Sim Senhor, Capitão escrita por boaveis


Capítulo 3
Sua Única Chance




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Agora que o enigma de Renwick foi resolvido, e todos os grandes segredos do homem expostos, você pode imaginar sua reação quando ele encontrar... Não, ainda não; talvez seja melhor voltarmos aos navios.

Pois bem, finalmente, os navios. O primeiro, Rigel, era comandado por nosso amigo, Capitão Renwick Luther. Como sabemos, ao longo dos anos ele conquistou uma grande reputação por suas conquistas e pelos tesouros que – dizem – superavam qualquer valor antes adquirido por um pirata. Raramente atacava navios mercadores, mas o Aldebaran não era um navio mercador qualquer.

Comandados pelo Capitão Creighton Seymour, os marinheiros que lá trabalhavam escondiam, de porto em porto, quilos de tabaco, especiarias de lugares distantes e cargas menos, digamos, moralmente corretas, além de ilegais. Renwick, é claro, não tinha problemas com a ilegalidade do navio, mas, se vocês bem se lembram, os tinha com seu capitão.

Desde a morte de seu pai decidira que, de maneira semelhante às sereias, cabia a ele se vingar e, depois de dez anos, a oportunidade finalmente se apresentava.

Eles eram contrabandistas, os donos dos mares, e não temiam quase ninguém, a não ser piratas. Acontece que o status que o Aldebaran conquistara ao longo dos últimos fizera com que seu Capitão se tornasse excessivamente confiante, e a capacidade de defesa do navio não era, nem de longe, o que tinha sido um dia, um fato que Renwick logo percebeu.

O Capitão Renwick Luther sorriu ao se aproximar do líder contrabandista. Invadir aquele navio havia sido fácil, a tripulação, apesar de lutar bravamente, estava morta ao longo do convés. O homem era tudo o que tinha sobrado. Tinha algo entre 55 e 60, estava fora de forma e mal-acostumado por seus muitos anos no comando. Se a situação ficasse fora de controle, Renwick teria uma grande vantagem sobre ele.

“Capitão Seymour, quanto tempo faz que não te vejo.” Ele disse com falsa cortesia “Desde então, ouvi muito sobre o senhor. Parece que o senhor é o maior contrabandista que esses mares já conheceram e transporta, por ano, toneladas de mercadoria. Creio que tal fama seja um pouco exagerada, já que se mostra incapaz de proteger seu próprio navio de um mero ataque pirata. Que pena. Agora, me responda uma coisa: enquanto entrávamos, o senhor deu ordens para que nos impedissem de entrar no porão. Por quê?”

Creighton empalideceu e ficou calado.

“Não vai me contar? Tem certeza?” Silêncio. “Então tudo bem. Bem, eu não sei se o senhor se lembra de mim, mas com certeza se lembra do meu pai.”

“Você é o filho de Johnny Luther?”

“Como adivinhou? É claro, o navio era de meu pai. Fazem muitos anos desde que o senhor o matou, no convés daquele mesmo navio, mas não se passou um dia no qual eu não prometi-lhe minha vingança e a oportunidade se apresenta para mim.” Com um sorriso largo e ameaçador, Renwick desembainhou sua espada. “Então, Capitão Seymour, o que me diz? Uma última luta?”

O Capitão podia ser velho e mal-acostumado, mas ainda sabia lutar. Pegando a própria espada, avançou sem nada dizer.  Em sua defesa, ela era um ótimo espadachim, mas Renwick era melhor. Seus movimentos eram tão rápidos que os expectadores da luta não conseguiam entender muito bem o que estava acontecendo, mas foi visível quando Seymour acertou dois golpes seguidos em Renwick e o sangue tingiu sua camisa branca. Com um movimento mais rápido que todos os outros, Renwick devolveu o golpe, enfiando sua espada no peito do outro, como ele havia feito com seu pai.

Não recolheu a espada e se virou para seus homens.

“Vamos descobrir o que tem naquele porão?”

