Blood Moon escrita por K Valentine


Capítulo 3
Chapter III - RULES


Notas iniciais do capítulo

♦ Finalmente veremos o que aconteceu com o encontro dos dois!
♦ Leiam o capitulo ouvindo a música "Meet John Constantine" do Brian Tyler com Klaus Badelt, que está disponível na playlist da história (link nas notas finais).

Se você é leitor(a) novo(a), favorite, acompanhe a história e não deixe de comentar o que está achando!

Divirtam-se! ♥



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Scott Wattkins
23 de maio de 2062 – 08:06 PM
Segundo andar do Castelo

***

Ela fica paralisada quando se dá conta da minha presença. Pensei que sentiria medo, mas na verdade está surpresa e um pouco decepcionada. Não parece mais estar sob efeito dos tranquilizantes, como quando a deixei no quarto essa madrugada. Continuei encarando-a sério. Acordei a pouco e espero que não tenha destruído minha casa, caso contrário não respondo por mim.

— Desculpe. – ela desvia o olhar de mim e volta para a janela. – Pensei que fosse a única aqui nesse... – faz uma pausa de alguns segundos. – Castelo. Mas agora me lembro que você é meu comprador.

O que ela pensa ou deixa de pensar definitivamente não me importa. A única coisa que preciso agora é impor algumas coisas para evitar qualquer tipo de problemas para o meu lado. Farei isso também como uma forma de testá-la. Estou arriscando demais. Se não der certo, algo sair do meu controle e ela não cooperar ou tentar testar minha paciência, morre.

— Venha comigo, agora. – ordeno, ignorando completamente suas palavras e vou andando na frente. Black Veil sai de frente da janela, ainda enrolada na coberta e me segue a contragosto. Desço as escadas e me sento na ponta da mesa, de frente para a entrada. Agora, as luzes estavam acesas. – Você é sempre tão lenta assim? – ergo uma sobrancelha observando-a andar calmamente pelos degraus. Nunca vi ninguém mais devagar na minha vida.

A moça me fuzila com seus olhos acinzentados, mas não rebate minha fala e se senta ao meu lado, cruzando os braços, contrariada. Seu cabelo está levemente bagunçado, o que me deixa um pouco incomodado e com vontade de arrumar, mas deixei para lá. Ela pelo visto também não notou isso.

— O que você quer afinal? – pergunta, sem olhar para o meu rosto, mas percebo que analisa as tatuagens em minhas mãos.

— Estabelecer regras. – entrelaço os dedos e pouso minha mão no tampão. – Mas primeiro me responda, o que andou fazendo na minha ausência?

Ela descruza os braços e olha para baixo, pensando na melhor forma de me responder.

— Eu cozinhei e comi quase tudo que estava na geladeira e depois fiquei lendo um livro na biblioteca.

— Só isso? – me surpreendo, não é possível!

— Sim. – finalmente me olha. - O que mais queria que eu fizesse? Todas as portas de saída estavam trancadas... – dispara, de forma ríspida.

— Espero que você esteja dizendo a verdade porque eu detesto – dou ênfase nessa palavra. -mentiras.

— Se tiver câmeras espalhadas por aí, vai comprovar o que estou dizendo. – volta a olhar para frente.

Isso foi uma espécie de insulto? Desde quando eu preciso de câmeras para me dizerem o que acontece ao meu redor? Faça-me o favor!

— Enfim...

— Você não perguntou, mas meu nome é Victoria. – diz, ficando incomodada por me referir à ela apenas usando "você".

— Não perguntei porque isso definitivamente não me interessa.

— O que disse?! – me olha, perplexa com que acabo de dizer. Não me interessa mesmo, ué!

— Como eu estava dizendo, - a ignoro mais uma vez. - para evitarmos problemas, é de extrema importância que você siga corretamente as regras. Se algo sair fora do determinado, haverão desagradáveis consequências.

— Isso é uma ameaça?

— Não, uma afirmação. Você está na minha casa e vai viver sob minhas normas. E não venha me perguntar o motivo delas, tem que ser assim e ponto final. – ela volta a cruzar os braços e eu continuo. - Se não tem mais interrupções desnecessárias a fazer, deixe-me continuar. Eu costumo ficar ausente durante o dia...

— Você sai para trabalhar? – ela me corta e eu dou um soco na mesa, o que a assusta.

— O que faço definitivamente não é da sua conta. – digo, um pouco irritado. - Posso prosseguir ou vai continuar me interrompendo? – olho profundamente dentro de seus olhos esperando a resposta.

— Pode prosseguir, desculpe. - diz acuada e desvia o olhar para baixo.

— Pois bem, continuando... Nesse período, você pode sair e andar pelas redondezas do castelo. – a moça me olha, surpresa. - Para poupar seu tempo, já lhe aviso que não conseguirá fugir. Tente e comprovará o que digo. Mas todos os dias, impreterivelmente, deve estar de volta às seis da tarde. Nenhum minuto a mais.

