E foi com um enorme alivio que ás nove e meia de uma segunda-feira tão aguardada, que o juiz bateu o martelo e finalmente mais muito finalmente, Dulce Maria, tornou-se Dulce Maria Santos.
Cecilia ao sair do juizado com o novo registro da Dulce, estava tão feliz que não cabia em si. Decidiu que iria até o colégio, precisava olhar pra sua menina, dizer que deu tudo certo.

Dulce achou estranho e sua barriga deu um nó, quando a professora avisou que tinha alguém querendo vê-la. Saiu da sala e a primeira pessoa que viu, foi a mãe! Sorrio de tanto alivio.

– Mamãe! Eu achei que fosse a policia! Cade o papel?
Cecilia sorriu e abriu a bolsa, tirando o bendito papel.
– Amor, esse é o seu novo registro. Ta vendo aqui? Meu nome, sua mãe.
– Mas você sempre foi. Desde do dia que você me fez um sanduíche e cuidou de mim. As mamães fazem isso, cuidam. E eu vou sempre cuidar de você.
As duas se abraçaram. E por alguns instantes Cecilia esqueceu que precisava voltar ao trabalho.
– Dulce, a mamãe precisa ir trabalhar! Mas quando chegar, vamos tomar sorvete depois do jantar pra comemorar! O que você me diz?
– Sorvete e pizza!
– Não, só sorvete! Já tivemos muitas pizzas...
– Tá bom então! Mas de chocolate!
– Você que manda! Agora, dá um abraço, um beijo e volta pra sala! Eu te amo.
– Eu também te amo.
Dulce sussurrou no ouvido da mãe. E voltou feliz da vida pra aula. Hoje definidamente, era o segundo melhor dia da vida dela.

Voltar ao trabalho foi fácil. Cecilia sorria por onde passava, estava feliz, leve. O peso que por diversas noites sentiu, foi-se. Ninguém poderia tirar sua filha.

Ao entrar na sala, o senhor Lários já se encontrava.
– Desculpe o atraso senhor Lários, mas precisei ver a Dulce depois de tudo.
– Compreensível. Deu tudo certo suponho?
– Tudo certo senhor.
Gustavo ao olhar Cecilia sorrindo, sentiu como se seu coração estivesse se expandindo. Não queria acreditar que um simples sorriso, fazia tão bem a ele.
– Que bom Cecilia, fico feliz por vocês. Mas eu vou te pedir uma coisa.
Cecilia já imaginou, que o mesmo iria lhe pedir que não trouxesse mais Dulce ao escritório, não que ela fosse fazer isso.
– Hum, pois não senhor.
– Gostaria que quando estivéssimos nós dois aqui na sala, você me chamasse de Gustavo. Essa coisa de senhor todo o tempo, tá me matando. Me sinto velho. Você poderia fazer isso?
Ela estava fazendo uma expressão bem engraçada, tanto que, enquanto esperava por uma resposta, Gustavo não resistiu e sorriu pra mesma.
– Ah, tudo bem... Gustavo. É estranho mas vou tentar. Então, você gostaria de repassar a agenda de hoje?
– Sim , por favor.
Cecilia não conseguia acreditar, agora os dois tratavam-se por seus primeiros nomes, e ainda havia os por favores. Parecia que o Gustavo, era um homem de camadas.
Cecilia gostaria de descobrir cada uma delas. Suspirou nervosa, e foi cuidar dos afazeres.

– Cecilia mais uma coisa... Eu comprei isso aqui pra Dulce, você poderia por favor entregar pra ela? É um kit de pintura.
– Ah... Muito obrigada! Ela vai amar!
– Achei que sim. Ela desenha muito bem!
– Eu não tenho do que discordar.

Cecilia entrou em sua sala, e ficou por alguns segundos olhando o kit de pintura. Uma maleta toda desenhada com corujas. Dulce iria ficar maluca com aquilo! Gustavo era do tipo de dar presentes. O homem a surpreendia a cada dia que passava. Depois dessa, ficou preocupada com a sua própria imaginação. Hoje ela iria longe. Suspirou mais uma vez e pensou, boa sorte Cecilia em não deixar a imaginação correr solta.

Para uma segunda-feira, o dia passou rápido. Decidiu passar no supermercado e comprar algumas coisas, incluindo claro, o sorvete.

– Eu ajudo mamãe! Me dá uma sacola!
– Toma essa aqui...
– Isso é papel higiênico!
– Todas as outras estão pesadas!
Cecilia guardou as compras, tirou o jantar da geladeira e enquanto isso, ouvia a filha falar sobre o seu dia. As aventuras na escola, a festinha de aniversário de uma coleguinha que se aproximava, a musica nova que ensaiavam na aula de canto. A cada momento era uma novidade.