Renwick esperava encontrar ouro, ou algo igualmente valioso, um tesouro perdido ou todas as riquezas do Capitão Seymour. Nunca pensou que encontraria aquilo. Entrando no porão, viu uma figura amarrada a um poste. Chegou mais perto e percebeu se tratar de um garoto. Ele conseguia ver muito pouco de seu rosto, mas viu seus olhos assustados.

Não sabia exatamente o que fazer, o que ele deveria fazer? Matá-lo como outros? Mas ele não era parte da tripulação, se fosse não estaria amarrado a um poste no porão. Então quem era aquele garoto estranho?

“Quem... quem é você?” A pergunta, vinda do garoto, surpreendeu a Renwick.

“Sou Renwick Luhter, capitão do Rigel.” Pela expressão neutra do outro, ele não sabia de quem se tratava; todos os homens do mar conheciam o nome de Renwick, ele era uma lenda. Aquela situação fazia cada vez menos sentido.

“Qual seu nome?”

“Darren.” O garoto não ofereceu sobrenome.

“O que você faz aqui, Darren?”

“Eu entrei para a tripulação desse navio mas... uma coisa deu errado.”

“Uma coisa, é? Que coisa?”

Darren balançou a cabeça, como que para indicar que não falaria. Na verdade, quanto mais ele tentava conversar com o garoto, mais percebia que o outro não diria nada. Decidiu, então, que o melhor seria leva-lo para seu navio e tentar novamente, a sós.

Voltaram para o navio, e Darren parecia assustado. De volta à sua cabine, Renwick decidiu tentar novamente.

“Darren.” Renwick começou, “qual seu nome completo? Olha, você não precisa me falar nada se não quiser, mas no próximo porto você está fora do meu navio.” À ideia de voltar à terra firme, Darren parecia ainda mais assustado. Respirando fundo, falou.

“Meu nome é Darren Winfield.”

“Winfield? Como Martin Winfield?” Martin Winfield era um dos nobres mais influentes do Norte.

“Sim, ele... ele é meu pai.”

“Se você é o filho de Martin Winfield, o que fazia no porão do Aldebaran?”

“Eu tive um problema com meu pai. Nós brigávamos muito e eu decidi fugir. Comecei a trabalhar no Aldebaran, sempre fui um bom navegador.  Tudo estava bem, até que eu contei para um outro marinheiro sobre meu pai. Não sei porque eu contei, mas não foi uma boa ideia, porque ele contou para o Capitão, e o Capitão precisava de dinheiro, então decidiu que mandaria uma carta para meu pai, dizendo que havia me sequestrado e que queria um resgate. É claro que, pra isso, ele teve que me sequestrar de verdade, e é por isso que eu estava onde você me encontrou.”

“Ele chegou a mandar a carta para seu pai?”

“Eu não sei.” Darren percebeu que Renwick olhava para ele com uma expressão estranha, algo parecido com pena. “Obrigado.” Ele falava mais baixo agora. “Obrigado por me tirar de lá e, se você me der uma chance, eu posso trabalhar aqui, por favor, não me mande de volta para terra, ele vai me achar.”

Renwick entendia como era passar a vida fugindo, então pensou que poderia dar a Darren uma chance.

“Você vai trabalhar aqui por três meses. Se, nesses três meses, fizer um bom trabalho, poderá continuar.”

“Obrigado, muito obrigado, você não vai se decepcionar.”

Os três meses passaram rápido, e Darren achava que tinha feito um bom trabalho. No entanto, não sabia o que o Capitão achava. Renwick era um homem estranho, sempre quieto, mas parecia gostar de Darren. Eles haviam conversado algumas vezes, e Darren havia aprendido sobre a maldição que Serena lançara sobre Renwick. Para ele, nãõ parecia uma coisa tão ruim, mas o outro não parecia pensar dessa forma.

Toda vez que Darren olhava para o Capitão, sentia algo que nunca havia sentido antes, um misto de gratidão e alguma coisa que ele não conseguia definir. Às vezes, pegava Renwick olhando para ele, e seus olhos pareciam tão suaves...

