Clichês escrita por Miss A


Capítulo 16
Tratado de Versalhes


Notas iniciais do capítulo

Olá, homo sapiens.
Peço perdão pela demora.
Agradeço por todas os lindos comentários que vocês deixaram ao longo da história.
Você não tem ideia do que eles fizeram comigo ♥

Bom último capítulo.



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Lembrei-me da minha recente paixão por ele e senti minhas bochechas esquentarem.

— Não daquele jeito – Corrigi o mais rápido possível – Mas eu te amo demais para te perder.

— Você não vai.

— James, eu já lhe disse que não há como afirmar esse tipo de coisa.

— Eu não estou entendo o que você quer dizer.

— Eu só acho que é melhor acabar com isso enquanto estamos bem.

— Se estamos bem porque acabar?

— Para que não fique ruim.

— Você não está fazendo sentido.

— Você não quer ver outras pessoas?

— Não, você quer?

Franzi o cenho. No momento eu não estava preocupada com isso, mas como é que James, o garoto que trazia uma garota por dia para casa, não queria ver outras pessoas?

— Não sei.

— Pensei que eu era o suficiente para você.

Esse é um dos problemas.

— Talvez eu tenha ficado entediada em sair por tanto tempo com um homem cis e hetero, sabe como é, muito comum – Eu tentei fazer graça.

— Está me rejeitando porque eu não sou diferente?

— Claro que não. Porque você é diferente. É o único que acredita em fadas.

— Pelo menos eu não converso comigo mesmo.

— Eu não falo sozinha. Eu falo com as vozes da minha cabeça.

— Bem, isso certamente é diferente.

Sorri.

Sempre brincávamos sobre tudo.

— Você não está facilitando as coisas.

— Você está falando sério? Achei que era uma piada. Parece uma.

Revirei os olhos.

— Estou falando sério, parvo, e você também poderia fazer o mesmo.

— Dê um argumento válido e eu considero seu pedido.

— Eu pretendo ser a sua melhor amiga pelo resto da minha vida e é por isso que esse contato físico exacerbado entre nós deve acabar. Antes que um de nós crie sentimentos.

— Contato físico? Que eufemismo.

— Gosto de eufemismos.

— Você está com medo de sentir...coisas?

— Estou com medo de perder nossa amizade.

— Você não vai.

— Infelizmente, você não pode prometer isso. Você sabe como os seres humanos são.

— Complexos.

— Chatos.

— Coisados.

Nós sorrimos.

— Viu? Eu não quero perder isso.

Ele se mexeu, para ficar mais perto. Nossos rostos ficaram próximos.

— Não vamos. Eu prometo.

Suspirei. Aquela proximidade quase me fazia mudar de ideia.

— James, não é como se eu estivesse impondo o Tratado de Versalhes e você fosse a Alemanha.

Ele riu.

— Só não vejo motivo plausível para deixarmos de fazer o que estamos fazendo.

— Não colocar nossa amizade em risco não é um motivo suficiente para você?

— Você deveria ter pensado sobre isso há dois meses.

— Eu pensei e agora eu refleti de novo e cheguei a outra conclusão.

— Por que criar sentimentos seria tão ruim assim?

Afastei-me, abruptamente.

— Que?

— Parece ter dado certo para Fred e Dominique.

Ele estava insinuando o que eu acho que ele estava insinuando?

— Que? – Repeti, desnorteada.

— O que eu quero dizer é que se de alguma forma nossos sentimentos evoluírem, não seria um problema, assim como você pinta.

O garoto tinha ficado louco.

— Não somos eles. Nossa amizade é bem maior do que a que eles tinham e eu definitivamente não estou disposta a arriscar algo tão importante assim.

— Então, nós somos Joey e Rachel?

Arregalei os olhos.

— Nós somos Joey e Rachel!

— Devo agradecer por pelo menos ter transado, acho.

— Não acredito que eu me tornei a Rachel, sempre achei que eu fosse a Phoebe.

— E daí? Pelo menos você vai casar. Eu só vou ter patos e galos.

Eu ri.

Não resisti e passei a mão em seu rosto.

Ele se inclinou para me beijar, mas eu não deixei.

— O que foi?

— Não ouviu tudo o que eu disse?

— Sim, mas não vamos ter uma última noite?

Por que ele fazia aquilo comigo?

— Não. Melhor não, James.

— Por favor? – Seus lábios roçaram minha orelha.

— Essa é a última vez – Cedi.

— Claro.

— Estou falando sério.

— Eu também.

— Não parece ser o que você está pensando.

— Você anda lendo mentes agora?

— Essa sua cara diz tudo.

Ele deu um sorriso malicioso.

— Esse não será o nosso fim, Rose, escute o que eu te digo.

Tive medo de que ele pudesse estar certo.

— Não sabia que você fazia profecias.

— Incrivelmente, existem coisas que você não sabe sobre mim.

— Tipo o que?

— Não prefere que eu mostre? – Ele me agarrou e me beijou com força. Segurei seu rosto e nos movemos para deitarmos no sofá.

