A Caixa de Merlin escrita por Hanlia


Capítulo 8
Presente de Aniversário


Notas iniciais do capítulo

Milagres de natal acontecem



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No salão comunal da Sonserina, os alunos do primeiro ano possuíam uma expressão pouco preocupada para a atividade prática de transfiguração que a professora Minerva havia passado. A maioria jogava conversa fora, os mesmos assuntos maçantes de sempre. Provavelmente estavam fazendo pouco caso da matéria, ou simplesmente subestimando-a. Evangeline tirava dúvidas de Samantha, Amélia e Louise num canto afastado, perto das janelas, provavelmente foi a primeira vez que trocou palavras com as colegas de quarto. A garota tinha certeza que a Profa. McGonagall estava querendo incentivar o trabalho em equipe, mas de qualquer forma achava tudo aquilo desnecessário.

Eram dúvidas que a bruxa considerava ridículas, mas de certa forma, gostava de ensinar, sentia uma sensação de superioridade. No entanto, isso não a fez esquecer do episódio na seção reservada. Os gêmeos ainda estavam com os livros que pegaram, ou melhor, roubaram. Não era pra ELA ler os livros? Isso a deixava mais impaciente que nunca, e sua perna balançava sem parar, o que começou a incomodar Samantha após um tempo, mas Evangeline simplesmente ignorou as reclamações.

Além disso, aquelas criaturas verdes de fumaça ainda importunavam sua mente, assim como o seu sonho esquisito de algumas noites atrás. Decididamente, queria pesquisar mais sobre, e em breve iria. Ao menos, ninguém se lembrou do seu aniversário, o que naquele momento era um alívio para a garota.

— Evangeline, é seu aniversário, não é?

Cedo demais... Samantha teve que abrir a boca, por sorte, as pessoas que ouviram aquela maldita frase não pareceram se importar. Mas Evangeline sabia que era só questão de tempo até aquilo se espalhar e sua paz ir embora, como a maioria dos boatos ao seu respeito. Felizmente, conhecia pouca gente em Hogwarts, mesmo assim, a bruxa cruzou os dedos, torcendo para que se preocupassem mais com os trabalhos e deveres de casa que com ela. Agatha sempre fazia questão de exaltar todos os aniversários da garota, fazendo cerimônias imensas e chamando todos da família. No fundo, Evangeline sabia que nada daquilo era pra ela, parecia ser sempre sobre sua mãe.

— Nossa, eu não sabia... Desculpa mesmo, Hill. Não tenho nada pra te dar de presente agora. — Louise falou num tom suave, um tanto arrependida.

Louise Peterson era descendente de Joan Peterson, a bruxa de Wapping. Era uma garota doce, tão doce que chegava a ser suspeito, assim como a reputação de sua família, que possuía uma longa linhagem de bruxos das trevas. Seus cabelos dourados formavam ondas perfeitas, como uma pequena princesa vitoriana. Possuía cílios enormes que ressaltavam os brilhantes olhos perolados. Os lábios eram naturalmente rosados, assim como as bochechas. Todo seu rosto era simetricamente harmônico, quase como se fosse pintado à mão por um artista da renascença.

— Tudo bem, eu não queria que soubessem mesmo. Pena que algumas pessoas não sabem deixar a boca fechada. — Evangeline fuzilou Samantha com o olhar.

— Que foi? Você não disse que era um segredo. — Samantha respondeu despreocupada. — Ah é, e parabéns.

— Qual o problema das pessoas saberem? — perguntou Amélia enquanto lia suas anotações.

— Gosto de evitar distrações, e também tem essa atividade de transfiguração, é melhor manter o foco, não acha?

— Faz sentido pra mim. — a garota concordou.

A aparência de Amélia Coral era inabalável, assim como sua voz. Tinha uma pele escura, olhos castanhos claros, grandes e penetrantes. Seu cabelo era liso e volumoso, loiro escuro. Possuía uma franja rala dividida ao meio que ia até metade da bochecha, e quase sempre usava um penteado amarrado numa longa trança que a garota costumava deixar de lado, sobre seus ombros. Seus traços eram completamente miscigenados e diversificados, mas a descendência indiana era muito evidente. Uma bruxa sociável e direta, sem dúvida era mais confortável ficar na presença dela que da de Louise.

— Está quase na hora do café da manhã, vamos? — Louise sugeriu com um sorriso, este que ao mesmo tempo parecia denunciar seu cansaço pela transfiguração.

— Podem ir na frente, eu preciso fazer uma coisa antes. — respondeu Evangeline indo em direção ao dormitório, enquanto as bruxas saíam da masmorra.