***

“Darren! O Capitão que falar com você.”

“Comigo?! Por quê?” O marujo com quem Darren conversava, Lewis, lançou a ele um olhar preocupado. O garoto não estava muito mais calmo, o que o capitão queria com ele? Não conseguia pensar em nada que tivesse feito de errado, mas nunca se sabe.

Chegando à porta da cabine do Capitão, Darren bateu. Um voz suava respondeu “entre” do outro lado da porta, e ele a abriu. Dentro da cabine, Renwick Luther relaxava, esticado em sua poltrona, com um sorriso preguiçoso no rosto.

“Darren.” Ele cumprimentou.

“Capitão Luther.” Vem a resposta respeitosa.

“Sente-se.” Darren se sentou. “Você está no meu serviço há três meses. Nesse tempo, conquistou o respeito e a lealdade dos meus homens, além de contribuir imensamente para meu navio. Agora, no entanto, seu contrato acabou. Você tem duas opções: deixar essa embarcação no próximo porto, o que seria uma pena, ou renovar seu contrato por seis meses, comas tarefas extras – nada demais. No entanto, antes que você decida, eu devo te lembrar: nós somos piratas, Darren, é o que fazemos. Entre nós você presenciará o crime, por vezes o assassinato, e inclusive será requerido de você que participe de tais atos, afinal será membro definitivo de minha tripulação. Pense com cuidado.”

“Capitão, eu...” Darren considerou suas opções; gostava do navio e não queria ir embora e se arriscar procurando outro emprego, mas eles eram piratas, afinal, e talvez ficar com eles não fosse a melhor ideia. “Eu não sei.”

“Nós paramos em Porto Ferreiro amanhã. Tem até o fim da parada para decidir mas, Darren, eu realmente queria que você ficasse.”

O marujo se surpreendeu com aquela declaração do Capitão, afinal não via como era mais especial do que qualquer outro. Olhando para cima, se surpreendeu ao achar o homem ao seu lado, olhando para ele tão suavemente que Darren achou, por um instante, que estivesse imaginando. Um capitão pirata não olharia para outro homem daquele jeito, certo? Certo?

Quando Renwick começou a aproximar seu rosto do de Darren, ele percebeu que aquilo de fato estava acontecendo. Finalmente, seus lábios se encontraram e um milhão de vozes começaram a falar na cabeça de Darren, umas diziam que aquilo era errado, outras não se importavam, mas o que importa é que nenhuma delas queria parar e, na verdade, todas queriam mais.

“Capitão Luther...”

“Renwick.”

Renwick. O quê... O que você quer de mim? Eu nunca fiz isso, não digo com outro homem, mas com ninguém.”

“De você?” Renwick pareceu pensar por um instante. “De você eu quero essa noite, e amanhã, e um contrato dizendo que você fica mais tempo no meu navio, e mais beijos como esse que acabou de me dar, e mais risadas como aquelas que você dá à vezes, e, não sei se ouso desejar isso em voz alta, mas de você eu quero a eternidade.”

Então eles se beijaram novamente, e as mãos de Renwick se aventuravam por cima das roupas de Darren, desejando que elas não estivessem ali. A medida que os beijos se aprofundavam e as mãos se tornavam mais ousadas, Darren perdeu seus medos. Se Renwick realmente o queria, muito bem, poderia tê-lo.

Darren havia tomado sua decisão, ficaria no navio por tanto tempo quanto Renwick quisesse.

Mas deixemos os dois na cabine do Capitão, afinal tenho certeza que eles precisam da privacidade, e olhemos para fora do navio, para a noite iluminada pela lua cheia. Perto da embarcação, na superfície da água, Serena olhava para o lugar onde a cabine estava no barco, como se soube exatamente o que acontecia lá dentro. Agora, todo o seu lado direito havia assumido aquela aparência velha e enrugada, e, pela primeira vez em anos, a maldição parecia não impedir a felicidade de Renwick.


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