Mas James nunca teve senso de espaço.

Caímos no chão.

— Ai. Saí de cima de mim, Sirius.

— Desculpa.

Ele se mexeu para sentar no chão.

— Você está bem?

— Estou, mas acho que isso foi um sinal – Falei, enquanto massageava meu pescoço.

— Sinal do que?

— De que não devemos transar.

Ele riu. Muito.

— Você é completamente louca, Rose.

— Sou louca por que não quero ignorar o que o Universo está me dizendo?

— Às vezes o Universo não quer nos dizer nada – Ele disse e tirou uma mecha de cabelo que estava caída em meu rosto.

— Ou será que você só é idiota o suficiente para ignorá-lo?

— Talvez.

James me encarou por um longo tempo.

— O que foi?

— Nada.

Ergui uma sobrancelha.

— Vem comigo, quero te dar uma coisa.

— Isso é algum tipo de cantada?

— Não.

— Ótimo. Eu não estava preparada para uma das suas.

— As minhas são ótimas.

— James, nós dois sabemos que não.

Ele me puxou para o seu quarto.

— Senta aí.

— Tiro a roupa?

— Se você quiser – Ele revirou os olhos e foi procurar algo em sua escrivaninha.

— Deve ser alguma coisa importante já que você guardou na sua gaveta com chave.

— Foi só para você não mexer.

— Eu não faço isso.

— Rose você vive explorando meu guarda-roupa e pegando minhas camisetas.

— Algumas vezes a moda masculina é melhor do que a feminina.

— Vocês têm decotes.

— E vocês camisas largas.

— Incrivelmente, você fica bem dos dois jeitos.

— Você também. Valoriza seus seios.

Ele riu e tirou um envelope pardo da gaveta.

Coloquei a mão no coração, fingindo alívio.

— Achei que você ia me dar um anel de noivado.

— Você não ia saber lidar com um.

— Não mesmo. Mas com um envelope eu posso tentar.

James ficou balançando o envelope nas mãos.

— Me promete uma coisa?

— O que?

— Que você só vai ler quando estiver no avião?

Minha viagem para França seria dali poucos dias.

— Você está brincando comigo, James? Por que você faz essas coisas? Eu fico ansiosa!

— Você vai conseguir se controlar.

— Vou passar mal nos próximos dias e depois vomitar no avião.

— Pense pelo lado positivo, você acaba de ganhar uma leitura para a viagem.

— Eu ia ler Alice Walker.

— Eu sou melhor.

— O melhor piadista isso sim. O que é que tem aí dentro?

— Algo que eu escrevi, pensei que estivesse óbvio.

Mostrei-lhe o dedo do meio.

— Lembra daquilo que eu estava escrevendo na sala?

Meus olhos brilharam.

— Você terminou? Pode me dar.

Ele estendeu o envelope e veio se sentar ao meu lado na cama.

— Lembre-se do que você prometeu.

— Ainda não prometi.

— Rose.

— Está bem, eu prometo. Aliás, sinto muito pela sua insegurança e pelo seu ego inexistente.

Ele bufou, mas não retrucou.

— Sobre o que é?

— Quando ler vai descobrir.

— Que resposta mais clichê.

— Estou tentando instigar meu leitor.

— Não funcionou.

James sorriu e eu achei que seria uma boa hora para sair dali.

Sorrisos podem destruir uma pessoa.

— Eu vou para o meu quarto – Falei, me levantando.

— Não, espera.

Ele segurou meu braço.

— O que?

— Não está se esquecendo de nada?

— Obrigada por me deixar ler sua história?

— Não. Tínhamos um acordo.

— Que acordo?

Ele me puxou e caímos na cama. Não rolamos para o chão o que eu considerei uma vitória.

— James!

— Uma última noite lembra?

— Mas o Destino nos deu um sinal de que...

— Rose – Ele segurou meu queixo - Foda-se o Destino.

Aquilo era uma blasfêmia, mas me esqueci disso quando seus lábios tocaram os meus.

 

 

Mais tarde enquanto ainda estávamos na cama, eu virei-me para poder ver seu rosto.

— Quem você seria num apocalipse zumbi, James?

— É nisso que você pensa depois de transar?

— Não, eu penso em transar de novo.

— Podemos resolver isso.

— Responda minha pergunta.

— Um sobrevivente.

— Isso quer dizer o que?

— Que eu iria fazer de tudo para sobreviver, matar alguns zumbis, roubar comida, essas coisas.

— Talvez eu te chame para o meu exército.

— Que exército?

— O que lutará contra os zumbis no apocalipse.

— Quando perguntam para pessoas onde elas se veem daqui 10 anos, elas vão responder coisas como “bem sucedida”, “rica”, “dona do próprio negócio” e etc., mas quando perguntam pra você é...

— Líder de um exército – Dei um imenso sorriso – Eu mereço um nobel, não acha?

— Talvez, mas se perguntarem eu vou negar.

— Vai nada, você é o meu maior fanboy.