— Tudo bem.

— Para saber que horas são enquanto está lá fora, aqui está. – coloco em cima da mesa um relógio de bolso dourado, com o fundo branco, ponteiros pretos ornamentados e números vinhos na escrita romana.

Ela pega o objeto e olha como se fosse algo de outro mundo. Não sei qual a surpresa, já que isso existe há séculos.

— Durante a noite, – continuo. – nunca, jamais, em hipótese nenhuma, saia daqui de dentro, entendeu?

— Sim. – concorda, ainda observando maravilhada as partes do relógio.

— De qualquer forma, as portas que dão acesso à parte externa estarão trancadas. E mais uma coisa, nada de destruir a casa, até mesmo porque agora você também mora aqui. Tudo que sujar, limpe, o que desarrumar, arrume de volta como encontrou. Não deixe coisas espalhadas no caminho, detesto bagunça.

— Vai querer que eu faxine essa casa imensa também? – me olha esquisito, com o cotovelo direito escorado na mesa e a mão na testa.

— Isso não será necessário.

— Ufa. – coloca a mão direita no peito e suspira aliviada. – Você tem empregadas que limpam e cozinham?

— Não.

— Como mantém tudo limpo então?

— Pare de fazer perguntas idiotas e preste atenção, porque não sei se você notou, mas ainda não terminei! Vou comprar mais comida e deixar tudo na cozinha. Você se vira no preparo. É para se alimentar direito, ouviu bem? Faça as refeições corretamente e jamais fique horas sem comer.

— E o que eu vou vestir? – ela continua perguntando.

— Nos armários do quarto que você está terão roupas. Para finalizar, a partir de agora não faça perguntas e não se meta em assuntos que não te dizem respeito. Fique na sua, seja discreta e finja que nem mora aqui se possível. Bom... – penso se não há mais nada a dizer. - Isso é tudo, terminamos essa conversa por aqui.

— Terminamos? Espera ai! Se é só isso, então por que me comprou? O que quer de mim? – ela me olha sem entender.

— Óh, isso são perguntas? – sou irônico e levanto-me.

Ela me olha por alguns segundos dos pés à cabeça. Antes isso não foi possível por causa da escuridão do corredor. Eu visto calças jeans e uma jaqueta de couro por cima da blusa lisa, além de coturnos nos pés. Tudo na cor preta.

— Sim! – diz, como se fosse óbvio e não entendendo minha ironia. - Eu tenho direito de saber!

— Não é da sua conta. – dou as costas e saio andando.

Victoria continua sentada à mesa, olhando para o nada e tentando processar tudo que ouviu. Por um momento pensei que viria atrás de mim querendo mais respostas, mas estava tão perplexa que essa não foi sua reação. Achou que eu a escravizaria das mais diferentes maneiras. Afinal, é para isso que os caras compram as mulheres no leilão. Mas o meu objetivo é completamente outro.

Vou para meu escritório, entro e tranco as portas para não ser incomodado, agora que tenho companhia. Quero evitar qualquer tipo de contato com ela, a não ser o necessário e o inevitável. Será melhor assim para nós dois. Sento-me na poltrona vinho, localizada em frente a lareira e penso nas coisas que aconteceram de ontem para hoje.

Mais uma vez me pergunto se estou fazendo a coisa certa. Comprar uma fonte – um ato necessário em prol de meus gostos refinados – foi a alternativa que encontrei para me poupar de muita coisa... O fato é que não quero mais me desgastar indo até a cidade toda vez que a fome clama. Pela primeira prova já foi possível perceber que fiz a escolha certa. Meu paladar agradeceu. Há tempos não encontrava tamanha pureza. Foi um pouco estranho por ela estar drogada, mas consegui sentir o suficiente.

Se tudo sair como planejei, creio que não terei problemas com a Camarilla, já que não pretendo violar a Primeira Tradição e revelar a ela minha verdadeira natureza. E mesmo se isso acontecer, aplico a Ordenação de Esquecimento e tudo volta ao normal.

Por um momento temi que Black Veil... Victoria... Enfim! Fosse agressiva ou se revoltasse comigo por defesa ou medo de que eu fizesse algo contra sua vontade. Mas não. Apesar de indagar muito, ela até que recebeu bem as regras. Espero que não fique entediada o bastante a ponto de começar a prestar atenção em mim demais e a partir daí questionar meus atos, além de outras coisas que não poderei responder por motivos óbvios.

Agora, preciso espera-la dormir para ir até a cidade comprar comida. Não me recordo de qual foi a última vez que aquela dispensa ficou cheia. Eu nem sei direito mais fazer compras, só tenho uma vaga ideia do que preciso trazer e acho que será o suficiente para que se alimente bem. Ela anêmica ou fraca não tem valia nenhuma para mim.

