba, eu sempre disse que no minuto que você dissesse sim, eu era seu. – A encarei de perto. – Eu estava falando sério. Eu só não via por que me manter sozinho se você também namorava alguém. – Conclui levando uma mão até seu rosto.

— Eu não sabia. – Murmurou se aproximando. – De nada daquilo.- Esclareceu. – Da conversa com minha mãe, Helena, tudo o que você disse a Tommy, eu sempre interpretei da maneira errada. Eu não sabia que você estava esperando por mim, Oliver. E eu definitivamente nunca pediria a você por isso. – Fiquei decepcionado com isso. Isso para mim deixava claro que eu estivera errado sobres os sentimentos de Felicity.

— Você não me ama. – Murmurei de certa forma conformado.

— Eu pensei que você me conhecia melhor do que isso. – Murmurou com um sorriso pequeno. – O que eu quis dizer é que se você tivesse me dito isso alguns anos atrás, não teria motivo para que houvesse uma espera. – Esclareceu. – Você estava certo. Eu não queria ter que lidar com meus sentimentos, por que eu não queria te perder um dia. Ciente ou não do que você sentia, eu sempre tive você, e eu não queria mudar isso. Eu te amo, quero deixar isso claro aqui. Por que pelo o que parece somos uma bola de neve de mal compreendidos. – Respirei fundo absorvendo que dizia. – E se é de coração que estamos falando aqui, eu também quero deixar claro que meu coração, sempre foi, é e sempre será seu.

 - Isso é sério? – Perguntei se deveria realmente após tanto anos aceitar que finalmente havíamos chegado a isto. Ela me respondeu muito calma e delicadamente abraçando meu pescoço, eu não tive outra reação se não abraça-la de volta. Meu rosto naturalmente encontrou a curva do seu pescoço, e enquanto eu absorvia seu cheiro, aquele cheiro reconfortante, com os olhos fechados eu me lembrava de cada momento em que a segurei dessa forma ou apenas brevemente, e em nenhum deles eu me senti tão feliz como agora. Em nenhum eu tive tanta certeza como eu tive agora, de que Felicity Smoak me amava.

Deus, era tão bom segura-la assim.

— Por favor, não me diga que tem um “mas” vindo por aí. – Murmurei resistente a solta-la. Ela recuou fazendo com que apesar de ser contra minha vontade, eu recuasse.

— Sem mas. – Prometeu. Sorri a observando e levei minhas mãos ao seu pescoço, a vontade de beija-la dominando cada movimento meu, aproximei meu rosto do seu, sentindo por fim o alívio de poder fazer isso sem qualquer confusão por vir, sem estar enganado, sem ter medo de ter o coração quebrado logo após. Porém antes mesmo que eu pudesse encostar meus lábios aos seus ela murmurou um pedido. – Só me prometa que não me pedir em casamento hoje. – Sorri percebendo que Felicity ainda estava assustada com intensidade dos meus sentimentos por ela.

— Eu prometo. – Murmurei antes de sem lhe dar tempo para qualquer novo protesto. Eu já havia beijado Felicity antes, eu sabia como era doce os seus lábios, e como beija-la não parecia ser o suficiente, mas este beijo foi além daquele nosso primeiro beijo, por que agora eu sabia que ela realmente era minha. Era carinhoso, longo e sem pressa. E quando por fim o terminamos permiti-me completar. – Um dia.

Quem sabe amanhã?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Fico no aguardo do feedback...
Xoxo, LelahBallu.



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