A garota precisava pegar o seu livro, não saía mais sem ele, achou até arriscado ir para o salão sem ele. Estava obcecada, quase paranoica, e completamente ansiosa com tudo que acontecera. Os Weasleys, abrir a caixa, sair escondido, quebrar o braço de Olívio Wood, tudo isso enchia sua cabeça. Além disso, não parava de pensar no Natal, não estava tão próximo, mas só a lembrança de encontrar os amigos completamente idiotas de Agatha dava náuseas, preferia mil vezes passar o natal só com seu elfo. Estava prestes a entrar no quarto quando fora interrompida por Jensen Moore.

— Hill! Então é mesmo seu aniversário, hein? — o garoto disse com seu sorriso cínico de sempre, parecia estar escondendo alguma coisa nas costas, algo que Evangeline rapidamente perdeu o interesse.

— Você ouviu? Droga Samantha... — murmurou.

— Digamos que eu só precisava de uma confirmação... Nós deveríamos comemorar! — disse o garoto apoiando o cotovelo nos ombros da bruxa.

— E eu vou. Na biblioteca, sozinha, com meus livros, em perfeita paz. — concluiu a bruxa retirando, com a ponta dos dedos, Jensen de seus ombros. — Não é isso que você queria? Paz? Agora me deixa passar.

— Nossa, você é tão sem graça. Sua mãe não ficaria nada contente com essa atitude. — Jensen disse se escorando na parede, abrindo passagem para Evangeline.

Evangeline estava prestes a entrar, mas ao ouvir aquele comentário parou subitamente.

— Dá pra parar de falar da minha mãe como se a conhecesse? Não sabe nada sobre a gente.

— Eu sei mais do que você pensa, nunca teria falado com você se não soubesse. Sua mãe nunca te contou sobre a vida dela em Hogwarts?

— Por que ela me contaria? De nada importa pra mim o que ela fez no passado. — a bruxa estava intrigada, no entanto, só de precisar conversar com o garoto sentia uma profunda irritação. Era uma tarefa difícil, e manter a calma era mais difícil ainda. — Se quer me dizer alguma coisa diga logo.

— Os Hill são muito amigos dos Moore, nunca percebeu isso? — Jensen deu uma risada abafada. — Desculpe... Esqueci que você não é realmente da família, não teria como você saber disso.

— Saiba que eu só guardo informações importantes na minha cabeça, e saber o nome dos amigos estúpidos da minha mãe pouco me importa. Mas obrigada, Moore, agora a estupidez está justificada. — alfinetou Evangeline com a mesma expressão de sempre, o que visivelmente perturbava Jensen.

— Não te incomoda não ter uma origem, Hill? — Jensen se aproximou da garota, claramente estava zangado. No entanto, o seu tom assumia uma falsa preocupação carregada de sarcasmo. — Não incomoda saber que foi abandonada? Que talvez possa ser uma sangue-ruim?

Evangeline o encarou sem dizer uma só palavra, era custoso manter-se paciente com as frases que Jensen defecava. Mas ela não daria a satisfação da fúria para o garoto, saberia que se o fizesse, ele ganharia.

— A minha teoria é que quando você nasceu, seus pais ficaram com tanta vergonha que te largaram pra morrer. Tadinha... — disse o garoto alisando o cabelo de Evangeline que logo deu um tapa em sua mão, não que fosse muito eficaz já que os braços da bruxa pareciam dois palitos de dente, mas foi o suficiente para que Jensen tirasse a mão.

— A sua vida deve ser muito triste pra você falar tanta bosta assim. Eu não estou nem aí para o que aconteceu com os meus verdadeiros pais. — mentiu Evangeline. — A Agatha é a minha mãe, ela me criou, e isso que importa.

— Tudo bem, não precisa fingir. Somos amigos lembra? Pode ser honesta comigo. — disse ele com um sorriso amarelo. — Falando nisso, tenho um presentinho pra você.

— Uma carta te expulsando de Hogwarts?

— Você é tão engraçada, Hill. Mas é algo que realmente você vai gostar, acredite. — Jensen finalmente mostrou o que estava escondendo, e por um segundo, Evangeline arregalou os olhos.

— Confesso que foi bem difícil achá-lo nas suas coisas. — disse o bruxo segurando o livro de Merlin com desprezo. — Arranquei algumas páginas velhas e sujas, sabe, pra melhorar a leitura. Um grande presente, não? Você é tão desorganizada, deveria me amar por isso.

Evangeline respirou fundo e olhou diretamente para o livro.