Fico no cômodo por quase uma hora, imerso em pensamentos de como as coisas vão ser daqui para frente, o que preciso fazer... Até que caio em mim percebo que a casa está calada demais. Decido sair para ver o que ela estava fazendo.

Abro a porta. Na mesa de jantar, Victoria não está mais. Vou até a cozinha silenciosamente e esse cômodo também estava vazio. Paro e me concentro. Consigo ouvir as batidas de seu coração vindas de minha direita. Na certa está na sala ou na biblioteca.

Aproveito o fato de estar aqui e abro a geladeira para ver o que sobrou do que comprei essa madrugada, antes de chegarmos aqui. Vem a minha mente a possibilidade de um dos ratos de esgoto ter me visto dentro do carro junto com ela, já que eles sempre se mantêm surpreendentemente atualizados quanto aos assuntos da cidade.Desde que não saibam sobre o lugar que a encontrei e para onde trouxe, não há nada de mais para fofocarem por aí.

Scott Wattkins
24 de maio de 2062 – 02:37 AM
Loja de conveniência 24h
Região central de Ketterscut

***

Ovos, leite, legumes, frutas... Eu fico meio perdido no que mais pegar. Definitivamente não sirvo para fazer compras. Nunca servi. Olho as prateleiras enfileiradas durante vários minutos, na maioria das vezes pegando produtos e pensando "quem foi que teve a ideia de industrializar isso?".

O estabelecimento está vazio. Eu sou o único cliente aqui dentro. Também pudera, por causa do horário. Entrei na primeira loja que vi aberta no meio de um quarteirão. As demais eram em postos de gasolina e menos discretas que essa. Apesar de não ser muito grande, se assemelha com um mercado e creio que encontrarei tudo que necessito.

— Posso ajudá-lo? –surge uma moça sorridente de uns vinte e poucos anos atrás de mim.

De início eu fico meio apreensivo se deixo ou não ela me auxiliar, mas estava realmente confuso e baixo a guarda. Viro-me para ela.

— Sim, por favor. – dou um curto sorriso sem mostrar os dentes. – Minha empregada está de férias e não faço ideia do que mais posso comprar... – minto e pela reação da menina, acho que fui convincente. - Esse trabalho é sempre dela e minha dispensa está vazia.

— Bom, vejamos o que o senhor já tem aí na cesta. – ela se aproxima para olhar e eu estico o objeto para dar melhor visibilidade. – Está esquecendo da carne, pão, temperos, grãos... Uma bebida também!

— Tem razão.

— Venha. – ela me conduz até um pequeno freezer horizontal. – Aqui tem boi, frango, peixe. Deseja carne de porco também? – me mostra um pedaço embalado.

— Sim, por favor. – pego de suas mãos e coloco junto com os demais itens.

Andamos ao redor do estabelecimento e ela vai pegando as coisas que lembra. Eu não contestei nada, afinal deve saber o que está fazendo. Qualquer ser humano saberia.

— Bom, acho que isso é tudo. – diz depois de passarmos por todas as prateleiras.

Sigo até o balcão para saldar minhas compras e a moça embala as que o homem do caixa regista. Quando ele termina de processar meu cartão e o pagamento é efetuado, pego as sacolas e saio de lá.

Mais ou menos dois metros à direita da porta de entrada da loja de conveniência, estava uma rodinha de adolescentes arruaceiros conversando, bebendo, fumando e rindo de maneira escandalosa. Viro à esquerda para chegar até o carro estacionado perto dali, ignorando completamente a presença deles.

— Wattkins! – um dos caras me chama e os demais se calam. Eu paro, porém continuo virado de costas. – Agora seu paladar refinado consome esse tipo de merda?

— Por que a ralé sempre se mete onde não foi chamada? - viro-me para o bando, lançando um olhar aterrorizante. Os outros saem correndo tomados pelo medo, sobrando apenas o que me chamou, visivelmente apavorado. – Saia do meu caminho, Brujah. – fixo ainda mais o meu olhar no dele, que rosna e foge depressa.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam do encontro dos dois? Sei que dúvidas devem estar rolando soltas na cabeça de vocês, mas afirmo de novo que tudo será esclarecido! Enquanto isso, curtam o suspense! hahaha

Me contem tudo que estão achando nos comentários! ♥

♦ Eventualmente, se aparecer alguma palavra ou expressão que possa surgir dúvida e não for explicada no contexto, colocarei o significado aqui nas notas finais.

~ Playlist de Blood Moon no Spotify: https://open.spotify.com/user/itsleticialima/playlist/1WO2MkzP7UWe0paru0dYn1
A primeira música da lista, We Don't Belong Here do BVB, é a que eu imagino ser a trilha sonora da introdução da fanfic. Sigam, ouçam e me contem o que acharam!



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