Conversas constrangedoras. Quem nunca? Eu sempre pensei que a pior da minha vida fosse ser quando meus pais decidissem falar sobre sexo comigo, mas é aquilo: pensar não é poder – ou algo do tipo. Nesse exato momento eu estou passando pela pior conversa do mundo com ninguém menos que meu adorado namorado James. Tudo começou quando Black – tinha que ser ele – decidiu deixar escapar, como quem não quer nada, que eu tinha perdido minha virgindade com o Amos, um antigo amigo do bairro que mudou de cidade há uns três anos. O problema é que James e Amos se odiavam, e pelo jeito o sentimento persiste ao tempo.

— Com o Amos Lily? – Perguntou exaltado sentando na minha cama pela terceira vez. Parecia não ver que tinha coisas melhores para fazer no meu quarto do que ter essa discussão.

— Você sabia que eu não era virgem James. – Falei irritada.

— Verdade, mas eu achei que tivesse perdido com o babaca do seu ex. Nunca imaginei que fosse com o Amos, eu nem sabia que vocês tinham namorado. Que dedo podre o seu era.

— Eu vou ignorar essa última afirmação para o seu próprio bem Potter. – Rosnei e ele pareceu voltar a realidade com o seu sobrenome sendo proferido e se acalmou um pouco. – Nós não namoramos, foi só uma... transa. – Murmurei baixinho.

— Só uma transa? Você decidiu perder sua virgindade com um babaca desse sem nem estar namorando? – Perguntou se levantando e começando a andar pelo quarto, me fazendo sentir aquela coceira na mão para espanca-lo.

— Você perdeu a sua com uma namorada? – Devolvi a pergunta e pude observá-lo tropeçar no nada ao ser pego de surpresa.

— Nós estamos falando de você aqui Lily. – Respondeu depois de algum tempo em silêncio. – Como isso aconteceu afinal? Com o Amos? – Continuou incrédulo. Não parecia que cansaria de repetir o nome de Amos tão cedo.

— Nós não vamos falar sobre isso James. – Falei indo em sua direção e tentando beijá-lo e sendo completamente rejeitada.

— Eu quero falar sobre isso. – Respondeu me puxando para a cama e sentando de frente para mim, esperando como uma criança ansiosa pela história da branca de neve.

— Mas eu não quero. – Respondi seca. – Olha, isso está no passado, rolou uma vez e não vai rolar mais. – Repeti suas palavras com a voz mais rouca que consegui reproduzir, e tenho que admitir que ficou bem tosca e decepcionante.

— Qual fooooi Lily, eu te conto qualquer coisa que você quiser saber. – Pediu.

— Eu não quero saber sobre suas inúmeras transas com piranhas diferentes. – Vociferei. – E não sei por que você quer saber.

— Não precisa ser sobre isso. Eu posso contar histórias vergonhosas que eu passei com os meninos. Pode perguntar ao Sirius qual é A história e eu conto ela para você.

— Black. – Rosnei me lembrando do ser que trouxe a discórdia. – Como raios ele soube que eu perdi a virgindade com o Amos?

— Ele tem seus contatos. – James respondeu dando de ombros como se fosse normal Black ter esse tipo de informação. Um pequeno calafrio subiu pela minha espinha ao pensar no tipo de informação que ele ainda poderia fornecer para James. – Mas e ai? Vai contar?

— Você é doente James. – Conclui ao observar seus olhos de gatinho abandonado fazendo um pedido absurdo daquele. – Ta, eu conto. Mas você vai ficar me devendo uma, e das grandes. – Aquela não era uma história glamorosa e que pudesse ser contada com algum orgulho. A minha primeira vez tinha sido um desastre. – Foi horrível.

— Foi com o Amos, você esperava o que? – Perguntou feliz demais com a péssima primeira vez da namorada, ou no caso o desempenho do meu parceiro. Eu desferi um tapa na sua cabeça. – Ok, desculpa. Mas é verdade. – Murmurou baixinho a última parte e eu acertei seu braço dessa vez. James riu e levantou os braços em rendição. – Pode continuar, mas tem que contar direito. Porque foi ruim? Doeu?

— Claro que doeu James, não haja como se não tivesse experiência com a situação. – Reclamei e ele desviou o olhar. – Ele agiu como se estivéssemos em um filme pornô e fez umas coisas estranhas.

— Tipo? – James perguntou curioso.

— Tipo uma encenação. Ele se trocou no banheiro e apareceu de sunga no quarto. – Contei com pesar me lembrando da situação. – Ele tinha um piercing no mamilo.

— Ele o que? – James perguntou engasgando com a própria saliva.

— Um piercing. Não ficava mal, só não era o que eu esperava ver antes de dar pela primeira vez. – James ria, mas eu decidi continuar para acabar o mais rápido possível. – Ele veio pra cima de mim e me beijou, mas eu acho que ele não conhecia muito bem o conceito de beijo de língua porque ele mais tentava mastigar a minha boca do que colocar a língua. Então ele ficou vinte minutos para abrir o meu sutiã, que no fim eu tive que abrir, e mais vinte para colocar a camisinha e tudo para ele durar quinze segundos.

James me encarou em choque durante exatos três segundos antes de voltar a rir ao ponto de chorar. Eu quase acompanhei na parte do choro, mas escolhi esconder o rosto no travesseiro já que não tinha buraco nenhum no chão para eu me enterrar. Esse tipo de história não é algo que se conte para seu atual namorado, ainda mais quando ele era James Potter, o ser mais irritante do mundo – talvez perdendo só para o Black – que não esquecia situações como essa nunca. Até hoje ele me lembrava do dia que apareci bêbada na sua porta para um convite normal de jantar.

— Quinze segundos. – James berrou pausadamente entre uma risada e outra.

—James, você ta me deixando mal aqui. – Reclamei quando percebi que ele não parecia perto de parar.

Ele parou aos poucos e foi nesse momento que eu percebi que ele realmente gostava de mim. Eu provavelmente estaria no mesmo estado se a história tivesse sido contada por qualquer outra pessoa, mas ele tinha parado. Fofo.

— Desculpa, não foi minha intenção te deixar mal. – James me puxou para seu colo e me deu um abraço. – Até porque você já tem motivos para se sentir assim sem a minha ajuda.

— James! – Berrei irritada tentando me afastar, mas ele só me apertou mais impedindo meus movimentos.

— Relaxa. Eu vou te fazer esquecer isso agora mesmo. – Ele sussurrou no meu ouvido e eu me arrepiei. Mas o que veio a seguir não era o que eu esperava. – Eu te amo Lily.

Como uma boa pata que eu era eu paralisei. É verdade que ele já tinha dito isso para mim antes, mas era a primeira vez que ele dizia desde que começamos a namorar. Dessa vez eu podia acreditar e me emocionar – sim, eu quase chorei.

— Eu também te amo. – Falei fungando - para evitar uma cena patética que seria cair nas lágrimas e dar outro motivo para James rir de mim - e então o beijando, para agora quem sabe fazer aquilo pelo qual eu estava esperando desde que entramos no quarto. Ele tinha razão, eu estava feliz demais para me importar e ficar lembrando o que tinha acontecido na minha primeira vez.

Afinal, quem liga para o fato de que eu passei mais tempo sangrando do que transando na minha primeira vez?