— É isso, não é? - Kuroumaru repetiu a pergunta - Você se apaixonou por outra garota. Estou certo?

Yoko piscou surpresa e emudeceu. Ela virou o rosto para o lado e ficou quieta por vários segundos. Certamente não esperava por essa pergunta. Quando Touta começou a perder a paciência e abriu a boca para começar a interrogá-la também, ela falou:

— Puxa, eu enrolei tanto, e mesmo assim você percebeu esse detalhe - ela esboçou um sorriso e forçou-se a encará-los - Sim, eu me apaixonei por outra garota.
— Pela sua cara, não acabou bem - Touta observou.
— Não acabou porque não tem nem o que começar. É um amor impossível - ela deu de ombros.
— É alguém que conhecemos? - Kuroumaru perguntou.
— Se conhecem o Fate, então acho que já devem ter ao menos ouvido falar no nome dela - Yoko respondeu - Tsukuyomi.
— Tsukuyomi… não é o nome daquela garçonete psicopata que lutou contra o Ikkuu-senpai no aeroporto uma vez?! - Touta lembrou - Por que você gosta de alguém como ela?
— Por que você gosta de alguém como o Kuroumaru-kun, sendo que ele não tem sexo definido? - Yoko devolveu a pergunta - Não podemos escolher quem amamos, Touta-kun. Simplesmente acontece.
— Certo. Então "simplesmente aconteceu" de você se apaixonar por uma assassina maluca. Tudo bem - Kuroumaru passou a mão pelos cabelos, tentando absorver a informação. Ele já tinha embainhado a espada de volta. Depois de escutar aquilo, lutar era a última coisa que ele queria no momento - Se é assim, então por que você não está com ela? Aquela mulher também trabalha para o Fate, não é?
— Não é tão simples assim - Yoko respondeu - Só porque trabalhamos juntas, e moramos perto uma da outra, não significa que podemos ficar juntas.
— Por acaso o Fate… ele proibiu vocês de se relacionarem? - Touta perguntou.
— Na verdade não - ela disse - Contanto que façamos nosso trabalho direito, ele não se importa com o que fazemos com a nossa vida pessoal.
— Então qua é o problema? - Touta perguntou sem entender.
— Imortalidade pode ser algo grandioso para vocês, e muito conveniente também… a regeneração instantânea vem de "brinde" junto - Yoko comentou melancólica - No dia que Fate me trouxe, quando eu ainda era apenas uma criança, Tsukuyomi já trabalhava para ele. Quando Fate não podia cuidar de mim, era ela quem me treinava. Eu tentei aprender a usar todo tipo de armas que se possa imaginar. Espadas, pistolas, machados, chicotes, metralhadoras… mas nada deu certo. No início, eu fiquei deprimida e com medo de ser mandada embora, mas depois comecei a ficar com raiva. Por que raios eu não conseguia me adaptar a nenhum tipo de arma sequer? Céus, aquilo me irritava tanto! Comecei a sentir ódio de mim mesma por ser tão inútil… até que tive um ataque de raiva e quebrei todos os objetos do quarto onde eu dormia, até mesmo os móveis, apenas na força bruta, até reduzir tudo a pó. Foi quando descobri que o meu talento era lutar em batalhas corpo-a-corpo. Tsukuyomi me treinou e se tornou minha parceira de luta. Ela me ensinou vários truques… tudo o que vocês possam imaginar… ah, é mesmo, vocês ainda são muito inocentes, então provavelmente não podem imaginar - ela deu uma risada - Depois que me tornei forte o suficiente, passamos a ir juntas na maioria das missões. Eu costumava extorquir informações das pessoas, parece que tenho habilidade para isso… e, se a coisa ficasse feia, Tsukuyomi vinha me ajudar, já que ela possui regeneração instantânea por ser imortal. Eu não tenho isso. Imortalidade. Vou durar apenas mais algumas décadas e morrer, enquanto Tsukuyomi vai continuar vivendo… para sempre.
— Então é por isso que você desistiu de ficar com ela? - Kuroumaru perguntou, genuinamente surpreso. Inicialmente, pensou que a mulher a tinha rejeitado. Nunca imaginou que o motivo seria esse - Por que você vai morrer antes dela?
— Eu não quero se imortal, na verdade. A ideia de viver para sempre parece ser algo triste e solitário… mas, se você tem alguém com quem passar o resto da sua vida, acho que as coisas são diferentes - Yoko respondeu - Sabe, quando era pequena, eu não sabia o que eu queria ser. Homem ou mulher. Por que uma criança tinha que tomar uma decisão tão difícil? Então Fate me disse: "Apenas seja o que o seu coração desejar, mas continue sendo Yoko". Então eu decidi ser mulher. Não tinha nenhum motivo especial para isso na verdade… só achava que ser homem seria inconveniente. Ser mulher poderia ser mais vantajoso. Então eu passei a usar roupas de menina e me senti bem com elas. Senti que tinha feito a escolha certa. Mas então, quando tinha 12 anos, percebi que tinha me apaixonado por Tsukuyomi e temi que isso interferisse na minha escolha… eu continuava desejando me tornar uma mulher, mas também gostava dela, e não conseguia e nem queria me livrar desse sentimento. Eu fiquei com medo de me tornar um homem quando completasse 16 anos. Mas, como podem ver, isso não aconteceu. Agora sou uma linda e completa mulher de 18 anos - ela rodopiou, como se quisesse provar que estava dizendo a verdade - Quando atingi a maior idade, prometi a mim mesma que diria para Tsukuyomi como me sentia, mas não consegui… é muito difícil se declarar, sabiam? Ah, é claro que sabem, vocês já passaram por isso - ela lembrou - Kuroumaru-kun, a noite em que nos conhecemos foi quando eu finalmente percebi que não tinha a menor chance com ela. Naquele dia, eu tinha escutado ela e o Fate mais cedo, conversando sobre coisas que eles haviam feito décadas atrás, muito antes de eu e você nascermos, e percebi como a minha vida é efêmera… eu provavelmente sou apenas uma criança aos olhos dela, e sempre serei. Mas não faz sentido continuar vivendo sem ela. Por isso eu fui embora para longe de lá. Eu não tinha nenhum outro lugar para ir, então saí vagando sem rumo por aí, pensando em um jeito de morrer de vez, até que vim parar nessa praia e encontrei você.
— Então foi por isso que você me desafiou naquele dia. Você queria que eu te matasse - Kuroumaru deduziu - Sabia que você não tinha lutado com todas as suas forças. Pelo pouco que fez aqui hoje, você é uma guerreira muito melhor do que aparenta. E se saiu muito melhor do que naquele dia.
— Eu lutei sim com todas as minhas forças - Yoko respondeu - Só que eu estava sem meu escudo - ela sacudiu os braceles dourados - Como não tinha como me defender da sua espada, estava em desvantagem.
— Espera, é com isso que você está preocupado? - Touta perguntou - Essa mulher praticamente te forçou a matá-la apenas para resolver um problema pessoal! Ela te usou, Kuroumaru!
— Ela faz muito isso. É típico da Yoko - disse uma voz familiar, fazendo todos se virarem.

