“Eu tentei… eu juro que realmente tentei ignorar esta dor que eu senti por tantos anos. Mas não dá mais.

Sempre imaginei que quando eu saísse daquele inferno a que eu chamo de antigo orfanato, as coisas ficassem melhores. Mas não ficaram. O bullying, o sofrimento, as lágrimas, a tristeza, a rejeição e os cortes continuaram. E era apenas meu segundo orfanato.

Ser adotada pela família Endou melhorou um pouco as coisas, mas não me lembrar do meu passado ou de você, Melanie, e nunca ter tido aquilo a que chamam amor de família, era o suficiente para me fazer chorar todas as noites.

Eu sempre me considerei uma pessoa forte. E sou, quando não existem pessoas a constantemente me rebaixarem. E os cortes, existentes desde os oito anos, continuavam a existir, cada vez maiores e mais profundos.

A música era meu refúgio. Quando tocava violino, e principalmente piano, toda a dor era esquecida por um momento. Não havia rejeição, nem uma lâmina. Só havia sentimentos de alegria e adoração por parte daqueles que me ouviam.

Apaixonar-me pode ter sido a pior e a melhor coisa que eu fiz. Sofri, obviamente, mas também existiram momentos de felicidade. Fudou constantemente me protegia dos olhares questionadores e julgadores, mesmo estudando na Teikoku. Aceitar o pedido de casamento dele deve ter sido a melhor coisa que eu fiz. Mesmo apenas com dezanove anos, e no inicio da minha universidade, pronta para cursar em música e com o objetivo de me tornar uma grande pianista (dando aulas particulares a um menino chamado Shindou Takuto).

Casando-me aos vinte anos, pensei que finalmente tudo estivesse bem. Até você revelar que eramos irmãs, e destapando uma parte do meu passado que eu nunca mais queria me recordar. Se fiquei feliz por saber que minha melhor amiga era minha irmã gémea? Claro que fiquei. Mas tudo teria sido melhor se você não me revelasse que tinha sido adotada e amada, enquanto eu era julgada por apenas um dom que eu tinha, não acha?

E você sempre foi melhor. Pronta para casar, e sendo uma cantora famosa, com várias pessoas a amando e te chamando de linda. Eu queria esse tratamento. Claro que jamais serei tão bonita ou elegante como você. Mas você também não tinha a mínima ideia dos cortes que se encontravam em meus braços. Nem você, nem ninguém. Era um segredo obscuro que eu escondia de todos, e preferia que se mantivesse assim. Mas acho que chegou a altura de te contar, especialmente porque é minha despedida, certo?

Nunca fui muito independente. Também sempre estive nas sombras dos outros. Mesmo com um talento para a música, sou apenas uma masoquista inútil, que não merece viver. Acho que finalmente vou tomar uma decisão acertada, né?

Isto não é um adeus, porque eu sei que nos voltaremos a ver. Quando acabar de ler esta carta, já não estarei cá, e cabe a Deus decidir se irei ficar ao lado de Sein ou Desuta. Espero que diga a todos que lamento muito não ter sido melhor, e diga a Fudou que o amo, e sinceramente espero que não tome nenhuma decisão idiota.”

ASSINADO: Claudine Sophia Crystal Endou Fudou.