Ele riu, aproximando-se, e começou a distribuir beijos pelo meu pescoço.

— Talvez eu seja.

Eu sorri.

Tentei não pensar em como seria difícil o amanhã, mas era impossível.

— Pergunto-me se vamos conseguir.

— O que?

— Ficar distantes.

— Você não tem autocontrole?

— Não quando a Vênus está em Escorpião.

Por sorte eu iria para longe.

— Se você perder o controle, eu prometo não te impedir.

— Idiota.

 

 

Eu andava de um lado para o outro na sala, aguardando. Minha mala estava pronta. Eu estava pronta. Só faltavam duas coisas.

Roxy chegar com o táxi e James aparecer.

Desde a nossa última noite eu estava o evitando. Nos vimos poucas vezes e estava tudo desconfortável, mas eu não poderia acreditar que ele não ia se despedir de mim.

— Para de ficar andando de um lado para o outro – Fred falou.

— Cadê o James?

— Pela centésima vez: eu não sei.

— Ele sabia o horário do meu voo. Estava anotado na porta da geladeira, Fred!

— Talvez ele só tenha tido algum imprevisto.

— O que seria mais importante do que eu?

Ele revirou os olhos.

— Se ele não aparecer, vai ser um babaca.

— Ele já é.

— Vou ter que concordar. Aquele embuste.

— Seu objetivo é cavar um buraco para podermos espiar o vizinho debaixo?

— Muito engraçado você.

— Obrigado.

— Dominique tem tanta sorte em tê-lo.

— Tem mesmo.

— Fred, você é um babaca.

— Pelo menos eu estou aqui.

Não respondi, só continuei dando voltas no mesmo lugar.

Quando a porta finalmente se abriu eu pensei que ia morrer de alívio.

Ou matar James.

— Até que fim! Onde você estava?

— Desculpa! Eu me atrasei com o...

— Zumbi? Está acontecendo o apocalipse zumbi é por isso que você atrasou? Porque essa é a única desculpa plausível.

— Eu ia dizer com o metrô, mas nele tinha vários zumbis do capitalismo, portanto, talvez você esteja certa.

Cruzei os braços e deixei que meu olhar lhe respondesse.

— Eu te trouxe uma coisa.

— O que?

— Chocolate – Ele abriu a mochila e tirou uma sacola de lá. Abri-a.

Eram os meus favoritos.

— Você está perdoado.

Ele colocou a mão no coração, fingindo alívio. O interfone tocou e Fred foi atendê-lo.

— Roxy está te esperando – Ele falou, assim que desligou – Vou descer.

Ele pegou minha mala e saiu pela porta.

— Obrigada – Eu disse, mas não sei se ele ouviu. Encarei James.

— Pensei que você não ia se despedir de mim.

— É claro que eu viria, Rose.

— Achei que você estivesse... – Balancei a cabeça – Esquece. É melhor eu descer.

— Espera aí – Ele segurou meu braço quando eu estava passando por ele – Não vai me dar um abraço de despedida?

Eu deixei escapar um sorriso e passei os braços pelo seu corpo.

Abraçamo-nos por mais tempo do que seria necessário.

— Está tudo bem entre nós?

— Sim, é claro que sim – Ele me afastou e roçou o dedo em minha bochecha – Vamos parar de nos ignorar e fazer isso dar certo, ok? Eu não aguento mais esse... Vácuo.

— Está bem. Eu não te ignoro se você não me ignorar.

— Eu nunca faço isso.

Ergui uma sobrancelha. Era parcialmente mentira.

Ele revirou os olhos.

— Eu prometo.

Eu sorri.

— O táxi está esperando.

— Ok. Boa viagem – Ele encostou brevemente seus lábios nos meus.

— Obrigada. Tchau, James.

Assim que cheguei na porta, me virei para trás.

Havia algo entalado em minha garganta e eu não podia ignorar.

— Não visite os pandas sem que eu esteja presente!

— Tentarei.

Estreitei os olhos.

— Parvo.

— Feliz natal também!

— Espero que você se engasgue com uma uva passa.

Fechei a porta.

As coisas seriam como antes, afinal.

 

 

Assim que nos acomodamos no avião, abri o envelope. Foi inevitável não rir logo na sinopse.

— O que foi? – Roxy perguntou.

— Só uma história clichê.

Era um conto bem humorado, cheio de acertos ortográficos, sobre uma ruiva e seus desastrosos clichês.

Sorri ao imaginar que talvez um dia o embuste do James estivesse na lista de best-seller.

Na Roseland já estava.

 


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Notas finais do capítulo

Não ficar com o crush também é clichê.
Isso é tudo o que eu tenho para dizer.
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Encerrar aqui seria impactante, porém não vai ser possível porque Clichês vai ter uma continuação chamada Coincidências. Só checar o meu perfil.
Já aviso que não vai ser só JayRose (choremos), Scorose também estará presente, porém não percam as esperanças.
Ficarei feliz em vê-los lá, mas se não acontecer, desejo um ótimo 2018 para todos.

Até a próxima, unicórnios.



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