— Diga-me, Moore, qual é o seu propósito? Você tem inveja de mim, por isso faz essas coisas? Isso é lamentável.

— O que foi? Não gostou? — Jensen fingiu decepção. — Uma pena, eu realmente queria te agradar...

Lacarnum Inflamarae! — a bruxa rapidamente ateou fogo ao livro que logo se desfez em cinzas, fazendo com que Jensen o largasse imediatamente e quase queimasse a capa.

— FICOU MALUCA?! — exclamou o garoto sacudindo as mãos devido ao calor.

— Isso é o que acontece quando tentam me enganar, mas foi um belo trabalho de transfiguração. Seu irmão que fez isso pra você, né? Até porque você nunca teria capacidade. Agora sai da minha frente. — Evangeline entrou no quarto ignorando a reação de Moore e pegou seus pertences.

Ao mesmo tempo em que estava indignada com o que acabara de acontecer, achava toda a situação engraçada. Como Moore se atreveu a menosprezar tanto assim sua inteligência? Ele realmente achou que ela ia acreditar que aquele era o seu livro? De qualquer forma, quando saiu o garoto já não estava mais lá.

Evangeline foi em direção ao salão principal, sua expressão denunciava seu descontentamento com o que acabara de acontecer. E com certeza enviaria uma carta para Agatha, com sinais evidentes de insatisfação. Apesar da relação levemente conturbada, a bruxa tinha seus direitos como filha, como por exemplo, saber por que Jensen é tão idiota ou qual a real ligação que os Moore tinham com os Hill. Não acreditava nessa tal amizade que Jensen havia descrito, apesar disso explicar o motivo dele saber da adoção e da personalidade de Agatha. Era perturbador pensar que o garoto sabia de algo e ela não, era basicamente um tipo de humilhação, e isso martelava na sua cabeça sem parar.

Levemente emburrada, a bruxa se sentou ao lado de Samantha. E enfiou uma grande colherada de pudim de chocolate na boca, sem dizer uma só palavra.

— O clima esfriou ou é impressão minha? — zombou Samantha numa tentativa fracassada de amenizar o ambiente.

— Talvez não seja a melhor hora para piadas... — Louise disse num tom inocente, um pouco envergonhada.

Samantha deu de ombros e o silêncio perpetuou por parte de Evangeline.

O correio não demorou a chegar, corujas de todos os tipos adentraram o salão. E dentre elas uma muito específica e incomum, cinzenta, provavelmente a maior de todo o salão principal. A cabeça também era enorme e as caudas longas, os olhos eram amarelos com círculos negros ao redor, que contrastavam com as bem marcadas manchas brancas em formato de lua acima do bico. Evangeline logo identificou, era Gaia, a coruja-lapónica velha e rabugenta de Agatha.

Ela trazia o que parecia ser um pequeno embrulho de presente na cor preta, com um laço dourado rebuscado. Ao contrário da maioria das corujas, que simplesmente arremessavam os itens que traziam, Gaia pousou primorosamente a caixa em frente à Evangeline. Era pequena, media mais ou menos um palmo, e analisando mais de perto, pode-se notar que o laço era de seda e formava um arranjo semelhante a fractais. Também havia uma carta minúscula pendurada no tecido, que aumentou de tamanho assim que Evangeline a pegou.

— Quanta classe! — a coruja agitou suas penas ao ouvir o comentário de Amélia.

— Minha mãe consegue ser bem habilidosa em coisas inúteis... — Gaia quase arrancou um pedaço do dedo de Evangeline ao testemunhar tal frase. — Mas que galinha maldita! — a ave esnobe se virou de costas para a garota.

O envelope da carta era de um papel envelhecido, mas em ótimas condições, não possuía uma só imperfeição, era limpo com detalhes em relevo. Além de possuir um lacre de cera vermelho com um "A" e um "H" escrito em letras medievais. Típico de Agatha. Louise, Amélia e Samantha observavam curiosas tanto a caixa quanto a carta, ao contrário de Evangeline que ainda estava incomodada com seus pensamentos acerca dos Moore.

Estava escrito na caligrafia impecável de Agatha:

"Minha querida e doce Evangeline, os seus doze anos finalmente chegaram. Graças a esse importante acontecimento, estou presenteando-lhe com um item muito especial para os Hill. Ele a conhece mais do que você mesma, portanto, use-o com cuidado.

Além disso, a festa de Natal desse ano será comemorada em grande estilo. Será um ilustre reencontro e exijo um bom comportamento, mocinha.

Ass: Agatha Hill."