Fate Averruncus caminhava tranquilamente na direção deles, as mãos nos bolsos, como se estivesse marcado um encontro com amigos na praia. Touta e Kuroumaru colocaram m posição defensiva imediatamente ao vê-lo. Fate parou diante deles, ao lado de Yoko. Ele era mais alto do que eles se lembravam. Até mesmo Yoko era poucos centímetros mais alta do que eles, mas sua cabeça batia no ombro de Fate. A garota o encarou, levemente surpresa por ele estar ali.

— Oi Fate - ela cumprimentou. Em seguida assumiu um semblante aborrecido - Seu maldito. Você me mandou investigar pessoas sem me contar o objetivo verdadeiro outra vez, não foi? E o meu próprio irmão, ainda por cima!
— Você já deveria estar acostumada a essa altura - Fate respondeu indiferente - Então quer dizer que Kuroumaru Tonisaka é mesmo seu irmão? - ele encarou o garoto com curiosidade.
— Ué, você não sabia? - Yoko indagou, cruzando os braços.
— Eu tinha minhas suspeitas, já que ele tem um corpo peculiar, assim como você tinha, mas te mandei vir até aqui para ter certeza de que vocês eram parentes - o homem explicou - E você deveria ter me dito que seu sobrenome era Tonisaka quando eu te encontrei anos atrás, ao invés de mentir para mim, dizendo que não se lembrava de qual era o seu sobrenome. Tornaria tudo mais fácil - Fate acrescentou, fazendo a garota se encolher ao lado dele mesmo sem encará-la, os olhos claros ainda fixos em Kuroumaru - Pelas suas roupas, posso deduzir que você decidiu se tornar homem? - ele perguntou para Kuroumaru.
— Isso não é óbvio? Eu não vou virar mulher de jeito nenhum! - Kuroumaru exclamou ofendido.
— Está bem, está bem - Fate riu - Ele tomou uma decisão diferente da sua, Yoko. Que interessante.
— Sabe o que seria ainda mais interessante? - Yoko perguntou - Saber porque raios você me mandou vir até aqui falar com ele.
— Na verdade eu queria falar com o Touta, mas tinha certeza de que o Kuroumaru viria junto. E, como você já tinha visto ele, pensei que seria bom para você reencontrar sua família - Fate respondeu, embora fosse óbvio que aquela última parte fosse mentira. Mas os garotos não tinham certeza de que Yoko tinha percebido isso - Touta, você deve se lembrar do convite que eu te fiz uma vez, não é? Gostaria que se untasse a mim. Ainda estou procurando pelo seu avô, Negi Springfield, e preciso da sua ajuda para encontrá-lo. Juntos, tenho certeza de que conseguiremos. E faremos muito mais do que isso. Ao encontrar o Negi, também poderemos salvar o mundo - Fate repetiu as mesmas palavras que tinha dito quando Touta o conheceu - Você rejeitou o meu convite uma vez porque não queria deixar os amigos que tinha acabado de fazer para trás, creio eu. Se realmente for esse o caso, então que tal trazer o Kuroumaru junto? Ele pode nos ajudar também.
— O que? - Kuroumaru indagou pasmo - Quer que eu vá com você? - o garoto não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Por que alguém tão poderoso como Fate Averruncus teria algum interesse nele?
— Mas é claro - o homem respondeu - Desse jeito você não precisaria se separar do Touta, e também poderia ficar ao lado da sua irmã - ele afagou o topo da cabeça de Yoko, bagunçando os cabelos dela. A garota parecia acostumada àquele gesto, assim como parecia estar genuinamente surpresa com as palavras de Fate - Vamos, admita, você simpatizou com ela antes mesmo de saber que eram parentes, não é? Está no sangue. Seria a oportunidade perfeita para vocês dois se conhecerem melhor, e você também não precisaria se afastar do Touta. Basta os dois aceitarem o meu convite e virem comigo - ele estendeu a mão para os dois.