Depois que jantaram e que já estavam de pijamas e tomando sorvete. Cecilia deu o presente que o Gustavo mandou pra Dulce.
– Você ganhou presente!
– Você comprou um presente pra mim?
– Não, não... O Gustavo, o chefe da mamãe mandou pra você! Abre a caixa!
Como Cecilia, tinha suspeitado, Dulce ficou empolgadíssima com o kit de pintura. Falou na mesma hora que iria desenhar uma coisa bem bonita pra que ela pudesse entregar ao Gustavo.
– Você está querendo dizer, que eu vou entregar...
– Não mamãe, eu vou entregar! Você me leva lá um dia e eu entrego!
Me deu aquele sorriso, aquele que ela sabe que me ganha fácil.
– Tudo bem, você faz o desenho, mas saiba que não tem um dia certo pra você ir até lá!
– Tudo bem assim?
– Sim pi ri rim!
Tiveram sorvete e desenhos. Já passava um pouco da hora de dormir, quando finalmente, Dulce foi vencida pelo o sono.
Cecilia também foi dormir. Sorrindo, imaginando a cara que o Gustavo faria quando visse o desenho que a Dulce iria dar em agradecimento. Dulce desenhara Gustavo no meio de uma floresta, rodeado por unicórnios.

Gustavo jantava e se preguntava o que achava que estava fazendo da vida. Primeiro de tudo, desde de quando ser chamado de senhor Lários o incomodava? Nunca. Até isso começar a sair incansavelmente da boca da Cecilia. Ele sabia que havia uma diferença de idade, mas não era nada extraordinário. Mas lhe incomodava muito o senhor Lários o tempo todo que ela falava. A cara que ela fez, quando ele pediu que ela parasse de chama-lo de senhor foi impagável. Não chegou a corar, infelizmente.
Gostaria de saber se Dulce Maria gostou do presente, imaginou que sim. Mas queria ter certeza.
E pela primeira vez, sentiu vontade de ligar para Cecilia, saber o trivial, se a menina tinha gostado do presente. Mas também sabia, o quão estranha a ligação seria.
Já bastava a reunião que teve com Cristovão naquela manhã.

FLASHBACK ON

– Então Cristovão, tudo certo com os papeis?
– Tudo sim Gustavo. Mas acho bom, você pedir pra Cecilia revisar o contrato de Londres, só por via das dúvidas.
– Pode deixar. Cristovão, me diz uma coisa...
– O que?
– O que existe entre você e a Cecilia?
Cristovão levantou a cabeça, e sorriu. Não achei onde ele viu a graça, foi uma pergunta simples e direta. Eu esperava uma resposta da mesma forma. Continuei a fita-lo sério.
– O que existe? Você acha que estamos envolvidos romanticamente?
– Não sei. Me diga você...
Falei fazendo uma mesura com as mãos.
– Nós somos amigos Gustavo, apenas isso. Eu a ajudei a conseguir a tutela provisória da Dulce e nesse momento, ela deve estar recebendo os papeis oficializando a guarda definitiva da menina. Somos amigos no trabalho, e fora também.
– Tudo bem.
– Não se preocupe, eu não seu concorrente.
Ele disse isso, levantou-se e saiu. E eu fiquei com cara de abobalhado.

FLASHBACK OFF

Levantou-se e foi trabalhar, não que tenha adiantado muito. Não pensava em outra coisa. Talvez chamasse Cecilia para jantarem, conversarem sem estar no ambiente de trabalho. Isso se, ela aceitasse. O que ele achava dificil. Ela prezava pelo o emprego, dava pra ver o quanto responsável ela era com tudo que fazia. Talvez não valesse a pena misturar as coisas.
Sua cabeça doia, isso acontecia muito ultimamente. E mais uma vez, no silencio do escritório ele sentiu falta de alguém com quem conversar, pedir um conselho. Mas era isso, ele precisava aguentar.

Ele não podia e nem queria ficar nesse impasse. Queria ter certeza onde estavam os seus sentimentos com relação a Cecilia, afinal, verdade seja dita, eles mal se conheciam. Mas ainda assim, ele se sentia diferente perto dela.
Talvez, se não fizesse tanto tempo que fora apaixonado por alguém, que amara alguém, hoje fosse mais simples reconhecer os próprios sentimentos.
E não poderia esquecer o mais importante. A seriedade que um relacionamento com a Cecilia significava. Eles já tinham um relacionamento profissional, levariam para o lado pessoal. E isso envolvia uma criança.
Gustavo dormiu tentando descansar a mente.