— Por que tenho quase certeza de que sei quem ela vai convidar? Nunca desejei tanto estar errada... — sussurrou Evangeline para si mesma, paranoica, massageando a testa e respirando bem fundo, enquanto premeditava o pior. Se Jensen queria brincar com a sua mente, ele conseguiu.

— Qual o problema, Evangeline? — perguntou Samantha com um minúsculo tom de preocupação.

— Acho que eu vou ter o pior natal da minha vida. — Evangeline respondeu com desgosto.

— Meus pêsames... — lamentou a garota com uma expressão de nojo. — Mas ainda tem esse presente aí, vai que compensa. — disse a bruxa apontando para o embrulho que Evangeline quase se esquecera da existência.

— É bom compensar mesmo. — concluiu com todo seu mau humor momentâneo.

Desfazendo o laço sem cuidado algum, Evangeline recebeu um olhar ranzinza da coruja. Aquilo era praticamente a Agatha em forma animal.

A caixa era forrada com organza prateada, e nela havia um item que se assemelhava a um relógio de bolso antigo. Era dourado e polido, sua proteção possuía detalhes em alto relevo de runas nas extremidades, e uma espécie de rosa dos ventos no centro onde havia uma pedra com um brilho interno azul escuro que formava lentamente uma galáxia. As quatro principais pontas da rosa eram maiores que o objeto em si, e no fim de cada uma havia um quartzo, sendo a maior ponta a do norte, assim como a joia em sua extremidade, proporcionalmente esse cristal correspondia à metade da base do item.

— Eu não sei o que é isso, mas certamente compensou. — Samantha disse ao espiar o presente. — Como sempre, eu estava certa.

— Como se beleza fosse tudo... — reclamou Evangeline.

Evangeline retirou o objeto da caixa com cuidado, percebendo também que havia uma corrente invisível amarrada a ele, quando a bruxa mexia o item nas mãos era possível senti-la. A textura lembrava um colar de diamantes, mas por mais que a garota tentasse, não conseguia enxergar.

Ao analisar o item com mais atenção, percebeu que na parte de baixo havia um compartimento secreto, que automaticamente se abriu no momento em que Evangeline o olhou com mais atenção. Nele existia uma chave minúscula, mais ou menos do tamanho da metade do mindinho da garota. O objeto era ornado de uma ponta a outra, tão bem decorado que nem parecia uma chave. O seu corpo era trançado com pedras preciosas e em cima havia ornamentos que lembravam várias sereias. A parte de baixo parecia uma coroa que seguia o trançado do corpo, nada semelhante a uma chave convencional, além disso, dava a impressão que seu formato mudava o tempo todo.

A bruxa pegou a chave e procurou alguma entrada para ela no objeto, mas não encontrou nenhuma. Quando notou que a galáxia que havia no centro da rosa dos ventos deu lugar a uma fechadura, que assim como a chave, também mudava constantemente o formato.

Ao destrancar a galáxia sem problema algum, a proteção, que antes parecia um relógio de bolso, abriu-se e deu lugar a uma bússola. No meio havia um vidro transparente que mostrava engrenagens mágicas em movimento constante. Nas extremidades, ao invés de possuir números, existia uma Vegvisir. E a agulha magnética era de um azul brilhante bem claro, e estranhamente não apontava para o norte.

— Ótimo, mais um item mágico que eu não sei usar. — Evangeline resmungou para si mesma, mas não conseguiu esconder que estava maravilhada com a bússola. — Amélia, pode me emprestar a sua pena?

— Claro. — afirmou Amélia tirando a pena de trás da orelha e oferecendo para a bruxa.

Evangeline pegou novamente a carta a fim de tentar formular uma resposta educada.

"Mãe, só queria informar que neste ano devo passar o Natal em Hogwarts, será realmente uma pena perder o tão belo reencontro. Sinto muito por isso.

E é uma bela bússola, eu gostaria bastante de ter uma explicação mais bem detalhada sobre ela.

Também conheci Jensen Moore, pode me contar mais sobre eles?"

Evangeline entregou a carta para Gaia, que rebolou e saiu voando com toda sua classe.

— A Milla não está na mesa da Corvinal... O que aconteceu? — Evangeline perguntou olhando ao redor, enquanto se embaralhava com as correntes invisíveis da bússola.

Samantha deu de ombros.

— Estudando, talvez? Corvinos fazem isso.

— Ela não avisaria? — a bruxa perguntou desconfiada, Milla nunca perdia o café da manhã, além de sempre enviar aviõezinhos de papel para Samantha e Evangeline durante o ato.

— Ela não é obrigada a avisar nada, desde quando se preocupa? — Samantha respondeu indiferente com a situação, o que aborrecia um pouco Evangeline.


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